Meus dois centavos (em reais, não Cubo Cards) sobre o Fora do Eixo
12/08/13 07:05Vários leitores pediram um texto sobre as recentes polêmicas envolvendo o coletivo Fora do Eixo.
Nos últimos dias, pipocaram na web muitos depoimentos – a favor e contra – o Fora do Eixo. Selecionei trechos marcantes de dois deles.
O primeiro, de Rafael Vilela, é a favor (leia a íntegra aqui), e pinta uma imagem lúdica e elogiosa da vida dentro da Casa Fora do Eixo, em São Paulo:
Passei a fazer parte do famoso Caixa Coletivo. É tipo mudar de combustível – de um poluente pra um biodegradável. Você continua se alimentando, tomando banho, tendo os equipamentos que precisa, as roupas que gostaria de usar mas o que te move já não é mais o mesmo. A ânsia por ter cada vez mais e ser cada vez menos já não nos alcança. É trocar um modelo de salário, de acúmulo e de fetiche pelo pertencimento por uma vivencia comunitária, compartilhada em bens, serviços e afetos, onde o medidor máximo de sucesso é o FIB – a Felicidade Interna Bruta.
O segundo, de Laís Bellini (íntegra aqui), vai no caminho oposto: descreve uma série de problemas e situações desagradáveis que a autora diz ter vivido, na mesma Casa Fora do Eixo:
Você vive dentro da Casa Fora do Eixo São Paulo e isso é a sua vida. Se você quer visitar seus pais no interior… olha sinceramente, que você tenha um bom motivo… e que não venha “pedir” dois meses seguidos. Sim, porque ali o verbo era esse. “Posso ir visitar minha mãe essa semana?”, coisas do tipo. (…) Agora, ai de você perguntar por que o Pablo tá saindo. Por que a Lenissa vai passar 3 dias fora. Você não tem que perguntar. Ela vai sair, vai usar o dinheiro do caixa coletivo, não vai pedir a ninguém o quanto vai usar. Mas claro, veja bem, ela tem “mais lastro que você”. O Pablo resolveu dormir até mais tarde e perdeu o vôo. Não importa, ele nem se deu a obrigação de cancelar o vôo. “Você vai ligar lá Laís, vai dar um jeito de trocar a passagem.” “Mas já passou a hora do checkin” “não importa, troca, ou compra outra, tem que comprar outra, rápido Laís, já resolveu (o gtalk bombando!!!) vai Laís, vai logo, menina, tá lerda hoje, você é lerda mesmo né, parece retardada”.
Sobre a convivência dentro da Casa Fora do Eixo, acho que só quem esteve lá pode opinar. Se um maior de idade decide fazer parte de um culto onde as pessoas falam etrusco, vivem peladas e usam perucas de frutas da Carmen Miranda, ninguém tem nada com isso. A menos que as perucas tenham sido compradas com dinheiro público.
O que leva à pergunta que ainda não vi respondida de forma convincente: o Fora do Eixo é um coletivo “independente”, como apregoa, ou apenas usa esse discurso para captar verbas – públicas e privadas – sem dividi-las com os artistas?
A acusação mais freqüente que ouço contra o Fora do Eixo é de que ele coopta o trabalho de muitas pessoas, quase sempre sem pagar – ou “desmonetariza”, como diz o jargão do coletivo – só para inflar sua própria importância e, assim, captar mais verbas.
Não sou contra o uso de verbas públicas em cultura. É para isso que existem leis e editais. Sou contra usar verba pública em eventos com ingressos caros. Acho que grana estatal deveria ir para eventos gratuitos ou muito baratos. Também acho que iniciativas de preservação e recuperação de acervos e arquivos precisam de ajuda estatal. Mesmo os eventos gratuitos precisariam passar por uma peneira mais fina, para evitar casos como o da Virada Digital, um evento bancado por estatais e que prometia levar “tecnologia de ponta” à cidade de Paraty, mas que deixou um rombo gigantesco de contas não pagas na cidade e prejudicou muitos comerciantes locais (por coincidência, um dos palestrantes foi Pablo Capilé, do Fora do Eixo – leia mais aqui).
Há alguns anos, eu era sócio de uma casa noturna em São Paulo e fui convidado a participar de um evento em Recife, patrocinado pela Petrobras, chamado Feira Música Brasil (antes que perguntem, não recebi nada pela participação, apenas passagem e hospedagem).
Segundo o site da Petrobras, a Feira Música Brasil é “um evento voltado para o incentivo à indústria cultural, a partir de ações que movimentem a cadeia produtiva de economia da música, em todas as suas etapas e desdobramentos.” Achei o site do FMB de 2010, que aconteceu em Belo Horizonte, e que tem o logotipo do Fora do Eixo por todos os lados (veja aqui).
O que vi em Recife me impressionou, e não positivamente: durante três ou quatro dias, falei com dezenas de grupos e artistas, especialmente nordestinos, maioria no evento. E nenhum deles – não é exagero – vivia sem algum tipo de ajuda estatal.
Quase todos os CDs que recebi tinham o selo de alguma prefeitura ou governo estadual. Todos os shows que as bandas faziam eram pagos por alguma prefeitura.
Comecei a perguntar às bandas quantos shows elas tinham agendados em locais privados. Depois de horas, encontrei uma, que dizia ter um show marcado num bar em Porto Alegre. Mas as passagens estavam sendo custeadas pelo governo de Pernambuco.
Na casa noturna da qual fui sócio, fizemos dezenas de shows de bandas brasileiras. A média de pagantes era baixíssima, insuficiente até para pagar o staff da casa. Das muitas bandas alternativas brasileiras que tocaram lá, lembro apenas uma – o Matanza – que parecia ter público para se sustentar.
Talvez os artistas consigam se sustentar no mundo do Fora do Eixo, onde recebem em moeda própria e trocam sua arte por “serviços” ou coisa que o valha. Mas isso não vale no mundo real, onde ninguém sabe o que é o tal Cubo Card. O Fora do Eixo recebe em reais e paga em Cubo Cards. É o verdadeiro Milagre Econômico.
Andre,
Vc ja tentou captar patrocinio de empresa privada? Não é só a maquina publica que é enguiçada no Brasil, as praticas das empresas privadas, principalmente fora de São Paulo, são de fazer Pablo Capilé orgulhoso. Trabalhei na area de marketing de uma grande multinacional e o diretor falava claramente que fora de São Paulo, só o Rio merecia alguma coisa, e olhe lá. Mesmo que a regional sul, ou mesmo alguns estados do nordeste, dessem resultado a ordem era de se fazer patrocinio em casos bem especificos que envolviam troca de favores com grupos locais, que nada tinha a ver com desempenho ou resultado, e olha que quando somado o “resto do Brasil”, ie tudo menos Rio/SP, respondia por metade do faturamento da empresa. O pior que a pratica não era isolada, e permeia varias empresas, chegando mesmo a fazer parte da cultura empresarial brasileira.
Sim, é um processo muito viciado e complexo, onde poucos têm acesso. Vc tem razão.
Como contribuinte de IRPF, IPVA, ISSQN, ICMS, IPTU, INSS, etc. e tal, me arrepio em saber que o dinheiro público patrocine tanta picaretagem a título de “projeto coletivo cultural”. Concordo com o leitor que escreveu no sentido de que a produção artística se sustente com o patrocínio exclusivamente privado, seja por meio de pessoas jurídicas ou o do consumidor. Quem quer viver de poesia marginal que viva como tal.
NINJA: Espionagem, Sabotagem, Infiltração, a serviço de um senhor. A Mídia Ninja é financiada por estatais, os seus principais dirigentes são todos originariamente pró-PT, logo, buscar seriedade,um pouco de isenção e ética em tal grupo é como acreditar em DUENDES. Os caras recebem em Reais e pagam com a cara do Capilé, é a treva.
No Brasil, o governo é um robin hood às avessas. Quem não precisa consegue verbas dele (por exemplo, cirque de soleil e medalhões da mpb) e coisas que teriam que ter ajuda não conseguem. Na crônica do Rui Castro chamada TESOURO A SER PRENSADO, Rui mostra um abnegado que reuniu todas as gravações originais de Noel Rosa. E aí eu pego esse gancho pra falar de algo que me incomoda profundamente = como nossos artistas que ganharam bastante dinheiro -e de forma merecida – não investem em projetos desse tipo. Eu perguntaria a esse abnegado se ele chegou a ir até o Chico Buarque e pedir ajuda a ele para poder divulgar o projeto do Noel. Afinal, Noel Rosa é a maior fonte de inspiração para o Chico Buarque.
Essa visão da nossa elite de que ela não tem que retribuir uma parte do que ganha para a sociedade é um dos males do Brasil. Um dos fatores de nosso atraso.
aqui está o link da crônica do Rui Castro. Vale a pena ler e refletir.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/2013/07/1313914-tesouro-a-ser-prensado.shtml
Cada vez que leio algo a respeito desse Fora do Eixo fico sem entender como uma instituição tão grande como dizem ser, não consegue dá satisfação sobre nada em relação a recursos, gastos, etc. É tudo vago. Outra coisa é a mentalidade de quem está lá dentro, parece um Culto ou coisa semelhante. Acho que tem picareta nessa história.
A casa fora do eixo faz exatamente o que as “casas do eixo” fazem. Todos em busca de verbas públicas e privadas (o que não é exatamente o problema). O problema é como é feita a divisão dessas verbas entre “empresários” e artistas. É aí que moram todos os “monstros” nessa discussão.
E por falar em “casa fora do eixo” quem já fazia isso desde os anos 70 era Os Novos Bahianos, não?…
Por que nao extinguir o Ministério da Cultura? Nao é a burocracia q forma artistas.
Há um boato muito forte de que o Fora-do-Eixo está na gênese da PSL 129/2012 sobre direitos autorais. Existe um artigo na dita lei que torna o veículo transmissor, ou seja, tvs, rádios, etc, co-autor da obra, o que é um absurdo. Se formos julgar pelos envolvidos vem mais desgraça por aí. Você sabe de algo sobre isso, Barça?
Não, Cleibsom, mas é um assunto seríssimo.
É um assunto seríssimo mesmo, Barça. De repente pessoas que sempre se deram bem com a situação do jeito que está mudam de lado e passam a negar aquilo que antes sustentavam! Sem contar este artigo na lei que diz que um veículo, pelo simples fato de transmitir uma obra, se torna co-autor da mesma e passa a ter direitos sobre ela! Os artistas escapam do cabresto das gravadoras e editoras e caem no cabresto das emissoras de tv e rádio. Algo fede nesta história…Vale um post!
Vale sim, preciso ler a íntegra dessa bagaça pra entender melhor.
André,
Sou admirador do seu trabalho, que acompanho há algum tempo neste blog. Gostaria de um comentário seu sobre o seu “amigo Alexandre Youssef”, ao que parece, também envolvido com o FDE. Na entrevista que você fez com ele, há jargões típicos do FDE, tais como, “Economia Criativa “, “capilaridade”, “auto-sustentável” etc.
Grato,
Rodrigo
Rodrigo, o que posso dizer? Eu posso ter uma relação de amizade e respeito com alguém e discordar dele. Se alguém apóia o FdE e trabalha com eles, quem sou eu para censurá-la? Não há crime algum nisso. Sempre fui crítico da forma como o FdE trabalha com os artistas, mas conheço muitos artistas que já trabalharam com o FdE e nem por isso briguei ou rompi relações com eles. E só porque o FdE usa a expressão “economia criativa”, não quer dizer que ela seja uma coisa ruim.
Ok!
Grato pela resposta.
Não estava de julgando por ser amigo dele.
Só imaginava se tinha algumas considerações a fazer sobre a atuação dele nessa estória toda, ainda mais agora, com o envolvimento dele na curadoria da “Virada Cultural” (coincidência, não?).
Abs.,
Rodrigo
ps: continuo a admirar o seu trabalho.
Acho a Virada Cultural um evento excelente, com shows bons e gratuitos. O clube do qual eu era sócio participou uma vez do evento, em 2008. Fizemos um palco de música eletrônica no centro, de graça. Ninguém ganhou nada, os DJs toparam tocar de graça, mas foi uma experiência bacana. Nunca fiz parte da organização da Virada Cultural e não sei como é o funcionamento interno da curadoria. Mas o Youssef é dono de casa noturna, trabalha com shows há um tempão, e acho lógico que ele seja chamado para trabalhar em curadoria de shows. Se você concorda ou não com as escolhas, é outro assunto.
Olha, já trabalhei em produtora cultural e saí do mercado MUITO desiludida. As leis e editais estatais viraram mecanismo pra empresas lavarem dinheiro de imposto fazendo publicidade travestida de “projetos culturais”, com recurso técnico ruim pra economizar grana (e assim levar mais) e artistas não remunerados. Vi evento que captou 1,5 milhão onde a equipe recebia 800 reais cada. Sério, caí fora. Não tenho sangue de barata pra esse mercado não.
O tal do Capilé é igualzinho a 90% dos caras q comandam essas produtoras. Só que com mais visibilidade e com dinheirinho de brinquedo próprio. Não me engana, conheço esse mercado de dentro.
Concordo 100%, Beatriz. Sempre fui de opinião que o principal problema é que as empresas que querem usar grana de imposto decidem que projetos querem apoiar. O que deveria acontecer é a grana entrar para um fundo, onde uma comissão, sem vínculos com as empresas, decidiria o destino das verbas.
Exatamente! Do jeito que está, muitos projetos de qualidade baixíssima são custeados pelas leis de incentivo, simplesmente por serem suporte para uma impressão enorme da marca da empresa. Em minha curta vida de produtora, eu perdi a conta de quanto projeto de mais de 1 milhão que era simplesmente “cartilha educativa sobre reciclagem”. O fundo seria uma solução excelente.
Seria, mas vai convencer uma empresa disso…
Nunca trabalhei com isso, mas, ao que me parece, isso não é só a inversão do processo? A aprovação do projeto que vai receber a grana passa de antes da captação para depois da captação. Só queria entender melhor o problema.
Sim, mas isso evitaria que empresas criassem os próprios projetos para elas mesmas apoiarem.
onde vcs estavam há 3 anos atrás quando o juca propos exatamente isso e foi metralhado de tudo que é lado? mídias oficiais anti-petistas e empresas de projetos culturais principalmente.
Eduzal, na boa, pare de encher. Falo isso há anos. Ninguém está partidarizando a discussão, deixe de paranóia.
Estava trabalhando em uma produtora e acompanhando a discussão, e você?
é interessante ver que o FDE antes tinha ligações bem estritas com os barões dos editais estatais em alguns estados, tipo Fabricio Nobre la de Goiania, que na epoca era gestor da Abrafin ( e tinha a monstro discos), Anderson Foca lá de Natal (que alem do Dosol é o maior vendedor empresario de suas proprias bandas ever), e agora ng mais troca figurinhas…
cultura que nao doutrina e reeduca eh burguesa entao precisa aparelhar mesmo e a meta eh o dirigismo cultural asfixiante.
O problema todo é que há determinados artistas que tem verdadeira ojeriza a tratar cultura como indústria, e fica nessa coisa de “nem, nem” – “nem sou ‘vendido’ nem consigo sobreviver sozinho”. Ainda mais roqueiros indies, na sua maioria influenciados pelo punk – exceto, claro, na parte do “do it yourself”.
Acho que o Ministério da Cultura deveria ser dividido em duas partes: uma dentro do Ministério do Desenvolvimento, INDÚSTRIA e Comércio Exterior e a outra, a que cuida da alta cultura e de arte de vanguarda, voltar para o MEC.
Pode ser um bom começo.
OFF-TOPIC: André , haverá em BH um “dia Psicose” , dedicado ao filme do Hitchcock no cine humberto mauro (um cineminha de bairro bem legal, dos últimos da cidade). Mas o mais legal é esta matéria sobre a vinda da Janet Leigh em BH ,em 1961 :
http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/cinema/2013/08/12/noticia_cinema,145194/janet-leigh-estrela-de-psicose-visitou-bh-ha-mais-de-50-anos-saiba-como-foi.shtml
Demais, não sabia que ela tinha ido a BH. Agora, alguém deveria pesquisar onde ela ficou, e tirar uma foto do chuveiro do hotel.
haha boa !
Artista que vive de dinheiro público é na prática funcionário público não concursado. Se não consegue viver de arte, procure emprego em outra área e faça arte nas horas vagas ou se aprimore para conseguir público. É realmente foda ver dinheiro de imposto para patrocinar espetáculos de teatro que cobram a bagatela de 200 paus de entrada ou mandar 1 milhão de rais para Maria Betânia declamar poesia de Fernando Pessoa ou algo que o valha.
OK, Luciano, mas e pessoas que trabalham com cursos, preservação de acervos, pesquisa, etc.? “Cultura” é um assunto amplo, e acho que precisa, claro, de apoio estatal. O que não significa dar dinheiro pra um astro da MPB fazer um show e cobrar 150 reais.
Na minha opinião cultura vai muito além de show de graça na rua. Se o Estado age como mecenas, realmente fica difícil desenvolver uma indústria cultural. De que adianta o governo criar uma secretaria para economia criativa recheada de teóricos, se os museus, teatros, monumentos e outros aparelhos públicos estão caindo aos pedaços.
Outra questão é que não vemos as políticas públicas para cultura se comunicarem com as ações do Ministério da Educação. Essas duas áreas precisam andar juntas, caso contrário nunca iremos conseguir desenvolver um público consumidor de arte. Vai continuar tudo na mesma com artistas querendo sobreviver de edital, sendo roubados por produtores inescrupulosos ou servindo de laranja para parlamentares desviarem emendas. Um círculo vicioso e viciante alimentado pela politicagem do tal “movimento cultural”.
Gustavo, ninguém disse que o governo tem de fazer “só” isso. Mas subsidiar ações culturais importantes para a coletividade e que não têm fins lucrativos é, sim, dever do Estado.
André, cadê o artista contestador, rebelde, crítico, que um dia esse país produzia aos montes?????
Será que produzia mesmo, João? Quando vc pensa que a maioria dos cineastas vivia às custas da Embrafilme, e dos músicos, às custas da lei do ICM, fico na dúvida.
Sobre a relação do FDE com a Mídia Ninja, qual é a sua opinião Barcinski?
Bom, mas a Mídia Ninja é do FdE, certo? Pra mim, são a mesma coisa.
“quanto mais mexe, mais fede” sabedoria popular.
não sabia desse vínculo pernicioso entre os dois….
COMO NÃO VELHO??!!
Cara, acho precipitado dizer que são a mesma coisa. O Bruno Torturra, que é a principal figura do Midia Ninja, parece ser uma pessoa bastante comprometida e íntegra. Muita gente de bom senso atesta a credibilidade dele. Sobre as manifestações contra o FDE, ele mesmo reconhece que não entende toda essa sistemática da iniciativa, mas que admira a proposta do projeto. Acho bem possível que esse pessoal tenha se exaltado demais com a retórica do Capilé.
Ué, eles mesmos dizem isso. E foi o próprio Torturra que ficou dizendo que o Pablo Capilé era um gênio, uma criatura extraordinária, etc.
O FDE financia a mídia ninja. Agora, se intervém no conteúdo editorial é o que me interessa. É aí que tem que ficar claro antes de qualquer julgamento.
É verdade, ele elogia o Capilé. Mas ao mesmo tempo diz que não entende completamente o operacional do Fora do Eixo. Aí é que vem a pergunta sobre o quanto os NINJAS estão por dentro do que alegadamente se passa no FDE e o quanto ficaram deslumbrados com o discurso do Capilé (como muitos ficaram inicialmente aliás).
A questão era sobre a relação entre um e outro, e eu respondi que é total.
Bruno Torturra + Pablo Capilé = Pepeu Gomes + Homem do Rá
Barcinski, qualquer envolvimento com verbas públicas no Brasil atrai 99% de picaretas promovendo o benefício próprio. Acredito em algo como foi feito em Austin no Texas, que começou com a cena musicial e expandiu para as demais vertentes da cultura.
Sim, mas o problema não é do uso de recursos públicos, mas a quantidade de picaretas. Com boa vontade, isso se resolve. Acho o exemplo de Austin excelente. Todo mundo que trabalha com cultura – casas noturnas, estúdios, etc. – pode abater custos de impostos. Funcionou muito bem.
Diz que a Noruega, que é um país rico, dá ajuda de custo equivalente a no máximo R$ 3 mil para combos de jazz. Aí fui olhar quanto foi aprovado pela Rouanet pra turnê “Tchakabum é Pura Energia”. Dava pra colocar 5 mil combos em turnê na Noruega.
Pode parecer alienação, mas eu estou cagando e andando para o Fora do Eixo. Até outro dia, nem sabia da existência desse troço.
É, mas é bom ficar esperto, porque é o seu dinheiro que está em jogo.
Pois é. Obrigado.
Abra o olho senão vai ter que mudar o nome para Paulinho Perda de Sousa.
Rapá, existe muita distorção na aplicação de recursos públicos na cultura, mesmo quando os ingressos são muito baixos. Outro dia aqui em Fortaleza teve quatro shows do Zeca Baleiro no centro cultural da Caixa (além de ser uma empresa pública, ela usa todos os benefícios fiscais para manter um centro cultural). A entrada custava R$20 a inteira, mas o teatro só tem 150 lugares. Resultado, quem não estava na fila pelo menos 6 horas antes da abertura da bilheteria não comprou, salvo da mão dos cambistas, por R$100. Então esse é outro critério a ser levado em conta, o preço e a massificação do projeto.
Concordo.
“O problema com o comunismo é que um dia o dinheiro dos outros acaba.”
Margaret Thatcher
A velhinha era má, mas tinha frases ótimas.
Má, e com razão, com os vermelhinhos né?
Má não. Apenas realista. A realidade é que é má. E dura. Ela era apenas uma visionária, que sabia se adaptar a essa dureza da realidade. Ao contrario desses safados que vivem e lucram com os sonhos e delírios alheios…
O Ronald Reagan também concordava com ela…
O erro esta justamente em existir patrocínio estatal à cultura.
Quem defende o patrocínio estatal, defende, no mesmo momento, a existência de uma burocracia, a qual terá que ser mantida pelo contribuinte.
A chance dessa burocracia ser aparelhada por organizações políticas e passar a trabalhar em prol delas é gigantesca, mas, mesmo que isso não aconteça, a escolha da destinação das verbas será sempre de um completo subjetivismo.
Cultura, seja lá o que cada um entenda por essa palavra, deve ter patrocínio privado, principalmente mediante a venda de ingressos. É o consumidor que deve decidir onde coloca o seu dinheiro.
Se o povo só gosta de porcaria, paciência. Se você se acha um grande escritor mas o povo só quer saber do Paulo Coelho, não posso fazer nada. Arranje outra profissão paralela que te garanta o sustento ou viva na pobreza. Grandes gênios da humanidade enfrentaram esse tipo de problema e seguiram em frente. A literatura russa do século XX é um exemplo. Os grandes escritores foram perseguidos e exilados, e , apesar disso, foram eles que produziram obras duradouras. Os escritores patrocinados pelo regime, hospedados em palácios, com todos os luxos à disposição, só produziram subliteratura.
Mas todo país do mundo apóia a própria cultura. O problema são as distorções do nosso sistema. Não faz sentido o Cirque de Soleil receber grana via lei de incentivo e depois cobrar um ingresso altíssimo.
É nisso que discordamos. Acredito que essas distorções sejam inerentes ao sistema e não meros desvios. Mesmo que o incentivo fique restrito a espetáculos gratuitos com ingressos baratos, sempre ficará a pergunta: Por que este e não aquele? Por que não deixar que o público escolha o que quer assistir? Nenhum grupo de burocratas tem a capacidade de descobrir o que milhões de pessoas diferentes desejam. No fim das contas, eles acabam escolhendo o que eles acham que as pessoas DEVERIAM querer, incluindo aí os interesses ideológicos dos grupos que dominam os órgãos de repasse de verbas.
Cara, discordo. Há vários países onde existem sistemas públicos de apoio à cultura e que funcionam muito bem. Acho que nossas leis deixam muitas margens a desvios, esse é o problema.
Acho que o grande problema no Brasil é que o produtor é muito dependente do capital estatal. E a verba do estado na maioria das vezes vai para artistas que não precisam (hello Caetano!).
Já nos EUA existe muito investimento e apoio de empresas privadas na Cultura. Como Barcinski sabe, em NY tem cinemas que são verdadeiras instituições (como o Film Forum) que se sustenta em maior parte graças a capital privado. E esse recurso não vem só de cineastas bem sucedidos (como os Coen) mas de ricos anônimos que genuinamente tem interesse de apoiar projetos e instituições culturais independentes. Vai esperar no Brasil milionário apoiar projeto cultural independente…a menos que seja do filho. Ou então um ex-aluno que se tornou bem sucedido e decide doar dinheiro a Universidade que estudou, para renovar a biblioteca. Isso acontece muito aqui. No Brasil empresas privadas se associaram aos medalhões de sempre. E o governo idem.
Claro que estou generalizando, existe empresas que apoiam independentes e verbas que vão para projetos e produtores que precisam. Mas ainda é muito pouco.
Vc tem razão. Os melhores cinemas alternativos dos EUA ou são ligados a fundações, ou vivem de doações particulares.
André, gostei dos relatos que vc linkou, especialmente o da Laís. Achei absurdamente estarrecedor. Mas só não entendi uma coisa no seu texto:
“O que vi em Recife me impressionou, e não positivamente: durante três ou quatro dias, falei com dezenas de grupos e artistas, especialmente nordestinos, maioria no evento. E nenhum deles – não é exagero – vivia sem algum tipo de ajuda estatal.
Quase todos os CDs que recebi tinham o selo de alguma prefeitura ou governo estadual. Todos os shows que as bandas faziam eram pagos por alguma prefeitura.”
Você está fazendo críticas ao modelo de financiamento público em si, ou à maneira equivocada como os editais são geridos? Abs!
Minha crítica maior é às bandas, ora. Por que um artista precisa viver com ajuda estatal? Que cena musical é essa?
Também não entendi essa parte do texto. Qual é o problema? Qualquer país civilizado distribui dinheiro para cultura, assim como para educação, transporte, etc. Porque a crítica às bandas? Acha que elas é que são responsáveis pela cena não ser auto-suficiente? A sociedade não é 100% justa e equilibrada: o Calypso toca todos os domingos por anos e anos no Domingão do Faustão (numa concessão pública de TV) e portanto fatura milhões, enquanto bandas como essas citadas não conseguem reconhecimento suficiente para viver de dinheiro privado. Eu prefiro que o governo distribua dinheiro para artistas, cineastas, etc. É melhor que não distribuir. Respondendo a tua pergunta “Por que um artista precisa viver com ajuda estatal?” Pelo mesmo motivo que pessoas que não tem dinheiro para se alimentar ganhem cesta básica, outras ganham bolsa família desde que ponham seus filhos no colégio, que críticos musicais que não tenham dinheiro para publicar seus livros possam pedir dinheiro público para isso através de editais. Ao mesmo tempo, se dá renúncia fiscal à grandes empresas, para que elas empreguem pessoas e façam a economia andar. É assim que o governo (tenta) equilibrar os desajustes da sociedade. Eu prefiro assim do que a lei do livre mercado e do capitalismo selvagem, que está muito bem provado que não dá certo, ou só dá certo para alguns.
Pera aí, Julio, você está usando uma lógica absurda ao comparar bandas com pessoas que ganham Bolsa-Família. As bandas fazem música porque querem. As pessoas que são assistidas pelo governo não escolheram ser pobres. São duas situações completamente distintas.
Lógica perversa essa sua, pois segundo ela um governo não deveria sustentar uma orquestra sinfônica, pois eles “fazem música porque querem”.
Pare de usar exceções para justificar a regra, Julio, que coisa feia. Orquestras sinfônicas não têm a menor chance de sobrevivência sem ajuda estatal. Só porque uma orquestra merece ajuda do governo não quer dizer que todo mundo que decide fazer uma banda também precise receber.
Os clubes de futebol também pretendem pagar suas dívidas (coisa pouca, merreca) em cano card: http://www.sidneyrezende.com/noticia/214116+proposta+pede+anistia+da+divida+de+r$+3+bilhoes+dos+clubes+de+futebol
Eu li, um absurdo.
O governo brasileiro é a vaca sagrada dos indies estatais.
Fora do Eixo é muito bom, certa vez minha banda quase caiu na conversa desses caras, conseguimos armar uma mini tour com 8 shows mas agente tinha que arcar com as despesas, pra que serve eles então? Só pra pegar grana pros festivais deles do governo e você precisa assinar um termo acho que dizendo que recebeu pra tocar lá, mesmo não recebendo. São inimigos da cultura esses truta ai.
É como na arquitetura, você acaba fazendo uma barbaridade dessas “porque isso vai te dar visibilidade”! Ah, tá…
Boa Andre, é uma máfia brava. Se me permite, vai aqui links de posts meus – o primeiro de 2011 – denunciando o FDE. O mais relevante acabou sendo os comentários com denuncias e reclamações escabrosas de músicos e produtores contra o “coletivo”. Abx
http://dynamite.com.br/jukebox/2013/07/um-exemplo-de-como-se-livrar-de-atravessadores-e-fazer-seu-festival/
http://dynamite.com.br/jukebox/2011/11/modelo-fora-do-eixo-tornou-se-oportunidade-de-negocios-e-de-lucros/
http://dynamite.com.br/jukebox/2012/07/fora-do-eixo-a-esbornia-continua/
http://dynamite.com.br/jukebox/2012/12/como-eu-vi-surgir-e-morrer-o-fora-do-eixo/
Entrevista do Capilé ontem, pra revista Forum, discutindo esses depoimentos. http://revistaforum.com.br/blog/2013/08/revista-forum-e-outras-palavras-entrevistam-pablo-capile-do-fora-do-eixo/
Vou ler. Li a do UOL, onde ele disse que nunca havia defendido que artistas não recebessem cachê, o que, sabemos, não é verdade.
Mentiras. A coisa pegou, passou da hora do MPF e a PF investigarem o trabalho escravo que se promove nas casas FDE.
A partir de 2:00:00, ele assume que o sistema é falho, pois pode “demorar a pagar os artistas”.
Precisamente: 2:08:00
Boa!
Me parece que foram eles quem lançaram Emicida e Crioulo…se for verdade, só por isso já mereciam ser banidos da face da terra!
Não lançaram, se apropriaram dos dois. Acho que o termo exato é esse.
Como as igrejas não pensaram nisso antes ein? O fiel doa todo seu dinheiro em real e recebe o IURD Card, aceito em todos os templos conveniados e por aí vai…
Fazfavor, não dá idéia!!!!!