E agora? Foram só os 20 centavos?
19/06/13 19:04Os governos de Rio e São Paulo fizeram a única coisa que podiam: cancelaram o aumento das tarifas. Era isso, ou conviver com cidades paralisadas.
Os discursos de Alckmin, Haddad e Paes – claramente combinados – tocaram no mesmo ponto: a ausência do reajuste vai prejudicar os investimentos nas cidades.
Os governos estão botando na conta dos protestos a diminuição de futuros investimentos públicos.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que a diferença dos 20 centavos na tarifa vai custar à cidade 200 milhões de reais: “São R$ 200 milhões que têm que ser arcados pelo poder público. Arcar com esses recursos significa, sim, a escolha de prioridades. Serão R$ 200 milhões a menos investidos em outras áreas.”
O prefeito só esqueceu de dizer que o Rio gastou 1,2 bilhão de reais com a reforma do Maracanã, que foi entregue de mão beijada para a iniciativa privada. Teria sido uma ótima comparação: um Maracanã equivale a seis anos de reajuste de tarifa.
É bom lembrar também que o custo original do Maracanã era de 600 milhões, mas o projeto dobrou de valor devido a “imprevistos”. E se o Rio pode gastar 600 milhões com imprevistos, certamente pode gastar um terço disso com o fim do reajuste nas tarifas.
Alckmin foi na mesma linha: “É um sacrifício grande, vamos ter que cortar investimentos, porque as empresas não têm como arcar com esses custos.” As empresas talvez não tenham, governador, porque pagam impostos altos demais.
Já Fernando Haddad, que na manhã de quarta disse que cancelar o reajuste seria um “ato populista”, de tarde mudou de ideia e fez justamente isso. O que teria acontecido com o prefeito?
O Movimento Passe Livre manteve a manifestação marcada para quinta-feira, em São Paulo, e disse que o evento será de “celebração”.
Resta agora ver se a onda de protestos que está varrendo o país vai arrefecer com o recuo dos governos ou se outros temas importantes entrarão na pauta.
De qualquer forma, foi um momento importante da história do país e um caso raro em que governantes se dobraram à vontade pública.
Espero que os protestos não desapareçam com essa vitória, mas que se tornem cada vez mais pacíficos e gregários, respeitando o fato de que as cidades não podem viver diariamente sob ameaça de parar.
Espero também que não vejamos mais saques em lojas e depredações de patrimônio público, como os da noite de terça-feira. Enquanto a maioria pacífica tem mostrado que quer mudar o sistema, uma minoria de vândalos só quer mudar o sistema de som de suas casas.
Jornalistas – especialmente da TV Globo – estão tendo dificuldades para trabalhar. Até Caco Barcellos, conhecido por suas reportagens sobre violência policial, foi hostilizado. Um caminhão da Rede Record foi incendiado. Dá para imaginar algo que prejudique mais os protestos que coibir o trabalho da imprensa?
Em Fortaleza, quarta-feira, manifestantes botaram fogo em um carro da prefeitura. Queimaram seu próprio patrimônio.
Acredito que a maioria da população apóie os protestos. Mas isso periga mudar se as manifestações se tornarem violentas.
Ao mesmo tempo, a polícia parece completamente perdida. Ou age com violência desproporcional, como ocorreu em São Paulo semana passada, ou se mostra impassível, a exemplo da depredação da Assembléia Legislativa do Rio, transmitida ao vivo pela TV.
Não é possível que a polícia não tenha o bom senso de coibir os excessos sem atacar quem está na rua pacificamente. Tenho certeza que a população concorda que atos de vandalismo só prejudicam os protestos e devem ser coibidos.
P.S.: Leia aqui meu texto na “Folha” sobre o grande ator James Gandolfini, de “A Família Soprano”, que morreu quarta-feira, na Itália.
Passe livre e IPTU de Nova York para morar na Vila Brasilândia? Gênios. Brasil: quem gritar mais alta leva.