A casa onde nasceu a discoteca
19/06/13 07:05Faz pelo menos duas semanas que não ouvimos mais nada além da caixa “Philadelphia International Records – The 40th Anniversary Box set”, uma coleção de dez CDs com o melhor da mitológica gravadora que revolucionou a black music.
A caixa saiu ano passado e é um dos melhores presentes que alguém pode receber. Não só a música é de primeira, mas a caixa é linda, produzida em papel brilhante e com um livreto muito bem escrito e informativo. Dá vontade de usar luvas só para não deixar suas impressões digitais gordurentas nessa maravilha.
A Philadelphia International Records (PIR) é uma das gravadoras mais importantes da história da música negra. Formada em 1971 pela dupla Gamble & Huff – Kenny Gamble e Leon Huff, dois músicos veteranos que já atuavam na cena musical desde o início dos anos 60, incluindo trabalhos com Aretha Franklin e Dusty Springfield – a PIR ajudou a estabelecer o gênero que viria a ser chamado de disco, com músicas dançantes de produção sofisticada, sopros, cordas, vocais com reverb, percussão latina e um clima de celebração coletiva.
Além disso, muitas músicas da PIR traziam letras de protesto. Sob o verniz sofisticado e a elegância das canções, Gamble & Huff falavam da situação dos negros nos Estados Unidos. Ouça “Let’s Clean Up the Ghetto”, do Philadelphia International All Stars, uma das letras mais raivosas já colocadas em cima de uma música tão dançante. A canção fala de uma greve de lixeiros em Nova York que deixou o “gueto” inundado em lixo e ratos.
A caixa traz mais de 200 músicas de artistas como M.F.S.B., Teddy Pendergrass, Billy Paul, The O’Jays, The Stylistics (que acabaram de tocar no Brasil!), Archie Bell and the Drells, The Jones Girls, The Trammps, Harold Melvins & The Blue Notes, Lou Rawls e dezenas de outros. É muita coisa boa junta.
No livreto que acompanha a caixa, o pesquisador Ralph Tee diz que a sofisticação do som da PIR pode ser creditada, em boa parte, ao arranjador e produtor Thom Bell, um fã de música clássica que enxergou a possibilidade de incorporar às gravações músicos italianos e judeus que atuavam em orquestras na região da Filadélfia.
Uma das músicas mais conhecidas da PIR foi “The Sound of Philadelphia”, tema do programa de TV “Soul Train”. Foi gravado pelo M.F.S.B. (na teoria, “Mother, Father, Sister, Brother”, mas que também podia significar “Mother Fucking Son of a Bitch”), um grupo de 25 ou 30 músicos de estúdio que gravaram boa parte das canções da gravadora. De chorar…
Grande Barça, este som do Philadelphia Internacional All Stars (let’s clean up the ghetto) é do cacete, só a introdução do Lou Rawls já mata. Tenho uma quantidade de sons desta época ferradíssimos, negrões de altíssima qualidade, muito diferente daquelas babaquices travoltinas de Bee Gees, Abba e outras baboseiras comerciais. Nos primórdios da Disco aqui em Sampa, havia a Papagaio Disco Club, antenada com a 54 de NY, que tocava só sonzeira com 8, 9 e até 12 minutos de puro groove. Sou um roqueiro mais velho que vc, mas tenho muita admiração pelo som desta negada. Ouvi e dancei muito.
Realmente esse box é sensacional.Aliás 2012 teve muitos relançamentos de musica negra da melhor qualidade.Além dessa coletanea da Philadelfia Internacional destaco o box Eccentric Soul Omnibus Vol. 1,da finíssima gravadora Numero Group.Um box com 45 singles de 7 polegadas só com gravações de soul de pequenos selos de quase todos estados americanos,Uma beleza!Se puder colocar vai meu blog onde além de uma lista dos discos do ano que mais gostei fiz uma lista paralela só de relançamentos onde incluo bastante coisa de black music.http://2palitos.wordpress.com/
Atrasado, no assunto:
Eles tinham alguma ligação com a Motown ou eram concorrentes?
Essa momento da música americana é riquíssimo e fascinante.
Trabalharam para a Motown, como produtores, por alguns anos, mas saíram para fundar a PIR. É fascinante mesmo.
Muito legal este post. Realmente, é um material de primeira. A primeira impressão é pelo capricho nos arranjos e a performance dos dançarinos. Parabéns, André !
Barça, ouviu o disco “The Jazz Age”, só com releituras do Bryan Ferry e Roxy Music? Um disco bem curioso, é todo feito em clima do jazz dos anos 20! Abraço
Bem legal a postagem! Vou procurar os artistas do catálogo desta gravadora. E eu que ingenuamente pensava que os grandes artistas negros gravavam quase tudo pela Motown ou pela Blue Note!
Barcinski, que tu achas do Jackie Wilson? Acho que até hoje ele nunca recebeu o devido crédito dentro da música.
Barcinski, falando em caixa, olha que dica: “Noel pela primeira vez”, 14 CDs, em promocao: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=3102370&estat_id=18116
Abs!
Ah, essa eu tenho, uma maravilha, excelente dica.
Valew a dica Barça! Falando em soul e disco, um cd que ficou grudado no player foi “Darker Than Blue: Soul from Jamdown” são versões de clássicos do soul por artistas jamaicanos entre 1973 e 1977, o cuidado e produção das regravações são muitissimo interessantes, fica evidente que o reggae e o RnB americano são pfimos próximos. Abrx
Até que enfim falando de música preta aqui.
Demorou. Que bom, o blogue fica ainda mais legal.
Ué, Little Richard é o quê? Jorge Ben? Nina Simone?
Barcinski, gosta de Earth Wind and Fire?
Muitíssimo, tenho a caixa deles, é um absurdo.
Pois é.. os caras são fodásticos.. vc já fez algum post sobre eles? Senão, fica a dica.. Aproveitando a pergunta que o Bruno Bernando fez sobre o novo album do Black Sabbath, posso garantir que quem é fa nao se arrepende.. O Ozzy é bom demais.. tem umas musicas brutalmente boas, como God is Dead.. valeu a pena o retiro espiritual dele… mas, aguardo seu post, ansiosamente!
Triste pensar que os negros americanos, que produziram o que os EUA tiveram de melhor em termos de música popular – De Louis Armstrong a O´Jays – agora se contentem com essas porcarias tipo Kanye West e 50cent.
Barça, procura no youtube uma apresentação do O´Jays cantando “for the love of the money” no Soul Train. A vontade é estar lá no meio
O Programa de tv Soul Train é demais!!!Saiu um box tambem se não me engano com 10 dvds com todos os programas em video.Passou por lá toda uma geração de soul e funk,todo mundo black se apresentava no programa fora as danças dos convidados,divertimento na certa.
André, nada melhor pra dar uma respirada nestes tempo protestantes do que os clássicos da PIR, mas uma pergunta de alguém que não viveu a época: Porque a disco music era tão execrada pelos roqueiros e outros ouvidos mais puritanos?????
Se vc esperar uns cinco meses, te respondo no livro que estou terminando, pode ser? Acho que valerá a espera.
Pô, que demais André!
Opa, com certeza, eu espero, esse livro deve ser sensacional!!!
Prezado André,
Mudando um pouco de assunto, não sei se você se apercebeu que a maldição da entidade CB atacou a Copa das Confederações. Depois da invenção da falecida caxirola, foi tudo ladeira abaixo. O que você acha?
Abraços,
Eu já sabia!
Lembrando que, quando quis dar uma guinada na carreira (ops), o Bowie perguntou onde ele deveria ir pra conhecer Soul Music da gema. Resposta: Philly. E lá começou a fase soul dele…
Vi que no Amazon por $93 doletas, por quanto será que chega com os impostos? Você importou ou comprou lá? Gosto muito.
Comprei pela Amazon e pedi pra entregar nos EUA, na casa de um amigo que estava vindo pra cá.
Comprei há dois dias. agora é esperar e torcer para receber aqui em casa. Tenho encomendas de três meses que não chegam, uma vergonha.
No Amazon? Eu comprei livros por lá e chegaram em menos de 7 dias.
O tempo de entrega da Amazon é uma loteria. Muitas vezes chega em menos de um mês, mas tive encomendas que demoraram mais de dois meses.
Assim fica bem mais em conta.
Namoro essa caixa há algum tempo… Ano passado, comprei uma compilação com seis cds do melhor da soul music dos anos 70. O troço vem embalado numa caixa maravilhosa que imita um 8 track tape case, com padrão Rhino de excelência. Também venho namorando a caixa com a discografia do Earth, Wind & Fire. Ah, e a Rhino acaba de lançar um box do ZZ Top que abrange a obra dos texanos até 1990. Detalhe interessante: a versão física custa quase US$ 40, mais barata que a versão digital, que sai a US$ 66…
Olá André, gostaria de perguntar se você ouviu o novo disco do Black Sabbath?
Conversei com alguns amigos, me disseram que é ótimo, mas não levo muito a sério. Bandas que voltam depois de um tempo não tem a mesma pegada de outrora.
É sim, vou escrever aqui no blog em breve.
Aguardarei a postagem, mas vou adiantar uma impressão: esse novo do Sabbath não se encaixa nesse pressuposto da falta de pegada dos retornos. Ficou muito melhor que qualquer coisa da carreira solo do Ozzy e infinitamente melhor que tudo que o Iommi fez sem o cantor. Pelo menos umas três músicas poderiam entrar nos LPs dos anos setenta tranquilamente. É um discaço.
obrigado pela dica André. Sou grande fã da Stax Records de Memphis e da Motown de Detroit. Acho que essa caixa falta na minha estante. abraço
Puxa, Barcinski! Até que enfim você fala de músicas boas. Gosta de Rhythm Heritage?
Nossa, que simpático, Guilherme. Desculpe aí por nunca ter falado de música boa e muito obrigado por considerar que finalmente mencionei algo do seu nível.
A Salsoul Records também tem um catalogo Maravilhoso! É Só Conferir!!!
Bela indicação, André! Agora me fala uma coisa. Esse programa, Sou Train, merecia um documentário, não? Abraço
*Soul
Já existe. Procura no youtube que você acha – Soul Train: The Hippest Trip (Documentary)
Bela dica!
Merecia, com, certeza, as imagens são demais.
existe um box de dvds com todos os programas Soul train…se não me engano são 10 dvds.Maravilhoso ver o povo dançando ao som do melhor do soul funk americano dos 70
Valeu, não conhecia! Falando em disco, o que você achou do novo do Daft Punk? Até tem coisa boa, e legal eles terem chamado uns caras das antigas pra colaborar, mas esperava mais…
Não ouvi ainda, bem lembrado.
Vou baixar na Baía do Pirata.
Bacana demais o texto. Soul music já é pouco falado por aqui no Brasil. Basta ver que quase nenhuma publicação sobre o tema lançado lá fora é traduzida por aqui. E quando se falam é sempre Motown, Stax, Atlantic. A PIR é muito subestimada. E fui conferir na amazon as fotos da caixa dos albuns, que maravilha, hein.
É sério, dá pena de encostar a mão na caixa, de tão linda.
Os Instrumentos de sopros sao sensacionais , e dificilmente utilizados nos arranjos atuais,uma pena.