“Mad Max” e a explosão do cinema australiano
02/08/13 07:05Acaba de sair em blu-ray uma caixa com os três filmes da série “Mad Max”, dirigidos pelo australiano George Miller.
“Mad Max” (1979) e “Mad Max 2” (1981) são ótimos; o terceiro, feito em 1985, nem tanto. Apesar de um orçamento maior e a presença de Tina Turner no elenco, é bem inferior aos dois primeiros.
A série ajudou a fazer a fama internacional não só de George Miller, mas de toda uma incrível geração de cineastas australianos que surgiu entre o inicio dos anos 70 e meados dos 80, chamada de “Nova Onda” (“New Wave”) do Cinema Australiano.
Fazem parte da turma gente como Peter Weir, Phillip Noyce, Bruce Beresford, Fred Schepisi, Gillian Armstrong, Russell Mulcahy, John Duigan, e até ingleses que filmaram na Austrália, como Ted Kotcheff e Nicolas Roeg.
Já escrevi aqui no blog sobre o cinema australiano (leia aqui) e, especialmente, sobre o melhor cineasta local, o talentosíssimo Peter Weir (leia aqui). O que esse sujeito fez de filmes bons é assombroso.
Aqui vai uma lista de meus filmes prediletos dessa geração. Em ordem cronológica:
Walkabout (Nicolas Roeg, 1971) – Dirigido pelo inglês Roeg (se puder, assista também a “Performance” e, especialmente, ao inacreditável terror psicológico “Don’t Look Now”/”Inverno de Sangue em Veneza”), é um dos meus filmes prediletos. Duas crianças são deixadas pelo pai no deserto australiano e são ajudadas por um menino aborígene, que os leva de volta à “civilização”. Um dos filmes mais inventivos e emocionantes que conheço, obra-prima do cinema de invenção.
Outback/Wake in Fright (Ted Kotcheff, 1971) – Outra produção australiana dirigida por um britânico, conta a história de um professor que aceita um emprego numa cidadezinha poeirenta do deserto australiano (chamada -juro – “Bundanyabba), onde entra em conflito com os sádicos e violentos moradores locais. Quão assustador é “Outback”? Basta dizer que assustou até Nick Cave, que o considera um dos filmes mais aterrorizantes já feitos. E vale só por Donald Pleasence e seu olhar assustador.
Piquenique na Montanha Misteriosa (Peter Weir, 1975) – Em 1900, um grupo de alunas de uma escola desaparece sem explicação durante uma visita à misteriosa Hanging Rock, uma formação rochosa no sudeste da Austrália. O filme tem um ar sexy e enigmático, e sempre me lembrou o trabalho do fotógrafo inglês David Hamilton, famoso por suas imagens de ninfetas.
The Last Wave (Peter Weir, 1977) – Gostou da cena da chuva de sapos de “Magnólia”? Aposto que Paul Thomas Anderson “se inspirou” nesse filme de Weir para criar a alegoria dos batráquios que caem do céu. “The Last Wave” é um terror psicológico absolutamente perturbador sobre um advogado metido em um caso de assassinato envolvendo um aborígene. Peter Weir é o cara. Não perca tamnbém “Gallipoli” (1981) e “O Ano em que Vivemos Perigosamente” (1982).
Breaker Morant (Bruce Beresford, 1980) – Revi esses dias no Telecine Cult, e continua fantástico: em 1902, três oficiais australianos são julgados por crimes supostamente cometidos na Guerra dos Bôeres, na África do Sul. O trio é usado de bode expiatório pelo governo britânico. Emocionante filme de tribunal.
Razorback (Russell Mulcahy, 1984) – Javalis gigantes aterrorizam o deserto australiano. Filme B de primeira, dirigido por Mulcahy, que depois faria fama dirigindo videoclipes cafonas para Elton John e Duran Duran. Lembro que ficou um tempão em exibição no saudoso Cine Marrocos, em São Paulo.
A Cry in the Dark (Fred Schepisi, 1988) – Meryl Streep e Sam Neill fazem um casal acusado pelo desaparecimento da própria filha, que tentam provar sua inocência. Baseado num caso real que mexeu com a Austrália. Revi há pouco tempo e a história é muito boa.
Navigator (Vincent Ward, 1988) – O neozelandês Ward fez esse filme lúdico e surrealista, sobre uma vila no norte da Inglaterra que, no século 14, ouve um menino contar a história da Peste Negra que quase dizimou a Europa. Por favor, não confunda com “Flight of the Navigator”, filme da Disney.
Dead Calm (Phillip Noyce, 1989) – Antes de ir para Hollywood e estourar com “Jogos Patrióticos” e “Perigo Real e Imediato”, estrelados por Harrison Ford e baseados em best-sellers de Tom Clancy, Noyce fez esse assustador exercício de terror, sobre um casal (Nicole Kidman e Sam Neill) que decidem fazer uma viagem de veleiro para se recuperar da morte do filho e acabam vítimas de um assassino (Billy Zane). Foi o primeiro sucesso de Nicole Kidman no cinema. O final é meio exagerado, mas, no todo, o filme funciona muito bem.
Além de Hollywood (Mark Hartley, 2008) – Excelente documentário sobre o cinema B australiano dos anos 70 e 80, passa de vez em quando na TV a cabo. Apesar de mais focado nos filmes de gênero – terror e suspense – o documentário conta a história da indústria de cinema da Austrália e traz cenas de muitos ótimos filmes.
P.S.: Estarei sem acesso à Internet por boa parte do dia. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço um pouco de paciência. Obrigado.
Fala, André, beleza? Moro na Austrália e já vi Walkabout, Wake in Fright, Last Wave, Razorback e Mad Max. Gostei muito de todos, vou procurar os outros, costuma ser fácil de encontrar em bibliotecas. Recomendo um documentário sobre o ator aborígene David Gulpilil chamado “Gulpilil: One Red Blood”. Já viu? Excelente também. Aqui tem umas informações: http://www.abc.net.au/tv/documentaries/stories/s727474.htm
Cara, que dica sensacional, não conheço o doc, mas sou muito fã do Gulpilli, valeu demais.
Nunca consegui gostar de Last Wave e muito menos de Walkabout. Picnic at Hanging Rock, esse sim é sensacional.
Comprei recentemente o livro Sobressalto, de Kenneth Cook, tradução de “Wake In Fright, no qual o filme Outback foi baseado, e gostei muito. Os trechos da caçada de cangurus são chocantes. Não vi o filme, não sei se fizeram uma adaptação fiel …