Mostra celebra Ed Wood, rei do cinema "Z"
15/08/13 07:05Ed Wood não foi o pior cineasta de todos os tempos. Qualquer um que tenha assistido a curtas-metragens brasileiros dos anos 70 e 80 sabe disso.
Mas Wood (1924-1978) ganhou uma votação nos anos 80 como “o pior” e ficou marcado. Seus filmes viraram objeto de culto.
Amanhã, a Caixa Cultural, em São Paulo, começa uma retrospectiva de Ed Wood, com entrada franca (veja programação aqui). Se você não conhece os filmes, vale assistir. São divertidos demais.
O que mais impressiona em Ed Wood é a coragem. Ele escreve os diálogos mais obtusos e as cenas mais ridículas, com a pompa de quem está criando uma verdadeira obra de arte. Os atores são todos péssimos, mas estão levando aquilo muito a sério e se esforçando ao máximo para fazer o melhor. Isso torna a ruindade comovente.
Em “Plan Nine From Outer Space” (1956), filme mais conhecido de Wood, o vidente Criswell – um personagem da TV, conhecido por nunca acertar uma previsão – aparece na abertura, fazendo um monólogo primoroso: “Saudações, meus amigos. Estamos todos interessados no futuro, pois é lá que você e eu vamos passar o resto de nossas vidas. E lembrem-se: eventos futuros como esses vão nos afetar no futuro!”
Em outra cena clássica, um policial, observando um cadáver, diz: “Uma coisa é certa: ele foi assassinado, e alguém é responsável por isso!”
E o que dizer da antológica frase proferida por um “extraterrestre”: “É interessante perceber como os terráqueos capazes de pensar são tão amedrontados por aqueles que não pensam!”
A vida de Ed Wood foi mais estranha que seus filmes. Ele orbitou nas esferas mais toscas da indústria de Hollywood. Tentou a sorte como diretor e roteirista, sem sucesso. Fez filmes de terror, ficção-científica, faroestes, dramas gays e comédias eróticas, cada um pior que o outro. Escreveu dezenas de romances de sexo, também pavorosos. Era alcoólatra e gostava de se vestir de mulher. Tinha um fetiche por suéteres de angorá, os preferidos de sua mãe. Depois do ataque japonês a Pearl Harbour, se alistou nos Fuzileiros Navais e chegou a lutar no Pacífico, mas tinha um medo danado de ser ferido e que descobrissem a calcinha e sutiã que usava por baixo do uniforme.
Nos anos 50, conheceu Bela Lugosi, o grande Drácula do cinema. O astro estava em decadência, viciado em morfina e vivendo de bicos em filmes de quinta categoria. Wood o convenceu a atuar em alguns de seus filmes. Durante a filmagem de “Plan Nine From Outer Spadce”, Lugosi morreu. O diretor simplesmente botou outro ator em seu lugar e o mandou cobrir o rosto em todas as cenas, para que o público não percebesse.
Wood sempre se cercou de atores e atrizes igualmente sem talento, mas que tinham adoração por ele. Gente como Paul “Kelton the Cop” Marco, o gigate Tor Jonhson, Valda Hansen (a “Fantasma Branca”), Maila “Vampira” Nurmi e a drag queen Bunny Breckinridge. Tive a sorte de conhecer alguns deles em um evento em 1992, que reuniu o elenco dos filmes de Ed Wood. Era comovente o carinho que eles tinham pelo cineasta. A maioria ainda vivia da venda de fotos e autógrafos para fãs.
Se você lê em inglês, não deixe de comprar “Nightmare of Ecstasy”, de Rudolph Grey, biografia de Wood. Ou assista ao tributo de Tim Burton, “Ed Wood”, com Johnny Depp no papel de Wood e uma atuação primorosa de Martin Landau no papel de Bela Lugosi. Acho o melhor filme de Burton e uma das homenagens mais bonitas que um cineasta já fez a outro. E Bill Murray no papel de Bunny Breckinridge é de matar.
que pena que eu não fiquei sabendo com mais antecedência. Adoro as tosqueiras dele.
Ele não foi o pior, mas acho que foi o mais pretensioso entre os ruins.
Perto do Conrado Sanches, que dirigiu “Cinderela Baiana”, o Ed Wood é o Nicholas Roeg…
Mas a mostra começa hoje e vai até dia 30, tem tempo.
Gosto muito do Ed Wood do Tim Burton e sempre me diverti com os filmes originais do Ed Wood, principalmente o Plan 9! Não conhecia essa biografia, boa dica!
André, falando em filmes B, você viu essa lista de pérolas da pornochanchada.
http://www.youtube.com/watch?v=mhOMlK_sTYg
Alguns deles supera o Ed Wood?
esse vídeo é excelente… existiu algo como a pornochanchada em outros países? Talvez deveríamos talvez nos orgulhar mais desse nosso “movimento” nao?
Ed wood realmente é muito bom. Podemos lembrar também de John Waters, o grande diretor da pérola “Pink Flamingos”. E o que dizer de Lloyd Kaufman, criador da Troma, maior empresa de filmes trash já existente. Quem asistiu Toxic Avenger pode concordar. rs.
Filmes trash com seu humor negro característico é o que há. Ah de lembrar que grandes diretores atuais como Peter Jackson já beberam desta fonte com seu Fome Animal (dead alive)
Não vi nenhum filme do Ed Wood, mas realmente o filme sobre ele é um dos melhores do Tim Burton.
André saca só esse filme, é um curta falando do grande Di Mello, que lançou um ótimo album nos anos 70 e depois sumiu do mapa. Assisti aí que vc vai gostar.
http://portacurtas.org.br/filme/?name=di_melo_o_imorrivel
Assim que assistir o filme cearense “Holliúdy” por favor comente. Acabei de ver o trailer e me diverti bastante. Está rendendo mais do que os blockbusters no Ceará e é sempre bom ver um filme independente, regional e livre da modinha de filmes engraçadinhos sobre a classe média carioca, produzida por publicitários “globais”, e que assolam as nossas salas de cinema! Affffffffffffffffff !!!
Há esperança!!
“Lá se foi a prega rainha”… rsrs
Nossa tem eu vi um filme sobre ele um dia desses,interpretado pelo johnny depp
Não vi nenhum filme de Ed Wood, mas o filme do Burton achei ótimo, preciso assistir de novo. Essa história da calcinha conta no filme? Não lembro…
Não é preciso recorrer aos curta metragens picaretas dos anos 70 (alguns deles, beirando o hilário, foram comentados no seu livro “O Maldito”. Como esquecer as garotas suecas brincando de bambolê, em “Ginástica, a base para a boa saúde”). Basta dar uma olhada no trailer de “Guerra Mundial Z” para ver que hoje, ao preço de milhões de dólares, se faz coisa muito pior.
Curiosamente assisti esta semana um dos melhores filmes ruins que já vi na vida: “Miami Connection”. Fiquei estupefato como nunca tinha escutado falar. Fui entender quando li que ele foi lançado em 87 mas foi tão malhado que praticamente desapareceu (vale ressaltar que é um filme independente, bancado pelo “ator” e “roteirista” Y.K. Kim, que quase foi a falência com o filme e tinha como objetivo divulgar o Tae Kwon Do. Inclusive os “atores” são todos seus alunos do Tae Kwon Do!).
Até que EM 2009 um maluco de Austin (claro) achou o filme no Ebay e comprou por $50 conto e exibiu no cinema local. O sucesso foi tanto que decidiram procurar o Y.K. Kim para relançar.
Para vc ter uma idéia de o filme está com o score de 73% no Rotten Tomatoes! É o o doce de leite do trash! Fazia tempo que não ria tanto
Sem dúvida o filme de Burton é a melhor homenagem feita a um cineasta. O amor de Wood ao cinema supera qualquer ruindade de seus roteiros. Depp, assim como Landau (que ganhou), também merecia um Oscar.
Por falar em filmes sobre grandes cineastas, vc viu o Hitchkock com o Anthony Hopkins?Não é exatamente uma cinebiografia, pois foca mais na realização do filme Psicose, mas o filme causou certa polêmica pois o diretor Sacha Gervasi meio que “viajou” aos misturar fatos reais com meras suposições da personalidade de Hitch.
André,
Sem querer rotular ninguém, mas dá para dizer que o Mojica é um Ed Wood Brasileiro?
Digo no sentido dos malabarismos que fizeram para concluir os seus filmes de terror…
Bom, nesse sentido sim, mas a maioria do pessoal da Boca também teve de rebolar pra fazer seus filmes.
Sim! Lembro do Mojica no Matéria Prima (Groismann na Cultura anos 1990) dizendo que uma cena do seu filme com tarântulas, nos EUA perguntaram a ele quantos controles remotos foram necessários para controlar tudo aquilo…
Nos comentários em áudio do Tim Burton que acompanham o dvd, ele diz que de maneira nenhuma Ed Wood foi o pior. O que lhe agrada é que os filmes de Ed Wood tem uma qualidade onírica (? “dreamlike quality”) que falta a muita gente por aí e cita alguns nomes de gente muito ruim. Dá pra entender por que Burton gosta do Ed Wood e até ver uma relação entre os dois.
“Ed Wood nao e o pior de todos os tempos. Qualquer pessoa que tenha visto cinema brasileiro dos anos 70 e 80 sabe disso.”
Tu eh cruel Barcinski…
“Curtas” brasileiros foi o que escrevi, por favor…
Aqui vou deixar um link dum artigo de Otavio Frias Filho sobre o filme Ed Wood do Tim Burton.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/7/02/mais!/4.html
É melhor que boa parte dos cineastas brasileiros e muito mais engraçado, mesmo quando não quer ser. O legal também é que Ed Wood não dependia de dinheiro público para fazer sua arte. Nisso ele é melhor que 99% dos cineastas brasileiros.
Vejo como todos aqui admiram o filme de Burton, que realmente adoro, tenho poucos DVDs mas este tive que comprar…A vida de Ed Wood tem algo de fantástico.
Acho que o Tim Burton quer roubar a posição do Ed Wood, pois atualmente só tem feito bomba…
Barcinski, e suas dicas literárias-musicais-cinematográficas!!!
Tô acabando de ler “Wired” do Bob Woodward…sensacional!!
Agora essa do Ed Wood!
Valeu!
Legal que vc está gostando do “Wired”, tb acho ótimo.
sensacional! pena que, geralmente, gênios são também auto-destrutivos…
impressionante a riqueza de detalhes do livro, muito bem escrito…
e que porraloca era o tal do Belushi bixo! jisuis! mais louco que o Batman! rsrs
abs!
Ed Wood é de longe , o melhor filme do Tim Burton.
Sem dúvida. Aliás, achei uma injustiça não ter tido mais indicações ao Oscar. Merecia fácil uma indicação pra melhor filme e de melhor ator pro Depp.
O filme Ed Wood é um dos que mais me comove por mostrar : o quanto o amor imenso de Ed pelo cinema era inversamente proporcional ao seu talento e a admiração que se tornou amizade com um Bela Lugosi decadente, esquecido por todos aqueles que tanto dinheiro ganharam com ele quando encarnou o Drácula. E a licença poética de Burton também é bonita = o encontro de Ed com Orson Welles. E também vale a pena ver como Ed tinha que se virar para conseguir financiamento para seus filmes. Sim, pelo que dizem (Nunca vi nenhum filme dele), ele só fez filmes muito ruins, mas fez o que queria fazer, realizou os seus sonhos e contando só com seus amigos – e sem embrafilme ou lei Rouanet (rs).
É um de meus filmes preferidos, perdi a conta de quantas vezes vi.
Coincidência, adquiri ontem uma cópia no saldão de uma locadora que infelizmente está fechando as portas. Muito maravilhoso esse filme, comovente é a palavra correta, você foi muito feliz na definição.
O filme do Tim Burton é sensacional mesmo, mas por incrível que pareça achava que o Ed Wood era um personagem de ficção, não pensava que ele pudesse ser real! Sou completamente ignorante em filmes desse tipo.
Uma história hilária que é relatada no filme foi como ele conseguiu financiamento para ao Plan 9, com dinheiro de uma igreja batista, todo mundo teve que se batizar para que os caras liberassem a grana rssssssssss
Eu curto Plan 9 From Outer Space hein, sempre que passava no telecine cult eu assistia.