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Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Roger Ebert (1942-2013)

Por Andre Barcinski
08/04/13 07:05

Quinta passada, morreu em Chicago o crítico de cinema Roger Ebert, 70. Fiz um texto para a “Folha” sobre vida e carreira de Ebert (leia aqui).

Ebert não era meu crítico preferido. Gosto mais de ler Pauline Kael ou Andrew Sarris. Mas não tenho dúvidas de que Ebert foi o crítico de cinema mais importante e influente dos últimos 30 anos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acho que ele conseguiu isso porque foi o único a entender que, numa época de culto a celebridades, ele também precisaria ser uma para se fazer ouvir. De certa forma, Roger Ebert sabotou o sistema de dentro dele: era uma voz solitária no “mainstream”, tentando fazer as pessoas se interessarem por filmes de fora do “mainstream”.

No dia da morte de Ebert, a rádio norte-americana WEBZ pôs no ar uma entrevista curta com o cineasta alemão Werner Herzog, amigo de Ebert há mais de 40 anos. Ebert foi um defensor do cinema de Herzog e um dos primeiros críticos a elogiar seus filmes nos Estados Unidos. Ebert achava “Aguirre, a Cólera dos Deuses”, um dos maiores filmes já feitos (e eu concordo).

Ouça a entrevista de Herzog aqui. São só cinco minutos, mas dá para ter uma idéia do respeito que o cineasta tinha por Ebert. E Herzog diz uma coisa muito certa: que numa época onde a cobertura de cinema praticamente se resume a notícias sobre bilheterias e celebridades, Roger Ebert era um dos “últimos soldados” que ainda discutiam filmes. No fim da entrevista, Herzog não agüenta a emoção e chora a perda do amigo.

Sempre gostei da militância de Ebert contra o 3D e a favor do cinema independente. Ele criou até um festival, o Ebertfest, que todo ano exibia filmes que, na opinião de Ebert, não tinham recebido a atenção que mereciam.

Tenho uma história curiosa com Ebert: em 1993, fui cobrir a entrega de um prêmio de cinema. Havia um almoço para os convidados e, por sorte, fui colocado na mesma mesa de Roger e de sua esposa, Chaz. Eles tinham acabado de passar férias na Bahia e estavam encantados com Salvador.

Roger e Chaz eram muito interessados em cultura africana. Passamos um tempão falando da colonização no Brasil e da influência africana no país. Chaz queria saber tudo sobre samba. Mas também aproveitei para perguntar a Roger algumas coisas de cinema, claro: eu tinha acabado de ler uma biografia do cineasta Sam Peckinpah que contava como Roger havia sido um dos poucos críticos a elogiar “Meu Ódio Será Tua Herança”, o faroeste sanguinolento que Peckinpah fizera em 1969. Ficamos um bom tempo falando do filme e de Peckinpah.

Nos últimos anos, minha admiração por Roger Ebert cresceu ainda mais depois que ele foi diagnosticado com câncer e não deixou que a doença afetasse seu trabalho. Depois de três operações, que lhe arrancaram o queixo e o impediram de falar, Roger começou a usar um sistema computadorizado de voz que, usando arquivos digitais com sua própria voz, conseguia emitir sons.

E seu ritmo de trabalho não diminuiu. Ele parou de fazer o programa de TV, que apresentava há quase 30 anos, mas continuou resenhando filmes e escrevendo livros (o último, a autobiografia “Life Itself”, de 2011).

Ebert passou a usar seu blog e o Twitter para escrever textos pessoais sobre sua vida e sua doença. Em 2010, depois de quase morrer, escreveu esse texto, que depois reproduziu na autobiografia:

“Eu sei que ela está chegando, e não temo, porque acredito que não há nada do outro lado da morte para temer. Espero ser poupado de sofrimento nesse caminho. Sempre fui perfeitamente feliz antes de nascer, e penso na morte da mesma forma. Sou grato pelo dom da inteligência, do amor, do deslumbramento e do riso. Não dá para dizer que não foi interessante. As memórias de minha vida são o que eu trouxe dessa viagem. E não preciso deles, para a eternidade, mais do que preciso daquele pequeno souvenir da Torre Eiffel que eu trouxe de Paris.”

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Comentários

  1. Andrei Schneider comentou em 11/04/13 at 0:36

    Sempre gostei desse cara e em sites como Moviefone, Rotten Tomatoes, etc sempre procurava a opinião dele.
    Até tinha meio vergonha de gostar dele, pois muitas pessoas “de cinema” consideravam ele farofa. Gostava na surdina – fazer o que com minha falta de personalidade?!
    Tá aí, me convenci que eu estava certo só depois do cara se mandar.
    Pra variar, teu texto é sempre inspirador e necessário.

  2. GUIJA comentou em 08/04/13 at 21:17

    Obrigado pelo link da entrevista com o Herzog!

  3. Rodrigo Goulart comentou em 08/04/13 at 18:04

    Barça, já que o tema é cinema, ontem finalmente vi “Um Tiro na Noite”, do De Palma, que era uma ausência imperdoável na minha lista de filmes.

    E que filmaço… Que final bom pacas!

    • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 19:33

      É mesmo. E ele sincronizando o som do tiro com a imagem? Demais esse filme.

      • Rodrigo Goulart comentou em 09/04/13 at 0:54

        Muito bom. Uma pequena “aula de cinema”. Metalinguagem pura.

        Divertido tbm é contar as homenagens a Hitchcock. Tem menções a Psicose, Marnie, Um Corpo que Cai, Janela Indiscreta. Perdi as contas.

  4. Willian comentou em 08/04/13 at 16:34

    Por conta da morte da Margareth Tatcher, tivemos hoje no Bate Bola da ESPN um debate sobre sua influência no futebol. Você acha que rola alguma coisa parecida no rock?

    • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 16:43

      Pro rock, Maggie foi fantástica: é só lembrar quantas músicas boas foram feitas detonando a coroa…

      • Roberts comentou em 08/04/13 at 19:00

        Poxa só lembrei da do Morrissey “Margareth on the guillotine” em homenagem a ela quais seriam as outras músicas Barça?

        • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 19:33

          Só do Exploited, umas 15.

        • Lucas comentou em 08/04/13 at 20:20

          O “Final Cut” do Pink Floyd também fala sobre a mulher em duas ou três músicas, “Maggie, oh Maggie what have we done to England?!”

          • jAH comentou em 09/04/13 at 9:23

            The Fletcher Memorial. Não é à toa um dos piores discos do PF.

  5. neder comentou em 08/04/13 at 15:51

    Na foto do post o jornal parece trazer a manchete “…Roger Ebert wins Pulitzer’… É isso mesmo? Ou seria uma brincadeira?

    • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 16:03

      Verdade, leia meu texto, ele ganhou em 75.

  6. Paulo comentou em 08/04/13 at 15:28

    coincidencia… esse fds revi Aguirre… RIP

  7. Henrique comentou em 08/04/13 at 13:43

    Roger Ebert fará falta. Não esqueço quando li a resenha para o filme “À Bout de Souffle”, de Godard. Compilado no livro “Grandes Filmes”. Uma aula de cinema para um engenheiro que sou.
    Off-topic: tu estavas numa prova de minimaratona aqui em Goiânia ou era eu, amador, delirando após correr 10 km?
    Abs

    • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 14:30

      Não era eu.

      • Henrique comentou em 08/04/13 at 14:50

        Ok. Consultarei um médico.

  8. jaime junior comentou em 08/04/13 at 13:21

    Caro André,

    “Meu Odio Será Tua Herança” é um filmaço.

    • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 14:30

      Ô se é.

  9. andrews comentou em 08/04/13 at 13:08

    oi André. não sei se você já leu isso. os EUA também tem seus Felicianos…

    http://www.huffingtonpost.com/2013/04/08/roger-ebert-westboro-baptist-church_n_3037250.html?utm_hp_ref=entertainment&ir=Entertainment

    • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 13:09

      Ah, tem muitos, com certeza…

  10. Pedro Olavo comentou em 08/04/13 at 12:24

    Parece que o link da entrevista do Herzog não está funcionando

    • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 13:00

      Vê se agora vai…

      • Pedro Olavo comentou em 08/04/13 at 17:36

        Foi! Valeu Barça

  11. Mario comentou em 08/04/13 at 11:20

    Outro a partir foi o Bigas Luna… Não conheço muito de sua obra, mas “Os olhos da cidade são meus” – a má tradução(?) para “Angustia”, me causou ótima impressão há algum tempo, merece revisão.
    Este é um verdadeiro filme “3d”, não é mesmo ?
    O que v. acha deste cineasta ?

    • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 12:14

      Grande perda, ótimo cineasta. Jamon, Jamon é bom demais.

    • Paulo sales comentou em 08/04/13 at 13:31

      Gosto muito de A teta e a lua.

  12. Daniel V. Gomes comentou em 08/04/13 at 11:16

    Fiquei triste pra caramba, acabei conhecendo o cara lendo a wikipedia e o imdb , afinal , o Ebert era sempre citado em todos o artigos sobre filmes que eu pesquisava, era um fã de um filme que gosto pra caramba, Cidade das Sombras e realmente me emociounou essa seu post. Um dos melhores que você já escreveu André. RIP Roger Ebert.

  13. Bia comentou em 08/04/13 at 10:50

    Uma pequena correção no texto… “Eles tinham acabado de PASSAR férias na Bahia…”

    E concordo com o Jean Garnier mais abaixo, a imprensa local meio que o esnobou. Aproveitando o gancho, o blog do Rubens Ewald saiu do ar… já estava há algumas semanas sem atualização! Sabe se aconteceu alguma coisa, se a saúde dele está ok? Ele estava com alguns problemas nesse sentido…

    • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 10:57

      Estava sim, Bia, tomara que não seja nada mais sério…

  14. Marcel de Souza comentou em 08/04/13 at 9:46

    Sou fã do Ebert, a pagina e o blog deles eram minhas leituras recorrentes. Além de tudo que você falou, tem uma coisa que eu gostava muito nele: el enão falava mal de filmes mais populares só por serem populares. Seus livros “Great Movies” que contem as suas críticas para os filmes que ele considerava especiais está cheio de filmes que outros críticos consideram menores. Uma pena a sua partida, já que ele estava realmente ativo apesar da doença. Vai fazer falta.

  15. Daniel comentou em 08/04/13 at 9:33

    Anos atrás, por recomendação de um amigo, li um livro de criticas de Ebert e gostei muito. Desde então acompanho com alguma regularidade os textos deles.

    Na ocasião da morte dele vi no show dele as criticas que fez aos filmes de PTA (para mim o melhor cineasta americano em atividade) e só fez crescer ainda mas minha admiração por Ebert, já que enalteceu todos os filmes de PTA enquanto colegas do show ás vezes torciam o nariz não.

    P.S – Estou lendo um livro muito bacana de entrevistas com Herzorg. O nome é: Herzog on Herzog. Como esperava é recheado das histórias mais loucas e divertidas de uma vida que daria vários filmes.

    P.S 2 – Verdade seja dita nunca li tanto Pauline, mas a impressão que me passou pelo (ótimo) livro “Easy Riders, Raging Bulls” é que a partir de uma época ela parece ter ficado meio deslumbrada com o meio e isso interferiu nas críticas dela. Confere?

    • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 9:44

      A Pauline Kael trabalhou em estúdios durante um curto tempo. Mas não acho que ela tenha se deixado “deslumbrar” por isso. Adoro os textos da mulher, pra mim ela é imbatível.

  16. Anônimo comentou em 08/04/13 at 9:26

    Lindo texto, bela homenagem!

    Sem querer ser chato e provavelmente nesse horário alguém já lembrou, a data do título está errada.

    Abração e boa semana.

    • Andre Barcinski comentou em 08/04/13 at 9:44

      Valeu, besteira minha!

      • Jean Garnier comentou em 08/04/13 at 9:49

        Imagina… valeu pela homenagem, um dos poucos que se prestaram em reconhecer!!!!

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