Mudhoney e a alegria de ser “pequeno”
03/04/13 07:05Nick Cave e David Bowie me desculpem, mas pintou outro disco para disputar o CD player aqui de casa: “Vanishing Point”, o novo do Mudhoney.
É o nono disco de estúdio do Mudhoney e, ouso dizer, o melhor desde “My Brother the Cow”, de 1995. Fora que tem a música mais legal do ano e com o clipe mais divertido que vi em muito tempo: “I Like it Small”. Veja aí…
Se eu fosse CEO de alguma empresa de tecnologia e estivesse lançando um tocador de MP3 micro-mini-nano, pagaria um milhão de dólares ao Mudhoney para usar essa música no comercial.
E o clipe? Não sei quem teve a idéia, mas parabéns, você é um gênio: filmado em apenas um “take”, é cinema de guerrilha, lo-fi, divertido demais e com um espírito festeiro que me alegrou todas as vezes que o assisti.
Sempre achei Mark Arm um letrista subestimado. O cara tem um humor seco como o deserto, e “I Like It Small” é seu magnum opus: uma declaração de intenções, bem humorada e sem um pingo de ressentimento, sobre a alegria de ser “pequeno” em um mundo onde todos querem ser grandes e poderosos.
“Produção mínima / ações baratas / ambientações simples / apelo limitado / porões enfumaçados / temporadas curtas / baixas expectativas / O que foi que eu fiz? (…) Eu não preciso de uma Magnum / um cano curto me satisfaz / E a qualquer hora, prefiro G.G. Allin / a Long Dong Silver”.
A letra me parece uma piada com a suposta “falta de ambição” do Mudhoney, uma banda que sempre ficou feliz com o que conquistou. Os caras têm 50 anos, famílias e empregos fora da banda: o baixista Guy Maddison é enfermeiro, o guitarrista Steve Turner vende discos raros no Ebay, e Mark Arm trabalha no setor de vendas pelo correio da sub Pop – se você pedir um disco, tenha certeza de que foi Mark que embalou.
Já escrevi isso antes: se fossem “espertos”, eles teriam dado um tempo depois da morte de Kurt Cobain e voltado uns cinco ou seis anos depois, ganhando fortunas para tocar nos Coachellas da vida. Mas não é a deles. Outro dia, a Sub Pop calculou que, em 25 anos de carreira, o Mudhoney vendeu um total de 500 mil discos. Só para comparar, “Nevermind” vendeu entre 30 e 35 milhões. E está tudo bem.
E agora, com um documentário na praça (“I’m Now”, com várias cenas filmadas no Brasil), uma biografia a caminho, escrita pelo jornalista inglês Keith Cameron, e um disco que está sendo considerado um dos melhores da carreira da banda, será que o Mudhoney finalmente vai parar de ser chamado de “sobrevivente do grunge”, como se fosse um pecado continuar fazendo o que gosta?
O vídeo é sensacional.
E a música muito boa e direta ao ponto, me pareceu puro Stooges, do vocal ao timbre das guitarras.
Não sei se você teve o mesmo feeling, Barça.
Abçs.
Não sou muito fã deles, mas acho o máximo eles não darem importância extrema ao sucesso comercial e tocarem exclusivamente por prazer.
uma vez, num show do mudhoney em são carlos, abordei o franzino mark arm num canto e perguntei se ele queria vender um pedal que estava usando na ocasião. educadamente, ele falou que não podia pois só tinha aquele pra usar em shows. respeito total.
“Don’t throw your shoes at us! Throw the shoes at the fucking police man!” Lembra desta no show? Finesse do pessoal de Sanca!
No mesmo dia teve King Automatic, um francês “banda de um homem só”. Demais!
A verdade é que o Mudhoney, assim como o Sonic Youth, Jesus & Mary Chain, My Bloody Valentine e diversas outras bandas “influentes” – mas sem grande sucesso comercial – são mais respeitadas pela dignidade, honestidade e o conceito da banda em si, do que propriamente pelo som (não que não tenham boas músicas). Por isso, influenciam, mas não vendem.
O “pulo do gato” do Kurt Cobain foi simplesmente pingar umas gotas de melodias easy-listening no barulho, influenciado por Pixies e R.E.M. Aliás, o Sonic Youth teria sido até melhor que o Nirvana, se tivesse trabalhado isso.
Na minha modesta opinião (discordando do colunista), essa música “I Like it Small” soa como uma desnecessária e patética justificativa para a carreira da banda. Não precisava – ou poderia ter sido feita de forma mais sutil.
O Mudhoney é subvalorizado pelo grande público, mas supervalorizado por quem gosta. Ou seja, no final das contas, eles estão aonde deveriam estar.
Na boa, “patética” é sua afirmação de que essas bandas são mais respeitadas pela “dignidade’ do que pelo som.
É hipocrisia negar isso, não é uma afirmação “patética” não. Veja, não disse que o som dessas bandas é ruim, eu gosto delas tambem.
Em geral, o respeito ao Mudhoney é mais pela atitude da banda do que pelo som, você pode adorá-los e tal, mas não pode tapar o sol com a peneira. Muita gente tenta gostar do som e não consegue.
No mais, por favor, evite categorizar uma opinião divergente da sua como “patética”. É mais legal discutirmos sobre música em alto nível, meu camarada.
Dizer que aquelas bandas são respeitadas por outra coisa senão seu som não faz o menor sentido. Se uma banda é uma porcaria e dura 50 anos, ninguém vai respeitá-la.
Nã concordo com o ponto de vista do Fluidoo, tirando essa frase:
“O Mudhoney é subvalorizado pelo grande público, mas supervalorizado por quem gosta.”
Expressou exatamente o que sinto sobre o Mudhoney.
Mudhoney não é subvalorizado pelo grande público, é desconhecido.
“E a qualquer hora, prefiro G.G. Allin / a Long Dong Silver” é simplesmente genial!!!
Os caras venderam 500 mil discos. Pelo menos três desses estão em casa: Piece of Cake, Every Good Boy Deserves Fudge e Superfuzz Bigmuff + Early Singles
Mudhoney nunca foi minha banda favorita, mas tenho um grande respeito por eles devido a essa “honestidade” que você citou, além de tocarem por prazer mesmo.
Acho que pelos trabalhos paralelos que possuem, a banda se torna um hobby. Grana e sucesso são para eles “consequências” ao invés de obrigação.
Ouvirei a coletânea do Mudhoney que você indicou há alguns meses atrás.
Muito bom esse som do Mudhoney! Lembrou um pouco Iggy Pop. Longa vida ao Mudhoney!
Eu ia vim justamente pra escrever que o Mudhoney é o Stooges do grunge!
André, eu aprendi a escutar Mudhoney através de você. Talvez se eu tivesse escutado alguma música da banda iria curtir, mas não entender. Hoje tenho um pequeno caso de paixão pela maneira que eles fazem o som deles. Porque no fundo, é o sonho de todo garoto que quer ter uma banda, tocar sem ter que agradar a gregos e troianos ou seguir por um lado”mais comercial”. Simplesmente pegar nos instrumentos e fazer o que se gosta. Eu vi o documentário do i’m Now no MIS em Sp e só não consegui ver inteiro, pq eu não tenho sorte com aquele lugar. Toda vez que vou lá acontece alguma coisa e os vídeos não passam, travam. Aconteceu a mesma coisa na apresentação do Devo… Enfim… só queria agradecer a você pelo Mudhoney e todas as dicas, opiniões, tanto de filme, comida e música.
Valeu!
E no fim do mês as meninas das Breeders lançarão deluxe edition dos vinte anos do Last Splash, André. O mais legal desse relançamento é que está rolando turnê mundial. Além das irmãs Deal nas guitarras, Josephine Wiggs e Jim Macpherson, reassumiram o baixo e a bateria. Tenho verificado no site oficial e há shows confirmados até outubro, mas todos lá fora. Vale rezar aos pés da Nossa Senhora dos Shows Internacionais para que o Brasil seja um dos destinos, não? AMÉM.
Concordo com vc Barça, aliás essa pecha que o Nirvana ganhou de maiores do grunge é uma grande farsa. No mais um abraço e espero que seu filho já esteja te dando muito trabalho correndo pela casa.
Engatinhando ainda! Valeu!
Concorda com ele, Barcinski? Eu gosto muito do Mudhoney, mas o Nirvana foi a maior banda dos anos 90, não?
Claro que foi.
Sem dúvida que foi. Podem até ter existido bandas melhores nessa leva, mas nenhuma foi mais influente (pessoalmente, prefiro o Supersuckers). Em tempo: fiquei abismado de o Mudhoney ter vendido, somados, apenas 500 mil discos. A banda era bastante citada durante o grunge, tinha clipes rolando, etc. Em 2001-02, tentei vê-los no Knitting Factory de Hollywood, e o show estava sold-out. Imaginava que tivessem vendido bem mais! Só pra comparar, o Fugazi, em menos tempo, e ainda mais longe da mídia, já tinha passado de 1 milhão de discos vendidos na metade dos 90’s.
Vi os caras no The Clash (2009?) em SP, puta show. Vc ainda tava na casa Andre? Lembro que quando fui comprar o ingresso na London Calling a menina disse que o Mark tinha acabado de sair, e tinha deixado alguns DVDs/ CDs meio raros pra vender! Pô, o cara é chapa da galera da galeria…achei muito bom. Vamos aguardar a turnê deste.
Fui procurar no wiki quem é esse tal de GG Allin, li errado ou é isso mesmo??
“Kevin Michael Allin, mais conhecido como GG Allin (29 de agosto de 1956 – 28 de junho de 1993), foi um vocalista de punk rock e líder de diversas bandas. Ele se tornou famoso por seus shows ao vivo, que, invariavelmente, apresentavam Allin se cortando com cacos de vidro e outros objetos; arrebentando a cabeça com o microfone ou o introduzindo em seu ânus; defecando no palco e ingerindo os excrementos, ou os passando em seu rosto e, muitas vezes, atirando fezes na platéia”
O próprio. Fiz uma entrevista com ele na “Bizz’, vc acha na web.
Faltou falar que geralmente ele escolhia alguém para encher de porrada no final de seus shows rss foda
Incrível mesmo é aquele vídeo do velório do GG Allin, com os amigos zoando o cadáver. Deve ter no YouTube ainda…
A melhor cena do clipe acima e’ quando o Mark fala “GG Allin”. Barcinski, lembro ate hoje de um Garagem que vc lembrou que noticiou o Steve Albini sobre a morte do GG Allin, a reacao dele foi sensacional!
Ele disse: “se não morreu na minha casa, quero que se foda”, ou algo assim.
Sonzeira animal, letra show de bola, Puta banda! Na minha opinião, Mudhoney é e sempre foi bem melhor que muitas bandas do grunge que estouraram comercialmente… Pearl Jam por exemplo.
O Mudhoney vai tocar na minha cidade final do proximo mes em um local que cabem no maximo mil pessoas. Ingressos, pasmem: na faixa de 25-30 euros. Confesso que a banda nunca me balançou muito. De qualquer forma, acho que vou dar uma conferida no som nos caras.
esse disco é lindo, barza. o mais bacana é saber que se o kurt cobain ou eddie vedder nao tivessem formado bandas, se o grunge nunca tivesse existido, se seattle nunca tivesse chamado a atençao de ninguem, o mudhoney continuaria fazendo a mesma musica, os caboclos continuariam fazendo o mesmo som
Barça, só para registrar: Assisti buscando sugar man. Cara, que história maravilhosa…do ponto de vista do impossível, da uma certa esperança na vida. Ele é um verdadeiro Fênix.
Assisti os caras em 2001 no extinto Olympia SP. Show fodido, os caras destruíram.
Incríveis as sacadas com o G.G. Allin, tanto no clipe quanto na letra!
Não acompanho tanto o Mudhoney, mas acho que foi você mesmo, André, que o colocou no mesmo balaio o Teenage Fanclub, que eu admiro bastante. São mesmo bandas maravilhosas que, por continuarem trabalhando sem medo de vender pouco e tocar em lugares pequenos, hoje parecem menos importantes do que realmente são. Vendo os vídeos no Teeneijão no Tou Tube eu sempre fico doente em ver que mesmos clássicos da banda tem menos de 100 mil visualizações, quando qualquer porcaria indie-hipster tem milhões (joguei agora Two Door Cinema Club e tem vídeo deles com mais de 15 milhões de views). Eu fico sempre com aquele desejo de que a história faça justiça, mas as bandas mesmo não estão nem aí com isso.
100 mil visualizações está ótimo para quem vive às custas de copiar o Big Star.
Oh boy…:(
Um fã do Two Door Cinema Club se sentiu ofendido: George!!
Sabe que não, Gean? Nem sei do que se trata esse Two Door, cara. Falei só pra provocar mesmo. Na verdade, gosto do Teenage, mas realmente acho que eles puxam muito pro Big Star, assim como pro Badfinger, Byrds, Orange Juice. Mas é uma boa banda, claro, todo mundo tem suas influências e isso aparece no som, é natural. Sarrinho apenas, achei que o Yoshi ia espernear, falar que a influência nem era tanta assim etc, mas ele não caiu rs. Valeu.
Incrível como o Mudhoney consegue manter o verdadeiro espírito do rock n’roll com sua música honesta. Os shows são muito divertidos. Vida longa ao Mudhoney!!!
é sempre bom ouvir alguém falando que não precisamos ser os melhores, os maiores, os “mais”. Lembro tb do Mudhoney abrindo pro Pearl Jam em SP. Pena que o público só queria ver o Eddie. resultado: não conseguia ouvir o Mudhoney, de tanta gente batendo papo ao meu lado.
Mudhoney é banda de verdade. Música em primeiro plano, não é qualquer banda que tem a manha de tocar Editions of You do Roxy Music. Vida longa ao fuzz…
O primeiro crítico que diz a verdade sobre o Pearl “Malas” Jam. Boa!
Falou tudo, é pecado continuar a fazer o se gosta? Guardadas as devidas proporções, mas o Keith Richards disse mais ou menos isso na biografia dele também e a cada dia concordo mais. O Mudhoney é muito subestimado, mas se os caras são felizes assim, bom pra eles. Só é uma pena que seja tão dificil um show desses caras aparecer por aqui. Abraço!
Difícil? Mas o Mudhoney já tocou umas 5 ou 6 vezes aqui desde 2001. E não duvido que voltem pra cá este ano ou no próximo, com este disco novo…
André, nessa onda de festivais, ainda bem que não chamaram o The Cure para o Lollapaloza, vc acha que deixariam eles tocar durante 3 horas em um festival?
Não mesmo.
Por que não? No Lolla do ano passado, o Foo Fighters tocou por 3 horas…
Pq não?
O show deles que assisti, em 1996 no Hollywood Rock, a apresentação deles durou 3 horas e ninguém ficou tentando desligar microfone ou baixar o som!!!!
Qual o problema? A estrutura do festival???
Bem, eles são headliners do próximo Lolla em Chicago, em agosto veremos…
http://lineup.lollapalooza.com/
E a qualquer hora, prefiro G.G. Allin / a Long Dong Silver”.o que dizer depois dessa???Mestres.
André, até agora, desde fevereiro, não tirava as novas músicas de Bowie e Cave da cabeça… Os discos são muito bons mesmo. Você me vem com essa do Mudhoney e serei obrigado a ir atrás também. O Lúcio Ribeiro tem falado muito bem do novo trabalho do Depeche Mode e espero que Dave Gahan esteja tão empolgado com o Depeche quanto tem sido no Soulsavers. Pelo jeito, acho que 2013 está sendo um ótimo ano para lançamentos de gente das antigas. O que você acha? Tem mais coisa boa por vir?
É a vitória dos velhos!
Estava ouvindo esse disco ontem e é muito bom mesmo, pra mim até agora ele “rivaliza” com o novo do Black Angels para melhor do ano e tem o Eels também, Bowie até achei bacana mas nem ´minha praia, preferi o novo do Tullycraft mas do mesmo mas é divertido.
Vi o Mudhoney em 2005 na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, abrindo para o Pearl Jam. Um show honesto e até meio humilde. A impressão é que entraram sem entender direito aquele lugar gigantesco e aquele público enorme, 90% querendo ver os chatos do Pearl Jam. Tocavam uma música e conversavam entre si para decidir a próxima, parece que o setlist não estava definido. Sem ensaio e sem script, como têm sido esses shows por aí cheios de marra, vinho, vocalistas renomados sentados no palco etc. Foi ótimo, e o Pearl Jam que veio depois foi um saco.