BoicotaSP vs. Anquier: todo mundo perde
02/05/13 07:05Publiquei ontem no caderno “Comida”, da Folha, um texto sobre a discussão entre o padeiro e “restaurateur” Olivier Anquier e o site BoicotaSP. (leia aqui).
Achei que minha contribuição ao assunto estava esgotada, mas acabei trocando algumas considerações, via Twitter, com o BoicotaSP, e achei que o assunto merecia uma continuação.
Duas frases escritas por um representante do site me chamaram a atenção.
A primeira frase foi uma resposta à minha opinião de que o nome do site não convidava muito ao diálogo e inibia a discussão, porque condenava os estabelecimentos ao boicote antes de ouvir o outro lado.
Resposta do BoicotaSP: “Mas se inibe a discussão, por que você escreveu sobre?”
Ora, escrevi exatamente porque julgo que o site não dá a devida atenção ao diálogo. Se desse, permitiria aos comerciantes publicarem seus depoimentos antes de ter seus estabelecimentos incluídos numa lista de locais a serem boicotados.
Quando eu disse que achava o nome “BoicotaSP” péssimo e inadequado a um site que diz incentivar o diálogo, o representante do site respondeu: “O nome foi inspirado no que Gandhi fez na Índia, boicotando produtos ingleses, forçando a discussão.”
Só para lembrar: a Índia foi dominada pelos ingleses por quase 200 anos, de 1765 a 1947, primeiro pela poderosa East India Company e depois pelo Império Britânico. Foi um domínio colonial marcado pela violência contra a população indiana. Gandhi não estava protestando contra o preço do croissant e não queria “forçar a discussão”, mas libertar seu povo.
TV Folha
Domingo passado, o “TV Folha” promoveu uma conversa entre Olivier Anquier e um dos donos do BoicotaSP, Danilo Corci.
Concordei com quase tudo que os dois disseram. Entendo a lógica de Anquier quando ele diz que um restaurante “pode cobrar 200 reais num ovo frito” se quiser, mas acho que foi um exemplo ruim. Nem tudo que é legal é moralmente aceitável. Um dono de restaurante tem o direito de cobrar 200 reais num ovo frito? Claro que tem. A questão é se isso é eticamente condenável. Eu acho que é.
Agora, me surpreendi mesmo foi com uma frase de Corci. Quando Anquier fala da péssima formação dos profissionais de cozinha e dos impostos altíssimos que paga, Corci diz: “99% das pessoas lá (no site) não sabem disso.”
Será mesmo? Em que país vivem esses 99% que não sabem quanto pagam de imposto?
Minha conclusão: iniciativas como o BoicotaSP são muito válidas e necessárias, mas teriam mais eficácia se não se limitassem apenas a reclamar.
Parabéns aos criadores do site pelo sucesso e repercussão. É muito bom ver que os consumidores estão atentos. E fica a sugestão: por que não mudar o nome do site para algo menos punitivo e realmente abrir espaço para a discussão? Seria bom para todos.
P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o meio da tarde e, portanto, impossibilitado de moderar os comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, por favor não me xingue ou reclame de censura. Obrigado.
André,
Eu vi seus tweets… achei vc agressivo, às vezes vc é agressivo, leio seu blog há mto e sou fã do Garagem desde a Brasil 2000 ( só pra dizer que não cheguei aqui hj tá)
Bom, enfim acho que andamos todos muito putos, aff. Na internet então? nossa! milhões de pedradas sobre tudo e todos, as vezes fico assustada com as coisas que leio nos comentários nos meus blogs preferidos
Qto ao BoicotaSP, é simples.. tudo lá agora ‘é caro’, ‘é um absurdo’, ‘o dono do restaurante tem que morrer’, então pra mim não serve mais
t+
É a era do “mimimi”, Barcinski. As pessoas só fazem reclamar, mas agir que é bom. Ponto para o site “SPHonesta” que indica locais bons e baratos, sem ofender ninguém.
Quanto Anquier fala que um restaurante pode cobrar 200 reais em um ovo frito se quiser, isso não é imoral se o cliente é avisado antes e pode ter a opção de ir embora do restaurante. O restaurante cobra o que quiser mas o cliente tem a opção de não querer nem ovo frito e nem querer permanecer no restaurante. A idéia do BoicoteSP é boa mas se não escuta o outro lado, pode favorecer equivocos. Eu posso ter uma irmão dona de restaurante e querer prejudicar um concorrente dela.
Comentário um pouco atrasado, mas acho que ainda vale. Entrei no tal site, e a conclusão que tiro é que, apesar de uma boa idéia, se continuar do jeito que está vai rapidamente perder toda credibilidade e acabar no esquecimento. A maioria das reclamações são totalmente insensatas. Uma delas reclamava do preço de um sanduíche no “pobrezinho” hospital Albert Einstein, outro pediu boicote a uma padaria por ter cobrado um preço para ele abusivo de um sorvete Haagen Dasz, sem antes fazer uma básica pesquisa no Google sobre os preços desse sorvete. Eu fiz, e vi que o preço estava totalmente dentro da faixa normal (o sorvete, como todos sabem, é caro mesmo, compra quem quer). Acho que falta um filtro, uma moderação, talvez em nome de uma democracia, que está virando bagunça, cheia reclamações sobre estabelecimentos e produtos de pessoas que não são o público-alvo destes, ou se são, que se tenha algum critério por parte dos administradores do site antes de publicar as reclamações. Desse jeito, o peixe vai morrer pela boca…
Otimo, o blog do BOICOTA, tem que vir para o Rio de Janeiro, uma cidade que esta ficando insustentavel, ja mudei tres vezes em quatro anos, pois os preços são absurdos, estou cada vez mais longe do centro-trabalho, vou acabar na periferia, pois temos milhoes de estabelecimentos que so pensam naquilo$$$$, vida a democracia, liberdade de expressão.
Acho ótima a iniciativa do site, mas há que se ter cuidado para não se repetir o mico das fiscais do Sarney. Empresário e lucro não podem virar Geni de novo. A produtividade do país fica comprometida com incompetência técnica do governo e corrupção generalizada. Por outro lado, do dia para a noite os bancos e o próprio governo passaram a incentivar o endividamento de forma agressiva e o consumismo foi confundido com integração social. As pessoas compram casas sem entender direito que comprometeram 30anos de vida por um bem que triplicou de preço nos últimos anos, imagine quando estão comprando mimos ou frequentando lugares por status, pagam qualquer preço.
Tudo isso tem a ver com o deslumbre de se ter dinheiro. Só isso. Oportunidades, e nada mais. Hoje, temos dinheiro e não sabemos o valor dele. Pagamos aquilo que nos cobram, e ponto. O que importa é estar em um restaurante bom (ou mequetrefe) e dizer o quanto pagamos caro por aquilo e tirar uma foto do prato e publicar na rede social. Coisa de gente que nunca teve dinheiro e está ansiosa por ter aquilo que nunca teve. É uma fase e espero que passe o mais rápido possível. Espero que as pessoas tenham noção de preço e paguem o que é JUSTO, palavra ignorada até agora em todos os debates que li a respeito. Além disso, não achei “boicote” uma palavra despropositada. Pelo contrário. Os empresários cobram o que querem, batem no peito e dizem “tem quem pague”. Os consumidores, portanto, tem o direito e boicotar aquilo que acham injusto. É uma faca de dois gumes.
Acho que o barcinski deveria mudar o nome do blog dele. “Tolos” é uma palavra meio agressiva, não acham ? Ops! O que eu tenho a ver com isso ? O blog é dele !!!
Buá buá.. Snif, snif… Como assim, você não gosta do nome do blog? Foi inspirado em Madre Teresa de Calcutá, Nelson Mandela e Buda! Vou juntar meus amigos e chorar…
Droga… mais uma vez eu não consigo emplacar uma ironiazinha… Um dia chego lá.
Boa! Que tal mudar para “Uma Reuniãozinha de Bobinhos”? Bem mais singelo e não inibe a visita de pessoas mais delicadas.
Que tal Filhos de Gandhi?
Eu também achei o nome “BoicotaSP” péssimo e pior ainda o cara dizer que as pessoas não sabem o custo que se tem com impostos.
Acho que é válido se discutir os preços mas cada um decide se quer pagar ou não.
Oi Barça, tudo bem? Estou indo para Paris, Londres e Amsterdã. Vc teria alguma dica ogra para essas cidades?
abs e obrigado.
Entrei no site, dei uma boa olhada e confesso: não vi nada de agressivo ali. Boa iniciativa, com um nome chamativo
O importante é trazer a questão do custo x preço para o debate.
Claro, se o cara quer pagar 200 reais por um ovo frito, como falaram, problema dele. Ele está no seu direito.
Por outro lado, qual o motivo de condenar uma iniciativa que me informa que o restaurante X cobra 200 reais por um ovo? Eu estou no meu direito de ler e interpretar como eu quiser. Livre-arbítrio, eu vou lá se eu quiser, assim como o cara compra o tal ovo de 200 mangos se ele quiser.
Aproveitando o ensejo: vamos parar com a palhaçada de tachar tudo qualquer iniciativa de “esquerdismo comunista” e expressões afins. Isso também vale para o “fascismo moderno” etc …
Concordo Antonio !
Pra mim é simples.. se que pagar caro, pague.. se não quer, procure algo de acordo com suas finanças.
O que eu acho ridículo são os donos de restaurantes se defendendo dizendo que usam produtos especiais blá blá que compram no CEAGESP! Assumam que estão ai para ganhar dinheiro e pronto.. não é crime…
Eu apoio a iniciativa do BoicotaSP e não tem nada de agressivo !
E o Ceagesp não vende produtos “especiais”?
Barcinski, o que você acha de uma coxinha por R$ 9,50 (tem um relato lá assim)? Será que é com “produtos especiais” também?
Paulo, numa boa, eu perco meu tempo respondendo a comentários aqui, e às vezes me arrependo, porque uns malas como você usam exemplos escolhidos a dedo como se representassem a totalidade da discussão. E daí que tem um lugar que cobra 9,50 numa coxinha? Isso quer dizer que o Ceagesp não vende “produtos especiais”? Vc já foi ao Ceagesp? Tem tudo lá, de chuchu a produtos importados e caros. Aprenda a discutir em alto nível, não rastejando como uma minhoca.
Tu chama quem perde tempo lendo seu blog de “mala” e eu que tenho que aprender a discutir em alto nível? Só queria saber qual dos argumentos (produtos especiais, custos, etc) poderiam ou não ser usados para justificar o preço de R$ 9,50 numa coxinha?
E eu lá sou do sindicato dos protetores de coxinha cara? Você deve viver num mundo onde comerciantes não são clientes também, não é possível ser tão ingênuo assim. Quer dizer que o Brasil só está caro pra você? Os empresários devem ter um sistema de troca de produtos gratuitos, né? Assim eles podem ter mais tempo pra ficar pensando esquemas para roubar o povo sofrido, que se inspira em Gandhi. Que maletice.
Ué, mas não foi você que disse que o site Boicotasp deveria “ouvir o outro lado”? Imagine o cara chegando lá e perguntando: “Por que a coxinha do senhor custa R$ 9,50”? Seria hilário!
Por que “hilário”? Não tem nada de hilário ouvir o outro lado.
Sou presidente do sindicato dos protetores de coxinha (e dos coxinhas) e explico o porquê do valor desta iguaria: A carne não é de frango comum, e sim de um frango virgem da mongólia, criado com ração à base de trufas brancas defumadas, o que dá uma consistência tenra à carne. As tratadoras são universitárias virgens russas fãs do pussy riot e das pussycat dolls, o que agrega mais valor ainda.
A Ceagesp é o maior entreposto de abastecimento da América Latina, comercializando mais de 250 toneladas de alimentos por mês. TODO alimento comercializado no Brasil passa por uma de suas unidades (lembrando que existem alguns “terminais” em São Paulo, mas o maior é o Jaguaré, na capital). Se um “restauranter” quiser comprar uma caixa de tomates italianos, esses tomates não chegarão via e-mail, muito menos chegará de paraquedas no restaurante. Em algum momento esse tomate, mesmo que importado, passará pela Ceagesp. Vendo que muitos Anquiers compravam estes produtos, alguns comerciantes da Ceagesp (os chamados “donos de box”) se especializaram no comércio desses produtos “especiais”. Então sim, todo tipo de alimento especial pode ser encontrado na Ceagesp.
Obrigado pelo esclarecimento, Bruno. Mais uma vez, fica provado que é muito mais fácil xingar no Twitter e bater pezinho do que tentar se informar.
Off topic, eu sei, mas eu queria sugerir um post seu sobre o Lobão. Abraço.
Na época da inflação braba tentaram conter a inflação na marra, por decreto, e aí “Os Fiscais do Sarney” berravam contra qualquer preço alto, tudo tinha que ser tabelado e nos conformes, um radialista em tom de protesto exigir que um litro de leite no Maksoud (na época um “must”, ops, isso faz tempo, heim) e o gerente disse que não estava tirando o leite das criancinhas.
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Os tempos surreais voltaram. De novo, não! Ninguém merece.