Por que ninguém perguntou a Bruce sobre Raul?
01/10/13 07:05Sábado, meu amigo Álvaro Pereira Jr., em sua coluna na “Folha”, revelou a história por trás das homenagens que Bruce Springsteen fez a Raul Seixas (leia aqui).
Álvaro havia me contado o caso na terça, 17 de setembro, um dia antes do show de Bruce em São Paulo e cinco antes da apresentação do cantor no Rock in Rio.
Na ocasião, concordei que “Sociedade Alternativa” seria uma ótima opção de “cover” para Bruce, e dei minha sugestão: “Asa Branca”. Achei que Bruce e a E Street Band fariam uma versão matadora do clássico de Gonzagão e Humberto Teixeira.
Na quarta, dia 18, Bruce arrepiou quem foi ao Espaço das Américas com uma versão soul de “Sociedade Alternativa”.
No dia seguinte, Álvaro me disse que estava pensando em contar a história na “Folha”. Mas como a coluna dele é quinzenal e a seguinte só seria publicada no sábado, dia 28 – uma semana depois do show de Bruce no Rock in Rio – ofereci o espaço aqui do blog. Pensei: se Bruce cantar “Sociedade Alternativa” no Rock in Rio, todo mundo vai escrever sobre o fato, e não podemos levar um “furo”.
Veio o show do Rio e Bruce repetiu a homenagem. Para nossa surpresa, ninguém se preocupou em tentar descobrir por que Bruce Springsteen havia cantado Raul. Ninguém.
E olha que Bruce ficou dando sopa no Rio: foi à praia duas vezes, tomou banho de mar, almoçou em churrascarias, conversou com fãs e até tocou violão no calçadão de Copacabana.
Durante esse tempo todo, ninguém chegou perto dele e fez a pergunta óbvia: “Bruce, como você conheceu Raul Seixas?”
Porque isso não é pouca coisa. Um dos maiores nomes do rock homenagear o maior nome do rock brasileiro é, sim, uma grande história. Tanto que Paulo Coelho, co-autor da música, fez uma coisa raríssima: publicou comentários em um blog, falando da emoção que sentiu ao saber do tributo e contando detalhes da composição da música. Por sorte, ele escolheu fazer isso aqui no “Confraria de Tolos” (leia).
O caso só me deixou ainda mais decepcionado com o estado do jornalismo musical brasileiro. O que está acontecendo? Não temos mais repórteres de música?
Quando o Google substitui a rua como fonte de informação, é porque tem algo muito errado com nossa imprensa musical.
Hoje, todo mundo sabe a cor da meia que Bruce usou quando gravou a demo de “Born to Run” – contanto que isso tenha sido publicado em algum blog obscuro. Mas quando é preciso ir à rua e apurar, bate aquela preguiça…
Nossa cobertura musical está assim: opinião demais e jornalismo de menos.
Claro que escrever críticas de shows é uma função importante do jornalista. Mas não é a única.
Eu não ia ao Rock in Rio desde 2001, mas fui a essa edição e fiquei espantado com a sala de imprensa, que mais parecia um hotel. Tinha bufê, geladeiras lotadas de guloseimas, funcionários prestativos trazendo macarrão para jornalistas e até – acreditem– um massagista full time, para aliviar as lombares cansadinhas dos repórteres.
Havia também um escritório da assessoria de imprensa oficial do evento, onde qualquer um podia pegar updates sobre os BBBs e pseudocelebridades que estavam na área VIP. Tudo para “facilitar” nossa cobertura.
A verdade é que esses grandes eventos se esforçam cada vez mais em controlar a cobertura e garantir matérias positivas (um exemplo: o Rock in Rio ofereceu uma entrevista com o Metallica, contanto que o assunto fosse só o recente filme da banda).
Isso faz parte de uma tendência mundial, que cresceu nos últimos 15 ou 20 anos, de ver a imprensa como parte da engrenagem de comunicação das corporações de entretenimento, e não como uma potência autônoma e independente.
É preciso combater essa visão. E a única maneira de fazer isso é ignorar a cobertura fácil e conveniente empurrada pelos eventos e voltar às ruas. Afinal, rapaziada, sol faz bem.
André, as redações mudaram. Infelizmente, elas andam falindo, com “freelas eternos e feristas fixos”, para não contratar.
Se o repórter de música está em um portal, antes de ir pra rua, ele precisa escrever 3 matérias de fofoca, pra garantir os pageviews do dia, sem contar as atualizações do portal. No jornal, ele precisa escrever as matérias do roteiro, preparar as do final de semana para assim, se tiver tempo, poder correr atrás da notícia como esta do Bruce, que poderia ser resolvida com uma coletiva. Mas infelizmente, as empresas não conseguem mais ter tanta mão de obra ao ponto de se dar ao luxo de deixar um repórter na rua, acampado, esperando o Bruce sair com o violão para fazer a pergunta. Este serviço é feito (e muito bem pago) pelos paparazzi, mas que infelizmente não entendem do assunto e mal sabem escrever um parágrafo. A realidade é essa, e é triste.
Sim, Tomaz, vc tem razão, as redações diminuíram muito. Mas, por outro lado, se um repórter bom faz uma entrevista com o Bruce inédita, na rua, preenche muito espaço e poupa trabalho de outros profissionais. Eu acho que ainda vale a pena investir em reportagem.
Bons tempos de Rock Brigade!
Por onde anda Fernando Souza Filho ? O rei das criticas de Death Metal !!!
o que o psdb então, deve ter feito p/ muitos jornalistas ñ divulgarem o tucanoduto? atendentes c/ yakisoba, ou assinaturas de revistas e jornais?!
Mais conspiração…
Biblioteca de marcelo b: “A privataria tucana” e alguns livros para colorir.
Ri muito…
Putz, essa conversa saudosista de que bom mesmo era nos velhos tempos não é muito verdadeira e nem original. Nos velhos tempos já diziam que os velhos tempos de então eram melhores. Concordo que há muito jornalismo preguiçoso, mas vc trabalha em redação, André, vc sabe por que: porque vc tem muitas pautas, porque não dá para ficar três dias apurando uma matéria, porque as empresas jornalísticas estão quebrando e porque os jornalistas são uma classe acomodada, que acha que a culpa disso tudo é dele. Não é! É das empresas, que aproveitam o excedente de jornalistas pra jogar as condições lá embaixo, e é de um público que também não está disposto ou não pode pagar por conteúdo de qualidade. Algo tem que mudar nesse modelo, para a reportagem voltar a crescer. É por isso que o NYT e a Falha estão cobrando por conteúdo. Porque ter jornalista na rua, tomando sol, custa caro…imagina se pagassem um conteúdo decente, então!
Não entendi. Vc acha que a culpa não é dos jornalistas? Eu acho que é de todo mundo.
Fulaninho, o que mais incomoda é o comodismo desses novos jornalistas, moleques recém saídos das fraldas e que acham que conhecem tudo a respeito de tudo. Deveriam ter mais humildade e honrarem a profissão que abraçaram. Hoje existe a internet e qual o resultado disso? Mais informação rasa, sem preparo. Cansei de ver jornalista fazendo pesquisa em google e wikipedia para escrever artigos. Difícil não elogiar ‘os velhos tempos’, porque, com pouca ou quase nenhuma informaçao, produzia-se um conteúdo melhor e mais sério. Hoje, com tantos recursos, o nível do jornalismo e dos jornalistas é dos piores…
Mas, Fulaninho, pelo retrato que você faz das redações e jornalismo atuais os velhos tempos eram infinitamente melhores…
Só não entendi, lá no texto do Álvaro, porque o “nojinho” quando ele menciona a possibilidade de o Bruce cantar “Comida”. Será que ele acha a música ruim ou acha que simplesmente não tem nada a ver com Bruce? E vc, André, o que acha? Sei que você não gosta dos Titãs, mas eu pessoalmente acho que eles sempre foram talentosos, sobretudo como letristas. Tudo bem que hoje eles são uma nulidade, mas qual banda da mesma geração não é?
Acho “Comida” uma música péssima. Achei as sugestões de Ultraje e Legião melhores.
O Álvaro tem nojinho de qualquer coisa que tenha mais de 10 fãs no Brasil. Ele tem que se sentir obscuro, pra satisfazer o próprio ego, que não cabe no palco principal do Rock in Rio. Se “Comida” fosse uma música de uma banda gaulesa, ele ia dizer que os caras fazem letras boas e que a batida de fundo é a melhor em muito tempo. Preguiça.
Onde eu disse gaulesa leia-se galesa, antes que alguém se concentre nisso para evitar o conteúdo da crítica.
Errata oportuna, pois quando li me lembrei na hora do Chatotorix como expoente da música gaulesa. De qualquer modo, apesar de Raul Seixas não ser obscuro e ter toneladas de fãs é difícil dizer que você está errada.
Selminha, na mosca ! Comentário perfeito ! APJ, Forastieri e (um pouco menos) o chefe da confraria aqui têm exatamente esse perfil. Não me surpreendi quando soube que eram outra versão de los tres amigos. Fora isso, desta vez, particularmente, o trio mandou bem. “Comida” dá nojinho mesmo e, no Brasil, não há nada como Raul.
Que bom que o Tuxedo aprovou.
Nenhum jornalista americano se interessaria em perguntar o motivo ao Raul Seixas, se em uma hipotética apresentação nos EUA, cantasse uma música de Bruce Springsteen. Ao contrário, provavelmente seria muito criticado por isso.
Na boa, achei essa conversa “colonizada” demais. Jornalista dando sugestões de músicas nacionais para o momento “simpatia” do show do americano…
Bem piegas isso!
Acho que o Álvaro deveria ter ficado calado. Soaria bem melhor e autêntica a “homenagem” do Bruce. Agora, todos sabemos que tudo não passou de uma encomenda burocrática e urgente via e-mail. Tudo a mando do Chefe.
Mais um soldado contra o imperialismo ianque. Tá alto o nível da discussão…
Músico brasileiro seria criticado por cantar rock ianque? Veja quem foi piegas: a dica do Álvaro e o momento simpatia do Bruce, ou esse texto do imperialismo:
The A.V. Club compiled its list of slightly harder to discover Nirvana covers, and it includes a jazzy 2004 rendition of “Come as You Are” from singer Caetano Veloso: “Matched with the spooky percussion, Veloso’s vocal has a haunted, dangerous sound. Way to rework the song without neutering it….”
Eu, hein… Toca Raul, Bruce!
O Sepultura tocou Motorhead, O Ratos gravou um disco de covers de punk gringo e foram bem elogiados. Sei que é bem mais específico, mas não vejo problema em Bruce homenagear Raul.
Música boa não tem nacionalidade. Você deixaria de ouvir se ela fosse feita na China, Cuba ou Bangladesh?
Prezado Barcinski, com todo respeito, acredito que a imprensa musical está tão decadente quanto a própria cena musical. Um exemplo é a MTV que causou a própria ruína. Veja o que diz Gastão, ex VJ (Bons tempos do Fúria). Ele diz “Nos acostumamos com música ruim por que o clipe era bom”. A maioria dos meios de comunicação de música sofrem desse processo. Se não há cena musical decente, o que esperar da imprensa? Hoje qualquer um compra um instrumento invocado no estilo vintage, fica com roupas estranhas e cabelo bagunçado e mesmo que vc não ouça a música vai dizer: “Deve ser alternativo”… A aparência, define mais que a música em si… As rádios, a mtv, as gravadoras e os empresários tornaram a música algo tão corporativo que não me lembro de ouvir algo novo e pensar: “Nossa, esses têm talento…”. Para finalizar, acredito que nunca mais veremos algo como seu livro “Barulho”, e isso me entristece, pois não consigo mais ver nenhum movimento interessante,
Acho que vc tem razão, toda cena tem a cobertura que merece…
Boa, André! Porque ninguém perguntou a ele, já que há tempos não se via um Bruce tão à vontade e acessível aos fãs? Talvez pelo fato de o Brasil ter descoberto Bruce Springsteen há cerca de 2 semanas. Um sujeito com mais de 40 anos de carreira e que há anos faz alguns dos melhores shows do circuito. Ou o re-descobriu após um período de hibernação de mais de 25 anos. E, afora alguns jornalistas como vc e o Álvaro, a maioria ignorou esse fato, já que nada sabiam dele, o que é lamentável. Todos os que acompanham a carreira do Bruce, porém, não ficaram surpresos com o que viram por aqui, pois ele é assim desde sempre. Muito triste foi notar que boa parte desse mesmo pessoal que agora se rasga em elogios ao Boss o fez menos pela qualidade de sua música do que pelo aspecto de ‘celebridade’ que ficou cunhada em sua passagem pelo Brasil. Então prevaleceu o:”Bruce tomou banho de praia”, “Bruce é humilde”, “Bruce foi ao Fla-Flu”, “Bruce sambou na Lapa…”, etc. Por isso ninguém se deu ao trabalho de perguntar isso a ele, André. O aspecto musical, como sempre, ficou em segundo plano.
Patricia, seu comentário é excelente. E complementa muito bem a coluna do Barcinski. Foi triste ver jornalistas musicais que sabem tudo sobre Marcelo Camelo e que acham que a música pop nacional foi inventada por Los Hermanos tão desinformados a respeito do Bruce Springsteen. Nosso jornalismo cultural virou terra arrasada.
Eu fiquei muito curioso quando vi o Bruce tocando Raul no show e me fiz essas perguntas básicas: Será que ele conhece Raul? De onde veio a ideia de tocar Raul?
Até procurei por notícias a respeito do assunto e nada esclarecido…só agora, semanas após!
Realmente digno de falha nenhum jornalista ter investigado ou ao menos tentado buscar estas informações.
André, achei excelente o BS ter tocado Raul, mas fiquei espantado ao saber que foi sugestão do alvaro. não me lembro de ter lido algo bom sobre o raul escrito pelo alvaro pereira junior. pelo contrário, sempre rolou um certo escárnio em relação ao roqueiro brasileiro. mas é bom saber que ele gosta de raul, e que quando falou mal foi só pra ter audiência. abraços e parabéns pela coluna
Não sou advogado de ninguém, mas gostaria que vc me mandasse o link do tal artigo que vc diz ter lido onde o Álvaro critica o Raul. Vc manda, por favor? Só lembro de uma matéria no “Fantástico” sobre o documentário sobre o Raul, e foi bem elogiosa.
Estou em começo de carreira e trabalho com jornalismo esportivo. Adoraria buscar pautas e histórias diferentes na rua, mas sou direcionada pelo chefe a ficar sentada o dia inteiro cozinhando notícia. Não é um problema só da minha geração que é (em parte) preguiçosa, mas também do modelo de jornalismo que é imposto pelos nossos superiores.
Sem dúvida, Sheila, é um problema geral.
Seria Raul uma espécie de Bowie brasileiro? O maluco beleza, a lad insane? A metamorfose ambulante, o camaleão do rock nacional?
Gozado, tenho uma teoria comparando Raul a Bowie, até por terem criado personagens e feitos discos no mesmo ano – 1975 – inspirados por Aleister Crowley.
75 não foi o ano de Young Americans? Foi inspirado no Crowley?
Tô falando de “Station to Station”, que o Bowie gravou em 75 e lançou em janeiro de 76. Foi todo inspirado no Crowley, assim como “Novo Aeon”, do Raul. Bowie estava obcecado por ocultismo e cocaína, chegou a ficar uma temporada em Los Angeles estudando Crowley com o Jimmy Page.
Entendi. Tô lendo a bio do Bowie (Marc Spitz), por essa época o bicho pegou, hein Barça? Até “bruxa branca” o homem que caiu na terra teve que arrumar. Mas desenvolve aí essa teoria pra gente.
Qualquer dia escrevo com calma. Mas tem muita coisa parecida, é curioso.
Aliás, a foto acima O maluco está parecendo o Thunderbird.
Eu juro qdo acessei, vi a imagem sem ler o título, tive um lapso de achar que era um texto sobre a MTV…
E na foto do Bruce, ele tá a cara do Álvaro Pereira Jr.!!!
Eu achei o Bruce meio Kevin Spacey…
André, eu sei que você não curte seriados, mas o The Newsroom, nessa segunda temporada, tocou neste assunto quando um produtor senior do telejornal foi cobrir a campanha do Romney a presidência dos EUA.
Ele acompanhava a comitiva de jornalistas e percebeu que todos os colegas que estavam com ele só noticiavam os press releases entregues pela assessoria.
A maioria só estava interessada em acabar o trabalho rápido e ir pro come/dorme fornecido pela campanha.
Aí o cara se revoltou que ninguém fazia jornalismo de verdade e acabou sendo expulso do ônibus. (a propósito com a filha da Meryl Streep, que faz um ponta em alguns episódios).
Foi tudo meio exagerado, mas toca exatamente neste ponto da preguiça atual dos jornalistas e a dependências dos press releases.
Aliás, outro ponto pouco explorado, que não vi ninguém comentar aqui, foi o que eles comentaram sobre o Occupy Wall Street.
Cara, foi uma similaridade absurda com os movimentos aqui no Brasil. Sem lideranças, começando com reuniões na rua e encontros marcados via redes sociais e que no fim não resultaram em grandes mudanças práticas justamente por essa falta de representatividade clara.
A propósito, no seriado eles dão uma bela desancada no Occupy, que em suma, não tem como conseguir negociar nada por negar a existência de lideranças. Como aqui.
Será que o Bruce é leitor de Paulo Coelho e isso influenciou?
E vc, André, é leitor dos livros do Paulo?
Embora você soubesse como a coisa nasceu, ainda assim você mesmo, enquanto repórter da Folha, poderia ter buscado uma declaração do Bruce para embasar uma matéria matadora: “Por que Raul?”. E ainda não sabemos a versão dele para a história…
Agora, minha pergunta: você não teria oportunidade de fazê-lo por conta de seus outros compromissos ou também bateu uma “preguicinha” para correr atrás? (Não me leve a mal, adoro seu trabalho e sou leitor assíduo do blog. Só acho que a resposta de uma fera como você ajuda a entender o contexto geral do nosso jornalismo musical).
Estava no Rock in Rio, Luis. O segundo fim de semana do evento começou na 5a, 19. Os shows iam de 14h30 às 2 da manhã. Infelizmente, não consigo dominar a técnica de estar em dois lugares no mesmo tempo.
Eu imaginei que o problema tivesse sido o festival (me referia ao próprio quando falei de “outros compromissos” na pergunta). É uma pena que o jornal não tenha designado ninguém para ir atrás da história. Pessoalmente, acho uma pauta mais legal do que a cobertura dos shows.
Sim, mas como eu disse, publicaríamos a história no meu blog, se houvesse o risco de sermos furados. Mas o lugar certo para a história era mesmo na coluna do Álvaro, concorda?
Concordo. Só acho que ele poderia ter perguntado pro Bruce o porquê da escolha, só para conhecermos a visão do cara. O Forastieri discorda de mim, acha que seria muita cara de pau “vender o peixe pro cara, e depois perguntar por que ele escolheu e publicar como quem não quer nada…”
Mudando de assunto, trabalho como relações públicas e na pós graduação fizemos um trabalho orientado pelo prof. Jorge Duarte no qual entrevistamos diversos assessores de imprensa da área governamental questionando sobre as mudanças no relacionamento com a imprensa nos últimos dez anos. Um traço comum para os entrevistados é que, em situações de rotina, o jornalista recebe o release e não investiga mais o assunto, aceitando o texto da assessoria como a palavra final sobre o tema.
Se alguém quiser ler o trabalho, foi publicado pela Revista Internacional de Ciências Sociais Aplicadas, Comunicação & Mercado http://www.unigran.br/mercado/paginas/arquivos/edicoes/4/1.pdf
Mas ninguém sabia o que ele ia tocar até o show de SP, Luis. A sugestão não rolou num papo com o Springsteen, mas num pedido, por e-mail, da assessora. Como o cantor passou dias flanando na zona sul do Rio, alguém poderia simplesmente ter se aproximado dele e perguntado, só isso. E obrigado pelo link, parece bem interessante.
Jornalistas, não existem mais, o que temos hoje são celebridades que se dizem jornalistas e claro cada um e especialista em alguma área e tudo o que escrevem passa a ser verdade independentemente dos fatos. Ainda bem que existem uns poucos que fogem a esta regra mas infelizmente são poucos, bem poucos mesmo.
Quando Raul cantava no Fantástico nos anos 70,levou mais
pedradas na vida do que a Geni do Chico Buarque.Chamaram
de “vendido”,”cúmpice da Rede Globo”,etc,etc.Agora,depois
de morto,virou Deus.Lembrei de um texto do Hugo Possolo,
dos Parlapatões que saiu na Folha quando o Zé Vasconcelos
morreu.Dizia que esse negócio de stand-up era uma invenção
dos EUA e que o Zé fazia isso já nos anos 60.Eu,se fosse o
Bruce,cantaria duas músicas do Raul:Super-Heróis e Eu
Também Vou Reclamar.O Rock in Rio viria abaixo.
Para mim isto vem de longe. Publicações como a revista estadunidense Rolling Stones, por exemplo, sempre me pareceram meros veículos de propaganda das grandes gravadoras.
“Sempre”, Enaldo? Tem certeza? A revista que trouxe Hunter Thompson, PJ O’Rourke, Michael Azerrad, Cameron Crowe, Lester Bangs, David Fricke, Greil Marcus, Neil Strauss, etc., era um “mero veículo das grandes gravadoras”?
Quando alguém fala “estadunidense”, já sai perdendo.
Eu e o Aurélio.
Bom, André, não sei de quem você está falando, as que eu li me pareciam bem mainstream.
Estou falando só de alguns dos melhores jornalistas e autores que já escreveram sobre música, política, etc. Todos nessa revista que vc diz ser “mero veículo de propaganda de grandes gravadoras”.
E o Fora do Eixo…
A Columbia Journalism Review publicou um texto ótimo sobre como o PR ocupou o espaço deixado pelo encolhimento das redações, André. Vale ler -> http://www.cjr.org/feature/true_enough.php
Abraço,
Sensacional dica, Guilherme, muito obrigado, lerei com certeza.
maravilhoso seu artigo, André, e muito obrigada ao Gui Felitti pelo link maravilhoso… Esse vai para meus alunos…
Tô guardando pra ler à noite, parece legal demais.
Como assim ninguém se preocupou em saber as “origens” do episódio? Ninguém importante, claro. Mas não podemos desprezar a Confraria de Tolos. Comentando o post “Bruce toca Raul e a gente chora” seu fiel leitor indagou:
“neder comentou em 23/09/13 at 1:19
Interessante é o cara ter ido além da dupla habitual de homenagem de músico gringo: Bossa Nova & Tropicália. Aliás, não li uma informação sobre o motivo da escolha do Raulzito. Será que nenhum jornalista teve a curiosidade de perguntar ao Bruce como surgiu a ideia (dica de amigo, conhecia a música, tem um vinil etc.)…?”
O Álvaro, talvez influenciado por seu trabalho no Fantástico, perdeu todo o meu respeito. Sugerir que Bruce cantasse Legião Urbana ou “inútil” do Ultraje a Rigor é de lascar hein? Fico imaginando a cena e sinto meu estômago embrulhar! Ainda bem que o The Boss tem muito bom gosto e o Raulzito salvou a parada do rock nacional mais uma vez!
Agora, se eu fosse amigo do Álvaro iria imediatamente ter uma conversa com o cara e saber o que está acontecendo. Isso não é normal. Bruce Springteen cantando “Inútil” ou “Que país é esse?” definitivamente não dá!
Não vejo nenhum problema com “Inútil” ou “Que país é esse?”. Na verdade, se for prestar bem atenção, são duas ótimas letras.
Não vejo nenhum problema com “Inútil”… mas sério mesmo, não acho “Que país é este?” uma letra boa…muito pueril…
Aí é questão de gosto. Mas é claro que pra nós “que país..” faz muito mais sentido pra que Born in The USA, por exemplo, que é boa, mas que fala de problemas dos EUA. Leve em consideração que o R.Russo escreveu isso no final dos anos 70, começo dos 80 no máximo, e muito novo.
Com certeza é uma questão de gosto! Nem é tanto antipatia com Legião Urbana, mas sim com essa música em específico.Por exemplo, acho incrível a letra de “Tempo perdido”.
Ponderar a qualidade da letra com a idade do autor na época me faz pensar que ele escreveu algo adequado…digo precisava ser algo cru e direto… mas enfim, apesar de eu não gostar da letra, pelo menos vejo ali uma indignação sincera, que não vejo no Dinho Ouro Preto, por exemplo.
E o que dizer dos telejornais da Globo se referindo ao Rock in Rio como “o maior festival do mundo”?
É lógico que é o maior festival do mundo, é o festival deles cara!
Ou você acha que o Réveillon na Paulista é o maior do mundo, como afirmam as organizadoras Prefeitura e Globo?
Os caras estão vendendo o deles…
Certíssimo e a medida que passa, as pessoas não entendem o real papel da crítica musical e por isso, certas empresárias acham um “absurdo” quando alguém fala mal do Kiara Rocks.
Trabalho em uma emissora que tem uma faculdade de comunicação…posso garantir que, uma minoria sairá para tomar Sol.
Ache super a idéia do Bruce de tocar essa música, bola dentro do gringo. Sempre que essa gente quer puxar o nosso saco, toca coisas tipo Garota de Ipanema, ou até lek lek. Os astros do pop rock NUNCA fazem nenhuma menção ao rock nacional, por isso mesmo fiquei com uma sensação ótima a primeira vez que ouvi “Sociedade Alternativa” com o Springsteen, foi emocionante.
André, o problema do jornalismo atual é que ele está sem meio termo: Ou é essa coisa preguiçosa e acrítica, dependente de assessoria de imprensa e redes sociais, como a de cultura em geral e nos esportes, ou vira incitadora do Fla-Flu ideológico, como a política e a econômica, como vc mesmo já disse aqui no blog outras vezes!!!!!
André, há exceções, mas de forma geral o estado do jornalismo atual é lamentável. O livro Showrnalismo, a Notícia como Espetáculo discute bem da mistura de jornalismo e espetáculo que rola nos tempos atuais.
Não sei se você viu o excelente filme A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the Hole) de Billy Wilder. É de 1951 e já prenuncia a mistura entre jornalismo e espetáculo para satisfazer as massas.
No terreno cultural, não é só a música que sofre. É cada vez mais triste ver a cobertura cinematográfica, boa parte dela preocupada apenas em atender aos interesses dos grandes estúdios. Ler a cobertura de blockbusters como Os Vingadores é nauseante.
Claro, filmaço profético e com uma das melhores atuações de Kirk Douglas.
A geração que ocupa hoje as redações acredita que dar dois telefonemas já faz do texto uma “reportagem especial”. Efeito-colateral dos passaralhos…
Barcinski, a Globo, por exemplo (e sem demonizá-la), fez isso com o futebol há tempos. A única visão possível sobre o futebol é entretenimento e o jornalismo esportivo é parte dele.
A propósito sobre a preguiça: a maioria das informações do jornalismo político hoje vêm mais do cafezinho e das “fofoquinhas” do que de iniciativas investigativas, não?
Bastidores de política sempre foram cobertos – e muito bem – na base do “cafezinho”, em conversas reservadas, etc. O problema é quando se resume a isso.
Claro que sim. E a minha crítica é essa: está muito resumido ao cafezinho…
E o jornalismo investigativo é feito por muito pouca gente hoje. Não falo daquele realizado a partir de denúncias públicas, ou seja, a partir de alguma investigação feita no MP ou por alguma entrevista concedida por algum denunciante. Estou dizendo daquele realizado a partir de uma demanda captada pelo próprio jornalista.
Não existe a possibilidade de se falar em Rock no Brasil, sem a obrigação de citar Raul Seixas. Raul era o Rock In Roll em pessoa, pensamentos e atitudes.
Sociedade Alternativa, para o próprio Raul, era mais que música. “Esse é o único hino que nós temos, e é tão valioso quanto ao hino nacional”, palavras do próprio Raul. O Bruce não só escolheu o artista certo, como escolheu a música certa! Parabéns, justíssima homenagem. Toca Raul.