Mário Sérgio e Roger: o corporativismo entra em campo
12/04/13 07:05Não é segredo que o jornalismo esportivo sofre demais com o corporativismo de boa parte da mídia. Mas dois exemplos recentes mostram como o problema chegou a um estágio tão arraigado que muita gente está vendo o corporativismo como uma coisa “normal”.
Há alguns dias, num debate no canal Fox Sports, Mário Sérgio se irritou quando seu colega Rodrigo Bueno criticou o nível dos técnicos do futebol brasileiro. Sacando o velho argumento de que “você nunca foi técnico”, Mário Sérgio, ex-jogador e ex-técnico, tentou desqualificar a opinião de Bueno. Veja aí:
Anteontem, o UOL trouxe uma reportagem sobre o comentarista (e ex-jogador) Roger Flores, que estaria irritando jogadores com seus comentários ácidos (leia aqui). Sobre o volante Edinho, do Fluminense, Roger disse: “Ele precisa de um 38 pra dominar uma bola”. Enquanto torcedor do Fluminense, não só concordo com Roger, como o aplaudo. Confesso que já xinguei muito Roger na arquibancada, mas gosto demais de seu trabalho de comentarista.
Os comentários de Roger não caíram bem entre os boleiros, que fizeram questão de lembrar seu passado de “chinelinho”, quando supostamente simulava contusões para não treinar e se esforçava pouco em campo.
Se Roger era “chinelinho”, isso não importa. Se Mário Sérgio foi técnico, isso também não importa. O que importa é discutir a validade dos argumentos e não esquecer os argumentos para desqualificar o argumentador.
Seguindo a lógica de Mário Sérgio, de que só ex-técnicos podem analisar o trabalho de técnicos, ninguém poderia falar mal de políticos a não ser ex-políticos. E os jogadores que lembram os defeitos de Roger no campo só poderiam ser criticados por Pelé.
Infelizmente, temos o péssimo hábito (me incluo nisso) de argumentar contra a pessoa (Argumentum ad hominem), que é uma maneira covarde e simplória de ganhar uma discussão. E as coisas só pioram quando a discussão chega às redes sociais, que são o túmulo da ponderação e do bom senso.
Li muita gente dizendo: “Quem é Mário Sérgio pra falar alguma coisa? Ele foi um técnico horrível!”, ou “Esse chinelinho do Roger não tem moral pra falar nada!”
Quer dizer que se Mário Sérgio fosse um “técnico bom”, ele teria moral para falar de outros técnicos? E se Roger fosse o Pelé, poderia expor suas idéias sem reclamações?
Curioso perceber como a maioria usa a mesma artimanha de Mário Sérgio para impor sua opinião, não?
Bom texto, com argumentos inteligentes e tal… mas desculpe, eu continuo perguntando… quem é esse Roger e o que ele representou no futebol? Só mesmo sendo muito burro pra prestar atenção no que esse cara pensa. Pra mim, não faz nenhuma diferença, se fosse o meu vizinho (que joga muito bem seu futebolzinho de domingo, diga-se de passagem) eu teria que ouvir com a mesma atenção do Roger…
Acho que vale a pena repetir: “O que importa é discutir a validade dos argumentos e não esquecer os argumentos para desqualificar o argumentador.”
É uma tendência já tão arraigada que nem nos damos conta mais, achamos normal.
Assisti ao vivo a discussão Mario Sérgio/Bueno e o destempero do Mario Sergio só evidenciou a prepotência e o corporativismo dos “professores” nacionais quando criticados.
A reportagem exibida antes, já mostrava a revolta de Tite, Parreira, Luxemburgo, etc com a declaração do Paulo Autuori que o treineiros no Brasil estão ultrapassados.
Qualquer pessoa pode emitir uma opinião sobre determinado assunto, especialmente se uma empresa (SporTV) lhe paga para isso. Não é necessário ter sido treinador ou jogador para ser comentarista, assim como não é necessário ser jornalista.
O telespectador (e os demais debatedores) podem concordar ou não, podem considerar válido ou não o comentário, mas não cabe a eles julgar se o comentarista é qualificado para estar ali (e sim, o seu empregador, no caso a SporTV).
O nível dos treineiros brasileiros realmente é baixíssimo, mesmo a nível sulamericano, como disse o Rodrigo Bueno. O jogo Grêmio x Fluminense foi um exemplo perfeito dessa mediocridade: o time da casa, desarrumado, sem qualquer padrão tático e o Fluminense, com um jogador a mais, tocando bolinha para o lado, sem forçar muito, porque estava satisfeito com o empate (se tivesse um pingo de coragem, venceria a partida). Um 0x0 com a cara do futebol brasileiro atual, apenas “pegada” e nenhum talento.
Sobre o Roger, está destoando da média dos comentaristas (em geral, chapa brancas e politicamente corretos), onde qualquer crítica mais incisiva é vista como “anti-ética”.
Vale lembrar que o Flu chegou a marcar um gol…
Mário “Cisco Kid” Sérgio. Grande Silvio Luiz!!! kkkkkkkkkk
Sem entrar no mérito do comentário em si, mas nas poucas vezes que vi Mário Sérgio abrir a boca quando era técnico, ele se mostrava um sujeito arrogante e mal-educado. Não vai ser como comentarista que isso vai mudar.
André, isso é apenas mais um sinal do mimimi extremo que toma conta de tudo e de todos hoje em dia. É impressionante como parece que estamos andando pra trás. Eu não tenho filhos ainda e não sei dizer como anda a matéria de Interpretação de Texto nas escolas. Mas se eu fosse educador, teria uma atenção especial nisso!
Rapaz, não sei se é só mimimi, não. Talvez seja um tanto mais grave. Vivemos numa democracia “em termos”. Um exemplo: no meu trabalho, nas benditas reuniões de avaliação, todos tem a palavra. Mas ai de quem discordar da chefia, toma uma geladeira federal. É uma mistura de padronização com intimidação subliminar, além do estilo cupcake (coxinha rules forévis), como diz o Barcinski.
Olá André. Só escrevo para avisar que começou uma mostra com todos os filmes do Abel Ferrara no CCBB-SP. Escreve alguma coisa aí no seu blog para o pessoal conhecer mais sobre o cara.
Acho os dois arrogantes. Mas isso é só minha opinião. A certeza que eu tenho é que o jornalismo esportivo brasileiro tem um nível bem amador, no geral. Quanto ao “chinelinho” não adianta: o apelido “colou” no Roger, eheh
O nível dos comentários sobre futebol sempre foi muito baixo. Os mesmos narradores, comentaristas antigos e manjados. Agora ainda tem o comentarista de arbitragem, que basicamente “comenta” em cima de um replay, ou seja, inútil. Ainda por cima fica esse falso bom-mocismo, quando falam que uma Copa do Mundo sem a Argentina não é a mesma coisa, quando no fundo todos gostariam que os hermanos não se classificassem, pelos menos todas as pessoas que eu conheço ficariam bem felizes com isso. Por que nunca alguém dá uma opinião nessa linha? É sempre bom quando algum comentarista novo quebra essa barreira, como o Roger Chinelinho e até mesmo o Neto quando desanca algum perna-de-pau. Pra mim, o melhor sempre foi o Alberto Helena, escreve demais, é engraçado e de vez em quando detona alguém.
Caríssimo:
Finalmente ouço alguém dizer umas verdade s com cara de segredo de Polichinelo.Não é de hoje- aí está o clássico “O negro no futebol brasileiro” a confirmar- nosso atraso matéria de técnico de futebol, sejam ou não ex-jogadores. Mas é novidade,sim, a baixa qualidade de nossos atuais jogadores. Os campeonatos de todos os tipos andam cheios de brucutus que se derramam de elogios aos “professores” (não sei bem de que). Nossos comentaristas,por outro lado, com as excessões de praxe, vão no mesmo nível. Tudo sumiu sob o rótulo de qualidade (total?). Não tem mais jogador bom ou ruim. Ruim, sim, como tem às centenas nos nossos maiores times. O que importa saber é porque isso está acontecendo. Como as mudanças sociais estão mudando o perfil técnico dos nossos jogadores, o desaparecimento da várzea, da “pelada” no bairro, a importação de outras visões do jogo, enfim, entender o complexo de fatores que mudou para pior o nosso futebol. Dentro e fora de campo.
Carlos Saturnino
As três coisas que mais odeio na vida:
Pernilongo, publicitáro e corporativismo.
Aposto que a maioria dos jogadores gostam do Caio Ribeiro, que nunca fala mal de ninguém. Para ele, todos são “belíssimos jogadores”.
O Roger é bom comentarista mesmo! Chega de chatice no futebol! Ontem, no jogo do Palmeiras, o jogador Vinicius deu entrevista ao fim do jogo e disse: “Tive dores e tive que sair. Fiquei puto, mas não tinha como continuar!” Declarações espontâneas assim estão cada vez mais raras. Hoje parece que há uma cartilha sobre entrevistas, tem que estar tudo dentro do padrão. Um saco! E o mesmo ocorre com os tais comentaristas: a maioria é um bando de chatos demais. Comentarista de arbitragem então…
Meter o dedo na ferida dói !!!
Nesses dois espisódios, Mário Sérgio pisou na bola e Roger mandou muito bem, mas como comentarista o primeiro dá um banho no segundo.
Aliás, o Sportv tem o pior time de comentaristas da TV paga. Só se salvam Lédio, Noriega, Lofredo e Raphael Rezende.
Assisti só o fim do jogo do Flu x Gremio na quarta e vi que o Roger disse que o Edinho estava fazendo uma ótima partida. Espero que tenha não tenha sido a penas pra fazer uma méda com o cara.
Não, o Edinho jogou bem mesmo.
Excelente
Nossa, cansei de ver isso.
Nunca esqueço de um absurdo de um professor em uma aula de Jornalismo Empresarial.
O dito “mestre” inicia a aula fazendo a básica mea culpa. Ele iria debater sobre as mídias online e avisou que com certeza os alunos sabiam muito mais do que ele, por questão de idade e horas de navegação.
Para resumir, a discussão ganhou um tamanho tão grande que em determinado momento ele gritou para a classe: “Quantos anos vocês tem de profissão para contrariar minha opinião?”
Ou seja, o cara começa reconhecendo ignorância e depois assume a prepotência para ganhar a razão.
Barça realmente o pessoal quer mesmo os comentários “chapa branca” do Caio Ribeiro, o bom mocismo, a caretice. Acho esse Mário Sérgio um chato, arrogante pra caramba, principalmente quando comenta jogos do Palmeiras. Já o Roger estou gostando da sua forma de comentar, sem melindres e sem fazer média. Agora imagina só o Ronaldo comentando na Globo como vai ser? Você acha que ele vai ter coragem de fazer um comentário mais crítico, sendo que a maioria dos jogadores da seleção tem relação com suas empresas e patrocinadores? Um abraço!
Cara, eu não vi, mas li em algum lugar um negócio tão ridículo q chega a ser engraçado. Essa semana o ministro do esporte foi no roda-viva. O comentarista Mauro César da ESPN estava batendo de frente com ele. A uma altura da entrevista, o ministro disse: “tem gente q torce pra time argentino”. O Mauro: “Sou eu, e daí?” O ministro: “Meu time meteu sete no seu”. O Mauro: “E o que isso tem a ver com nossa discussão?”. Um cara desse é ministro do esporte…
Vi sim, tô pensando em escrever sobre isso semana que vem…
O Aldo Rebelo caiu de paraquedas no Ministério do Esporte. Mas, ainda assim, é melhor que o Orlando Silva, dono de frases e pensamentos absolutamente infelizes a respeito do desenvolvimento do esporte no Brasil. Agora, é ridículo um debate sério cair em rusgas clubísticas. Como é difícil aguentar certos vícios brasileiros…
http://www.youtube.com/watch?v=0aCeqbTe4Ww
Lamentável mesmo!
Enraçado que, o Pelé quando abre a boca é um m… já o Roger…
… engraçado né?
“E as coisas só pioram quando a discussão chega às redes sociais, que são o túmulo da ponderação e do bom senso.” Exatamente!
Ah, e percebi um Schopenhauer aí
“Denunciar” as pessoas, ao invés de refutar os argumentos do adversário, está muito arraigado no ensino superior brasileiro, particularmente nos cursos de Humanas, e isto se espalha pelos blogs.
Sem falar na questão ética… Ronaldo X Globo que o digam.
Abraço!
AB, sou daqueles que preferem comentar o assunto do post a fazerem elogios ou críticas gerais, mas vou fazer uma exceção.
Quero te agradecer sinceramente pelos seus posts. Eles são uma das primeiras coisas que leio de manhã ao chegar no trabalho e sempre me ajudam a começar o dia bem.
A lucidez, o equilíbrio e a pertinência dos seus temas e argumentos são, infelizmente, atributos muito mais raros do que deveriam ser nesse oceano de informações que temos que navegar todos os dias.
Um bom dia!
Valeu!
André,
Se eu soubesse escrever tão bem como o Luiz Mello, era isso que eu iria dizer para você também. Como não sei, faço minhas as palavras do Luiz.
Luiz, com a sua licença…rs
Vou entrar nesse barco para fazer o mesmo elogio ao caro jornalista AB. Parabéns pelo blog!
Opa!
Uma vez, não lembro quem, falando sobre qualidade dos programas de televisão, disse que uma das piores coisas que existe nas TVs brasileiras são essas mesas redondas de futebol. Concordo com ele. E para fechar a baixa qualidade dominical assiste-se ao Manhatan Connection (Lucas Mendes já foi bom), uma espécie de Saia Justa (nos piores momentos) masculina.
César,
Eu não diria que mesas redondas são as piores coisas que existem na TV, mas eu diria que provavelmente é o programa que os apresentadores se divertem mais do que o público, tamanha a inutilidade e pérolas que soltam…
Lembro de um jabá em que um cidadão disse que ninguém mexia nos carros da Fórmula 1 pq eles tinham instalado “Far Myster” (mudei o nome pq aqui não é lugar para propaganda).
Ótimo texto. Excelente argumentação.
OFF TOPIC total. Vc viu que fechou o Studio SP? Onde será que aquele povo vai tocar agora além do sesc…vale um post seu? Abs
Alguem nao odeio o Roger? O cara é boa pinta, rico e namora a Debora Secco.
Cuma???
Bom dia a todos.
André, ótimo texto. Adorei! Nos faz pensar a respeito de nossas atitudes.
Fico feliz e esperançoso de um mundo melhor por ver que ainda existem pessoas que não acham normal, nem saudável, muito menos inteligente, ganhar a discussão “no grito”, ou seja, atacando o outro e deixando o problema de lado.
*obs: Comprei ontem o livro “Uma Confraria de Tolos”, fico grato pela indicação (e pelos momentos divertidos que irei ter graças a ela) e com certeza vou deixar um exemplar na biblioteca do meu bairro.
Perfeita a colocação. Pelo mesmo raciocínio, só um pintor pode achar um quadro bonito ou feio, bem feito ou mal feito, só um cozinheiro pode julgar uma comida etc; é a velha ladainha do “está reclamando? vai lá e faz melhor”, de uma pobreza inacreditável. E “precisar de um 38 para matar uma bola” é, no mínimo, uma frase antológica rs