Uma cena de rock sem beija-mão estatal
29/08/13 07:05O canal BIS exibe hoje, às 19h30, o documentário “Do Underground ao Emo”, dirigido por Daniel Ferro.
É um relato abrangente e muito bem feito sobre o surgimento da cena de rock que revelou bandas como CPM22, Dead Fish, Blind Pigs, Dance of Days, NX Zero, Fresno e tantas outras, e que depois se transformaria na invasão de grupos emo que assolou o país.
O filme mostra como essa cena se desenvolveu de forma independente, com bandas lançando fitas cassete, tocando em pulgueiros e criando um público fiel, até chegar ao sucesso comercial de Fresno, Strike, NX Zero e CPM 22.
Há dois momentos capitais nessa história. A primeira é a inauguração, em 1998, do Hangar 110, a casa paulistana que foi a meca de todas essas bandas.
O segundo é o lançamento do segundo LP do CPM 22, em 2001. O disco foi lançado pela Arsenal, gravadora de um produtor esperto, Rick Bonadio, que percebeu a fama da banda no underground e a ajudou a chegar às rádios e TVs. O CPM 22 foi o primeiro dessa turma a gravar em português e a buscar um som mais acessível.
Daí, o filme toma uma direção bem interessante e tenta explicar como alguns dos grupos pioneiros dessa cena, como CPM 22, Hateen e Dance of Days, inicialmente inspirados pelo emotional hardcore de grupos americanos como Jawbreaker, Samiam e Sunny Day Real Estate e pelo punk “limpinho” de Bad Religion e Offspring, viram a cena emo brasileira se multiplicar em dúzias de clones de My Chemical Romance e Good Charlotte.
É divertido ver integrantes do Dead Fish e Dance of Days se referirem à cena emo que surgia como um fenômeno idiotizante e alienado. É a eterna briga do velho contra o novo.
Goste ou não dessas bandas, é inegável que formaram uma cena musical alternativa e independente de verdade. No filme, ninguém fala em editais, estatais ou em shows bancados pelo poder público. E nunca vi nenhum desses caras beijando mão de governo e puxando saco de políticos. Parabéns pra eles.
Independente de que, Barça? Tudo o que o Rick Bonadio produz segue uma fórmula prestabelecida, os artistas não tem a menor autonomia. O que essa cena conseguiu foi encontrar um formato de sucesso, que foi explorado até a exaustão e encheu o saco do ouvinte ou espectador via jabá. Ligar o rádio ou a MTV e se deparar com subprodutos do CPM 22 o tempo inteiro é tão repulsivo quanto artista depender de dinheiro público. Até o Ira! teve que gravar música do Hateen quando foi produzido pelo Bonadio.
Ué, e quer dizer que todas as bandas gravaram com o Bonadio? E você pode odiar o trabalho do Rick Bonadio, mas pelo menos seu imposto não foi usado nele. Isso sim é repulsivo.
As rádios rock que eu costumava ouvir, concessões públicas como se sabe, foram infestadas via jabá pela fórmula emocore que o Bonadio usava. Estreitou o espaço para sons menos óbvios, precisa eu te dizer que jabá e fórmula do sucesso são repulsivos? Vc sabe muito melhor que eu.
Ah, tá bom, o jabá foi inventado na época do Bonadio, antes as rádios eram maravilhosas. Dorothy, você não está mais em Kansas, filha. A diferença é que, no caso do Bonadio ou das rádios, você tem a opção de não gastar seu dinheiro. Quando um artista estatal toma seu imposto, você não tem o que fazer.
Dorothy é o vão do seu rego, não te dei liberdade de não me chamar pelo nome. Se todas as rádios apostam suas fichas numa única fórmula, a opção que me restava antes da web era me fingir de surdo. Se fico puto com o rumo que as rádios tomaram, é porque se trata de um veículo fascinante, como vc sabe. Sempre foi movido a jabá, mas havia algum espaço autoral. Uma banda como a Pelvs, que poderia ter frequentado o dial com aquele disco Península, não rola porque nunca teve grana pra pagar jabá. Se eles tocarem no sesc, devo desprezá-los por isso? O festival fora do eixo no itaquerão eu não veria não, mesmo sendo corintiano. Mas entre ver João Parahyba no sesc ou MC Pocahontas em alguma casa noturna, fico com a primeira opção, que meu ouvido não é penico.
Difícil discutir com alguém tão ignorante. Nunca ouviu falar em “O Mágico de Oz”? Não conhece a frase “Não estamos mais em Kansas”, dita pela PERSONAGEM Dorothy? Não sabe que é uma metáfora de uma situação onde a pessoa percebe a própria ingenuidade? Ou você acha que te chamei de Dorothy? Sugiro pesquisar um pouco antes de dar chiliquinho.
Vi o doc. É bom, mas as bandas são bem fracas.
Sempre pensei nisso, esse “debate” sobre Fora do Eixo Vs Anti-FdE acaba “esquecendo” que outras formas de cultura independente sempre existiram. E, apesar de achar que o Estado deve incentivar a cultura, nada nunca vai ser melhor pra um artista ou pra uma “cena” do que o velho “do it yourself”. Essas bandas são prova viva disso, muitas começaram no começo dos anos 90 e continuam aí. A melhor banda dessa galera do hardcore dos 90’s/’00 é o Garage Fuzz.
Caro André,
Interessante. Mas no fim das contas, para a nossa infelicidade, no Brasil só temos duas opções: cena estatal e cena alternativa, ambas sem criatividade, ambas fazendo um som bem chinfrim. Saudações.
Muito legal isso.
Não gosto do som de nenhuma dessas bandas. Mas, de agora em diante, vou ter admiração pela batalha pra tocar a carreira. Tão interessante quanto a música em si.
Pois é, também, não ouço as bandas, mas acho admirável o que elas criaram.
Salve, André!
Achei legal a análise e, de fato, os caras conseguiram fazer coisas interessantes na cena. Mas uma coisa é verdade: pelo menos no caso do CPM22 a coisa não foi tão do zero absoluto assim. Por ironia do destino conheci e convivi por alguns anos com o baixista original (e meio que co-fundador da banda até onde eu saiba). Ele era MUITO cheio da grana, bem como os outros caras da banda em graus variados. E, apesar de não sermos amigos, conversávamos com alguma frequência na faculdade sobre coisas de música e a rotina deles. Quando nos formamos eles tinham lançado o primeiro clip e já estavam bombando na mídia. E ele sempre falava da grana preta que eles injetaram no negócio pra fazer ir pra frente.
Em tempo: antes que me critiquem, não estou dizendo nada sobre o talento, qualidade, persistência e abnegação que a coisa exigiu num dado momento – por que exigiu um esforço absurdo dos caras – e acho muito legal o seu argumento de que não precisaram de grana do governo. Mas que eles tinham suporte familiar, tinham, e a injeção de grana ali foi pesada pra que o negócio decolasse.
Daí pergunto: isso de alguma forma diminuiria o mérito dos caras perante uma outra banda que realmente saiu do nada e foi só no talento, sem empurrões financeiros familiares? Realmente não sei o que pensar.
Abraço!!!
Claro que não. Se os caras investiram a própria grana na carreira, ótimo, foi uma decisão deles e não prejudicou ninguém.
Erik, reforço os pontos que vc colocou. De fato houve um apoio familiar bem intenso… E tb concordo com o Barça desde que ninguem tenha sido prejudicado…
E não se esqueça de que existiram outros que contaram com “empurrões financeiros familiares” mas não tiveram sucesso.
Dá muito orgulho ver um cara como você falando desta maneira da cena Punk/HC/Emo.
Trabalhei como produtor de diversas bandas do documentário, inclusive estou nele, e desde que começou toda essa polêmica de Fora do Eixo, Pablo Capilé e afins, eu sinto uma angústia absurda de ouvir os caras falando que não existe cena independente no Brasil, que eles que começaram a fomentar a porra toda, que banda não deve receber cachê pra tocar e todo esse bando de merda que eles gritam pra todo mundo ouvir…
A nossa cena é a prova viva que existe vida sim no meio independente, ela é cruel, mas existe e tem muita gente trabalhando por ela. E isso já vem de muito tempo, não é somente sobre o período que o documentário trata.
Não importa seu gosto musical, obviamente NX Zero, Fresno, CPM 22 e Strike não são parâmetros de boa música, mas assim como qquer coisa pautada pelo gosto popular no Brasil, aquilo que tem mais apelo pop vai se sobressair… em paralelo a estas bandas eu posso relacionar mais dezenas de bandas com uma sonoridade boa, rock verdadeiro, feito com alma e amor a música, sem apelo bregas e letras ridículas de amor. E garanto que todas essas bandas viveram muito bem durante muitos anos.
E é claro, tudo independente, sem uma gota de dinheiro público e nego beiçudo vindo mamar na teta de artista pra roubar grana de cachê.
Vida longa aos que fazem rock de verdade no Brasil.
Abraços.
Abraço!
Se tivesse opção de “curtir” comentários o meu estaria neste…