Dois músicos geniais em filmes desafinados
12/06/13 07:05Vi dois documentários na TV sobre músicos importantes: o primeiro foi “Michel Petrucciani” (veja horários aqui) sobre o cultuado pianista francês. O segundo foi “Dudamel: El Sonido de Los Niños” (veja aqui), sobre o regente venezuelano Gustavo Dudamel.
O filme de Petrucciani (1962-1999) é bem melhor, embora não empolgue. Difícil pensar em um personagem mais rico e cheio de histórias mirabolantes: nascido com uma doença rara, a osteogênese imperfeita, ou “doença dos ossos de vidro”, que não só prejudica o crescimento, mas torna os ossos do corpo delicados e sujeitos a fraturas, Petrucciani revelou-se um gigante – desculpe, não resisti – do jazz.
O filme traz imagens de arquivo impressionantes do menino tocando aos sete ou oito anos de idade e já assombrando a todos com sua técnica. Mas, para um personagem tão interessante, achei o documentário bem careta. Faltou ousadia.
Petrucciani é mostrado como um sujeito meio arrogante, que desde pequeno aprendeu a ver o mundo como um grande desafio. Está na cara que ele sente prazer ao ver a reação de espanto e curiosidade que causa em plateias.
Os trechos mais interessantes são os que descrevem a maneira inusitada como Petrucciani toca o piano. Por causa de seu tamanho, o músico era obrigado a verdadeiros malabarismos para conseguir cobrir toda a extensão do instrumento, e isso lhe causou imensos problemas físicos.
Em uma cena, o pianista quebra alguns ossos da bacia – ele vivia com fraturas em todo o corpo – e, mesmo contundido, chega ao final do show. Parece que ele sabia que tinha pouco tempo e levava a vida como um kamikaze.
O filme traz depoimentos de amigos, músicos e das várias ex-mulheres – Petrucciani era um amante sempre em busca de novas emoções, que não tinha remorsos em abandonar uma mulher assim que se interessava por outra.
Já o filme sobre Dudamel foi uma decepção completa. Eu estava curioso porque queria saber mais sobre O Sistema (El Sistema), o programa de educação musical criado na Venezuela e que revelou Dudamel, 32, hoje regente da Filarmônica de Los Angeles.
Mas o filme parece um comercial, uma peça de propaganda de Dudamel e de “El Sistema”. É tanto elogio, tanta gente babando, que cansa. Só faltou beatificar o homem.
Uma pena, porque seria interessante descobrir porque O Sistema tem dado tão certo em mais de 80 países. Só na Venezuela, o programa criou 30 orquestras sinfônicas, mais de 120 orquestras jovens, e conta com quase 400 mil alunos em suas escolas.
Vale a pena ver o filme por cenas em que Dudamel aparece ensaiando com algumas das orquestras mais conceituadas do mundo – Berlim, Viena, Nova York – e por depoimentos de gente como o maestro inglês Simon Rattle, regente da Filarmônica de Berlim, que diz que Dudamel pode vir a ser um dos maiores maestros de todos os tempos.
Mas o filme – ou melhor, comercial – se perde num amontoado de clichês. Depois da centésima vez em que uma criança aparece tocando violino e dizendo como O Sistema mudou sua vida, você começa a duvidar.
Numa cena patética e claramente ensaiada, duas gêmeas de sete anos de idade dizem que rock é “feio” e que gostam de música clássica porque quando tocam sentem que “a paz é possível”. Tá bom.
P.S.: Estarei sem acesso à Internet por boa parte do dia e impossibilitado de moderar os comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço um pouco de paciência. Obrigado.
Os protestos de ontem em Feira de Santana contra a ativista Yoani Sánchez foram certamente exagerados, assim como foi antidemocrático não terem deixado o cineasta Dado Galvão — membro do Instituto Millenium — mostrar seu filme. Tais atitudes dão motivos aos comentários que nós todos já estamos lendo e não devem receber elogios de nossa trincheira. É burrice pressionar a moça desta forma. Ela deve estar se sentindo uma tremenda celebridade e uma incomodação para quaisquer regimes-que-não-respeitam-a-liberdade, isto é, as esquerdas. Acho que um pouco de reflexão sobre a marionete cubana não fará mal a ninguém.
Gosto muito de jazz e confesso que não tinha sequer ouvido falar de Michel Petrucciani. Quando vi no youtube uns videos dele tocando piano e o malabarismo que ele tem de fazer para tocar, me lembrei do Chick Webb tocando bateria, quase se pendurando para alcançar os pratos.
Não vou dizer que acho que o Petrucciani esteja no nível do Bill Evans ou do Thelonius Monk, mas é tão bom ou melhor que o Dave Brubeck (que não é pouca coisa).
Não me interessei pelo documentário, mas felizmente achei alguns cds baratinhos do Petrucciani. Muito bom saber da obra desse cara!
PS.: Ainda estou procurando o documentário sobre o Morphine. Vi vendendo na Amazon, mas sempre fico em dúvida se o DVD é da área que roda no Brasil.
Assistiu o do Itamar Assumpção ? Os Mulheres Negras ? E Tropicalia ?
Abs.
Eu vou procurar conhecer os artistas, valeu a dica Barça.
Barça,
talvez já tenha comentado a respeito, mas você sai do Twitter??
Saí sim, Thiago, e minha vida melhorou muito. A diferença de nível dos comentários aqui do blog e do Twitter é brutal.
No tuíter eles conseguem ser piores?
Que pena, mas deve ser complicado mesmo.
Obrigado, Barcinski, por me fazer conhecer esses grandes músicos que tu coloca aqui no blog. Valeu!
Comparo o blog do Barça ao do inesquecível Daniel Piza. A gente aprende muito sobre músicos e escritores.
E por falar em “só faltou beatificar o homem”… E o filme do Lula?
Assisti a uma apresentação do Dudamel aqui em Salvador. É de arrepiar. Foi ovacionado pela imensa plateia. Na saída, vi gente chorando de emoção.
Todo mundo diz a mesma coisa. Nunca vi ao vivo, só na TV, gostaria muito de ver em um teatro.
Sobre Dudamel procure uma reportagem muito boa sobre O Sistema de Luis Carlos Azenha.
No último In-Edit-Brasil em Maio assisti bons documentários musicais, gostei bastante de Jason Becker :Not Dead Yet, Neil Young Journeys e Don’t Follow Me ( i’m Lost), mas o melhor foi assistir Searching for Sugar Man na tela grande, um filme excepcional.
A paz através da arte? E os nazistas curtindo Beethoven e Bach nos alojamentos enquanto os fornos crematórios funcionavam a pleno?
Olá, Barcinski.
Esse filme do Dudamel é realmente muito ruim. Constrasta com a qualidade do projeto, que é lindo e emocionante. Tive a oportunidade de conviver um pouco com eles pessoalmente em Caracas. Sugiro que você acompanhe e escreva sobre o Projeto Guri do Estado de São Paulo, que é semelhante e também maravilhoso. Pena que não é um projeto nacional, mas acho que o motivo pra isso é realmente a dificuldade de organizar o programa em um país tão gigantesco e desigual. Acho que, deixando a célula paulista sólida, o programa será disseminado para todos. Abraço!
O projeto parece fantástico, pena que o filme não se aprofunda na questão e se limita a ficar babando o ovo.
Assisti o documentário do Petrucciani e achei muito bom.
Esta sendo lançado um documentário dobre a ótima banda Big Star: Big Star Nothing Can Hurt Me.
“Assisti ao documentário…”.
“Paulinho Perda de Sousa”
“Franklin Ma”.
Gosto de documentários como estes, pois sinto que me espelhando em pessoas assim retratadas, a paz é possível.
Pois é.
Concordo sua opinião meu irmão. A paz é possível na glorificação do Senhor.
Mas não esqueçam de colocar a senha junto com o cartão. Depois os milagres não acontecem e voces não sabem porque.