Shop in Rio: alguém vai lembrar esse festival pela música?
23/09/13 07:05Se a vida começasse agora e o Rock in Rio 2013 fosse meu primeiro show, eu não iria mais querer saber de música pelo resto da vida.
Poucas vezes tive tanta vontade de ir embora tão rápido de um lugar. Música ruim, line-up parado no tempo e um público mais interessado em ganhar brindes e pular de tirolesa. Já viu aquele filme “Westworld – Onde Ninguém Tem Alma”? Lembra muito.
O Rock in Rio não é um festival de música, é um shopping center com um show no meio. O Shop in Rio. Não há um metro quadrado sem um anúncio ou uma promotora de sorriso falso distribuindo brindes de patrocinadores. Nunca vi um blitzkrieg corporativo desses.
Segundo a organização, o custo do evento foi de 135 milhões de reais. Desses, 8,8 milhões são verba pública, captada via Lei Rouanet. Os organizadores dizem que têm todo o direito de arrecadar pela Lei, e têm razão. Mas nem tudo que é legal é ético, e não dá nem para começar a discutir como é indecente dar dinheiro público para um evento desse tamanho.
E o público, que pagou um preço alto pelo ingresso, acha super legal tirar foto na frente de um anúncio de chiclete. Na sexta, o tempo de espera para pular de tirolesa chegou a SEIS HORAS. Vi gente implorando por um balão com logotipo de um carro. Havia um stand de uma marca de cosméticos onde você podia ganhar um novo penteado – desde que aceitasse um dos “estilos” impostos pela empresa.
O parque de diversões da Cidade do Rock tinha uma parede de escalada patrocinada por uma estatal, uma tirolesa paga por uma marca de cerveja e uma roda gigante com logotipo de um banco. E não dá para esquecer a “Rock Street”, uma cidade cenográfica típica de parques de diversão de Orlando, com casas de fachada falsa, cada uma de um patrocinador. Parecia um Hard Rock Café gigante.
Ninguém está pedindo para o Rock in Rio virar um festival alternativo. Claro que Roberto Medina não vai trazer o Godspeed You! Black Emperor ou montar um palco de bandas indies da Islândia.
Mas com headliners que já garantem 85 mil pessoas por noite, não seria possível ousar um pouco, pelo menos nos palcos secundários? É só comparar o line-up do RiR com outros festivais gigantes, como Coachella e Roskilde, para sentir a diferença de qualidade, especialmente nos palcos menores.
O Coachella, realizado durante três dias de abril, também vendeu 85 mil ingressos por dia, mas com um line-up muito mais ousado. As atrações principais foram Stone Roses, Blur, Phoenix e Red Hot Chili Peppers, além de nomes como New Order, Nick Cave, The XX, Sigur Rós, Jurassic 5, Dead Can Dance e Hot Chip.
Leia aqui minha crítica do Nickelback; aqui sobre o show de Bruce Springsteen, e aqui, um texto sobre a overdose de homenagens a artistas mortos nesse Rock in Rio.
Será que o Rock in Rio deixaria de vender um mísero ingresso se Sebastian Bach fosse substituído por Nick Cave? Ou se o Wilco tocasse no lugar de Phillip Philips? Claro que não. Os ingressos esgotaram antes do anúncio do line-up completo.
Também é óbvio que boa parte do público gostou do festival. Fã é fã. Vai dizer para um adorador do Metallica ou da Beyoncé que os shows foram iguais aos de dois anos atrás?
Falando em Metallica, vi uma cena que valeu o festival: pai e filha pequena, lado a lado, tocando “air guitar” e cantando todas as músicas. Bonito demais. Só espero que a menina tenha oportunidade de ver outros festivais menos caretas e previsíveis. Crescer com o Rock in Rio 2013 de modelo não dá.
OS SHOWS
Estive no Rock in Rio nos quatro últimos dias. Aqui vão, resumidamente, as impressões sobre os shows que vi.
Rob Zombie – Sangue, trash e terror. Divertido demais. E com John 5 na guitarra!
Metallica – De banda inovadora ao Nickelback do thrash. Sad but true.
Ben Harper e Charlie Musselwhite – Emocionante ver o lendário gaitista tocando tão bem.
Matchbox Twenty – Me lembrei do festival de bandas do colégio Bennett, em 1983.
Nickelback – Tudo culpa do Aerosmith.
Bon Jovi – Vi do melhor lugar possível: de dentro do táxi.
Ivo Meirelles – Protestou contra o país. E o país protestou contra Ivo Meirelles.
Pepeu Gomes e Moraes Moreira – Pepeu tocando com os irmãos foi um absurdo. Pena que a voz de Moraes não deu as caras.
Skank – Pop de FM de qualidade. Se não acredita, compare com o Jota Quest.
Phillip Phillips – De novo, lembrei o festival de bandas do colégio Bennett, em 1983.
John Mayer – Cada geração tem o James Taylor que merece.
Bruce Springsteen – Olê, olê, olê, olê… Brucê… Brucê…
Helloween – Melhor interação de cantor com platéia: “Esse lado canta o refrão. E vocês – apontando pro outro lado – calem a porra de suas bocas!” Metal rules.
Kiara Rocks – Não sei quem agencia essa coisa, mas deixo meus parabéns. Botou uma banda de sarau de colégio no palco principal do “maior festival do mundo”.
Slayer – Gary Holt mandou bem, mas Slayer sem Dave Lombardo não é Slayer.
Avenged Sevenfold – Misfits na Broadway.
Iron Maiden – “Scream for me, Brazil! Again! And again! Annd again…” A melhor definição foi de meu amigo Bernardo Araújo, do “Globo”: Eddie é uma espécie de boneco de Olinda em versão Belzebu”.
Xi André, vai ter dilúvio de fãs do Mettalica aqui depois desta singela e verdadeira mensagem.
Mas foi a melhor frase que vi sobre eles.
Eu era fã até o disco preto, que eu gosto aliás, apesar da mudança de proposta.
Depois virou farofa trash e media training pra fazer sucesso, onde até a briga com o Napster ficou meio ridícula pra eles.
Quanto ao RiR, onde a galera compra ingresso sem nem saber quem vai, só tem uma coisa a dizer: sucesso de marketing.
Taí algo que eu não consigo entender, pessoa vai em um festival ou em um show, não para ouvir música e sim para brincar na tirolesa e ficar perdendo tempo em stands publicitários.
Por que não vai no Hopi Hari?
Eu fui no dia 14 e tanto eu como meus amigos, entramos e fomos direto para o Palco Principal, onde ficamos até o final, só lembro de uma marca, mas é porque trabalho no segmento.
Embora fosse bom ousar no line-up em um palco secundário, fico pensandose daria certo…pois o público do Rock in Rio é hã…diverso demais para isso, um The XX por exemplo, ou seria ignorado, ou vc n conseguiria ouvi-los.
Menos mal que você remunerado para ficar 04 longos dias no meio disso tudo.
Pense na família e no leite das crianças!
E ainda aguentar esse mala do medina, estufando peito que nem pombo pra falar que “se o eike quiser, ele compra a parte dele de volta”.
ótimo!
minhas congratulações!
compre a parte dele e não peça benefício fiscal no próximo.
muito nhém-nhém-nhém…
Putz André, é difícil admitir, mas você envelheceu!
Como assim, difícil? Eu sou o primeiro a dizer isso.
Barça, mas o que vc esperava?
É ser “romântico” pensar que um festival de música (principalmente no Brasil) você vai para conhecer bandas novas (de qualidade) ou mesmo, ver um trabalho novo de uma banda já consagrada.
Se não atrai público, está fora do line-up.
A formula já e manjada: Banda/Artista mainstream, tocando 100% de hits + propaganda (na Globo, óbvio) = $$$ e público feliz (com direito a brincar de tirolesa), ganhar brindes, pintar o cabelo “de grátis”.
É pura massificação sem qualidade.
Aí acontece isso mesmo, a galera vai no show pra tirar foto e postar no Instagram (pra dizer que estava lá, óbvio, senão não tem graça ir…), descendo de tirolesa, “pagar” de “rocker”, fazer baladinha…
Salvo algumas raríssimas exceções, as bandas também não querem mais saber de experimentar no palco. Mesmo pq muitos já estão chegando (ou já passaram dos) aos “60” e querem mais e encher os bolsos e garantir a aposentadoria.
Show “pop” é isso mesmo… No caso do “RnR”, esse acabou em 91. O nome é apenas para atrair o “grande público”.
Não reclame! 🙂
Sr critico (minuscula mesmo). O sr. deve ter ido de graca no evento, pago pela empresa q representas. Que valor alguem da para algo de graca ? Boa deve ser sua musica e seu show..alias quem é voce mesmo ? Famoso quem ?
Você queria eue eu pagasse pra escrever sobre o Avenged?
Nossa…
Aprende a escrever trash, pelo menos…
Ah é? Vc sabe a diferença entre “thrash” e “trash”? Você curte “trash metal”? Metal-lixo?
Putz Barcinski vc é um santo! Haja paciência!
Rindo litros desse comentário, lol
Aprenda o que é THRASH METAL antes de pedir pro autor do texto cirrigir qualquer coisa, pelo menos…
Vi alguns shows pela TV e o mais legal foi o do Sepultura ontem. A banda está tocando muito bem ao vivo, fugiram totalmente das músicas óbvias (tocaram o cover do New Model Army!) e a parceria com o Zé Ramalho foi bem interessante também.
Para mim o melhor mesmo deste festival foi ler as criticas dos jornalistas descendo a lenha no Bon Jovi e logo abaixo os comentarios (com Facebook) dos fas dizendo. “O melhor show da minha vida”, “Jamais esquecerei aquele momento” e etc. Arrrrgghhh!!!!
Fico imaginando se o bom e velhor rock’n roll vai ressuscitar e voltar a das as caras algum dia desses.
Eu também achei que faltou ousadia para criar um palco independente, mas sem os tributos malditos, nem parcerias bizarras.
Eles estão corretos, só música não vende. Tem criar todo um circo pra vender música, ou shows. Basta ver o circo que o Daft Punk fez pra lançar o novo trabalho dele. Até o Arcade Fire tá começando com isso também. Mas que não custava nada montar um palco pequeno para bandas independentes, não custava mesmo.
Fui num show dos Ramones em Mogi das Cruzes, cidade onde moro, acho que em 1996. Era turnê de despedida, não havia tanta gente, a banda parecia desanimada, mas não troco esta apresentação por uma edição inteira de um RiR. O local era pequeno, tinha espaço para assistir a apresentação tranquilamente e a sensação de que estávamos em um porão somente com adoradores da banda foi incrível.
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHAH “boneco de Olinda em versão Belzebu” morri
Parabéns! Poucas vezes se viu nos blogs da Folha uma postagem com tanto ódio, ressentimento e amargura.
André, não viu o Alice in Chains? Alice é uma das bandas que mais gosto entre todas, acho, inclusive, a melhor da banda main stream daquela cena. Mas aquela sonoridade arrastada, densa, pra trás, não é o tipo de som ideal pra tocar diante de uma plateia de mais de 80 mil pessoas. Não é o som que encaixa muito bem nesses megas festivais. Que fique claro que isso não é demérito da banda, nada disso, é apenas uma questão circunstancial, onde certas atmosferas sonoras não encaixam bem em certos formatos de show.
Barcinski, dessa vez vou ter que discordar de ti.
Velho, o mundo hoje é corporate, e não apenas os festivais de rock.
Tudo é linkado, patrocinado, padronizado e etc… De vez em quando vejo VHS´s e DVD´s de Woodstock, do primeiro RIR e do Festival de Wight das antigas e também acho sensacional a ausência de logotipos e grandes corporações.
Mas hoje não dá mais, as coisas mudaram.
Na parte musical, o de sempre em um grande festival, o de melhor e o de pior, pra todo gosto.
Embora seja um eterno fã de Iron, não há como não apontar o melhor show como o do Springsteen, The Boss fez jus ao apelido.
No palco Sunset gostei do ZéPultura e do festerê do Lorenzo Jovanotti.
Os Novos Baianos deviam trazer da próxima vez uma cantora com mais “hystamin”, pois o Moraes não canta mais e pra quem viu esse puta som com a Baby Consuelo arrebentando no melhor estilo Janis Joplin não tolera a Roberta Sá, por mais fofura que ela seja…
Você é um cara chato.
o que é um chato num mundo de alienados?
André, se não fosse o show do BOSS, ninguém lembraria desta edição. De qualquer forma, fiquei feliz com a repercussão do show dele. Espero que mais brasileiros procurem seus sons e shows dele por aqui se tornem recorrentes. Grande abraço!
O RiR teve alguns bons momentos em que eu, assistindo pela tv, tive muita vontade de estar in loco. Mas ao ler seu post de hoje, fiquei mais tranquilo e com a consciência leve de saber que estava assistindo ao festival do melhor lugar possível: o meu sofá, com o controle remoto da tv na mão…
André, sou muito fã do Maiden, mas o show de ontem me incomodou muito. O setlist extremamente preguiçoso, com apenas 3 músicas diferentes da tour 2008/2009, tudo muito ensaiado, até as aparições do Eddie pareceram “bobas” pra mim. O show me pareceu engessado, preguiçoso e muito previsível. Será que o medo do Bruce do Iron Maiden se tornar um pastiche de si mesmo está se realizando ?
Pra que vc foi então?? Sabia do line-upgrade como todo mundo…
Obrigação profissional.
Que azar então, hein?!
Ah, Andre. Com tanto festival tipo Terra, Loolapalooza querendo dar uma de cool, trazer a ultima novidadezinha indie para o Brasil, e que convenhamos, 0,001% das pessoas conhecem, e os hipsterzinhos fazem de conta que conhecem, deixa o Rock in Rio trazer o farofada que o povo quer ver e cantar junto com bracinho pra cima e coracaozinho com as maos 🙂
Eu acho que respondendo a pergunta do título, o festival será lembrado pelo Springsteen. Um cara que não tocava aqui há 25 anos, fez um show memorável, colocou a concorrência (se é que havia) no bolso, e salvou o festival.
O Rock in Rio 2013 só não será completamente esquecido, graças ao Boss.
Não acredito que você perdeu o show do Muse. Sua banda predileta…
que se dane sua opinião. ler seus textos é bom DEMAIS! em tempo, concordo em tudo com o que foi dito acima. parabéns, Barcinski. abraço.
Eu só vou no RiR quando rolar GY!BE
Por isso preferi guardar dinheiro pra ir no Black Sabbath e, talvez, no Aerosmith. Só tinha interesse em alguns shows específicos, como Alice in Chains, Metallica, Springsteen, mas nada suficiente pra pagar o preço do ingresso. Espero que a próxima edição seja mais interessante.
Falando em Alice in Chains, viu o show? curtiu? Até fiquei surpreso com o novo vocalista que não conhecia, achei o cara competente.
apesar dos pesares, é sempre um prazer ver Adrian Smith do Iron Maiden tocando.
E o que vc achou do Ghost?
Não vi, estava na sala de imprensa, escrevendo sobre um show que tinha acabado de ver. Só vi uns pedaços pela TV, preciso assistir à reprise.
Legal ter mencionado o John 5, que considero um dos guitarristas mais subestimados da última década. Quanto ao Slayer, vou ter de discordar: o Bostaph tava possuído!
E Satã nos livre de ter o Godspeed no Rir. Se a recepção do Ghost, que já é mais conhecido, foi daquele jeito, imagine só o que seria de um noneto instrumental que coloca pedaços de filme em seu show…
Esse tal John Mayer chega a ser um desperdício, pq o cara toca pra caralho (tem vários vídeos dele mais novo tocando muito bom blues, inclusive com Bud Guy, Erci Clapton)…mas realmente suas “composições” e o tipinho Malhação não dá.
Tipinho Malhação kkkk…É isso mesmo!!
Pensei a mesma coisa enquanto esperava pelo show do Bruce. Acho que o show do John Mayer foi o mais longo que vi na minha vida. Não acabava nunca aquela joça.
Pura verdade.
Acho que o Mayer faz esse sonzinho meia-boca só pra comprar algumas Lamborghinis e traçar umas modelos.
Mas a idéia do cara é outra, mais soul, mais blues.