Entrevista com ambientalista do governo expulsa do Rio de Janeiro à bomba
30/04/13 07:05Dia 9 de abril, uma bomba foi colocada na casa de uma analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A explosão não teve feridos, mas danificou a casa da analista, que trabalha na Área de Proteção Ambiental Cairuçu, em Paraty, no sul fluminense. A Polícia Federal investiga o caso.
A APA Cairuçu é responsável pela preservação de 63 ilhas na Baía de Paraty e de 33 mil hectares (330 km2) de área continental, É a maior concentração de áreas remanescentes de Mata Atlântica da Serra do Mar.
Se os autores do atentado queriam assustar a ambientalista, conseguiram: depois de seis anos trabalhando na região de Paraty, ela acaba de pedir transferência para fora do Rio de Janeiro. “Tenho família e estou com medo.”
Não foi o primeiro caso de profissional que abandonou a Cairuçu: há dois anos, uma fiscal ambiental pediu transferência depois ter dois carros queimados, em 2008 e 2011, na porta de casa.
A vítima deste novo atentado concordou em falar à “Folha”. Só pediu para não ser identificada. Ela diz que o trabalho da APA é sabotado (“abandono institucional” foi a expressão usada) para favorecer a especuladores imobiliários e que os fiscais não contam sequer com um barco, mesmo sendo responsáveis pela fiscalização de 63 ilhas.
– Qual a sua função na APA Cairuçu?
– Sou analista ambiental. Meu trabalho é emitir pareceres. Eu não sou fiscal. Meus pareceres são usados para embasar o auto de infração feito pelo fiscal. Todos que trabalham na APA são analistas ambientais, mas alguns se capacitam e fazem um curso extra para virar fiscal. Esses fiscais são quem podem ir a campo e dar multas.
– E quantos fiscais trabalham na APA Cairuçu?
– Hoje temos um fiscal e cinco analistas.
– Um fiscal para 63 ilhas e 33 mil hectares? Não é pouco?
– Sim, e este fiscal é nosso chefe, que acumula o trabalho de fiscalização com o de chefia.
– Quando você chegou a Paraty para trabalhar na APA Cairuçu, quais foram suas primeiras impressões sobre o trabalho?
– Cheguei em 2007, quando ainda era Ibama. Fiquei surpresa. Não imaginava que, entre Rio e São Paulo, pudesse existir um escritório tão carente em todos os aspectos. Para você ter ideia, até o ano passado a gente não tinha nem limpeza nos banheiros. Temos uma área insular para fiscalizar e não temos barco. Quem banca o barco, e mesmo assim alugado, é o S.O.S. Mata Atlântica. Percebi que, ao longo dos anos, o abandono institucional do escritório fez com que muitas ocupações irregulares fossem surgindo na área. A sensação que dava era que seria interessante que a gente não funcionasse, para esses especuladores imobiliários poderem atuar.
– Quais os principais problemas que você verificou nesses seis anos?
– Aqui existe especulação imobiliária de luxo na costeira e nas ilhas. Tem privatização de praias, que também é promovida pela classe alta. Claro que temos conflitos ligados a classes sociais mais baixas, mas são conflitos menos impactantes. Geralmente é o morador das ilhas que não tem fossa e que joga esgoto nos córregos. Também é um problema, mas é bem mais fácil resolver.
– Você diria que os principais problemas são ligados a casas de luxo?
– Sim, os maiores conflitos são ligados a mansões de veraneio e ocupação irregular das ilhas. Claro que essa ocupação irregular interessa a vários grupos, desde os comerciantes locais que querem abrir negócios nas ilhas aos veranistas de luxo.
– E a privatização das praias, como ocorre?
– Há pouco tempo, fizemos uma operação para combater essas privatizações. Batizamos a operação de “Farofa 1”. Fomos às praias à paisana, mas fomos abordados até por seguranças armados. Também fomos filmados e fotografados, e acho que isso pode ter dado problema para mim também. Essa operação foi só na costeira. Íamos fazer a operação “Farofa 2”, que seria nas ilhas, mas agora não vou mais fazer, vou embora.
– Em que praias ocorreram essas abordagens de seguranças?
– No Saco do Mamanguá tem privatização de praia. E na costeira de Paraty também. Lá os seguranças nos filmaram e fotografaram. E ali já teve ação judicial para tirar estruturas particulares deles. Já fizemos relatório e mandamos para o Ministério Público. A mansão tem uma piscina na areia da praia e seguranças armados. Eles abordam quem chega à praia.
– Qual seria a intenção de quem mandou colocar uma bomba na sua casa?
– Na região de Paraty existe uma intenção de alterar o decreto da APA que protege as ilhas. Esse decreto é de 1983. Existe um movimento, que tem apoio de alguns vereadores e políticos locais, para flexibilizar esse decreto, anistiar quem fez coisas erradas e permitir a especulação imobiliária nas ilhas. Esse movimento é ligado a grandes especuladores e a grupos ligados aos veranistas de luxo.
– Você acredita que esse movimento pode conseguir mudar a lei?
– Não sei, mas tenho certeza que esses conflitos não estão resolvidos e vão dar muito o que falar.
– Como foi a decisão de pedir transferência de Paraty?
– Eu vim morar em Paraty para estar perto da natureza e ajudar a protegê-la e para viver sossegada, mas estou vendo que nem a natureza está sendo protegida e nem eu estou vivendo em paz. Tenho família e não dá para trabalhar aqui com meio ambiente. Essas pessoas realmente querem um lugar sem lei entre Rio e São Paulo, que elas possam privatizar e usar como quiserem. E conseguiram.
P.S.: Há pouco mais de um um ano, chamei a atenção para uma reportagem da revista norte-americana “Bloomberg Markets” que trazia fotos e mais informações sobre as mansões construídas irregularmente em áreas de preservação. Você pode ler meu texto aqui.
Engraçado como que o homem, acha que é poderoso,com suas munições ,será que não sabe que DEUS é o verdadeiro dono de tudo, vcs com os seus dinheiros acham que podem compra, vidas , naturezas….esquecem que vcs tem família .
Fico imaginando como que vcs encaram as pessoas olhos nos olhos,como dormem em seus leitos podre cheio,de injustiças meu DEUS não sabem que quando morrerem vão carregar choros murmúrios parem de serem tão. Cruel com a natureza, e as pessoas enquanto é tempo…..
Quando não são as mansões dos abonados, são barracos que pipocam destruindo a Serra do Mar e o que resta de Mata Atlântica. Neste caso porém, a mídia costuma amarelar e não mexe no barril de pólvora.
De Campinas ao Rio, passando por São Paulo, vale do Paraíba, baixada Santista e baixada Fluminense, mora um monstro populacional de 35 milhões de cabeças. E continua chegando mais gente gerando mais problemas sociais, como Pinheirinho 1 e 2. Cresce a pressão de demanda por serviços públicos saturados como escolas, hospitais, transporte e habitação. Sem falar na espiral sem fim de violência, ar irrespirável de São Paulo e institucionalização de favelas via TV. O governo responde com destinação de verbas para o minha casa minha vida, programas assistenciais, construção de escolas, postos de saúde, creches mil, etc. etc.
Ninguém pára para pensar que essas medidas são um enxugamento de gelo sem fim. O governo está cuidado dos efeitos em detrimento das causas. É como querer resolver problemas do trânsito construindo viadutos, avenidas e túneis. O benefício momentâneo acaba servindo de estímulo para que venham mais automóveis.
O nordeste vive sua pior seca em 50 anos. Porém, sai década entra década e o governo não se prepara para enfrentar a seca. A solução que as pessoas encontram é rumar para o sudeste não mais em busca de emprego mas de sobrevivência. Do ponto de vista político é ótimo: quanto mais gente, mais votos.
A previsão do Conselheiro não estava de todo errada. O sertão está virando um mar de solidão e o sudeste é o novo sertão, com racionamento de água e tudo.
Vamos esperar até que caiam as últimas árvores dos menos de 7% que restaram de Mata Atlântica para, quem sabe, o governo federal enfim acordar e compreender que o maior problema brasileiro hoje é o crescimento da pauperização no sudeste via imigração, deixando lá longe em segundo lugar a concentração de renda.
Eu soube. É muito triste isso! Conheço a analista, uma pessoa super bacana. Infelizmente essa é a realidade que vivemos aqui. Tem muita gente perigosa disfarçada de gente boa. Muita mentira, calúnia, ameaça, especulação. Uma face muito feia da cidade que retrata a situação do nosso país. É por isso que vivo postando e-mails de reflexão e espiritualidade.
Gostaria de me candidatar no lugar dos ambientalistas que estão deixando o local de trabalho, Cairuçu. Conheço bem a região e não tenho medo.
esqueci de deixar o contato
iuri.ribeiro@ecoplan.com.br
Bater em político é fácil, difícil é comprar briga com quem manda de verdade
http://achadoseconomicos.blogosfera.uol.com.br/2013/04/30/corte-nos-juros-faz-pais-economizar-um-bolsa-familia-em-um-ano/
5000 famílias ficam com 85% dessa grana;
10 milhoes de familias ficam com a grana do bolsa família
só um tsunami pra resolver esses problemas
Como diria o dono de uma das mansões na região, “Loucura, loucura, loucura”.
Proteger o meio ambiente virou ato subversivo!
Os lobistas da construção civil esvaziam o papel de fiscalizador do estado. Planos diretores e legislações ambientais são solenemente ignorados e o resultado são construções brotando em lugares indevidos, gerando problemas ambientais, de tráfego e mesmo de infra-estrutura.
Triste saber que fiscais que seguem o caminho da retidão tenham de enfrentar tamanha truculência.
André, acabei de ler no blog do Régis Tadeu que, por conta das constantes vigarices cometidas por brasileiros, estes foram colocados numa lista negra do site E-bay, com uma série de restrições e ameaças de punição. Os detalhes estão lá (http://br.omg.yahoo.com/blogs/mira-regis/fiquei-sabendo-que-204340795.html#more-id). Você compra por este site, não? Sabia de algo?
Não compro muito não pelo Ebay, mas uso de vez em quando. Não sabia disso, que vergonha.
Não achei nada no site do eBay sobre essas novas regras. Tem algum link? Em buscas no Google, só achei essa notícia em fóruns meio suspeitos. Não tenho certeza de que é verdade.
Parece coisa de resmungão, mas quem procura seguir princípios de honestidade nesse país fica sempre enojado com os absurdos que acontecem neste país. Quando eu imagino a quantidade de vagabundos que têm por aqui, desde o traficantezinho que trabalha pro traficantezão até os grandes ladrões do dinheiro público, chego a ficar com dor de cabeça.
André, não entendo nada da prática jornalística e acho que o procedimento de um jornal pode diferir de outro segundo a linha editorial, por isso, pergunto: no caso da Folha, uma vez exposto um caso como esse, o jornal fica em cima do caso, buscando outros envolvidos (governo, “posseiros” etc.) ou pára por aí? Pode ser uma impressão completamente errada a minha, mas certos casos são denunciados pela imprensa e, depois disso, nunca mais se trata deles. É claro que, fosse o Brasil um país minimamente sério, as autoridades tomariam imediata providência ante essas denúncias, mas ocorre é que, muitas vezes, essas mesmas autoridades já conhecem o problema de há muito e nada fazem, por conta de seus esquemas obscuros. Outras vezes, fingem fazer algo ou prometem fazer, pra, quando o caso for esquecido, deixarem tudo como está.
Os jornais muitas vezes ficam em cima, mas o governo demora muito a reagir e as coisas acabam esquecidas. Um caso desses seria motivo para o governo imediatamente despachar o MP para a cidade e investigar o caso a fundo. Mas não me parece haver vontade política de que as coisas aqui se resolvam.
Lembra bastante a história da Rosemary amante do Lula, que tocava um esquema de venda de licenças ambientais para um ex deputado fazer exatamente isso: lotear e construir em santuários ecológicos no litoral paulista. Pra ver como a coisa é feia e entranhada…
É isso aí, meu caro. O tamanho da encrenca é muito maior do que muita gente acha e dois carrinhos incendiados é troco de pinga perto do que pode acontecer.
Os professores de gramática decidiram atacar o Barça hoje. Nunca me divertir tanto lendo os comentários….
Só pra sair um poco desse clima tenso que está os comentários hoje. O que vc achou Barça da invenção do instrumento do Brown. Verdadeiro 171, pegou um instrumento que já existia botou um apoiador para os dedos na lateral e batizou de caxirola. Isso com certeza seria ótima no Garagem, pedir aos ouvintes para rebatizar a “invenção” do Brown.
É meu post de amanhã.
Mas precisou um revista estrangeira fazer uma matéria sobre algo que está acontecendo ao lado do famoso eixo Rio-São Paulo? Muito triste alguém que acreditava que poderia ajudar a melhorar o ambiente no qual vivemos ter que enfrentar a dura realidade que escancara com é o comportamento da elite brasileira.
A autora da reportagem é brasileira. E eu divulguei a reportagem dela.
Parabéns pela matéria, André.
Vou utilizá-la como trabalho escolar em educação ambiental, citando o autor e url, com sua permissão.
Claro!
Quase tudo o que leio ultimamente tem a ver com privatização de benefícios e socialização de prejuízos.
Os ativistas e ambientalistas deviam organizar diversas “Operações Farofa” nessas praias privatizadas – 1, 2, 3, 4, 5, etc., até as autoridades tomarem as devidas providências…
Ótimo post!