William Waack: como mediar a polarização?
08/07/13 07:05A mesa mais quente da Flip foi “O povo e o poder no Brasil”, que reuniu o economista André Lara Resende e o filósofo Marcos Nobre, com mediação do jornalista da TV Globo, William Waack. Realizado na noite de sábado, foi marcado não só por um debate de alto nível e cheio de divergências – sempre construtivas – entre os participantes, mas por um clima de Fla x Flu do público, que ora vaiava, ora aplaudia (leia meu texto para a “Folha” aqui).
O alvo mais freqüente da plateia não foi nenhum dos debatedores, mas o mediador William Waack.
Não era preciso ser nenhum vidente para imaginar que a presença de Waack poderia provocar reações mais acaloradas. Na noite de quinta-feira, na mesa “Narrar a rua”, sobre as manifestações no Brasil, Pablo Capilé, coordenador do Fora do Eixo, grupo que reúne produtores culturais alternativos no Brasil, havia reclamado da presença do jornalista na Flip.
Aliás, uma das frases mais engraçadas da Flip foi do próprio Pablo Capilé: “Ficar em cima do muro hoje não é uma opção,” disse, sobre os recentes protestos no Brasil. Capilé só esqueceu mencionar que, enquanto o país pegava fogo nas manifestações, o Fora do Eixo não publicou uma palavra sequer sobre os protestos em seu Twitter oficial. Só foi citá-los em 22 de junho, mais de uma semana depois da eclosão dos protestos em todo o país. Equilíbrio em muro é isso aí.
Voltando à Flip: logo no início do debate, Waack fez um aparte durante a explanação de André Lara Resende e foi vaiado. Alguém gritou da platéia: “Olha o monopólio da informação!” Foi a primeira de várias manifestações contra o jornalista.
Conversando depois com amigos, alguns acharam que Waack interferiu demais na conversa e tentou imprimir um ritmo “televisivo” e acelerado à mesa, o que teria prejudicado a explanação dos debatedores. Eu achei o contrário: que o ritmo mais rápido tornou a conversa ainda mais envolvente. Mas é só minha opinião e respeito quem discorda.
Quase ao fim do debate, uma pequena confusão aconteceu ao lado do palco. Vi um rapaz caindo ao chão e sendo levado para fora da tenda por um segurança. Corri atrás do segurança – aliás, não vi nenhum tipo de violência ou truculência por parte dele, é bom que se diga – e consegui encontrar o manifestante e conversar rapidamente com ele. Chamava-se Gandhi, tinha 20 anos, morava em Paraty e se disse estudante.
– O que você gritou lá dentro?
– Eu gritei que o William Waack não representa a luta popular! Estou protestando porque ele é pago pela mídia corporativa, que ajuda a escravizar o povo!
– Você é ligado a algum movimento?
– Não sou ligado a nenhum movimento e nem partido. Sou apartidário, nem título de eleitor eu tenho!
– Você acha que a mídia quer escravizar o povo?
– Acho! A grande mídia, a Globo (o rapaz olha para meu crachá)… e a Folha também!
“Uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém; ninguém for tão pobre que tenha de se vender a alguém”.
A manifestação ser “apartidária” denota seu caráter exclusivista e proto-fascista. Uma luta política fora das instituições democráticas não trará as mudanças esperadas. Espero que a esquerda recupere seu rumo.
Quanto ao Waack, já não mais dúvida sobre suas motivações políticas. Não foram eles que passaram a famosa coluna de Jabor que massacrava os MPL, antes do mesmo se retrair e confessar que “se enganou”.
E também a biografia excepcional de Waack não lhe imunidade à crítica. mas concordo com ele somente sobre a natureza dos movimentos sem lideranças.
Concordo em gênero, número e grau com o que William Waack disse àquela plateia tolinha: “movimentos sociais sem uma clara definição e rumo político em geral provocam menos mudanças do que as esperanças que esses movimentos despertam.”
Nesse ponto, concordo também. O problema foi, primeiro, o tom professoral. A cada meio raciocínio ele ficava enfatizando o quanto era experiente e o quanto tinha de bagagem.
Segundo, começou expondo o tal “não brigar com a notícia”, para depois dizer que notícia era percepção da realidade e, portanto, subjetiva. Ou seja, se notícia é subjetiva, há espaço – e muito – para brigar com ela. Muito enbananado esse discurso.
Gus,
Concordo plenamente com essa sua análise bastante pertinente do discurso de Waack (bem contraditório, em algumas partes, realmente), mas isso não tira a validade da essência do que ele queria dizer, e com isso também concordamos. Acho que, na verdade, ele ficou bastante irritado com as vaias e, como você bem disse, se embananou no início, recorrendo a argumentos absolutamente tolos (como a própria biografia e o quanto é experiente no jornalismo). Essa fala não consegue convencer nem a uma criança de 5 anos, não é mesmo? Abs
A burrice de um jovem de 20 anos às vezes torna a aborrescência brasileira algo mesmo bizarro. E Pablo Capilé… o beiço mais pilantra do país, rsrs.
Willian Waack acertou na mosca no último segmento.
Quer saber, hoje sem erros podemos estimar que 99% da produção cultural é ligada aos “progressistas” (um jeito novo de chamar a esquerda mais moderada). É triste ver que a maioria ainda vive naquela ideia de revolução, e não enxergam que esta porcaria acabou em 1989 com a queda do muro de Berlim. É dificil pra essa turma aceitar isso.
Hoje torna-se insuportavel participar de eventos culturais, logo sou chamado de reaça, etc, tudo porque não concordo com a mentalidade deles, ou seja, pra esquerda continua tudo da mesma forma: cuba é um lugar bacana, e qualquer opinião contraria é coisa de reaça. Não basta ser maioria em eventos culturais, eles tem que ser 100%. Lavagem cerebral é pouca.
Confesso que ja estou de saco cheio dessa turma, principalmente aqui no Rio. Um fim de semana desses, estava em um evento em praça publica, quando um grupo de hipsters/progressistas veio trazer uma lista de propostas para manifestações e pediu que eu acrescentasse algo. Eu inclui: fim do monopolio estatal nos transpostes publicos ao inves de passe livre. Resultado: fui chamado de neoliberal maldito. E a pergunta que todos se fizeram deve ter sido: “como um neoliberal safado desses pode estar no mesmo lugar que a gente curtindo cultura? Bastardo!”
Detalhe: entre as reividicações propostas existia uma de protestar contra as corridas do BOPE em Laranjeiras e Flamengo pois esses cantavam “musicas de guerra”.
Depois dessa eu me retirei, o Rio ta precisando de um boot urgente…
Todo mundo que já transitou num corredor universitário ou passou pela porta de um DCE já topou com um Gandhi da vida. É um tipo enfadonho, que não tem diálogo possível, e sempre, repito, sempre querem ter a última palavra. Costumam ler exclusivamente os autoproclamados blogueiros progressistas e saem por aí achando os sabichões. Conheço comunas coroas que são assim, nunca mudam.
Não tenho dúvidas que existem setores da mídia tradicional que são tendenciosos e estão à serviço de interesses nem sempre muito claros. Pessoalmente, não curto muito veículos que seguem uma linha de quase extrema direita, como a Veja, só para ficar num exemplo. Ainda, sim, fico mil e duzentas vezes com os jornalões e revistas mais tradicionais do que essa gente. É possível encontrar mais diversidade de opiniões e pontos de vista numa Folha do que nos autoditos progressistas, que vivem de defender qualquer presepada que o governo federal faz, e tem seus “suspeitos” de sempre, sendo o William Waack um dos mais lembrados. Daí que um bitolado como esse Gandhi se acha no direito de tumultuar o trabalho do Waack num evento público, como se ele fosse mais pernicioso que os mandarins da República, estes que os progressistas costumam lamber as botas.
É lamentável que alguém que pretenda viver em uma democracia “reclame da presença” de um profissional em um evento. Já que é para descer do muro, que tal se ele fosse lá falar pessoalmente com o Waack a respeito? Da mesma maneira, esse que gritou sobre o “monopólio da informação” deveria ter sido chamado para sustentar sua fala lá no palco, já que tem tanta vontade de se expressar.
Não entendo o conceito de “manipulação da mídia”.
William Waack, jornalista de gabarito e curriculo indiscutiveis, mediador talentoso e com capacidade de dominar assuntos diversos é anti ético, mau jornalista, manipulador, reacionário, etc… Tudo isso porque expõe uma ideologia não condizente com a do governo federal.
Dai quando jornalistas de outros veículos dão opinião no ar, escrevem blogs e comentários pró governo eles são jornalistas de personalidade, opinião formada e exercem sua liberdade de expressão.
Não entendo a diferença!
Vai ver o William Waack foi convidado para mediar este debate porque tem experiência no assunto, já que comanda o programa “Globo News Painel”, que tem esse perfil e onde, aliás, o tema vem sendo discutido há um mês, só deixando a pauta devido à crise no Egito, que foi o tema do último programa. Sei que a tese de que se trata de uma manobra do império global visando reprimir a “luta popular” é mais emocionante. Mas o convite pode ter sido puramente técnico e neguinho fica vendo pelo em ovo.
Esse pobre coitado do Gandhi nem percebe que o escravizado é ele. Mas tudo bem, os 20 anos dele ainda permitem esse tipo de comportamento.
Quem será que são os professores dessa patota? Por ai ja dá pra ver o estrago que fizeram com os jovens.
André, o William Waack e o Capilé são dois chatos de galocha, cada um ao seu jeito, mas a democracia é assim mesmo, é o direito deles falarem o que quiserem, e o nosso de ouvir ou não, e concordar ou discordar com eles ou seus partidários….
Ué, e alguém disse que o Capilé não deveria ter sido chamado para a Flip? Não vi isso em lugar nenhum. A única pessoa que vi reclamando da presença de outra foi o próprio Capilé, convidado da Flip, dizendo que a Flip não deveria ter chamado o William Waack.
Olha, se ninguém disse, eu digo. O que um “agitador cultural” faz numa feira literária? Ele tem algum livro publicado? O que sei é que o cara se diz “fora do eixo”, monta escritório em SP e depois quer dizer quem deve e quem não deve participar de algo para o qual ele próprio não é sequer qualificado. Nessa toada, não estranharia se em breve se candidatasse a algum cargo público, porque é típico do nosso país se dizer de fora das coisas só para chegar ao poder, para mandar e mamar à vontade.
Eu já comentei em outro post do blog sobre a crítica que alguns manifestantes fazem à imprensa. Acho válido criticar, mas impedir que um jornalista exerça o seu trabalho é errado. Aquilo que aconteceu há algumas semanas com o Caco Barcelos, por exemplo, foi totalmente errado. E o Caco ainda é um jornalista que conhece bem a opressão da polícia. Enfim, eu vejo poucos programas na Globo e raramente leio a Veja ou a Época. Mesmo discordando bastante da linha editorial desses veículos, eu acho importante saber um pouco como eles estão abordando certos assuntos. Afinal, esses são os veículos mais populares do país. Acho que as minhas críticas não são infundadas. A Veja, por exemplo, já fez um caderno especial aqui no Rio sobre o novo Maracanã logo depois da inauguração. Não houve uma linha sobre a remoção da aldeia Maracanã ou sobre a tentativa de derrubar a Escola Friedenreich. Isso é uma falha grave. Depois da ação policial em frente ao prédio do governador Sergio Cabral, o jornalista Jorge Bastos Moreno do jornal O Globo declarou no twitter que dessa vez os policias tinham ido longe demais, que crianças estavam acordando com tosse. Eu estava nessa manifestação e, de fato, os policiais foram mais uma vez covardes. Mas o relato do jornalista chega a ser mesquinho quando a gente pensa que na ação policial na favela da Maré . Enfim, por causa desses e de outros casos, eu faço críticas negativas a certos órgãos da imprensa. Para não ficar só falando mal, acho que a ESPN- Brasil faz um bom trabalho falando não só sobre esporte. Segue no link (https://www.youtube.com/watch?v=B5weJ2-DkTI) a primeira parte de um programa sobre a candidatura do Rio para as Olimpíadas. Isso foi ao ar há mais de 4 anos e continua sendo bem relevante. Desculpa pelo comentário enorme.
Obrigado pelo comentário, Luiza.
Assino embaixo.
Andre, achei sua critica ao Fora do Eixo injusta… para mim uma das mais gratas surpresas nessas manifestacoes foi a Midia Ninja, reporteres que cobriram em tempo real as maiores manifestacoes… para mim a midia alternativa de forma geral deu um banho na midia tradicional… a Midia Ninja e um projeto gestado no fora do eixo… talvez a pagina nao tenha dito nada, mas vi muitas pessoas que participam do fora do eixo envolvidos, pelos menos pelos lados de ca’ (BH).
Luis, não foi crítica, foi uma constatação. Se duvida, acesse o Twitter e comprove, por favor. O FDE não falou UMA LINHA sobre os protestos por mais de 10 dias. Ficou em cima do muro.
Eu nunca tinha ouvido falar desse tal de Pablo Capilé, mas o comentário de Fred as 8:40 me deixou curioso. Fui no Google e tomei um susto. Em todos os sentidos. Aliás, no Google Imagens é possível encontrar fotos do cidadão em companhia de Gilberto Gil e… Dilma! Sintomático…
Esse tipo de personagem ajuda bastante a entenfer o momento atual do brasil, dominado por um eixo esquerdista em torno do qual gravitam movimentos sociais e uma classe artística totalmente aparelhados, personificados pelos Freis Davids e Pablos Capilés da vida.
Irônico é que esse cara ainda se diga “Fora do Eixo”…
Eu também nunca tinha ouvido falar desse fulano.
Faço minhas as suas palavras, Adrian.
Estamos em um momento em que uma dita “intelligentsia” esquerdista querem e estão se apoderando até do livre pensar; só eles estão certos e o resto na contramão da história.
Viraram os senhores de engenho do livre pensar; só eles sabem, podem ou entendem, o resto é reacionário.
E se você não pensar como vermelho (pt) logo é taxado de “azul” (psdb – se é que existe isso ainda).
Essa divisãozinha entre Montecchios e Capuletos, me cansa a beleza.
Quanto ao cidadão “fora do eixo” (faz-me rir) é “melhor perder do que encontrar”, como diria minha vó.