David Foster Wallace e a inveja do tênis
31/05/13 07:05Ano passado, a Companhia das Letras lançou um livro de textos de não-ficção de David Foster Wallace (1962-2008): “Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Que Longe de Tudo”. Se você não leu esse ou “Breves Entrevistas Com Homens Hediondos”, coletânea de contos de Wallace, sugiro correr à livraria mais próxima.
Dia desses, reli pela enésima vez o texto que fecha o livro de não-ficção, um artigo chamado “Federer como Experiência Religiosa”, em que Wallace relata seu fascínio pelo suíço Roger Federer, considerado por muitos – e pelo próprio Wallace – o maior tenista de todos os tempos.
É um dos artigos mais legais que já li sobre tênis ou qualquer outro esporte. Wallace adorava tênis e narra alguns jogos que viu em torneios profissionais. Fala também das mudanças que o jogo sofreu nos últimos anos, devido ao advento de raquetes modernas de grafite e titânio, que têm acelerado o jogo, e explica por que a experiência de ver um jogo na TV não se compara a vê-lo ao vivo.
O parágrafo que abre o texto é demais:
“Quase todo mundo que ama o tênis e acompanha o circuito masculino na televisão teve, nos últimos anos, o que pode ser denominado de Momentos Federer. São ocasiões em que, assistindo ao jovem suíço jogar, a mandíbula despenca, os olhos saltam para fora e os sons produzidos fazem o cônjuge aparecer na sala para ver se você está passando bem.”
Wallace descreve então um ponto da partida entre Federer e o norte-americano Andre Agassi, pela final do Aberto dos Estados Unidos, em 2005. Achei o ponto no Youtube. Sugiro que você assista ao ponto (começa em 1:57) antes de continuar a leitura.
Para quem não acompanha tênis, pode parecer uma jogada normal. Mas a reação do comentarista, o lendário John McEnroe, dá uma ideia do grau de dificuldade do golpe: “Agassi deve estar se perguntando como ele (Federer) acertou o golpe daquela posição (…) Muitos poucos jogadores, talvez só Roger, são capazes de acertar uma jogada assim”, diz McEnroe.
O que impressiona Wallace em Federer é a simplicidade, a maneira como ele transforma jogadas impossíveis em lances “normais”.
Essa jogada é o maior exemplo: Agassi está pressionado e rebate uma bola alta e profunda, na esquerda de Federer, que é destro e está no canto direito da quadra. A jogada de Agassi é puramente defensiva, um artifício destinado a lhe dar tempo para voltar ao centro da quadra e esperar a rebatida de Federer.
Mas o suíço, em vez de virar o corpo para a esquerda e correr de frente em direção à bola, o que o permitiria bater na bola no lado esquerdo do corpo, simplesmente anda para trás, com velocidade espantosa, a tempo de acertar a bola de seu lado direito e marcar um “winner”, uma bola que não permite a devolução do adversário. Uma obra-prima.
Se você tiver tempo, vale a pena procurar no Youtube a íntegra dessa partida, ou pelo menos assistir ao quarto set, que Federer ganhou por 6 a 1 e foi um dos maiores massacres que já ocorreram entre tenistas fora de série.
Interessante. Fédérer é realmente o melhor mas acho que mais técnico que ele era o francês Fabrice santoro . É claro que fédérer ganhava dele mas o jogo entre os dois eram de outro nível
Com a evidente decadência de Federer, me pego cada vez menos inclinado a assistir tênis. Não há nenhum explicação racional para isso. Nadal e Djokovic são ótimos, todo o circo montado em volta da coisa é divertidíssimo, etc. Mas Federer, de fato, era algo mais. Fico feliz por poder ter acompanhado o cara no auge.
Adoro Tênis, e Roger Federer é um gênio do esporte. Neste século, ele é tão importante para o sucesso do tênis quanto Tiger Woods (outro gênio) para o golfe.
Depois do futebol, considero tênis o esporte mais incrível de todos. Certas partidas entre grandes tenistas se transformam em batalhas técnicas e mentais sem precedentes em outras modalidades.
onde posso ler seus comentários sobre o jogo do Fluminense?
abraço
Fiz um blog só para falar do Flu: piorparaosfatos.wordpress.com, vou escrever depois de cada jogo.
Sou tricolor paulista, mas visitarei o blog sempre que puder. O Renato que também escreve no blog é um dos editores que trabalha no Fantástico? Abs!
O próprio.
Gente finíssima! Trabalhamos um tempo juntos por lá.
O Federer pode ser o melhor da história, mas o q o Kuerten fez em 1997 é pelo menos um dos três maiores feitos de qualquer esporte na história.
Ninguém tem como primeiro titulo um grand slam.
Além de tudo tem o estilo – a efetividade do Federer não vale 10% da criatividade do Kuerten.
O jogo contra o muster – um zé ninguem contra o melhor jogador de saibro da época
http://www.youtube.com/watch?v=ctRKG5R_dHc
Discordo. Guga foi um tenista extraordinário, mas não dá para comparar os feitos dele aos do Federer.
Sem dúvida, Federer é muito mais completo e está bem à frente de Guga somando tudo o que ocorreu na carreira de ambos. Mas vocês se lembram do jogo entre eles na terceira rodada de Roland Garros em 2004? Se não me engano o suiço já era o número 1 do mundo e foi “humilhado” pelo brasileiro – então já sofrendo com a contusão que encerraria precocemente sua carreira – com um triplo 6/4, sensacional. Nem o melhor do saibro de todos os tempos, Rafael Nadal, conseguiu posteriormente uma vitória tão contundente quanto a que Kuerten obteve contra Federer. Uma aula.
final de Roland Garros 2008: Nadal ganhou do Federer 6/1-6/3-6/0
Está certo, mas considerando que Guga já não estava no auge e que Federer era o número 1, foi um feito proporcionalmente muito mais espantoso.
O que estão esquecendo é que o Guga sempre foi jogador de saibro enquanto que o Federer foi e é jogador de quadra rápida, e posso te dizer que a diferença é quase igual a jogar futebol de salão e futebol na praia.
Ótimo texto André.
Me lembrei deste texto que foi publicado no O Globo há algum tempo: http://oglobo.globo.com/cultura/o-tenista-o-suicida-7056047
Olá André, estou sentindo a sua falta lá no Twitter, suas intervenções em 140 caracteres eram tão interessantes quanto seus posts nessa coluna.
Sobre o DFW, está entre os escritores norte-americanos mais interessantes da “safra recente”. Seus ensaios são geniais e gostei bastante também do livro póstumo The Pale King. Agora é criar fôlego para encarar o Infinite Jest, sua obra prima.
abraços.
Saí do Twitter, não aguentei. E confesso que ainda não me animei com as mil e tantas páginas do “Infinite Jest”, vamos ver se deixo a preguiça de lado.
Dando-se um mais que merecido desconto para o Agassi, cujo auge ocorrera dez anos antes. Em 2005 o veterano tenista já estava pendurando as raquetes, coitado. O Agassi das bandanas seria um adversário mais à altura do então jovem fenômeno (se fosse possível comparar jogadores de épocas distintas).
Agassi é o melhor adversário que Federer poderia enfrentar, só joga no fundo da quadra. Ele tem muita facilidade para se deslocar de lado e de costas, encontra o tempo de bola de um jeito que parece simples. Coisa de louco.
DFW não apenas adorava tênis, Andre. Ele chegou a ser um jogador rankeado na adolescência –apesar de nunca ter sido profissional. Abs,
Sim, é verdade.
Breves Entrevistas Com Homens Hediondos foi lançado em 2005, não no ano passado.
Tem razão, achei que os livros tinham saído juntos, valeu pelo toque, vou mudar no texto.
Federer é sensacional mesmo. Outro dia comecei a ver por acaso um filme chamado Wimbledon, com Kirsten Dunst e Paul Bettany. É bem divertido e o John McEnroe faz uma ponta impagável como um comentarista que detona o azarão vivido pelo Bettany, “É… hoje fulano vai ter dificuldade para conseguir um taxi de volta pra casa…”.
Comprarei o livro, sem dúvida, pois sou um aficionado pelo tênis desde que comecei a acompanhá-lo, lá pelo início dos 70, vendo Nastase e Connors principalmente. Federer é um esteta, um bailarino, eu não me canso de ver o suiço jogar. Mas veja como é interessante o esporte: surgiu um monstro chamado Rafael Nadal, que tem os segredos para enfrentar o considerado melhor de todos os tempos. O espanhol é o único que consegue manter Federer acuado no fundo da quadra e leva larga vantagem no confronto direto.
Desde que o Federer tinha 17 anos – o Guga era um dos principais tenistas do mundo, a época, ou havia vencido R.Garros – todos já diziam que ele era diferente, uma espécie de elo entre os tenistas do passado e atualmente.
Qual sua opinião sobre o Nadal, que vence o Federer a toda hora? Para mim, o Federer é um monstro, que executa um jogo muito bonito, bem pensado, mas perde para o Nadal – que é ótimo tenista – por conta de seu físico. Concorda?
No livro do Agassi ele diz que o Nadal é o tenista mais forte e rápido que já existiu. Acredito.
Bruno, o Federer talvez tenha sido o melhor tenista de todos os tempos, Nadal e’ o melhor tenista no saibro de todos os tempos. O confronto entre os dois no saibro esta’ 13×2 para o Nadal. Isto porque o Federer fez varias finais no saibro contra o Nadal, e perdeu. Por outro lado na quadra rapida (indoor) eles fizeram 4 jogos e o Federer ganhou todos.
O Nadal já ganhou do Federer na grama, em uma final de Wimblendon. E, se não me engano, já ganhou na Austrália, que é quadra rápida. Na verdade, ele fechou o Grand Slam com menos idade que o Federer, e ainda ganhou as Olimpíadas, título que o Federer deixou escapar no ano passado em final contra o Murray. Talvez em um critério estritamente objetivo, títulos e outros números, o espanhol termine a carreira à frente do suíço. Mesmo assim, acho que o Federer vai continuar sendo considerado o maior tenista da história, por causa do seu estilo e do domínio que exerceu dentro do esporte.
Eu não sabia dessa estatística, obrigado.
andre
mais uma vez surpreendendo. n~ sabia q vc era fa do gde Wallace e de tenis. do wallace li “history of infinity”. e’ um livro sobre matematica (n~ sei se vc gosta), mas foi um dos melhores livros q ja’ li de divulgacao cientifica. sobre tenis, vj o link abaixo sobre o problema dos joelhos do nadal… abs
http://www.nytimes.com/interactive/2013/05/26/sports/tennis/nadals-knee.html?_r=0
quem ja tentou jogar tenis sabe como é dificil! junto com golf e baseball entram no hall dos “esportes impossiveis”! 🙂 esses caras são anormais!