Maracanã: a revolta dos descamisados
15/07/13 07:05Quem acompanha o blog sabe que tenho reclamado bastante do estupro arquitetônico que fizeram com o Maracanã. Vários leitores têm escrito para estender essas reclamações ao Mineirão, que também entrou, a fórceps, no “padrão Fifa”.
Não contentes em aniquilar qualquer traço de história e tradição nesses estádios, seus novos “donos” agora querem decidir como devemos nos comportar em seus domínios.
Semana passada, o consórcio que administra o Maracanã anunciou que vetará a entrada de bandeiras com bambus e de instrumentos musicais no estádio. E mais: disse que vai “conversar com os clubes” para iniciar uma “mudança de hábitos” para que torcedores deixem de assistir a jogos em pé e – pasme – sem camisa.
O autor dessa ideia certamente nunca foi a um estádio de futebol na vida. Deve estar confundindo o Maracanã com o Theatro Municipal, não é possível.
Talvez fosse bom alguém explicar ao sujeito como funciona: quando seu time está atacando, bem perto do gol adversário, você costuma levantar para ver a jogada e, quem sabe, comemorar. Assim que a jogada é concluída, você volta a sentar. Tem funcionado assim, no Maracanã, desde 1950.
Tem gente que deseja passar o tempo todo de pé? Claro que tem. Mas isso se resolve rapidamente, com algumas vaias do pessoal sentado atrás dele. Chama-se “bom senso”.
E tirar a camisa? Não pode também? Quer dizer que, em pleno verão, num jogo às 16h – lembre-se, tem de ser no horário em que a TV estipula, mesmo que os jogadores e torcedores corram o risco de morrer de desidratação – ninguém vai poder tirar a camisa porque o “consórcio” não deixa?
Taí um bom motivo para um protesto. Ideias cretinas assim demandam uma só reação: a completa e consciente desobediência civil.
Sugiro que torcedores de todos os times que joguem no Maracanã estipulem um horário durante a partida – digamos, aos 5 minutos do primeiro tempo – e, todos juntos, tirem as camisas e assim permaneçam pelo tempo que desejarem.
Seria ideal que o protesto se estendesse a jornalistas, locutores de rádio, ambulantes, flanelinhas, e a todos que acham um absurdo essa imposição supostamente “sofisticada”.
Dia 21, o Maracanã será reaberto aos clubes, no jogo Fluminense vs. Vasco. Estarei em São Paulo e, infelizmente, não poderei comparecer. Mas dia 31 estarei lá com a família para Flu vs. Cruzeiro, e já combinamos aqui em casa que, se essa imposição realmente for aprovada, todo mundo vai tirar a camisa contra o “padrão Fifa”.
Quero ver algum “steward” – sim, o consórcio chama fiscais de estádio de “stewards”, acredite – tirar a família toda.
P.S.: Ontem vi uns trechos de Vasco x Flamengo, realizado na nova “arena” Mané Garricha, em Brasília. O “gramado” parecia um campo de batalha da Primeira Guerra. A desculpa para o péssimo estado do campo foi um show que rolou em homenagem ao Renato Russo. Mas pera lá: essas “arenas” não são multiuso? Não servirão também para shows? Então como justificar o estado do campo?
P.S. 2: Na tarde de segunda-feira, a assessoria de imprensa do consórcio responsável pelo Maracanã me enviou uma mensagem, dizendo que as notícias sobre a proibição de bandeiras e instrumentos musicais teriam sido causadas por um “mal entendido” e divulgando a seguinte nota à imprensa:
Nota de esclarecimento – Complexo Maracanã
O Complexo Maracanã Entretenimento S.A esclarece que em nenhum momento falou em proibição de bandeiras, instrumentos musicais e torcedores sem camisa durante os jogos de futebol.
O que a concessionária propõe é que os clubes dialoguem com seus respectivos torcedores para que, por meio de Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), prevaleça no Maracanã o tripé conforto, segurança e acessibilidade em benefício de todos.
O Complexo Maracanã trabalha para que as famílias voltem a frequentar o estádio, com todas as condições de segurança.
Costumo ir aos jogos do Corinthians no Pacaembu e de fato vários torcedores malas passam o jogo todo em pé mesmo nos lugares onde tem cadeiras! Dependendo do momento é claro que todo mundo levanta, mas como norma, passar o jogo todo em pé mesmo qdo é uma jogada morta na lateral enche o saco. E nao há vaia que resolva isso…
Isso acaba com a papagaiada das arenas multiuso.Além do futebosta, o único uso dessas “arenas” foi e será superfaturamento.Aliás, como o Eike vai pagar os 10 bilhões de reais que pegou emprestado do BNDES?Será que vai ser através dos preços dos ingressos do MaracanãX?
Que foto sensacional, André. A plebe no seu estado bruto. Lembro-me das geniais imagens do Canal 100 do pessoal da geral do Maracanã. Pessoas desdentadas, suadas e sem camisa com o rádio colado no ouvido.
Com o preço proibitivo dos ingressos não veremos mais o povão se divertindo.
Sinal dos tempos, ou do fim deles!
Saudações!
Roberto
andre: na sua opiniao entao nada deve mudar pra melhor. O maracana devia continuar um lixo, bem como a educação dos frequentadores para sempre. Nada evolui. Q legal…vc reclama tambem se nao houver mais briga no estadio, lugar marcado etc? Vc acha legal as familias nao poderem entrar nos estadiosmcom medo de morrer. A com ou sem camisa é so um detalhe, mas mostra o nivel de evolução e educação de um time. Afinal vc nao ve gente sem camisa em Wembley ( que ha proposito foi demolido para a contrução de um estadio mais moderno e seguro, afinal tudo tem q evoluir, menos nós…certo?)
Correção:….mostra o nivel de educação de um povo.
Wembley eu não sei que eu nunca foi, mas no Alianz arena tinha uma penca de alemães sem camisas no dia que fui lá.
É sim, Mauricio, tudo tem de ficar um lixo, tá certíssimo. Ficar sem camisa no estádio é sinal de subdesenvolvimento mesmo. Pena que não neva aqui, porque só com neve podemos ser civilizados. Abraços pra vc.
Saudade dos seus comentários ao vivo durante os jogos! Impagável!
Depois conta como foi a sua estréia no ” novo” Maraca. Cuidado com os stewards!
André, por aqui já comprei meu smoking. Só estou aguardando o campeão carioca estrear no MaracanaX Stadium.
Vou de fraque, camarada.
O Complexo Maracanã Entretenimento S.A esclarece que irá implantar o programa TCP – Torcedor Coxinha Padrão. Fica estabelecido que:
– O Maracanã não poderá ser chamado de estádio, somente de arena ou stadium;
– Não será permitida a entrada com badeiras, instrumentos musicais, faixas etc. São permitidos: Iphones, Tablets, bolsas de marca e outros itens de grife;
– Traje padrão: passeio completo. Em dias de calor são permitidas camisas polo de grife;
– Todos deverão permanecer sentados durante as partidas. Comemorações com gritos e pulos são proibidas. São permitidas somente palmas moderadas;
– Cardápio básico da arena/stadium: espumante francês, massas folhadas, cupcakes e cafés Nespresso;
O Complexo Maracanã Entretenimento S.A esclarece aos verdadeiros amantes do futebol que sua arena/stadium não é mais um espaço de paixão e personalidade. Nosso foco agora é a disponibilização de uma solução completa para o easy-fan de soccer.
A foto é interessante. Muitos homens olham para a mulher quase nua e riem, levando a cena na brincadeira. Antigamente era assim…
Se fosse hoje, só duas possibilidades poderiam acontecer: 1) a mulher e todos os desdentados e descamisados nem mesmo entrariam no estádio ou 2) se entrasse e arrancasse a roupa, a mulher correria risco de sofrer agressão física ou sexual.
Enquanto isso, de férias em Porto Alegre, estou me divertindo com as novas placas nas ruas sinalizando o novo “Soccer Stadium”.
Essa mudança de hábitos com certeza não vai funcionar. Mas, por favor, esqueça essa ideia do protesto… não faço a menor questão de ver o Galvão Bueno, Milton Neves ou vc sem camisa… kkkk
Duas coisas, primeiro que na prática não exista arena multiuso, elas são apenas para futebol, quando fazem outro uso acontece isso que aconteceu com o Mané Garrincha onde o gramado foi destruído.
Segundo sou a favor dos protesto dos sem-camisas, mas que apenas as mulheres tirem a camisa.
“Termos de Ajustamento de Conduta” (!!!!!!)
Pois é, achei o termo incrível. Em bom português: “Comportem-se!”
Eu lembrei mais dos impressos que eram distribuídos aos alunos quando estudava em colégio de padres.
Depois dessa Nota de Esclarecimento a foto ficou ainda melhor!
Não deixar entrar com bandeira já é algo completamente absurdo, sem camisa então, chegamos ao cúmulo do ridículo. Em breve exigirão o uso de fraque para comparecer aos estádios e comer cachorro-quente de 10 reais.