Socorro, Mussum!
06/09/13 07:05Minha colega Keila Jimenez, colunista de TV da “Folha”, informou: “Vai Que Cola” tornou-se o programa mais assistido da história da TV a cabo no Brasil (leia aqui).
Cerca de 11 milhões de pessoas sintonizaram o Multishow para ver o humorístico. Desse total, 60% são da classe AB e 63% são mulheres.
Parabenizo a todos os envolvidos. Devem estar fazendo alguma coisa certa. Só não sei o que é.
Tentei assistir a alguns episódios do programa e confesso que não ri uma única vez.
Achei o texto fraco, as situações batidas e o elenco limitado. Mas deve ser culpa minha. Onze milhões de pessoas não podem estar erradas.
Ou podem?
Achei o programa cópia de outro que já não era grande novidade e não tinha muita graça, o “Sai de Baixo”. Mas este tinha Aracy Balabanian, Miguel Falabella, Luiz Gustavo, Tom Cavalcante, Marisa Orth, Ary Fontoura e Cláudia Jimenez. A diferença de qualidade para o elenco de “Vai Que Cola” é abissal.
Antes da TV a cabo, os humorísticos da TV aberta eram sempre criticados por sua baixa qualidade. Andei revendo alguns deles. Vi reprises de “Viva o Gordo” e comprei a caixa de DVDs de “Os Trapalhões”.
Em um quadro dos Trapalhões, Didi interpretava – de joelhos, claro – o pintor Toulouse-Lautrec . É inimaginável pensar que um humorístico, hoje, se arriscaria a citar um pintor francês do século 19. Mesmo na TV paga.
Seria curioso ver a reação de plateias atuais a esses programas. Eu acho que ninguém ia entender nada.
Em outro quadro, Mussum faz uma paródia de Clodovil. Responda: que TV teria coragem de exibir um quadro desses? Quanto tempo demoraria para a emissora ser processada por racismo e homofobia?
E que tal esse quadro do “Viva o Gordo”, com Jô Soares e Paulo Silvino? Dá para comparar o nível do texto e dos atores com a média do que vemos hoje na TV, tanto na paga quanto na aberta?
Podem me chamar de saudosista, de velho, do que for. Mas graça é graça. Uns têm, outros não.
Imagine o devasso do Costinha hoje em dia!
Nem pensar! : )
Maldita época em que vivemos do patrulhamento politicamente correto!
Existem coisas que JAMAIS veremos novamente na tv.
Saudações!
Particularmente não vejo graça nesse “Porta dos fundos”. Acho que eles se garante em palavrões e baixaria. Alguns textos até tem uma sacada legal, mas prefiro o Chaves…
Olá, Barcinski. Fiquei curioso e consegui encontrar o vídeo dos Trapalhões. O Didi interpreta o tataraneto de Lautrec. Impagável e impensável nos dias de hoje, principalmente pelas implicações em relação ao personagem do Mussum.
http://www.youtube.com/watch?v=IoUyoh4aqv4
Esse mesmo. É demais o quadro. E o “Barão” é Atila Iorio, ator principal de “Vidas Secas” e que havia trabalhado com os Trpalahões no circo.
Barcinski, tal como você, tentei ter “boa vontade” com este Vai Que Cola, mais de uma vez, mas não deu, achei tudo muito sem graça, repetitivo, com um elenco muito, como vc mesmo afirmou, limitado. Aquele Paulo Gustavo, não sei, para mim pelo menos, não tá com nada.
Se é a maior audiência da TV fechada da história, deve ser sinal dos tempos, mas confesso que não conheço ninguém que assista isso.
Quase toda semana assisto Viva o Gordo no canal “Viva”, e, olha, é sensacional. Não que todos os quadros sejam que rachar o bico, mas no geral, o texto é muito bom, muito inteligente. A
Concordo humor é fazer bons personagens, exige o talento e o carisma de um Mussum. Piada de sociólogo não tem o mesmo nível. Mas talvez não seja possível escapar do politicamente correto, a vigilância é feroz e os processos podem quebrar a banca.
Permita-me discordar, André:
“Vai que Cola” não é a melhor coisa no mundo depois da invenção do chocolate, mas está longe de ser ruim.
Eu entendo que as pessoas e/ou críticos podem não gostar de VqC, por vários motivos pessoais.
Há vários seriados nacionais dos quais não gosto: Entre eles: Vida de Estagiário, O Dentista Mascarado, Adorável Psicose, Cilada e Sessão de Terapia (que considero muito inferior à original israelense ou mesmo à versão norte-americana, nas quais se baseia).
Na minha opinião, são ruins por um dos casos abaixo:
A ) Produtos comprometidos demais com o formato do canal que os engessam;
B ) Produtos financiados exclusivamente por renúncia fiscal, sem foco objetivo de retorno;
C ) Produtos que têm fraco investimento no desenvolvimento e seguem a lógica do NOME NO POSTER (“Tem fulano famoso então com certeza as pessoas vão ver”).
VqC é uma sitcom voltada para o público que fez de Sai de Baixo um sucesso de audiência. Público este que hoje faz parte do fenômeno “emergente”, e que agora assina o pacote básico das TV’s à cabo.
Um público de 11 milhões de pessoas que tiveram a opção de ver TV Aberta, Outros canais Pagos do Pacote Básico, Netflix, Youtube entre outros.
VqC é feito para este público.
O que é de se estranhar não é a classe B gostar de VqC.
O estranho é a classe A, que tem o pacote Premium, com opções de HBO, Telecine e pelo menos mais 200 outros preferir assistir VqC.
O que o Barcinski não está levando em consideração é a segmentação de mercado, que cria um amplo espectro de séries bem-sucedidas entre a pública e a crítica.
No Brasil, considerando que a maioria das pessoas ainda não possuem outra opção além de TV Aberta acontece o seguinte:
46 milhões de pessoas assistiam Avenida Brasil.
50 milhões de pessoas assistiram o último jogo Brasil x Itália.
5,2 milhões de pessoas costumam assistir A Grande Família.
3,4 milhões de pessoas costumam assistir Zorra Total.
Já no Mercado dos EUA:
MadMen teve, em sua melhor temporada, uma média de 2,7 milhões de espectadores nos EUA. Breaking Bad teve 2.9mi. Dexter teve 6.1mi. Não são séries com sucesso entre o grande público, mas têm espectadores fiéis, que exigem qualidade
Comparativamente, 52,5 milhões de pessoas assistiram o finale de Friends, que é apenas o quarto lugar nos recordes norte-americanos, ficando atrás de Seinfeld (76,2 mi), Cheers (80,4 mi) e M*A*S*H, (com inatingíveis 105 milhões de espectadores).
Então, respondendo à pergunta do Barcinski:
11 milhões de pessoas talvez estejam certas, ao menos desta vez, sobre o que elas preferem assistir.
Mas séries com qualidade superior não poderão nunca ser feitas para o grande público e, exatamente por isso, precisarão ter qualidade MUITO superior à qualquer coisa que esteja no ar hoje no Brasil.
Acho sua análise muito coerente, André. Eu trabalho nessa área e por um momento até quentionei se o que estou fazendo está fadado ao fracasso, pois ter Monthy Phyton, TV Pirata, Seinfeld dentre outras referências, me põe exatamente na contra-mão do que “faz sucesso”. Acho que hoje o que me faz ter um pouco de esperança é o exercício feito pelo “porta dos Fundos” que usam a liberdade da internet para rechaçar um pouco esse bom mocismo da comédia atual. Não que eles sejam perfeitos, mas acho que acertam muito mais do que erram. Para solucionar isso só os canais se arriscando a colocar algo diferente e talvez controverso que crie um contra-peso nessa balança (como a MTV de certa forma fazia). Do jeito que está hoje ela só pesa para um lado, infelizmente o lado sem graça.
Acontece que no Brasil, a criação humorística depende muito do talento individual. As emissoras não fomentam a criação, apenas exploram ao máximo, diluindo o que era engraçado em um sketch em um programa de 60min. É como diluir um tang numa caixa dagua.
Nos EUA, a criação artística anda alinhada ao planejamento estratégico da marca. Assim é comum que além de um diretor financeiro tenha um diretor criativo em mesmo pé de igualdade, como na Disney, por exemplo.
Chico Anysio…
http://www.youtube.com/watch?v=K1U8qEqiT-g