Todas as neuroses de Woody Allen
05/04/13 07:05Se você gosta de Woody Allen, já tem programa para hoje: a partir de 16h35, o canal MAX exibe as duas partes de “Woody Allen – O Documentário”, um filme de mais de três horas de duração sobre a vida e obra do cineasta, autor e comediante. O filme será reprisado na 2ª, dia 8, às 19h55.
Assisti à primeira parte do filme, que conta a vida de Allen desde o nascimento até a filmagem de “Interiores” (1980). O documentário é muito bem feito e interessante, com ótimas imagens de arquivo e entrevistas bem realizadas com Allen, familiares e colaboradores.
Gostei especialmente do início do filme, que relata a infância de Allen e seu começo no showbiz. Gênio precoce, Allen mandava piadas para famosos colunistas de jornal nos anos 50, e assim conseguiu emprego, aos 17 anos, escrevendo para comediantes como Herb Shriner e para programas de TV de Johnny Carson e Sid Caesar.
É emocionante ver Allen falando sobre a emoção de ser contratado para escrever textos para Sid Caesar, quando dividia o trabalho com gênios da comédia como Mel Brooks e Danny Simon.
No início dos anos 60, Allen começou uma carreira na comédia “stand up”. Charles H. Joffe e Jack Rollins, que foram seus empresários por mais de 50 anos, contam que Allen demorou muito a vencer sua timidez de subir no palco, e que eles precisavam empurrá-lo, literalmente, para a frente da platéia.
Seu humor seco e minimalista demorou a ser aceito pelo público. De certa forma, Allen era o “antiperformer”: quase não se mexia no palco, não fazia imitações e não usava a comédia física. Parecia querer que o público prestasse atenção no texto, e não nele.
O documentário mostra a incrível evolução de Allen no cinema: de diretor de comédias divertidas e rasas como “Bananas” e “o Dorminhoco” a autor de sátiras sofisticadas e tipicamente nova-iorquinas como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” e “Manhattan”.
Algumas entrevistas são fantásticas: o grande fotógrafo de cinema Gordon Willis, na época conhecido como “Príncipe das Trevas”, pelo estilo soturno e escuro que imprimiu a filmes como “O Poderosos Chefão”, fala de sua longa colaboração com Allen, e de como eles criaram o clássico visual preto e branco de “Manhattan”, especialmente a cena antológica em que Diane Keaton e Woody Allen vêem o sol nascer, sentados num banco próximo à ponte Queensboro.
O filme traz várias cenas que eu nunca tinha visto, como imagens de bastidores da filmagem de “A Última Noite de Boris Grushenko”, em que Allen não consegue segurar as risadas com a interpretação de Diane Keaton, e trechos de apresentações de “stand up” de Allen em casas noturnas. “Ontem eu usei, pela primeira vez, um contraceptivo oral”, diz o comediante. “Perguntei a uma garota se ela queria fazer sexo comigo, e ela disse ‘não’.”
P.S.: Este texto estava pronto e agendado para publicação quando veio a notícia da morte do grande crítico de cinema Roger Ebert. Farei um tributo a Ebert semana que vem.
Uma vez perdi meu tempo vendo “Dirigindo no Escuro”… Depois, não tendo aprendido a lição, perdi mais tempo vendo “Meia-noite em Paris”… Saiu tanto açúcar da minha TV que não sei como os circuitos não queimaram. Detestei o romancezinho bobo entre o personagem principal e a mocinha do passado. Tremenda besteira retratar os ricos da família da mulher como bestas consumidoras. É a contraposição do artistazinho puro e ingênuo (o personagem principal trabalhava roteirista) e o materialismo traiçoeiro da mulher e sua família. Acho que dá para bolar um software que gera enredos melhores…
Vc viu algum filme do Woody Allen feito entre 1977 e 1986?
Eu sei que todo mundo odeia, mas Dirigindo no Escuro é um dos meus preferidos.
Os documentários da HBO são bons. Assista também Método para loucura de Jerry Lewis.
Eu não fazia idéia do quanto Jerry foi revolucionário no cinema, foi professor até do Spielberg.
Barça, será que você poderia indicar algum site especializado ou algum crítico de filmes que possa consultar? Sempre que assisto a algum filme procuro depois alguma crítica, para solidificar uma opinião, ou para ver se encontro alguma mensagem que não tenha compreendido, ou simplesmente para saber a opinião de um especialista no ramo, mas não encontrei ninguém ou nenhum site com críticas realmente interessantes. Você pode indicar algum aqui para nós? Obrigado!
Olha, sugiro o metacritic, que é um site que reúne diversas críticas do mesmo filme.
Texto primoroso, grandes interpretacoes, humor e drama sempre com enredos imaginosos, os melhores iluminadores. E o trabalho eh ininterrupto, o sujeito eh mais produtivo que um operario chines! Tenho dificuldades para entender porque Allen nao faz mais “sucesso”. Basta mencionar seus filmes ignorados e aparecem “n” opcoes fantasticas. Gosto de Zelig, e Danny Rose talvez seja meu favorito, o personagem mais gente boa do cinema.
Fora do tópico: Estava eu fazendo uma pesquisa sobre as línguas inglesa e alemã e cheguei a um texto de humor fino e bem legal a respeito. Chama-se “The Awful German Language”, do escritor Mark Twain. Escrito há mais de um século atrás, continua atualíssimo. No artigo ele narra suas (des)aventuras qdo tenta aprender a língua alemã. Show! Vc um dia já quis aprender alemão? Se sim, seguiu em frente ou ficou pelo caminho? Falando por mim, há tempos tenho vontade e tempo (tenho 26 anos), mas ao abrir uma página na net, por curiosidade, em alemão ou qdo leio artigos como o do Twain me bate um desânimo taaaaaão grande… http://www.crossmyt.com/hc/linghebr/awfgrmlg.html#x1
Aqui vai um link com uma brochura digitalizada, em PDF, e disponibilizada pela embaixada americana na Alemanha. Contém o artigo The Awful German Language mais a transcrição de uma palestra dele chamada “The Horror of the German Language”. Em inglês e alemão. http://usa.usembassy.de/classroom/Mark%20Twain/Mark%20Twain%20Awful%20Broschuere.pdf
O Gordon Willis também dirigiu a fotografia de “Todos os Homens do Presidente”! Ótimo filme, você não acha? A fotografia é indiscutivelmente foda!
Esse trecho de um filme do Allen é hilário:
http://www.youtube.com/watch?v=Jbnueb2OI4o&feature=youtu.be
Carissimo André, quem você considera o Woody Allen brasileiro?
Não é o mesmo tipo de humor predominante por aqui. Mas acho que o Ivan Lessa e o Millôr tinham esse humor fino e “letrado”.
Luis F. Veríssimo tem um humor muito parecido, daria ótimo roteirista para W. Allen.
Concordo. A seria “A Comedia da Vida Privada” do Verissimo e’ engraçadissima, uma das melhores produçoes que vi na TV brasileira.
Bem, dizer que Allen e’ um genio e’ meio chover no molhado. Na minha opiniao ele esta’ no nivel de Bergman, e e’ sem duvida o melhor diretor em atividade nos EUA. Filmes como “Hannah e suas Irmas”, “Crimes and Misdemeanors” e para citar um mais recente “Whatever Works” sao obras-primas do cinema. Mesmo os seus filmes “menores” sao grandiosos. Ele consegue captar como ninguem o cotidiano simples e transformar em entreterimento de altissimo nivel para adultos inteligentes.
Eu achei Tudo Pode dar Certo (Whatever Works) muito melhor que Meia-noite em Paris. Não consigo entender como um passa despercebido e o outro vira um sucesso. Talvez tenha a ver com a expectativa que eu assisti aos filmes…
“Tudo pode dar certo” é muito legal. Muito engraçado o velho rabugento cantando “Parabéns para você” cada vez que lava as mãos…rsrs
Ao contrário de muita gente, eu aprecio mais os dramas “Bergamanianos” do Woody Allen que as comédias, mas o que mais gosto mesmo, são os diálogos geniais dos seus filmes e as suas neuroses existenciais. Realmente me faz refletir.
Gosto do Woody Allen apesar de não ter visto todos os seus filmes. E prefiro as comédias em relação aos dramas.
Belo texto, só discordo que “O dorminhoco” seja uma comédia rasa. Longe disso. E continua atualíssimo.
Mas compare com o que ele viria a fazer 3 ou 4 anos depois…
Conheço pouco do Woody Allen, mas ele é marcante para mim pois a minha mãe gosta e me lembro de ter visto diversas vezes “Um Assaltante Bem Trapalhão” e chorar de rir com as cenas hilárias do assalto ao banco e da fuga da prisão com uma arma de sabonete.
Mas nunca vejo ninguém comentando sobre esse filme.
Conheço pouco também. (spoiler)
Mas eu não me lembro de rir tanto quanto na cena em que ele cheira cocaína.
Ah, o filme é Annie Hall.
ao invés de criticar eu queria que alguém me explicasse pq não existe mais humor no brasil. pq eu sou burra e não entendo! já teve, num passado distante, mas morreu (literalmente). outro dia vi um episódio da websérie “cômica” porta dos fundos e sei lá, prender o dedo na porta é mais divertido.
Julia, pelo mesmo motivo que os cinemas e TV estão priorizando filmes dublados aos legendados. Ou porque o recurso estilístico da ironia esteja fora de moda. A resposta é: o nível cultural médio do brasileiro vai de mal a pior, e somos assumidamente um povo que não gosta de pensar. O humor rasteiro e por vezes chulo da Porta dos Fundos é bem mais palatável para esse brasileiro médio do que Woody Allen ou Monty Pyton.
Tenho que concordar. O humor no Brasil está tão sem graça que nem me animei a ver nada desse Porta dos Fundos, apesar das recomendações dos meus amigos. Não vi e não me fez falta…
Todas as gaguejadas do Allen:
http://youtu.be/0E34d7NXqPQ
Sensacional!
Woody Allen é GÊNIO. Ponto.
Inigualável, isso é Woody Allen!
Em terrae brasilis, tentam nos empurrar esses comediantes “mequetrefe” demasiadamente s/ graça. Eu, particularmente, sempre que tem 1 feriado em vista, aproveito pra rever os filmes do gênio novaiorquino.
Não consigo gostar de Allen, acho o cara mala para caramba. Mas tem um filme (com 3 contos) que eu assisti acho que é New York Stories conta com grandes diretores como Coppola, Scorcesse e o próprio Allen e a melhor parte do filme é dele, porque o filme no geral, pelo amor de Deus…
Só 2 coisas vale a pena no filme, a parte do Woddy Allen e cenas da Rosanna Arquette de calcinha…Mas confesso que fiquei curioso de ver o documentário.
Bom dia! Entrei aqui hoje pra ver se tinha algo sobre o Ebert, vou aguardar o texto da próxima semana então. Abraço!
dentro do now, hbo, documentários, tem os dois filmes também.
abraço.
Acabei de ler Conversas com Woody Allen, de Eric Lax, para o qual esse documentário deve ser um complemento perfeito. Por causa do livro, comprei a caixa de 20 dvds de Allen e venho saboreando lentamente. Apesar dele mesmo discordar, o considero um gênio.
Até o pior dos filmes do Allen é muito melhor do que 99% das comédias feitas em Hollywood (e isso se considerarmos apenas as comédias).
É um dos raros diretores que se preocupam mais com o texto do que com a imagem.
Ótima dica Barça! Mesmo com as últimas derrapadas do Woody ele ainda merece muito respeito pelos ótimos trabalhos de antigamente.
Só uma pequena correção: a icônica cena de “Manhattan” na verdade não é a ponte do Brooklyn lá no fundo. É a Queensboro Bridge.
Abraço!
Tem razão, vou mudar. Obrigado.
André , a atriz de Manhatan não seria a Mariel Hemingway?
Forte abraço
Ele troca a Mariel pela Diane Keaton no filme, lembra?
E tem tanto neguinho no Brasil que se intitula comediante stand-up, hein? Allen é gênio, assim como Seinfled, e deveriam fazer parte de um currículo básico para quem pretende partir para essa carreira.
Ops, Seinfeld!