Olha quem está de volta...
09/05/13 07:05Inacreditável. Dezessete anos depois das mortes de PC Farias e da namorada, Suzana Marcolino, começa o julgamento de quatro policiais militares acusados pelos crimes. Dezessete anos para começar um julgamento.
Suspeito que a grande maioria dos leitores nem sabe quem foi PC Farias. Por alguns anos, ele foi uma presença dominante na política brasileira, primeiro como tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Mello à presidência, em 1989, e depois como pivô dos escândalos de corrupção que levaram ao impeachment de Collor, em 1992.
Em 1989, Collor venceu Lula na corrida presidencial. Collor foi vendido ao povão como um político enérgico e cheio de novas idéias, conhecido por “Caçador de Marajás”.
Nessa época, eu era “foca” da editoria de fotografia de um jornal carioca. Dei muita sorte: numa tarde, o editor virou-se para mim e disse: “Hoje tem o lançamento da candidatura de um tal de Collor, vai lá e fotografa.” Collor era um dos últimos nas pesquisas. A Globo ainda não havia entrado pesadamente na campanha do “Caçador de Marajás”, como faria depois, quando percebeu que Collor era o único que poderia bater Lula e Brizola.
Fotografei o lançamento da campanha de Collor no Rio. Lembro que foi um evento melancólico, com pouca gente e uma ou duas celebridades presentes (precisaria checar nos arquivos do jornal, mas tenho quase certeza de que Claudia Raia estava lá).
Comecei a acompanhar Collor em suas andanças e comícios pelo Rio e pude testemunhar o crescimento impressionante de sua popularidade. A assessora de imprensa da campanha de Collor era a jornalista Belisa Ribeiro (mãe do rapper Gabriel, o Pensador), que eu admirava, na época, por um livro sobre o atentado do Riocentro.
Quem acha que hoje existe polarização política entre tucanos e petistas não tem ideia do que foi a campanha de 1989. Não era incomum ver brigas na rua entre partidários de Collor e de Lula. Uma carreata da campanha de Ronaldo Caiado, candidato ligado à UDR e aos grandes latifundiários, foi recebida a pedras e ovos no Rio.
Na rua, circulavam vários panfletos apócrifos, uns dizendo que Lula iria obrigar todo cidadão a dividir suas casas com integrantes do MST e com extremistas cubanos, outros dizendo que Collor era usuário de cocaína.
Minha impressão sobre a campanha de Collor era que ninguém sabia o que estava fazendo. Os comícios eram uma bagunça, os assessores, uns trapalhões. Nem eles imaginavam que Collor acabaria eleito. Collor vivia gritando com todo mundo, sempre nervoso e paranóico, dando “bananas” para quem o vaiava. Pelo menos rendia grandes fotos, como esta (não achei o crédito, mas acho que é de minha então colega Christina Bocayuva).
O governo Collor foi uma sucessão de trapalhadas. Imagine o elenco de “Zorra Total” no Planato, e você terá uma ideia. Collor vivia se exibindo de jet ski; a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, teve um “affair” tórrido com o então Ministro da Justiça, Bernardo Cabral, e depois contou tudo ao escritor Fernando Sabino no livro “Zélia, Uma Paixão”, que praticamente acabou com a carreira de Sabino.
O ministro do Trabalho e Previdência de Collor era o sindicalista Rogério Magri, que, antes de sair do governo por acusações de corrupção, criou frases memoráveis, como “o salário do trabalhador é imexível” e declarou que cachorros eram seres humanos.
Em dezembro de 1994, cinco anos depois da eleição de Collor, meus caminhos cruzaram de novo com as da família Collor. Eu era correspondente em Nova York , quando o irmão de Fernando, Pedro Collor de Mello, que denunciara o esquema de corrupção chefiado por PC Farias, morreu num hospital nova-iorquino de câncer no cérebro.
Passei semanas acompanhando a família de Pedro no hospital, incluindo sua esposa, Thereza. Foi um capítulo shakespeareano da história brasileira: o sujeito denuncia o próprio irmão, que é tirado da Presidência. Dois anos depois, o acusador morre de um tumor fulminante na cabeça. Não foram poucas as teorias sobre magia negra e feitiçaria.
Teve o lance mãe do Collor, que entrou num coma longo, pouco antes dos escândalos, e morreu sem saber de nada.
Será que a Rose (amante do lulla) também vai ser suicidada ???
Pena que o impeachment não se repetiu com o circo do lulla …
A situação era catastrófica, o tal plano foi originado na campanha por Ulysses do PMDB, foi apresentado a Lula e depois da vitória de Collor, que não tinha plano.
O tal plano, assim como o cruzado de Sarney e assim como a revolução era uma tertúlia, era um clamor nacional, um golpe na poupança apoiado por todos. Hoje economistas renomados dizem que o plano era necessário.
Dilson Funaro ministro da fazenda do Sarney havia tentado de tudo, até que percebeu que única maneira de conter a inflação nacional era abrir as fronteiras e competir com os preços internacionais que assim manteriam um patamar. Collor arrogante, cometeu o erro fatal de não ter o congresso nas mãos.
Collor mal ou bem abriu as fronteiras (transformando assim as nossas carroças em carros) e fomos obrigados a entrar na briga a sério. Essa tresloucada abertura, permitiu o plano real, depois de mais algumas tentativas de enganar o economia que deram errado.
André, na sua opinião, se o 2º turno tivesse sido entre Brizola e Collor, Brizola teria chance ou a Globo ia interferir ainda mais?
Acho que o Collor teria levado de qualquer maneira.
Lembro também do Jello Biafra falando do Collor no livro “Barulho”: “E o seu presidente, continua usando aquelas camisetas ridículas? Imagine que o Clint Eastwood seja eleito presidente. É a mesma coisa. O cara é novo, bonitão e metido a macho. Acho fazem a mesma coisa com o Bush, ficam mostrando ele jogando golfe, tênis e outras merdas”.
E o livro continua com passagens geniais:
“Jello se mostra preocupado com a situação brasileira: ‘Como está a floresta amazônica? A Globo ainda monopoliza a informação no país? São Paulo cresceu muito? A última informação que tive era de que tinha mais de 12 milhões de habitantes’. As respostas o deixam arrasado: ‘A floresta está sendo destruída, a Globo continua mandando e São Paulo já tem 15 milhões de habitantes’. ‘Oh shit’, resume Jello com perfeição.”
Engraçado fazer a mesma análise 20 anos depois e ver que tudo que podemos dizer é, de novo, “oh, shit”.
“Eu vou acabar com essa inflação com um tiro. Sarney não tem vergonha na cara. Esses industriais de São Paulo são coronéis da indústria que não se preocupam com o povo. Descamisados e pés descalços, eu vou levar vocês pelo deserto até a terra prometida: Miami.” Fernando Collor de Melo, candidato à presidência apoiado por todos os meios de comunicação e por todos os empresários do Brasil.
O que eu me lembro dessa época e tenho até hoje é uma revista que se chama ANORMAL, não existia photoshop mas eles faziam um brilhante trabalho colocando todos os políticos ministros e etc em corpos de mulheres geralmente de bikini ou até nua , até hoje quando eu folheio essa revista eu dou risada. 89/90 foi uma bela piada
O tempo provou que Rogério Magri estava na vanguarda: seu português e seu apreço pelos caninos que, na época, foram motivo de piada, viraram a regra da vez.
lembro perfeitamente dos panfletos anti lula que eram espalhados pela cidade, inclusive um bem interessante: LULA LÁ, ERUNDINA AQUI E NÓIS Ó!
talvez vc ñ saiba, mas a igreja universal na epoca, colocava inumeras pessoas pra fazer campanha de rua, fora que os pastores tb em pulpito, pregavam a politica do candidato “de deus” e do diabo, fora o material dos 2 LL em verde e amarelo por tds lugar…
A diferença é que hoje a polarização partidária é meramente uma luta pelo poder, não há nenhuma grande diferença entre petistas e tucanos. Aquela eleição de 1989 aconteceu num mundo ainda dividido entre dois modos de produção, o PT era de fato um partido de esquerda e o Collor era um fio tão desencapado, que a direita inventou uma candidatura Sílivo Santos quase na reta final da campanha. Tenho certeza que isso aconteceu e não foi uma bad trip minha.
André, lendo depois sobre aquela época, vi que o Collor caiu pelo simples motivo que não tinha maioria no Congresso e nem apoio na mídia, e com as pataquadas do seu governo, não tinha nem clima pra continuar por lá, e ainda tem gente que acredita que foram os “caras-pintadas”….
Isso mesmo João… Tiraram ele e a turma, porque queriam roubar sozinhos…. FHC e Lula entenderam o recado. FHC comprou todo mundo pra passar as privatizações e com dinheiro público e moedas podres (precatórios). Mensalão é fichinha perto, mas ninguém investigou isso direito e deixaram esfriar.
Esse GJMCZ deve ser Grotesco Jumento Molóide
Cafajeste Zureta.As privatizações de FHC foram tão
ruins que a Lula e Dilma,o Batman e Robin do PT,não
reveram.Claro,se esconde atrás de siglas pra escrever
bobagens,mesmo sabendo que o titio Sarney,que
serviu a FHC,é aliado dos petebas.Então o GJMCZ
que vá PQDI e a PQP.
Eu ainda era criança nessa época, não entendia direito o que se passava. Mas essa época pra mim ficou marcada como uma transição do Brasil de carros quadrados para o surgimento de novos e arredondados. Como o presidente “curtia”, deu um jeito de adiantar o país pelo menos em tecnologia automotiva. Outra coisa que ele curtia bastante era status e por tabela, dinheiro, e o povo até então adorava ver o presidente garotão de jetski. Hoje, olhando e lendo sobre os fatos, a impressão é que o povo foi levado a acreditar que tirou um presidente do poder, e não a Globo e outros interessados que ficaram de fora do esquema do PC Farias. Enfim, o resto é história.
MAIS UM
No governo Sarney a inflação chegou ao teto de 80% ao mês (mês mesmo). Todo mundo queria um culpado, e os “fiscais do Sarney” passaram a ser os “caçadores de marajás”. A briga entre o “eles” e “nós” ficou restrita a isso. Quem tinha um emprego melhor (classe mérdia) já era chamado de marajá.
Collor foi o candidato que melhor e mais bateu em Sarney, detonou o cara, quando se recusou a pagar 300 marajás que ganhavam altos salários, rasgando o papel (como fez outro dia), ficou bem na fita, a coisa melhorou ainda mais quando Brasília e o STF ameaçaram uma intervenção no estado de Alagoas para que o pagamento dos Marajás (era uma “manobra dentro da lei”) fosse efetuado na marra. Collor estava com eleição, mas Lula conseguiu levar para o segundo turno encurtando bem à distância. Collor era uma espécie de super-Russomano ganhou a eleição com a manobra Lurian e ganhou o último de debate de Lula. Lula depois disse “se eu fizer 10 debates com Collor, ganho 9, mas aquele perdi”.
Publiquei um livro em 1992. Eu recebia a cada três meses. A inflação era de mais de 30% ao mês. Imagine quanto ganhei.
E o Morcego Negro?
E o Collor “pilotando” um caça?
E o “duela a quien duela” com o Collor travadão dando entrevista para uma TV Uruguaia (ou argentina, não lembro ao certo)?
E as macumbas na Casa da Dinda?
E a novela “O Marajá” (TV Manchete) que esculhambaria tudo isso no auge dessa tragicomédia de nossa história e foi “embargada”??
Muito bem lembrado esse seu texto, temo até por poder sofrer retaliações pesadas da turma de Brasília…
Cara, eu tinha entre 13 e 15 anos nessa época, já provido de algum senso crítico, era PATÉTICO o que o nosso país vivia. E é infinitamente mais PATÉTICO saber que o povo esqueceu TUDO uns três anos depois.
Bom, citaram o cinema aí e o fato de que se fosse nos EUA já teriam pipocado diversos filmes estilo JFK quase em tempo real. Vivemos uma república de bananas mesmo. A banana que o Collor manda pro povão, como na foto aí…
Deve ser por tais coisas que o dito cujo é senador e um aliado ferrenho dos petralhas, governistas da hora. São todos farinha do mesmo saco, ingrediente de um pirão bastante indigesto.
Só faltou alguém citar a famosa edição da Globo no Jornal Nacional do último debate entre Collor x Lula no segundo turno. Até o Boni admitiu recentemente que a edição foi pra lá de tendenciosa.
Tenho muita curiosidade sobre os bastidores desse governo e por isso sempre quis ler aquele livro “Notícias do Planalto”. Alguém já liu o livro? Tem bastante informação de bastidores da época?
Eu li quando saiu, lembro que achei muito bom, vale a pena.
Estou exatamente nesse momento lendo esse livro. Recomendo fortemente, é muito bom, principalmente pra saber quem é quem na mídia brasileira.
Só é preciso saber que o autor foi amigo pessoal do Roberto Marinho, ou seja, o texto é bastante franco, mas o ponto de vista é da situação, não da oposição.
e é bizarro saber tanto o Collor quanto o PC tinham bom relacionamento com Fidel Castro, com direito a envio de caixa de charutos personalizada para ambos e disponibilização de carro e funcionário para o Collor quando ele foi pra Paris, anos depois de deixar o cargo.
PC Farias é a maior prova de que não existe uma indústria cinematográfica no Brasil. Oliver Stone faria um belíssimo “JFK” com toques de “Wall Street”, sem dúvida nenhuma.