"Os Incompreendidos" é o melhor Truffaut
19/07/13 07:05Difícil imaginar um fim de noite melhor para seu sábado que assistir a “Os Incompreendidos” (Telecine Cult, 0h de domingo), de François Truffaut.
Filmado em 1959, marcou a estréia de Truffaut (1932-1984) no cinema e é, para muitos, seu melhor trabalho.
Akira Kurosawa considera “Os Incompreendidos” um dos maiores filmes já feitos, e gente como Scorsese e Coppola já falaram de como foram influenciados por esse clássico da Nouvelle Vague.
O filme conta a história de Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), um menino de 12 anos que tem dificuldades para se relacionar com a mãe e o padrasto, odeia a escola, e vive cometendo pequenos delitos.
Mas resumir “Os Incompreendidos” a mais uma história de juventude rebelde seria diminuir sua grandeza. É um filme sobre um espírito livre em um mundo nem tanto, que celebra, mesmo que de maneira triste, a necessidade de alçar vôos maiores.
O personagem de Antoine Doinel foi inspirado na própria vida de Truffaut e tornou-se tão marcante para o cineasta que ele o utilizou em quatro outros filmes – três longas e um curta – até 1979, com “O Amor em Fuga”. Em todos eles, Antoine foi interpretado pelo mesmo ator, Jean-Pierre Léaud.
Na lista de grandes filmes sobre a juventude e sua dificuldade de relacionamento com o mundo “normal”, “Os Incompreendidos” está no topo, junto a “Os Esquecidos” (Luis Buñuel, 1950), “Aparajito” (Satyajit Ray, 1957), “Vítimas da Tormenta” (Vittorio De Sica, 1946) e “Zero de Conduta” (Jean Vigo, 1933).
Sem querer estragar a surpresa, mas se você não se emocionar com a imagem final, é bom checar os pulsos.
P.S.: Sábado, às 19h30, participo com meu colega da “Folha”, Josimar Mello, de um debate sobre jornalismo gastronômico dentro do evento “Vira Cultura”, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (AV. Paulista, 2073). A entrada é franca. Logo após o debate, haverá sessões de autógrafos do guia de restaurantes de Josimar e do meu “Guia da Culinária Ogra – 195 Lugares para Comer até Cair”. Estão todos convidados, claro. Mas cheguem cedo, porque a lotação é limitada.
Recomendo fortemente esse filme (que segue o mesmo gênero): http://www.imdb.com/title/tt1163752/?ref_=sr_1
Tem até Sigur Rós na trilha sonora!
E pensar que eu perdi essa pra ver esta bomba chamada Homem de Aço nos cinemas 🙁
Prezado André, cada vez mais fico sua fã. Acertou em cheio ao dedicar um “post” ao filme “Os Incompreendidos” e ao genial Truffaut.
Também tá entre os meus preferidos, André. Acompanhei a “série Doinel”, mas quando chegou em “Amor em Fuga” eu quase morri (rs), o excesso de flashbacks é maçante!
Mas lembrei aqui de outro filme sobre a infância e as descobertas do mundo, esse bem mais leve, também uma boa pedida: Swing, do diretor Tony Gatlif (Já deve ter visto o Exílios, obra-prima, não?).
Abraço.
Não vi o “Swing”, bem lembrado.
Será que “Pixote” não entra nessa lista, André?
Cara, vc reviu o filme recentemente? Eu revi, e o impacto da primeira vez se foi, pelo menos pra mim…
Nessa temática de juventude, ritos de passagem, etc, “Os Incompreendidos” está ao lado de “Kes” e “The Butcher Boy (Nó na Garganta)” como um dos meus preferidos. André, por acaso você já viu um filme americano chamado “The Boy with the Green Hair”? É uma escolha menos conhecida, mas pode bem entrar num top 10 do gênero.
André, aproveitando que você falou sobre um filme cujo protagonista é uma criança, indico, se é que você não conhece, três filmaços em que o mote é um drama ou dilema infantil: “Tricks” (“Sztuczk”, no original), um filme polonês sobre um garoto que realiza truques para trazer seu pai – que não o conhece – de volta; “Vozes inocentes”, que é mais conhecido, que mostra a visão de uma criança da guerra civil em El Salvador; e uma obra-prima chamada “Uma vida novinha em folha” (“A Brand New Life), sul-coreano, em que uma garotinha é posta num orfanato e, sem se conformar, só pensa em fugir dali (parece tonto o roteiro falando assim, mas o filme é uma coisa de lindo). Como bônus, menciono também “O italianinho”, produção russa – igualmente sobre um garoto em um orfanato, é muito bom também.
Pô, não vi nenhum dos três, ótimas dicas, vou atrás.
Sei que “Os Incompreendidos” é o filme mais importante de Truffaut e é realmente belíssimo, mas o meu filme favorito da série “Antoine Doinel” é “Beijos Proibidos”, um filme muito leve, pessoal e divertido.
O curioso é que “Beijos Proibidos” foi um dos grandes sucessos comerciais de Truffaut, apesar de ter sido lançado em 68, no auge dos protestos estudantis na França. Acho que o público procurava por uma válvula de escape para toda a tensão política da época…
Domicílio Cojugal é muito bom também. Aliás, todos os filmes com o Doinel são bons, acho.
Off-topic, relacionado a um tópico antigo: vc viu isso, André?
http://blogdojuca.uol.com.br/2013/07/pego-na-mentira/
O final de Incompreendidos e o de Feios, sujos e malvados são comoventes. E me faz lembrar o quanto o cinema francês e italiano já foram gigantes, titãs.
André,
Nessa pegada de “lista de grandes filmes sobre a juventude e sua dificuldade de relacionamento com o mundo “normal””
Laranja Mecânica não tem teria um espaço?
Por mais que Malcolm tivesse já uma idade avançada, no livro Alex tem 15 anos.
Kubrick quando filmou pensou em atores com essa idade, mas sabia que jamais teria um ator com 15 anos que faria o mesmo que Malcolm.
Ah, mas no filme o Alex não é mais criança, certo?
André, se para vc, “Os Incompreendidos” é o melhor filme do Truffaut, qual é o pior dele, na sua opinião????
Ah, ele fez vários filmes que julgo ruins. Não suporto Farenheit 451, O Garoto Selvagem, e acho A Noiva estava de Preto uma chatice sem tamanho.
Já eu, acho Farenheit 451 sensacional!
Achou o Farenheit 451 piegas? E o livro do Bradbury, gosta?
O livro é um milhão de vezes melhor que o filme!
na minha humilde opiniao Farenheit 451 (o filme) beira a vergonha alheia… envelheceu muuuito mal
Concordo 100%.
os incompreendidos e os esquecidos são dois dos meus filmes prediletos.
gosto muito da temática da juventude e suas crises.
em outras proporções, guerra dos botões (só vi a versão dos anos 90) também me agrada.
na literatura, gosto de os meninos da rua paulo, capitães de areia, o senhor das moscas e, principalmente, a cidade e os cachorros, do vargas llosa
Como era bom quando o cinema não era dominado por super-heróis dos quadrinhos! E o cinema francês, italiano, alemão, japonês e etc, conseguiam romper a mediocridade hollywoodiana habitual….
Hoje em dia os melhores cineastas e roteiristas estão na TV ou mesmo nos serviços de streaming.
Não dá para deixar de ver Orange is the new Black ou House of Cards (só para citar os da netflix), por exemplo, para assistir a décima-quinta versão do super-homem no cinema.
Sei que já houve essa discussão aqui, mas a quantidade de filmes bons feitos para o cinema decresce a cada ano. O cinéfilo de hoje é um grande saudosista.
Sem dúvida, tenho mais prazer em descobrir filmes antigos que não conhecia do que em fuçar novos filmes.
Bingo!
Também sou assim. Outro dia vi Testemunha de Acusação, putsas filme.
O problema não são os super-heróis, mas a qualidade dos blockbusters em geral. Alias, boa parte dos bons blockbusters dos últimos anos é baseada em hq´s. Cito como exemplos o segundo batman, x-men: primeira classe e até mesmo o filme dos vingadores. Agora, realmente a qualidade do material feito para a TV tem sido um alento…
Tem muita adaptação de quadrinhos que zoaram, mas às vezes acertam a mão. Concordo que os que você citou foram competentes (tirando o segundo Batman, que acho o ápice da prolixidade do Nolan). Adiciono à lista o novo Dredd. Bom roteiro e diversão garantida. Infelizmente sofreu com uma divulgação fraca e acabou passando batido.
belíssimo filme André. Tenho em DVD aqui em casa e recomendo sempre.Mas não acha que ele deu uma envelhecida?
Não acho não, revi recentemente e não acho que envelheceu. Mas vários filmes daquela época não envelheceram tão bem, acredito.
André, assisti “Os Incompreendidos” pela primeira vez logo que cheguei a São Paulo, há trinta anos atras, no cineclube da GV, vc com certeza é mais jovem e não conheceu esse cineclube que passava desapercebido, mas era uma verdadeira maravilha, ali eu conheci (caipira vindo de Bauru) Truffaut, Godard, Fassbinder e cia. Esse filme de Truffaut me fascinou por muito tempo, eu vinha de uma educação bastante rigida (pai patrão e colégio de padres…), então caia como uma luva. É magnifico. E aqui em São Paulo estamos num momento iluminado de cinema: primeiro a belissima mostra do Billy Wilder no Cinesesc, e agoro o CCSP vem fazendo uma mostra monstro do Howard Hawks, é uma maravilha ver filmes como “Hatari” e “Bola de Fogo” na telona (mesmo que a do CCSP não seja la aquelas coisas, e a projeção é péssima, mas mesmo assim vale mais que qualquer Imax, argh!). Dê uma palavrinha pra gente sobre esses dois titãs do cinema, cujos filmes, como os de Truffaut, estão cada dia melhores e maiores.
Fala, Celso, o cineclube da GV não conheci, mas conheci o Oscarito, em SP, além do Macunaíma, MAM, Aliança Francesa e vários outros no Rio. Bons tempos dos cineclubes, das grandes retrospectivas. De fato, ver Wilder e Hawks no cinema e não em DVD é uma bênção.
Aqui em São Paulo, além do Cineclube da GV e do Oscarito, tínhamos o do Bixiga, onde assisti Vidas Sem Rumo e Rumble Fish, entre outros e mais no final dos 80s, o Elétrico , na Augusta.
Vi praticamente todos os filmes do Truffaut em cineclubes aqui em SP… isso faz uns 13 anos, mais ou menos.
A experiência de se ver um clássico do cinema na tela grande é única.
Hoje em dia existem poucos cineclubes aqui em SP. O CCBB até tem uma ótima programação, mas as salas são muito pequenas…
Estarei lá.
Não tinha visto o filme ainda. Assisti há algumas semanas com meu filho de 12 anos, que quis ver até o final. Final que, inclusive, é maravilhoso.
Tenho muita dificuldade com estes filmes “antigos” considerados obras primas. De certo que o ritmo é diferente, mas sempre fico com a impressão que as interpretações são um pouco amadoras. Sei que o problema é meu, que me acostumei com outro tipo de cinema. Mas o olhar do garoto no final do filme me impactou. Ele olhou para minha alma…
O mesmo aconteceu com Morangos Silvestres. Nunca consegui aceitar que a menina que pegou carona com o personagem principal formou um vínculo tão grande com ele a ponto de dizer que não o esqueceria. Não houve nada na história entre eles que pudesse ligá-los tão profundamente.
P.S. Mas Kurosawa eu entendo perfeitamente a genialidade.
Verdade. Só porque o filme é de grandes nomes ou é europeu as pessoas tendem a endeusar para posar de cults. Numa análise crua, a maioria dos filmes do Godard são chatíssimos e quem idolatra eles idem.
Bom, Luiz, aí você está generalizando e, desculpe a franqueza, fazendo a apologia da ignorância. Godard é um dos maiores gênios do cinema e revolucionou a linguagem cinematográfica. Você pode achar ele – e os fãs – uns chatos, direito seu, mas os fãs dele também podem achar quem diz isso um ignorante completo. Em tempo: também acho que Godard tem alguns filmes chatíssimos, mas isso não o torna menos genial. O que Godard fez entre 1960 e 1968 é inigualável.
O importante é procurar ter um certo conhecimento e personalidade para não ir “na onda”, pois há filmes considerados geniais que são insuportáveis. Muitos diretores excepcionais tentaram ultrapassar seus limites no experimentalismo – o que é um mérito a princípio – mas tornaram seus filmes chatos demais para quem assiste. Não é definitivamente o caso desse Truffaut, realmente uma delícia. Comprei anos atrás um box lançado no Brasil com os cinco filmes. Eu e minha esposa, após assistirmos ao primeiro, não resistimos e vimos todos os outros em menos de uma semana.
Pois é, eu já acho que chata é a pessoa que não gosta e não se interessa em assistir à trilogia do Antoine Doinel e a outro filme que considero o melhor do Godard “O homem que amava as mulheres”.
Em relação ao Morango Silvestres, desculpe mas não tem nada a ver, não aceitar a atitude da garota. É um filme de ficção ambientada na Suécia nos anos 50, além do que não tinha nada de absurdo naquilo, considerando a personalidade da personagem que se expõe na história.
Vixe, me confundi no comentário e troquei o François Truffaut pelo Godard. É a pressa de escrever rápido durante o trabalho, rsrs.
Não concordo com você, Luiz. Não é que os filmes sejam ruins, são apenas incompreendidos por mim.
Esse filme marca qualquer um. Em uma das melhores cenas, o garoto fica girando dentro daquele brinquedo maluco, fora as cabecinhas da meninada no cinema (cena que ganhou homenagens no filme Sombre, do Philippe Grandrieux). Outro filme que exalta bem essa coisa que vc disse da liberdade foi dirigido pela Barbara Loden, chama-se ˜The Boy Who Liked Deer˜, uma boa pedida e da pra ver em partes no Youtube. Apesar da qualidade meia boca, existe uma cena em que o garoto e seus amigos detonam a escola que eleva ao cubo as aventuras do jovem Doinel.
Clássico. Na minha lista também entraria “Marcelo Zona Sul” (Xavier de Oliveira, 1970), que é sensacional.
“Kes” (1969) não entraria nessa lista?
Boa, até escrevi um post sobre esse filme, esqueci de incluí-lo.
Entre as várias boas dicas que eu peguei aqui no blog, acho que essa foi a melhor. Aquela sequência no campo de futebol é uma das coisas mais engraçadas que eu já vi.
André, esses dias assisti no Canal Brasil o filme “Marcelo Zona Sul” de 1970, realizado por Xavier de Oliveira, e me lembrou muito esse “Os Incompreendidos”. As ruas e praias de Copacabana servem de pano de fundo para uma crônica bem ao estilo carioca.
E o que é a cena em que Antoine Doinel é interrogado no reformatório quase final do filme, quando lhe perguntam sobre mulheres e o rosto sem graça que ele faz como se não soubesse o que responder. Muita ternura para num só filme.
Já assistiu o francês, também, “Entre os muros da escola”, muito legal.
Vi sim, gostei muito de “Entre muros”.
Encontrei muita semelhança com a realidade brasileira no filme “Entre os muros da escola”.
Bem lembrado desse filme!
Vai outro: A Onda (Die Welle), filme alemão de 2008…