Por que artistas se calam quando Roberto Carlos censura?
26/04/13 07:05Roberto Carlos é o maior popstar da história do Brasil. Roberto Carlos é um pioneiro que ajudou a inaugurar o conceito de “música jovem” por aqui. Roberto Carlos é o “Rei”.
Mas alguém precisa avisar a Roberto Carlos que o “Rei” dele vem entre aspas. Ele não é rei de verdade, é só um jeito carinhoso de ressaltar sua importância e influência. E cada vez que Roberto Carlos tenta censurar outro livro, sua “realeza” morre um pouco.
A vítima agora é “Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude”, livro de Maíra Zimmermann lançado pela Estação Letras e Cores (leia mais sobre o livro aqui).
Todos lembramos o caso de “Roberto Carlos em Detalhes”, livro de Paulo Cesar de Araújo que os advogados de Roberto conseguiram tirar de circulação.
Eu li o livro de Araújo. É uma pesquisa jornalística séria e bem feita, sem nada que possa ferir o orgulho de ninguém.
Não li o livro de Zimmermann ainda, mas vou comprar meu exemplar hoje mesmo. Não gosto que Roberto Carlos me diga o que posso ou não ler.
Os advogados de Roberto Carlos têm seus argumentos para censurar o livro. Reclamam de uma “caricatura” do cantor na capa: “Fazer aquela caricatura de forma desautorizada viola os direitos de imagem do Roberto”, disse o advogado Marco Antônio Campos. “Não estamos tentando proibir a circulação do livro, não temos nenhuma objeção, nenhuma intenção censória quanto ao conteúdo do livro.” Ah, não?
O empresário de Roberto Carlos, Dody Sirena, diz: “Fazemos isso em situações que não configuram uma homenagem ao Roberto, mas em casos que usam a imagem dele para ganhar dinheiro.” O livro de Zimmermann saiu com uma tiragem de mil exemplares, o que não me parece um grande esquema para “ganhar dinheiro”.
Roberto Carlos precisa disso? Precisa mover céu e terra para intimidar qualquer um que tente escrever sobre ele?
Claro que um artista tem todo o direito de não ter sua imagem explorada comercialmente de forma indevida. Mas desde quando um livro com tiragem de mil exemplares, feito a partir de uma tese de dissertação de mestrado, configura um esquema comercial tão poderoso e maquiavélico?
Roberto Carlos e sua tropa de advogados e empresários usam atalhos jurídicos para praticar censura. Simples assim.
Espanta também o silêncio da classe artística, sempre pronta a fazer abaixo-assinado contra a censura e opressão em outros países, mas que se cala quando um dos seus faz o mesmo.
A verdade é que ainda vivemos na Monarquia. Nosso castelo é o de “Caras”, e os monarcas são Roberto Carlos, Xuxa, Juliana Paes e alguns outros iluminados, seres intocáveis e controladores que ainda não se conformaram com as lições de 1889.
Torço para que o projeto de lei do deputado Newton Lima (PT-SP), que libera a publicação de livros e filmes biográficos sem necessidade de aprovação do contemplado ou de sua família, seja aprovado em breve, para que a nossa realeza suma pela segunda vez.
Privacidade é básico e é o que nos diferencia dos outros animais. Não sou fã dele e jamais leria sua biografia. Mas apoiei sua caça àquele livro. Graças a Deus não somos tão livres assim.
É fake isso?
Vc acha então que o deputado Newton Lima aprovaria um livro escrito por alguém que contasse a sua história de vida e política?
tá bom….
Não acho nada. Não disse isso, por favor não invente.
Se não me engano, na década de 70, ele também teria questionado a publicação de uma biografia sua de autoria de um ex-mordomo seu de nome Nicholas.
Alguém se lembra desse episódio e que fim ele teve? E se o livro foi publicado?
Ele processou o mordomo. Se me lembro, o livro foi recolhido.
Oi Barcinski,
cara, lendo esse texto seu lembrei de uma entrevista que li com o Ruy Castro. Depois de tanta aporrinhação com biografias dele, ele diz estar convencido que biografado bom tem que ser biografado morto. Mas ainda assim tem toda a questão das famílias, dos filhos do biografado etc. Que acha disso?
Nem morto. É só ver os problemas que biógrafos de Noel Rosa e Raul Seixas tiveram.
inves de juliana paes, vc poderia dizer carolina dieckman!
O problema é que o RC é neurótico. O livro do Paulo Cesar Araujo é muito bem feito e praticamente só elogia o RC. E mesmo assim ele o proibiu. Vá entender…
Barça…outro post seu falava sobre a liberdade de criação e a “revolução” causada por alguns grupos de humoristas…pra vc ver como as coisas mudam… outro dia mesmo estava lendo uns Planetas Diários antigos que eu tenho guardados e num deles eles diziam das previsões astrológicas de fim do ano: LANÇAMENTO EM DEZEMBRO DO LP DO BETO-SEM-PERNA….será que eles ainda fariam hoje em dia uma piada dessas?
Esse artista aqui não tem medo de se pronunciar , mesmo tendo sido parte da Jovem Guarda.O André tem razão quando fala do silencio da classe artística , não apenas quanto às autocráticas atitudes de RC , quanto ao silencio e covardia geral sôbre a tentativa de ditadura petista e sua roubalheira do dinheiro público. De um lado , medo e se queimarem na Tv Globo. de outro lado , o medo de represálias do governo a quem esmolam patrocínios, depois que a industria fonográfica foi pro espaço . Discordo veementemente da tentativa de RC querer monopolizar e censurar a história de um movimento de combustão espontânea como o que fizemos , e cujo nome partiu do publicitário Carlito Maia , não dele ou seus advogados. Não estamos na Coréia do Norte . Que se renove essa lei anacrônica
e antidemocrática que permite esse tipo de prepotência … lamentável para quem sempre vestiu a camisa da nossa querida Jovem Guarda.
Curiosamente o nome do movimento, “Jovem Guarda”, foi inspirado numa frase de Lenin, “O futuro pertence à jovem guarda porque a velha está ultrapassada”.
Em 1889 viramos uma ditadura militar. Acho que a aristocracia de CARAS se sentiria bem a vontade.
Esse Roberto Carlos sempre foi CHATO PARA CARA…, ele e sua música. Um sujeitinho nojento e cheio de babaquices. Só no Brasil esse figura poderia existir. Plagiador, sem graça e que só existe por causa da rede globo. Tem mais é que ser sacaneado mesmo.
Valeu, André, vc tem razão. O R C parece fazer valer aquela “máxima”, muito em voga no Brasil: “Sabe com quem vc está falando”, ou aquela outra: ” Vc é o famoso quem?”. Curiosos são alguns comentários sobre a privacidade, em especial de pessoas públicas. Se o personagem não gostou do livro ou da crítica, que faça as correções necessárias pela mesma ou outra forma de mídia. Com relação à alienação ou indiferença da nossa ” classe artística”, vc também tem toda a razão, infelizmente. Falta conscientação ou mobilização nessa gente? Ou vale o: ” Não tô nem aí”? Lá fora temos, só para ficar na música, artistas do nível de: Jello Biafra, Joe Ramone, Trust, Anthrax, Peter Hammil, System of Down, John Lennon, Fred Frith, o movimento ” Rock in Opposition”, Herry Bellafonte, Peter Gabriel, Fela Kuti… só par citar alguns. Enquanto isso, no Brasil… complete se quiser. Abrçs. Firmeza no som e na vida… Reflexão e consciência, sempre.
O grupo Joelho de Porco, no disco Saqueando a Cidade, de 1983, gravou uma música, do Zé Rodrix e Tico Terpins, chamada “Um Trem Passou Por Aqui”, que fala de um cara que teve um perna amputada num acidente ferroviário. E se alguém tem dúvidas sobre a quem se refere, no encarte, acima da letra da música, está escrito: “Cachoeiro do Itapemirim” e mais abaixo “RC3” …
Qual artista, em sã consciência, ousaria criticar Roberto Carlos? O atrevido que se metesse a questionar, não o reinado, mas as atitudes, digamos, imperiais de RC, teria que considerar a possibilidade do ostracismo artístico, semelhante àquele imposto a Wilson Simonal, por causa da nunca provada colaboração com o regime militar. Esse medo se estende, primeiramente, à geração que fez a Jovem Guarda acontecer e, em seguida, a todos os astros da música, que não suportariam a carga de críticas negativas e até de patrulhamento, através das redes sociais. Nestes tempo de “politiquismo correto”, figuras do meio artístico brasileiro, noves fora as exceções de praxe, simplesmente evita essa possibilidade, e desconversam, quando uma pergunta aludir à nova censura decretada pelo Rei. Enquanto isso, Chico Buarque continua bajulando a ditadura cubana…
Mas não estaria também no contexto validar o sentido de privacidade a que todo ser humano tem direito? Não temos também o direito de não gostar de uma caricatura que fizeram de nós?
De não gostar sim, de impedir que outro faça, não.
A solução das cortes norte-americanas de que a figura pública tem menos direito à privacidade que as não-públicas funciona melhor. Uma figura pública passa a ser de interesse da sociedade e trancafiar informações sobre ela pode atrapalhar o livre tráfico de idéias (note que não é completa ausência de direito à privacidade; apenas uma mitigação deste direito diante do interesse público).
Ops, tráfego, não tráfico.
Barçaska, lembra da Olimpíada de 2012 que parece que “não aconteceu” porque não passou na Grobo? Então… Dez de cada dez artistas brasileiros trabalham ou querem trabalhar (ou ao menos aparecer) na Grobo. Agora imagina quem vai levantar um pio de voz contra Roberto Carlos e, por consequencia, contra a Grobo? Pouquíssimos tem a bravura, o desprendimento, a coragem para fazer isso, pouquíssimos farão… Pois correm o risco de se queimarem com a Grobo por toda a eternidade. E, acredito, no Brasil dominado pela Grobo, isso significa “não acontecer” — mais ou menos o que aconteceu com a Olimpíada passada…
Globo, rapaz. Globo. Aqui não precisa disfarçar para não ser pego nos “filtros”.
Parabéns pelo excelente texto! Assino em baixo! Aproveito para citar o processo que RC moveu contra o jornal “Notícias Populares”, décadas atrás.
Abraço
“Todo artista tem de ir aonde o povo está”. Sábias palavras…mas está custando por volta de 400 reais…o grande artista brasileiro, está bem longe de onde o povo está…
André, essa atitude do Roberto Carlos não é de “Rei”, mas de um ditador autocrático, daqueles que adoram cultuar a sua própria imagem. Mas o pior é que tipo de aberração comportamental não atinge apenas os famosões, pq até a mãe da Isabella Nardoni entrou na justiça pra censurar uma peça que usava o caso como pano de fundo…
ele nao è tudo isso,nem como pessoa,nao me transmite essencia,nem simplicidade,so arrogancia…
Li o livro do Araújo. Apesar de conter muita pesquisa e informações novas, é um livro mal escrito.
A situação seria fácil de ser resolvida, bastaria mudar a capa.
Vou desenhar um personagem chamado Saci Carlos, xerocar e colar em poste. Quero ver os advogados dele censurarem os postes.
Não é estranho falar de censura num blog da Folha quando esta está lutando bravamente contra a Falha de São Paulo?
Não, Marcelo, “estranho” seria se eu NÃO falasse de censura. Mas como nunca fui censurado…
É um assunto complicado. Pelo que eu li, na sentença da “Folha” contra a “Falha” o juiz alegou que o que vale é a lei de mercado. Ou seja, como os nomes eram parecidos poderiam ocorrer danos a “Folha”. Pegando essa decisão como exemplo, o “Rei”está correto.
Agora deixando o bom senso entrar no jogo, ai ele e a Folha são uns babacões mesmo.
É,mas a Falha é um blog feito e pago por militontos
do PT,os famosos petralhas.Quanto ao Roberto Carlos,
esse cara já encheu.
2 coisas:
1) a classe artistica brasileira eh uma piada de mau gosto.
2) aproveitem pra ler o blog do AB antes q o Rei censure.
Acho que QUALQUER UM PODE TER O DIREITO de querer ou não seu nome ou sua imagem usada por terceiros.
E qdo. se trata de PESSOA PÚBLICA, como é o caso dos citados, é mais do que comum “encherem o saco” e entrarem na vida sem que ninguém dê direitos… é muito bom se meter na vida alheia com direito ou não… e é o que vcs “jornalistas” e fotógrafos fazem a todo momento. TODOS têm direito à vida particular…
Talvez você não saiba, mas a biografia do cantor(recuso-me a chamá-lo de rei) de autoria de Paulo César Araújo foi baseada em pesquisa jornalística. Segundo o autor, tudo que se encontra em seu livro já havia sido publicado. Não houve invasão de privacidade. Por outro lado, quem se dispõem a seguir uma carreira artística, política, esportiva, etc…deve entender que esse é o tributo a ser pago.
Nos Estados Unidos, parece-me, já existe jurisprudência sobre o assunto: o interesse público deve se sobrepor ao interesse privado. Por exemplo, celebridades não podem utilizar o peso de seu nome para induzir o cidadão comum.
Caro André,
Sobre o lançamento sem autorização do artista: eu sou contra. Este ser que vos escreve é na verdade um blogueiro aspirante a escritor (rs), mas se algum louco lançasse uma biografia a meu respeito, eu queria ler antes de ser lançado. Vá saber o que o cara escreveu a meu respeito…
Quanto à capa desse livro sobre a Jovem Guarda tá bem legal. Não vejo nada demais. Mas se o cara não gostou, tem todo direito de reclamar.
Grande abraço,
Buenas.
Nossa classe de “artistas”, em sua maioria – nunca se deve generalizar -, parece sofrer de narcisismo, apenas se preocupando com sua imagem e não com o que acontece no país. Compreensível, já que muitos são instrumentos para desviar a atenção do povo, que não nota o quanto é vítima da corrupção e de outras sequelas que marcam o país.
Quantos artistas se mobilizaram contra o controle que o Legislativo tenta impor ao Judiciário? Quantos chamaram a atenção sobre o fato de estarem tentando proibir o Ministério Público de investigar? E isso só pra falar dos novíssimos problemas, e que deixam qualquer cidadão de bem estupefado.
Não é de se estranhar que nenhum deles tenha se manifestado, pois sua função não é essa, mas a oposta.
Roberto Carlos e Pelé são ótimos exemplos. Ótimos em sua área de atuação profissional, mas que deveriam se envergonhar quanto à falta de engajamento social.
E quando se manifestam costumam decepcionar. Haja visto o episódio da Usina de Belo Monte quando os comentários, como sói acontecer, “polìticamente corretos” das celebridades envolvidas foram desmontados, um a um, por especialistas no assunto.
Se o Roberto Carlos (que possui uma perna amputada) tivesse esse mesmo entusiasmo que ele tem para militar em defesa das pessoas que, assim como ele, possuem problemas de locomoção/deficiência física, tenho certeza que viveríamos em um país um pouco melhor nesse sentido…
Sabe uma pessoa que não tem interesse nenhum em qualquer coisa referente ao Roberto Carlos? Pois é, esse cara sou eu…
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk boa..somos dois
Algo semelhante ocorre com os EUA. Questionados sobre quem eles preferem sacanear no South Park, os criadores da série, Matt Stone e Trey Parker, disseram, sem pestanejar, que eram os democratas.
Hollywood, um caso à parte. Disseram, inclusive, que a única vez que alguém tentou abertamente censurá-los foi o ícone da liberdade de expressão Sean Penn.
André, complementando o comentario anterior, e fazendo justiça ao Roberto, mas sua inexpressividade quanto ao dia-a-dia do nosso tropical acampamento é um vicio de toda classe artistica brasileira: ninguém assume posições claras sobre temas politicos ou civis (politicos, apenas mediante cachês nas campanhas eleitorais). Existe um temor quanto a arranhões na popularidade, dependendo do grau de aceitação ou aprovação sobre o posicionamento do artista (o que se vê la fora, atores e cantores assumindo riscos mas expressando opiniões, inexiste por aqui…). Entre eles então, vigoram as leis do corporativismo.
Aproveitando o comentário do Celso, alguém poderia me dizer por que no Brasil não há mais programas de sátira política? Lembro de quando era criança e havia o programa do Agildo Ribeiro que fazia isso… Acompanho muito a situação política da Itália (até porque é quase um filme) e o maior comediante da atualidade lá é um sujeito que aloura todos os partidos, e não somente imita a voz deles, em geral com conteúdo. Obviamente isso faz com que haja muito mais atenção para questões políticas
É verdade. talvez seja decorrência do fato das grandes emissoras não investirem, como antes, em programas humorísticos.