Uma bomba no coração do Nazismo
05/09/13 07:05Lídice é uma pequena cidade no sudeste fluminense, a 170 km do Rio de Janeiro. Tem cerca de cinco mil habitantes e fica numa região muito bonita, cortada pela rodovia BR-155, que liga o sul de Minas Gerais a Angra dos Reis.
Já passei várias vezes por Lídice, mas nunca havia pensado na origem de seu nome até poucos dias atrás, quando terminei de ler “HHhH”, do francês Laurent Binet.
Lançado no Brasil pela Cia. das Letras, o livro conta um dos episódios mais conhecidos e espetaculares da Segunda Guerra: o atentado, em 27 de maio de 1942, contra o nazista Reinhard Heydrich, temido Chefe da Segurança do Reich, líder da Gestapo e um dos principais articuladores da “Solução Final”, nome pomposo para o extermínio de judeus em territórios ocupados pela Alemanha.
O que uma bucólica cidadezinha no Rio de Janeiro tem a ver com “O Açougueiro de Praga”, “O Carrasco da Europa” e “A Besta Loura”, o sádico a quem o próprio Hitler apelidou de “O Homem com o Coração de Ferro”?
Um pouco de paciência, que chegamos lá…
O atentado contra Heydrich, batizado “Operação Antropóide”, foi arquitetado por militares britânicos com apoio do governo exilado da Tchecoslováquia liderado pelo presidente Edvard Benes.
Dois paraquedistas, o tcheco Jan Kubis e o eslovaco Josef Gabcik, saltaram de um avião inglês em território tcheco, à época sob controle da Alemanha nazista. A missão era interceptar e metralhar o carro que levava Heydrich de sua casa ao Castelo de Praga, transformado em quartel-general alemão.
Spoiler: se você não sabe como terminou o atentado a Heydrich, sugiro parar de ler aqui.
Atacar Heydrich em Praga era uma missão suicida. Heydrich se julgava tão seguro em seu “quintal” que sequer usava seguranças.
O livro de Binet traça o perfil de Heydrich e reconstitui, passo a passo, os preparativos de Kubis e Gabcik para o ataque. Binet fez um tipo diferente de romance histórico, intercalando a narrativa documental clássica com trechos em que conta a sua própria saga de pesquisas para o livro e questiona a forma como romances históricos “deturpam” a realidade para torná-la mais atraente ao leitor.
O estilo é interessante, mas achei que o autor forçou um pouco a mão. Me peguei torcendo para ele deixar as digressões pessoais de lado e voltar logo ao atentado, mesmo já sabendo como a história terminava.
Voltando a 27 de maio de 1942: naquela manhã, conforme planejado, Kubis e Gabcik interceptaram o Mercedes conversível que levava Heydrich. Gabcik chegou a poucos passos do nazista e abriu fogo com sua submetralhadora Sten. Quer dizer, tentou abrir fogo, porque a geringonça travou. Enquanto Heydrich e seu motorista abriam fogo contra Gabcik, Kubis lançou uma granada que explodiu embaixo do carro.
Heydrich sobreviveu ao ataque e foi levado a um hospital. Estava se recuperando bem. Sete dias depois do atentado, sofreu um ataque súbito e morreu de septicemia, provavelmente causada por fragmentos do estofamento do carro que penetraram em sua corrente sanguínea.
Assim que soube do ataque, Hitler ordenou a seus comandados que dez mil tchecos fossem reunidos em Praga e fuzilados. Mas o Führer acabou convencido, por assessores, de que isso poderia dar ao mundo a impressão de que havia um levante da população local contra a ocupação nazista.
A ordem então foi investigar o atentado e matar todos os envolvidos com a operação. Assim como suas famílias e amigos, claro.
Vinte dias depois do atentado, Kubis, Gabcik e outros companheiros foram traídos por um tcheco, Carol Kurda, e descobertos em um porão de uma igreja ortodoxa de Praga. Depois de oito horas de tiroteio, todos acabaram mortos.
Uma pista falsa levou os nazistas a concluir, erroneamente, que o ataque teria sido ajudado por habitantes de Lidice, uma vila de 500 habitantes perto de Praga. Tropas nazistas foram à cidade, prenderam os homens acima de 15 anos – 173 no total – e fuzilaram todos. Mulheres e crianças foram levadas aos campos de extermínio de Chelmno, na Polônia, e Ravensbruck, na Alemanha. Depois, tanques destruíram toda a cidade e escavadeiras literalmente eliminaram Lidice do mapa. No total, mais de 1300 pessoas foram assassinadas durante as investigações do atentado a Heydrich.
O massacre de Lidice comoveu o mundo. Em vários países, cidades foram batizadas com seu nome. Em 1944, a cidade de Santo Antônio do Capivari, a 40 km de Angra dos Reis, foi rebatizada de Lídice. Em sua praça foi erguida a estátua de uma fênix, símbolo do renascimento, e uma escola pública ganhou o nome de Edvard Benes, presidente em exílio da Tchecoslováquia.
Nunca mais vou passar em Lídice sem lembrar a história de Jan Kubis, Josef Gabcik e dos habitantes de Lidice que morreram nas mãos dos nazistas.
Também não sabia disso, me emocionei. Bela narrativa!
Parabéns pelo blog, André. Não é à toa que o o Régis Tadeu o coloca como leitura diária obrigatória. Para mim, sua grande qualidade é o pluralismo, talvez a característica que mais me encanta na cultura em geral e na cultura pop em particular. Mesmo quando não concordo com o que escreve, normalmente em razão de gosto pessoal mesmo, aprecio muito a forma como você se posiciona. Coisa rara no jornalismo atual. Abração.
Valeu, Leonardo, fico contente que vc – e o Régis – gostem do blog. Abraço.
Em berlim na topografia do terror temos a experiencia real dos horrores do nazismo, mais que em livros ou filmes. Outra coisa: havia na vila maria em sp uma industria de plastico chamada inflaveis Lidice.
Será uma homenagem?
André e internautas:por quê a RBS TV,que retransmite a
Rede Globo em SC e RS não transmite a Santa Missa do
Padre Marcelo Rossi como as outras emissoras globais?
Acredito que seja por causa da perseguição que os judeus
sofreram desde as Inquisições da Idade Média indo até o
Holocausto quando a Igreja Católica alemã apoia o nazismo
quando o partido católico Zentrum votou a favor de plenos
poderes a Hitler se transformar num ditador.Na época,a
Igreja Católica não colocou no seu índex o Mein Kampf,ao
contrário dos livros de Sartre,Rousseau,Voltaire e Pascal,
mesmo antes da ascensão dos nazistas ao poder.
Ah, tá bom.
kkkkkk. “Ah, tá bom” é a melhor resposta.
Tem um filme Checo sobre essa história:
Lidice
http://www.imdb.com/media/rm3616520192/tt1754123
André, há algum tempo atrás (posso estar enganado), li num post que você teria ido para Budapeste, correto? conheceu o Museu do Horror? absurdo o que passou o povo húngaro, foram libertados do nazismo pela URSS, e o museu conta a história das duas ocupações, a nazista e a soviética…
Fui sim, achei incrível. Aliás, que cidade, Budapeste…
André, que história sensacional essa, tb não conhecia, mas ao ver o massacre da Síria semana passada pra vermos que os erros humanos sempre se repetem, às vezes até pioram….
André, há um filme chamado “Conspiração”, produzido pela HBO. Ele trata da conferência de Wansee, convocada pelo Heydrich, e organizada pelo Eichmman. É um bom filme sobre a organização do Holocausto e com bons atores: Kenneth Branagh faz o Heydrich, Staley Tucci (!!) faz o Eichmann e tem ainda o Colin Firth, David Threlfall, Ian McNeice, e outros bons atores. É um filme a ser visto…
Já vi o filme, é bem legal sim.
Eu sempre pensei que Lídice havia sido escolhida aleatoriamente.
Bela história. Gosto de histórias, documentários referente a segunda guerra. Sempre que está passando em um History ou Discovery da vida acabo parando para assistir.
Barça, não sei se está no livro uma história sensacional da ocupação nazista em Praga que ouvi de um guia. Não sei se é verdade ou lenda.
Antes de uma visita do Hitler à Ópera de Praga, oficiais da SS pediram para dois soldados quebrarem a estátua de Mendelssohn, que era judeu, no telhado do local. O problema é que havia várias estátuas de compositores e eles não sabiam qual era a do Mendelsshon!
Sem coragem de perguntar para os nazistas, têm uma ideia brilhante: se o cara era judeu deve ter um nariz grande! Aí procuraram a estátua com a maior lapa e quebraram em pedacinhos.
Quando o oficial da SS foi ver, os brilhantes tinham destruído a estátua de Wagner, o compositor preferido de Hitler!
Tá no livro sim, demais a história.
Que soldados burros. Deviam ter procurado por uma estátua circuncidada. Apesar de que leio que seu pai renunciou ao judaísmo e não circuncidou seus filhos. Não, não daria certo, não havia wikipedia naqueles tempos. Mas fizeram bem. Não troco toda a obra de Wagner pelo concerto para violino de FMB.
O concerto para violino de Mendelssohn é de um romantismo arrebatador. Só fiquei numa dúvida na sua frase: você gosta mais de Wagner ou de Mendelssohn?
Na verdade não dá para comparar ambos, Agilberto, são de períodos diferentes; e a obra de Wagner, creio, tem uma estatura maior. Mas não me agrada; talvez porque seu expoente sejam as óperas, gênero que demorei muito, muito tempo para apreciar, e que só faz sentido mesmo ao vivo. Em relação a Wagner, eu prefiro o mestre de Hamburgo, Brahms, cuja obra nada fica a dever, em tamanho e estética, ao mestre de Bayreuth. Pesa, sem dúvida, uma certa antipatia, devido à apropriação de Wagner pela máquina de propaganda de Joseph Goebbels, que espertamente identificou seus temas, como a saga dos Nibelungos, com os ideais arianos do IIIº Reich. Não devia, é claro: música é música, e o pobre Wagner foi uma vítima dessa apropriação, quando a maioria da Europa era como ele, escancaradamente xenófoba e anti-semita, exacerbada pelas disputas em torno da unificação da própria Alemanha, que se deu durante a sua vida. Mas somos humanos, e o subjetivismo prevalece. Abs.
Ok. Aproveitando que você citou, já observou como Brahms e Wagner são antagônicos? O primeiro comedido, formal, “sério” e difícil. Música absoluta, enfim. Wagner expansivo, “colorido” e exagerado. Música programática. Só discordo de uma coisa: eu posso ouvir óperas horas a fio sem necessitar de imagens. Pelo menos para mim funciona muito bem assim.
Brahms é realmente mais formal, enquanto que Wagner é tido como inovador, e influenciou muita gente boa, inclusive em literatura, como W. Auden, T.S.Elliot (The Waste Land), James Joyce. Não é pouca coisa.
Quanto a ouvir gravações de áudio de ópera, hoje em dia consigo fazer isso com Mozart. De um modo geral, com a exceção dos lieder de Schubert e Schumann, tenho uma certa resistência à musica vocal; e mesmo à orquestral, prefiro muito mais a música de câmera. Daí minha preferência por Brahms, que tem uma extensa produção nessa área. Abs.
Por residir próximo à Lídice brasileira, fui tocado pela emoção que o texto provoca. Por outro lado, ao ler os diversos comentários, senti um certo desalento conosco, os sul americanos (Jorge Luis Borges, o argentino, diz que temos alma de degredado). Nossas opiniões são, em geral, baseadas no “conhecimento de ouvir falar” – um monte de suposições apenas. Melhor estudar a História para aprender e entender melhor a realidade.
Oi Andre,
Qual foi a data exata do massacre de Lidice?
Obrigado!
10 de junho de 1942.
Obrigado.
Incrível como a história da execução deste atentado ao nazista se assemelha ao assassinato de Francisco Fernando (Franz Ferdinand) que foi um dos estopins da Primeira Guerra Mundial e também considerado o primeiro ataque “terrorista” da história organizado pelo grupo então conhecido como “Mano Negra” . Aliás recomendo um livro chamado “The Assassination Business: A History of State-sponsored Murder” que conta muito desses assassinatos encomendados por governos ou forças politicas. Muito interessante e revelador.
E sobre os nazistas, parece que eles deixaram um legado para os fuzileiros americanos no Afeganistão:
http://www.marinecorpstimes.com/article/20120210/NEWS/202100309/Amos-sorry-for-Marine-use-of-Nazi-SS-logo
E aí André, beleza?
Cara foi lançado recentemente o livro “”O Carrasco de Hitler”, uma biografia de Reinhard Heydrich.
Será o próximo da lista, pois estou lendo “A Incrível Viagem de Shackleton” que você havia indicado num post anterior.
Parabéns pelo texto.
Um abraço.
Que demais essa história! Esses 2 paraquedistas foram corajosos demais! Sempre que leio ou vejo algo sobre guerra fico pensando nessas situações extremas, em que a chance de morte é quase certa… e como você fica sem opções de escolha por causa da hierarquia militar…. eu, hoje com 34 anos, não teria coragem de fazer o que eles fizeram.
Aí imagina teu avô… ou bisavô… vendo uma reportagem do Sheik beijando na boca de outro cara… e o pessoal defendendo que ele – o Sheik – é homem.
O que pensaria seu avô ou bisavô?
Os tempos mudam! E pra pior.
Uma curiosidade: o compositor tcheco Martinu tem uma pequena obra em homenagem à Lídice – http://www.youtube.com/watch?v=R9wIFUoIX_s . Faz um bom par ao lado de A Survivor from Warsaw.
Tenho as duas gravacoes em casa. Perfeita combinacao.
6 milhões de judeus
20 milhões de russos
50 milhões de mortos no total
….
Pam Beesly curtiu isto.
de novo!!!!!
bom texto, mas os comentários…..
Cara, tem uma conexão literalmente maluca de São Paulo com essa história. Tenho uma amiga que está terminando um filme sobre esquizofrenia. Um dos caras acha que é o Heydrich, se não me engano até fala alemão. Se quiser passo as coordenadas.
manda ele tomar cuidado com o caminho de casa ao trabalho.
Perto da catedral de Berlim está acontecendo uma exposição que exibe vários cartazes de intelectuais que foram perseguidos pelo regime nazista liberticida. A proposta não era eliminar apenas os judeus, mas todos aqueles que se opusessem ao pensamento totalitário nazista. Entre eles estão desde Hannah Arendt, a Walter Benjamin, Brecht e outros. Recomendo dois filmes bem interessantes que tratam do tema da gestação da monstruosidade: “Conspiracy” de Frank Pierson e “Arquitetura da Destruição”, documentário de Peter Cohen. Inclusive o recente filme de Margarett Von Trotta, “Hannah Arendt”. Abraço.
Complementando: quinze dias após Lídice, outra aldeia – Lezaky – sofria idêntica dizimação. Extraí esta informação apenas da orelha do livro Atentado contra Heydrich – O Monstro Nazista, de Dusan Hamsik e Jiri Prazak (Civilização Brasileira, 1967, tradução de Helga Hoffmann, orelhas do livro de Leandro Konder). Um abraço.
Sei que vou causar polêmica, Barça, mas vamos lá: você conhece algum livro “controverso” sobre a 2ª Guerra Mundial e o Nazismo em si? Pergunto porque sei que os nazistas eram carrascos e deveriam mesmo ser varridos da Terra, mas esta vitimização dos judeus me incomoda, parece que só eles sofreram as mazelas na ocasião. Se formos analisar friamente os judeus estão lucrando até hoje sobre o que sofreram na 2ª Guerra e Israel é um claro resultado disso. Me parece que o que sabemos sobre o período está muito baseado na visão norte-americana…
Comentário idiota, claro. Cada um disfarça seu anti semitismo como pode.
Cleibson, o que posso dizer? Claro que não foram só judeus que morreram nas mãos dos nazistas. A população de Lidice é um exemplo. Ninguém disse isso. Mas o que, exatamente, você quer dizer por “vitimização dos judeus”? Parece que você está querendo insinuar que a história foi contada de forma deturpada. Sinceramente, não sei quantos outros livros, filmes, documentos e museus serão necessários para alguns se convencerem do que aconteceu ou pararem com teorias da conspiração e de negação do Holocausto, que parecem vindas de algum livro de ficção-científica.
Fiquei sabendo por esses dias que os Rotchield financiaram os dois lados da guerra. E que como os judeus não quiseram sair do conforto da Alemanha para morar no deserto deixaram o sangue rolar solto e convence-los a ir para Israel, que foi inteiramente financiado pelos Rotchield…. Teorias a parte veja o filme “The Money Masters” lá tem a verdadeira história dos Rotchield e o que são capazes.
Deixa ver se entendi: segundo você, os judeus “não quiseram sair do conforto da Alemanha”. CONFORTO DA ALEMANHA? E por acaso morar na Alemanha era “confortável” para judeus na época da Guerra? Cara, na boa, não dá nem pra discutir uma coisa dessas. E a família se chama “Rotschild”. Por favor, informe-se melhor antes de ficar espalhando suas “verdades” por aí.
André eu disse que fiquei sabendo. Não disse que concordei. Estou tentando entender como pensam pessoas como Cleibsom, esses caras dessas teorias, e o Ahmadinejad…
Você “ficou sabendo” uma besteira dessas e não se preocupou em checar se era verdade antes de divulgá-la?
Eu li essa semana, tem muitos livros que o site indica. Vou ler com certeza. http://artedeomissao.wordpress.com/2012/06/23/a-historia-dos-rothschild-parte-8/
Mas o documentário”Money Masters” é bastante verossímil.
O rapaz foi metralhado pelo blogueiro e suas bloguetes (chamado de “idiota” e “anti-semita”) apenas por expor uma questão (que é o objetivo de um blog e seus comentários). Em momento algum defendeu o Nazismo ou algo parecido, apenas expos suas duvidas em relação a como a história vem sendo contada desde então.
Se não houver margem para discussão em alto nível sobre o assunto, desabilite os comentários.
Não “metralhei” ninguém, leia direito meu comentário antes de falar mentira. Tampouco ninguém acusou ninguém de “defender o Nazismo”.
Os judeus eram considerados apátridas na Alemanha e em vários países europeus, sequer tinham passaporte. Foi isso que possibilitou que países como a França deportassem “legalmente” judeus para os campos de extermínio. Informação checada, tá no livro na Arendt sobre Eichmann. E pra quem nunca foi a Auschwitz, vale a pena. Não há vitimização dos judeus. Todas as vítimas são lembradas. Até o massacre de Katyn é contado lá.
Objetivo conquistado. Causou polêmica.
Vou lhe dar uma dica, visite Auschwitz e tire suas próprias conclusões. Se aquilo tudo é forjado, sinceramente, os responsáveis pela “farsa” não são desse planeta!
Incrível como nessas postagens sempre surge algum desinformado para questionar mais uma vez os judeus como vítimas da Segunda Guerra, como se não tivessem sido eles os alvos preferenciais de Hitler desde a sua ascensão como Führer, ao lado dos deficientes físicos e mentais e depois dos eslavos. Todo ano surge um livro escrito reiterando essa história do tal dinheiro judeu e da suposta dominação mundial judaica, retomando os argumentos falaciosos dos Protocolos dos Sábios de Sião. Teve até um debiloide gaúcho, Ziegfried Ellwanger, que foi condenado por racismo pelo STF ao atribuir aos judeus uma suposta “invenção do Holocausto”, em seu panfleto antissemita “Holocausto – Judeu ou Alemão”, entre outras barbaridades – processo, de 2003, aqui: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=82424&classe=HC&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=M . Quanto a suposta visão norte-americana da Guerra, isso também não é mais verdadeiro, pois o maior livro sobre Hitler foi escrito por um alemão, Joachin Fest, foi um sucesso e é sensacional. Quanto às vítimas de Lidice, não eram judias, e a repercussão do massacre expôs ao mundo pela primeira vez as barbaridades nazistas que, embora alguns soubessem mas não tinham como confirmar, já praticavam na população de cidades polonesas, sérvias, ucranianas e até de vilas italianas.
Pois é. Tem gente que ainda acha que não pisamos na Lua.
O livro “Cemitério de Praga” do Umberto Eco é belo exemplo de como os judeus é que foram vítimas muitas vezes de farsas para jogá-los contra a opinião pública. Ah sim, a Alemanha Nazista era tão confortável para os judeus que o Einstein praticamente fugiu de lá e nunca mais pisou na Alemanha. Isso é só em exemplo.
Teve o Freud que escreveu uma carta dizendo que foi bem tratado pelos nazistas também, né?
Freud teve familiares mortos em campos de concentração.
Eu garanto, jamais pisei na Lua.
Ótimo comentário Beaumarchais. Eu mesmo sempre digo, que o objetivo de Hitler – veja bem, não fora da Alemanha como um todo – era expulsar ou eliminar os judeus da Alemanha, pois os mesmos já eram muito influentes.
E digo que, este objetivo fora cumprido… pois a maior concentração de judeus é aqui em São Paulo e depois na Inglaterra.
Pessoal tende a pensar em Hitler como um derrotado… um perdedor – que na verdade ele foi mesmo – mas não deixo de pensar que… em algum lugar… ele deve estar “feliz” pois o objetivo dele – venhamos e convenhamos – fora cumprido.
O clássico de Eric Hobsbawm, A era dos extremos, também é uma excelente fonte para conhecer melhor os motivos que levaram a Europa à Segunda Guerra e à barbárie nazista. E quanto ao ódio aos judeus, o próprio Hitler deixou claro o que pensava no seu Mein Kampf. O que não dá para conceber é como deixaram um cara daquele chegar ao (e acumular tanto) poder.
Eu tenho certas coisas como verdade:
1 – Nem todo alemão era nazista;
2 – Nem todo nazista era anti-semita;
3 – Nem todo anti-semita era assassino;
4 – Nem todo assassino matava só judeus;
5 – Nem todo judeu foi morto.
Só estes já ajudam a entender… no mais o que vale ser frisado é que, eu mesmo… conversando com judeus – ouvi da boca de um – o que já sabia que era verdade:
“No fim das contas, acabou sendo melhor vir ao Brasil fazer fortuna”.
Aí já entendi tudo.
Cleibsom,
Eu não li ainda, mas já me recomendaram “A Indústria do Holocausto”, um livro escrito por um judeus, diga-se de passagem, que fala um pouco sobre o pós-guerra e como utilizaram o holocausto como propaganda para a criação de um estado judeu.
Ainda não consegui ler o livro, mas foi muito bem recomendado.
Valeu! Vou correr atrás…
Eu tenho minha opinião formada sobre o holocausto. Os próprios alemães já admitiram, não é visão norte-americana.
Vitimização do judeus? Eles foram vítimas, assim como os russos, os poloneses, os ciganos, os homossexuais, os deficientes físicos e mentais e muitas outras populações europeias. Que bobagem, hein seu Cleibsom? Perdeu uma ótima oportunidade para ficar quieto.
cara,
coitado. acho que nem teve coragem de responder qualquer coisa depois de ser massacrado pelos outros comentários.
em nenhum momento você pôs em dúvida o fato do holocausto, apesar de ter tido gente lido assim o seu comentário. sua questão é pertinente, buscando compreender as várias perspectivas sobre a cultura e o entendimento que prevaleceram acerca da 2a guerra, após o seu término.
Tadinho. Snif, snif, uma vítima da ignorância.
o cara tem dúvida e questionamento em relação ao que se formou em cima do fato e quis expô-los aqui, não pode?
teve um monte de analfabeto funcional achincalhando o cara, sem sequer entender o que ele escreveu. e você não foi debochado com essa gente. por quê?
http://destakadas.com.br/em-legitima-defesa-2.html
Não só ele PÔDE expor, como ainda pode. Não fez porque não quis.
ele fez.
pediu uma indicação a você de um livro que considerasse mais imparcial, pois entende que a visão e a compreensão que temos hoje aqui da 2a guerra mundial é americanizada (e é, não?) e que certa parcela de judeus teria criado uma cultura da vitimização em cima da tragédia do próprio povo e tirado vantagens a partir disso.
ou seja, o cara confia em você para pedir tal indicação para ter maiores esclarecimentos, e o que você faz? estimula o ataque de um bando a ele, nem que seja pela omissão.
Na boa, pare de ser ridículo e de deturpar as coisas. Eu disse claramente que não acho que existe “cultura de vitimização”, e você quer que eu indique algo sem acreditar? E quem falou em “visão americanizada”? Acabei de indicar um livro escrito por um francês. Leitores indicaram vários livros e filmes, muitos deles feitos por alemães. A questão é que você parece querer a indicação de um livro que só corrobore o que você já decidiu sobre o assunto. Procura na Internet que você acha o que quiser.
Morando aqui em Berlim nao tem como nao se confrontar com a realidade clautrofóbica em que viviam os judeus na Alemanha. O que eu nao sabia é que os Testemunhas de Jeová também foram perseguidos, juntamente com os ciganos (que só conquistaram seu memorial neste ano 2013!), os de origem eslava, os doentes mentais etc etc. O texto do Barça mostra bem como a coisa virava para qualquer um de acordo com a situacao tensa da guerra. Há alguns anos atrás ainda era possível ver um ônibus de cimento em frente à Filarmônica de Berlim em que pessoas “indesejáveis” eram recolhidas e logo logo mortas ali dentro. Era um ônibus-gás. O que me espanta é que até hoje em lugares como Sachsenhausen em Oranienburg, nas imediacoes de Berlim, existam um número considerável de neonazistas. Houve um escândalo a pouco envolvendo a torcida deles. Numa foto todos, claro de preto, e um deles com a camisa 18 (o código para a primeira letra do alfabeto e a oitava – AH) levantada em sorriso sarcástico. O mesmo time vai aos jogos com cartazes como “GEBE GAS” (dêem gás) numa ironia visíviel. O horripilante é que a polícia especializada parece fazer uma certa vista grossa para estes casos. Há coisas muito piores. E a triste irônia, nestes bairros afastados é onde se encontram a maioria das Moradias para Refugiados. Ou seja, os que chegaram da Síria na semana retrasada aqui foram recebidos com gritos de comando pelo movimento neonazista. Desculpe me extender tanto. Um abraco silencioso a todos.
Cara, naõ é questão de medo…Pra que perdem meu tempo com analfabetos funcionais? Leram tanta coisa no pouco que escrevi que chega à ser estúpido!Não tenho interesse em lidar com recalque dos outros.
Cleibsom, falar em “vitimização” de judeus ou de qualquer outro grupo perseguido pelo Nazismo não é “recalque”. Pessoas morreram, perderam tudo. Recalque é outra coisa.
O recalque que eu disse, Barça, não está relacionado aos judeus e sim à alguns “comentários” no blog. Que os judeus sofreram na 2ª Guerra Mundial não há como discutir e não é essa a questão. Para mim os fatos mais nefastos da 2ª Guerra foram as Bombas Atômicas que dizimaram o Japão, mas curiosamente os japoneses se fazem menos de vítimas do que os judeus e a tragédia deles parece ecoar menos na mídia! Gostaria de saber a razão…
Não acho que exista um ranking de fatos mais nefastos. O que é pior, jogar uma bomba atômica em cima de uma cidade ou exterminar milhões em campos de concentração? As duas são igualmente tenebrosas. Talvez você tenha a impressão de que um assunto “ecoa mais na mídia” justamente porque ainda existem pessoas que teimam em negar o Holocausto e precisam ser lembradas, sempre, do que ocorreu. Ao passo que ninguém tem dúvidas que os EUA jogaram bombas atômicas no Japão.
Barça, acho que os dois fatos estão comprovados historicamente e não quero de maneira alguma fazer o “ranking do sofrimento alheio”…Penso apenas que os dois fatos repercutem de maneira diferente na mídia porque um foi causado pelos “perdedores”, no caso o genocídio judeu, e outro foi causado pelos “vencedores”, no caso a Bomba Atômica. São os vencedores que escrevem a história e eles fazem com ela o que bem querem! Não há como negar que os judeus detém o controle de grande parte da mídia ocidental, daí o meu questionamento do enfoque que recebemos da 2ª Guerra Mundial.
Não concordo. Ninguém faz com a História o que bem quer, isso é teoria da conspiração. Os dois casos que você citou – tanto as bombas atômicas quanto a Segunda Guerra – terminaram, resumidamente, com a vitória norte-americana. Se os “vencedores” escrevem a História, como você diz, então ambos os eventos deveriam ter mesmo peso e repercussão, certo?. E nada é “causado” por “perdedores” ou “vencedores”, mas por uma conjunção de fatores. O Japão atacou Pearl Harbour e os EUA revidaram com a bomba. História não é equação matemática, é muito mais complexa que isso.
Claro que a História é algo complexo e foge totalmente do maniqueísmo do bom e ruim. A questão passa pela Ideologia…Os norte-americanos não escreveram o que escreveram sobre a 2ª Guerra Mundial para manipular ninguém, eles acreditam piamente na sua versão dos fatos. Com já mostrou o grande Kurosawa no sensacional Rashomon, o mesmo fato têm diversas versões, e isso se aplica também à História…
Então isso contradiz o que vc mesmo disse sobre “vencedores que escrevem a História”.
Não, Barça, os “perdedores” ficam com a História extra-oficial e paralela, a oficial e oficiosa, tida como VERDADEIRA, quem escreve são os “vencedores”…
Tá bom, Cleibsom, se você prefere viver no seu mundo próprio e “extra-oficial”, problema seu. Abraço.
Barça tmb é cultura…belo texto!
Também é cultura? Barça é só cultura, meu velho!
Belo texto mesmo.
Joachim Fest tem uma obra sobre Hitler. O livro chama-se simplesmente Hitler, dividido em 2 volumes. A princípio assusta pelo tamanho, mas a leitura é fluida e fascinante. Ajuda a entender os mecanismos utilizados para convencer milhões de seres humanos que é “útil” matar deficientes, judeus e outros grupos, étnicos ou religiosos.
Não li esses, Luciano, obrigado pela dica.
Os livros do Fest são os melhores!
Da mesma série – editora – tem uns sobre a história dos tanques, Montgomery, Patton…
Fantásticas as histórias! O livro parece ser ótimo! E o nome na verdade é “HHhH”… kkk
Ei Barça, chegou a ler o fantástico http://livraria.folha.com.br/catalogo/1168219/o-piloto-de-hitler ?
Eu te perguntei um tempão atrás, acabou que até indicaram aqui depois.
Incrível como “o mal” ainda nos fascina… mais de 70 anos depois.
Falando em livros… tem alguma recomendação – já vi documentários no Discovery – sobre a vinda dos alemães (em particular os nazistas) para o Brasil?
No mais o que gostaria de acrescentar sobre – e que deu orgulho e ver – foi o sensacional documentário “Senta a Pua!”, já viu?
Já vi o “Senta a Pua” sim, é ótimo. Sobre nazistas na América do Sul, tem uma boa biografia do Mengele escrita pelo Posner.
Recomendo o documentário “Redescobrindo a segunda guerra”, do National Geographic. Custa uns 100 reais 3 dvds.
“Redescobrindo a 2ª Guerra” é sensacional, não canso nunca de assisti-lo. Incrível como ainda hoje existe material inédito para realizar obras primas como esse documentário francês. Após assistir nele à libertação de Dachau pelos americanos, no fim da guerra, tive a oportunidade de visitar pessoalmente o campo. Uma experiência marcante. No fim da tarde, após a visita, eu e minha esposa ainda demos passagem para Wood Allen e Soon Yi, entrando discretamente pelo portão do campo. Foi um dia e tanto! Abçs
Li em inglês, e o segundo “H” na capa é menor, achei que era em caixa alta, mas vc tem razão, é em caixa alta mesmo. Valeu, já mudei.
Outro livro animal sobre esse período, embora seja ficção, é o “Castelo na Floresta”, do Normam Mailer. Trata da história da infância do Hitler, narrada por um demônio. Mesmo sendo ficção, o livro parte de diversos fatos conhecidos da infância do Hitler pra compor o que poderia ter sido o seu período de formação.
Caríssimo André, esta gelou a espinha e tirou lágrima dos olhos. Estou aqui em Berlim e a presença de toda esta história é muito muito viva aqui. Muito obrigado. Um grande abraço.
Grande cidade, Berlim. Aproveite.
Repare que em alguns lugares no Mitte tem umas plaquinhas no chão dizendo quem vivia alí, para que campo foi enviado e quando morreu. A pesquisa é feita pelas crianças das escolas do entorno… Achei simplesmente exemplar a atitude dos berlinenses em registrar a história. Puta cidade, povo bacana…
Que bela coluna. Parabéns.
Deveríamos também ter uma cidade chamada Katyn.
Pois é, merecia mesmo.
Estou a espera das cidades:
Carlito Marrón
Cae Veloso
Afrodescendente Gil
e aí vai…
Bela história! De Lídice (RJ) lembro do túnel da pedra, que foi construído para transportar o ouro para São Paulo.
Tem sim, é o máximo o túnel.