Quando a Fórmula 1 importava
04/10/13 07:05Não tenho nenhum interesse por carros. Zero. Acho que o mundo seria um lugar melhor se cada trinta automóveis fossem substituídos por um ônibus.
Também acho Ron Howard um dos piores diretores de cinema dos últimos 30 anos. Certamente o pior, na relação ruindade/prestígio.
Um filme sobre corridas de carro dirigido por Ron Howard, portanto, deveria ser o programa de índio do século.
Mas até que “Rush – No Limite da Emoção” surpreendeu. Continuo abominando qualquer coisa relativa a carros e a Ron Howard, mas me diverti com o filme.
Para quem não sabe, “Rush” conta a história da rivalidade entre o austríaco Niki Lauda e o inglês James Hunt. Em 1976, os dois protagonizaram um dos duelos mais acirrados da história da Fórmula 1, decidido na última prova, no Japão (na verdade, o duelo só foi tão acirrado porque Lauda havia sofrido um pavoroso acidente e ficara de fora por várias corridas).
Lauda era um “nerd” perfeccionista que não mexia um dedo sem analisar minuciosamente as conseqüências. Hunt era um beberrão mulherengo que agia por impulso. Se acreditarmos nos tablóides britânicos, Hunt dormiu com cinco mil mulheres e levou para a cama nada menos de 33 comissárias de bordo da British Airways nos dias antes da prova final de 1976. Era um rockstar das pistas.
Segundo especialistas em Fórmula 1, “Rush” tomou algumas liberdades poéticas: Lauda e Hunt não eram tão inimigos assim – chegaram a morar juntos uma época – e algumas sequências do filme foram “adaptadas” para realçar o drama e a rivalidade.
De qualquer forma, o filme fala de uma era em que a Fórmula 1 ainda trazia personagens interessantes. A exemplo do boxe, que sempre teve lutadores carismáticos, mas que nos últimos anos tem sofrido com a falta de ídolos, a Fórmula 1 parece passar por uma crise de personalidade.
Voltando ao filme: “Rush” é mais um exemplo do cinemão careta de Ron Howard: música agitada nas partes agitadas, música melosa nas –muitas – cenas melosas, roteiro feito para ser compreendido por crianças de cinco anos, diálogos obtusos que não deixam margem a interpretação (“James, você é um louco!”; “Niki, você é um chato!”). Quando um corredor aparece pensando no outro, Howard dá um close na cara do pensativo e superimpõe imagens do rival, exatamente como novelas de época da Globo.
Há uma cena que merecia ser estudada em escolas de cinema, para ensinar aos alunos os perigos da pieguice: a que mostra Lauda no hospital, se recuperando do acidente, com um tubo de meio metro enfiado na garganta para limpar os pulmões, enquanto chora vendo James Hunt ganhar uma corrida na TV. Sorvete na testa é pouco.
Mas nem Ron Howard consegue estragar personagens tão bons quanto Niki Lauda e James Hunt. Agora, imagine esse filme na mão de Michael Mann…
P.S.: Inspirados pelo texto de ontem sobre cardápios esdrúxulos, alguns leitores enviaram fotos e descrições de seus menus preferidos. Lucas Patury mandou fotos incríveis do cardápio de um famoso “Beach Resort” nordestino. Confira…
Putz! Lembrei daquele post onde tu fala que sequer dirige, de taaaaanto que gosta de carros!
E eu que sempre pensei que ia algum dia a Parati e cruzar com o Barcinski no volante de um Opalão ou um Maverick V8…
Homem com zero interesse em carros…sei não…
Ah, tá bom. Legal é ficar preocupado com a troca de óleo.
Barça, como fã, te digo, vc não merece isso…
O carro é o cavalo do homem moderno, ou seja, indispensavel, sem ele nos tornamos um cidadão de segunda, as mulheres que o digam.
Nunca li uma besteira tão grande e tão carregada de preconceito.
Me diverti bastante com o filme, a ponto de nem me incomodar tanto com a pieguice. Mas, realmente, agora que vc falou, tem alguns momentos em que o cara exagera. Lembro de dois: a lua-de-mel e quando ele começa a jogar imagens da mulher do Lauda antes de ele abandonar a última corrida.
No quesito diálogos terríveis, quem vc acha que ganha: Ron Howard ou George Lucas?
Licença poética a parte, o foco do filme é a rivalidade entre 2 personagens antagônicos mas que nem de longe foi a maior rivalidade da F1, como é passado ao espectador. Rivalidade mesmo foi Piquet X Mansell. Senna X Prost era ódio mesmo.
Nem assisto mais corridas de Fórmula 1. Todo mundo já sabe de antemão os resultados, no pódio os 3 primeiros lugares sempre se alternam entre os 3 mesmos pilotos de sempre.
Gosto de corridas de carros, e vejo desde moleques. Mas acho que ter que ir trabalhar de carro pois o transporte coletivo não funciona e há grandes interesses para essa situação perdurar o fim da picada.
Achei Rush muito bem feito na parte técnica, principalmente no áudio, e manteve a maior fidelidade possível do que possa ser uma corrida de carros, salvo as licenças poéticas.
Já o que acabou com o clima da F1 de antigamente foi o que está acabando com o resto do mundo, grana corporativa !!
Ron Howard realmente é muito brega, mas eu gostei muito de Frost/Nixon. Nem desse você gosta, André?
Nem parece que foi ele que dirigiu.
Dos mais recentes, achei o menos pior. Até porque o Frank Langella melhora qualquer filme, né?
Até mesmo “A Caixa”, com a Cameron Diaz? Esse foi de amargar… Se não me engano, foi o Langella quem interpretou o Esqueleto em “Mestres do Universo”, aquele do Dolph Lundgren como He-Man. Grande atuação dele.
Bom, Guilherme, o Orson Welles fez locução para um disco do Manowar. Isso não quer dizer que não seja um gênio.
Claro, André. Estava apenas brincando. Off-topic: eu e minha namorada estamos tentando “zerar” o Guia da Culinária Ogra. Faltam uns vinte para completar o tour. Parabéns pela iniciativa. Espero que saiam edições revisadas e ampliadas.
Legal, fico feliz que vc tenha gostado. Recebi tantas sugestões de leitores que dá pra fazer outra edição. Abraço.
André, gostei do filme, apesar de ele tomar “liberdades didáticas” demais, até pq o público americano no geral, não entende patavinas de Fórmula 1, ainda mais envolvendo protagonistas estrangeiros, mas eu acho que nem vc disse, é que a F1 tem sim, grandes pilotos (Vettel, Alonso, Raikonen, Hamilton), mas faltam personagens, pessoas que vão além do que pregam os assessores de imprensa e de marketing das equipes….
O maior personagem do circo é um baixinho de óculos, o nome dele é Bernnie …..
Figuraça o Ecclestone. Começou vendendo carros usados e hoje é um dos homens mais ricos da inglaterra. Tem 3 Boeing 747.
Não é tergiversação. A construção da juventude como mercado consumidor é anterior à televisão, pelo menos desde os anos 40, por exemplo. A origem é mais remota, na Europa criações culturais como as primeiras obras do Goethe provocaram reações ainda bem em voga no público jovem. Os anos 70 só foram uma etapa do processo, não foram berço de nada. “Tubarão” é descendente direto de “Blackboard Jungle”.
Não mesmo. A “juventude” só surgiu para o mercado de verdade uns dez anos depois do fim da Segunda Guerra, junto com o surgimento do rock e de ídolos de cinema como James Dean e Marlon Brando. Claro que houve exceções – Frank Sinatra, por exemplo, que atraiu um público bem jovem nos anos 40. Mas, até os 50, pais e filhos ouviam basicamente os mesmos discos e viam os mesmos filmes. Se vc quer falar em Goethe, ótimo, mas é outra discussão. Um livro muito interessante sobre o tema é “The Sound of the City”, do Charles Gillette, justamente sobre a criação do rock e do mercado adolescente. E claro que “Tubarão” é descendente de “Blackboard Jungle” (que, aliás, é de 1955, não dos anos 40). A diferença é que “BJ”, na época, foi considerado uma afronta, um filme radical e muito criticado por conservadores, enquanto “Tubarão” marcou justamente a consagração dessa fórmula de filmes de “exploitation” no “mainstream”. Spielberg conseguiu fazer um filme “jovem” que o mundo todo – até os pais – gostaram.
Calma. Não se exalte. O senhor ignora completamente o jazz das big bands, o swing, como um dos mais evidentes elementos desse “generation gap”. O documentário do Ken Burns fala muito bem sobre isso, além do História Social do Jazz, do Hobsbawn. Em maior ou menor grau, essa diferenciação entre gerações sempre houve.
Quanto à construção da juventude como mercado consumidor específico eu sugiro apenas essa imagem:
http://171.67.24.121/tobacco_web/images/tobacco_ads/targeting_teens/young_smokers/large/young_09.jpg
É uma propaganda de 1940.
“Blackboard Jungle” e “Tubarão” são parentes porque são ruins, envelheceram mal e não encontram ressonância atualmente, exceto pelos seus filhos “Transformers”. Obras como “Rashomon” e “Taxi Driver” se mostraram mais consistentes com o passar do tempo, e ainda encontram público, e também estão de alguma forma hereditariamente ligados.
Tá bom, Igor, fica combinado assim: as big bands – e não o rock – foram o verdadeiro “generation gap” da música do século 20. E “Tubarão” NÃO ENCONTRA RESSONÂNCIA atualmente. Abraço.
Estou bem parecido com vc, Andre Barcinski. Chega uma hora em que eu concordo e pronto pois é nítido que a outra pessoa não quer debater ideias e sim, impor.
Muito bom seu blog! Também odeio automóveis e poucos filmes aí me agradaram. Talvez aquele com Steve McQueen, não lembro muito bem. Tem o Two Lane Blacktop, esse é demais. E tem um que comprei baratinho em DVD, The Cars that Ate Paris. Não é lá muito bom, mas pra quem odeia carros, esse é o filme.
Assistirei esse filme com certeza. Infelizmente devido a idade não pude acompanhar esse período da F1. Foi Nelson Piquet, para mim ainda o melhor piloto de todos os tempos, que fez eu gostar de assistir. De alguns anos para cá larguei mão, ficou muito chato. Hoje em dia assisto Nascar que é muito mais emocionante e competitivo.
Olha fazia tempo q não dava uma boa risada, como dei, quando li o trecho do “sorvete na testa”.
Uma coisa tem que ser dita a favor do RH: Arrested Development!
André, tu é fera….traduziu de forma simples e direta essa porcaria de filme….é muita pieguice, chatice e melosidade p/ um filme de corrida…..aja saco p/ ver o filme até o fim….foi uma tortura…
André,ônibus é coisa do século 20.São chassis de caminhão
que transportam gente como gado.Hoje,precisamos é de
trem,metrô,avião e BRT(Bus Rapid Transit)que é um ônibus
de verdade.Mas o Haddad andar de ônibus de casa até a
Prefeitura só pra aparecer na mídia…..é o marketing político
coxinha.
André, sei que não tem nada a ver com o texto, mas gostaria de saber a sua opinião sobre o fim dos filmes legendados nos cinemas. Aqui na minha cidade, Franca-SP, legendados são raridades. Por curiosidade fui consultar o site do Cinemark de Ribeirão Preto e constatei a mesma situação.
Gostaria de saber a sua opinião.
Eu definitivamente não assisto filmes dublados. Prefiro esperar chegar na locadora ou assistir os piratas na internet.
Também não assisto a filmes dublados, não consigo. Mas entendo porque são tão populares. As pessoas têm preguiça de ler legendas.
André, também não consigo ver nada dublado, de jeito nenhum, e também não consigo encanar em seriados, pelos mesmo motivos que você. Essa história do cinema contada pelo M. Gallo é bizarra! Parei de assistir vários programas que considerava interessantes na Tv à cabo depois que passaram a ser dublados. E quase nunca tem opção de legenda. Sem ela, fico entendendo tudo pela metade… Além de que, com a legenda, estou exercitando também o inglês, enquanto assisto. À propósito do link com a matéria da Folha, que foi postado nos comentários anteriores, não acredito que essa opção se justifique apenas pela “ascensão da classe C” no mercado de TV à cabo. Conheço pessoas que não pertencem à referida “classe” e não se importam nem um pouco em assistir programas dublados. Nesse sentido, você mandou bem ao questionar sobre porque filmes dublados são tão populares. Mas seria mesmo só preguiça? Acho que é sintoma de algo mais grave… Abç
Nos EUA, com filmes que não estão em inglês, também é assim, não?
Nos cinemas? Só via filmes legendados.
Imaginei que os filmes estrangeiros nos cinemas lá nos EUA fossem todos dublados, pois naquela toada de que “americano não tem cultura mundial”, já tinha ouvido dizer que eles também não tem paciência de ler legendas. Mas acho que é aquela história de preconceito que brasileiro tem de americano.
Tem muito pouco filme estrangeiro passando nos EUA, mas os que têm passam em cinemas de arte, e legendados. Juro que não lembro de ter visto filme dublado lá.
Queria saber como é a situação nas capitais?
Será que gostar de legendados vai virar coisa de cinéfilos excêntricos, relegados a salas e sessões obscuras em horários alternativos?
Abraços
A programação de filmes legendados está “setorizada” de acordo com o bairro.
Eles colocam filmes dublados em lugares que consideram ser de menos poder aquisitivo e filmes legendados onde eles consideram ter mais “público” para tal. O que é ridículo e burro. Cada vez mais eu me afasto de cinemas assim.
O cINÉPOLIS DE Ribeirão pelo menos exibi mais legendados que dublados.
bom saber, pq o cinemark virou um lixo.
Também não curto Ron Howard e não me importo com Fórmula 1 desde a época do Senna, mas gostei muito do filme! Mesmo com esses diálogos rasos e situações clichês, achei divertido demais! Mostra bem uma época em que os pilotos tinham personalidade e a competição era mais espontânea e desafiadora.
Outra história do Hunt, que um cara que hoje trabalha na Williams contou, é que antes dessa prova no Japão ele viu o James de macacão abaixado até a cintura e uma mulher fazendo sexo oral nele minutos antes de começar a prova.
Mas uma história curiosa dele, além da figura hedonista, é que ele foi um ativista anti-apartheid ferrenho. Chegando a enviar dinheiro para grupos contrários ao regime sul africano.
Nesse texto tem tudo bem explicado:
http://www.jalopnik.com.br/james-hunt-a-luta-contra-o-apartheid-que-voce-nao-viu-em-rush/
Concordei com toda a crônica a respeito do filme. Fui assisti-lo porque representa uma época que eu realmente gostava de F1. Agora convenhamos, a cena que mostra a corrida no Brasil, com mulatas sambando, é o fim da picada. Ficou falando só mostrar um jogo de futebol dentro do autodromo.
Bem lembrado. Mas será que não rolou isso na época? Vai saber…
Nao rolou. Eu assisti todas essas corridas. Se nao me falha a memoria, a corrida foi em Interlagos, Sao Paulo.
Põe na conta do Ron Howard então…
Nao foi o Howard que dirigiu um filme de um super herói que era um pato?
Nao, me enganei.
Pequena confusão.Acho que tinha um filme chamado ´´Howard, O Pato“.
Alcides,
Não sou dessa época, mas lembre como era tosco: mecânicos sem macacão e capacete, pessoas assistindo sentadas no gramado, proteção para os pilotos era quase nula, vejam:
http://www.youtube.com/watch?v=nvd-RzR-PUo
Fui na corrida pós jacarepaguá, em 1990, e nesse dia tinham mulatas no paddock sim.
Foi o que pensei vendo o filme. O Brasil sempre ajudou a divulgar essa visão clichê dos estrangeiros. Ainda mais naquela época, em que se tinha pouca informação e o Brasil tava longe de ser potência econômica.
Fora que o brasileiro também adora usar um clichê para descrever um gringo. Uma vez um holandês veio fazer intercâmbio na minha universidade e todos que o conheciam logo torturavam: “Holanda? Muita maconha hein? Como é? Vc fuma muito?Vende maconha nas quitandas de lá?”
É pra enfiar a cabeça na terra…
Tem razão. Americano “não sabe nada do resto do mundo”, francês “não toma banho”, e por aí vai…
Nas corridas da F1 Jacarepaguá parecia a sapucaí, o o paddock era um verdadeiro carnaval.
http://flaviogomes.warmup.com.br/wp-content/uploads/2009/03/renaultlouras.jpg
http://flaviogomes.warmup.com.br/wp-content/uploads/2009/04/berniebiquini.jpg
http://flaviogomes.warmup.com.br/wp-content/uploads/2009/03/meninasdosidney4.jpg
http://flaviogomes.warmup.com.br/wp-content/uploads/2009/03/meninasdosidney3.jpg
Alcides, acho que vc confundiu o nome do personagem com o nome do diretor, o filme creio que é esse:
http://www.imdb.com/title/tt0091225/
Se vc perguntar para o George Lucas, ou ele te jura de pé juntos que não dirigiu esse filme ou manda o império atrás de você…
Acho que teve show de mulatas sim, mas deviam ser da Vai Vai …
O Niki Lauda era um mala.
quanto ao filme, vale o ingresso.
O que Daniel Bruhl está fazendo em tamanha bobagem? Parece que a voz dele foi “engrossada”.
A melhor coisa que o Ron Howard fez foi a Bryce Dallas Howard…
Obra prima!
huahuashuas, faço de seu texto minhas conclusões, minhas palavras…
Na verdade a Fórmula 1 sempre foi um veículo pras corporações venderem “lifestyle”. Fume o cigarro tal, use o óleo tal, seja bonitão, coma essas gostosas que aparecem nos boxes. A construção desses heróis polarizados, inclusive os casos nacionais, são a prova cabal de que as marcas se utilizam do indivíduo até eles se sacrificarem pela maior quantidade de nada: velocidade, competição e glória midiática.
Mas justamente o filme fala de uma época em que a coisa não parecia ser assim.
Não, o passado era tão ruim quanto o presente. Acontece que como ele é passado nós podemos pinçar só o que selecionamos por conveniência. O império sempre foi do “advertising”, do “lifestyle”, do “mythmaking”. A resistência sempre foi fragmentária: para cada “Taxi Driver” milhares de “Tubarão” foram feitos.
Parte da falta de imaginação para investigar o presente vem desse refúgio na nostalgia pelo passado.
Não é verdade, Igor, não mesmo. Estão aí o pop e o cinema dos anos 70 pra comprovar. Esse fenômeno a que vc se refere nasceu no meio/fim dos 70, justamente na época de “Tubarão”. Terminei um livro agora – sai ano que vem – justamente sobre isso.
Essa é uma leitura limitada. Culturalmente, o imperialismo do século 19 lançou as bases para a massificação de costumes e glorificação de uma grande arte europeia. É uma questão de ler Tolstoy. Na Rússia, um país feudal, a aristocracia e a burguesia adota posturas afrancesadas.
No Brasil, a Belle Époque nos grandes centros urbanos procura europeizar a arquitetura e a estrutura urbana das cidades, com pouco sucesso. Ao mesmo tempo uma assimilação da cultura europeia, estimulada pelo Império, é amplamente aceita como medida civilizatória.
Da polca ao foxtrot, do romantismo ao simbolismo, a fonte de modelos artísticos sempre foi a Europa. Por uma simples razão. Eles mandavam. Aos outros povos ocidentais sempre sobrou a alternativa de fazer uma versão peculiar do paradigma
No entanto, o conflito de nacionalismos e imperialismos levou os europeus a se destruírem. Ótimo para os Estados Unidos que lucraram com as guerras europeias. E eles se tornaram os novos impositores de cultura.
E Jazz, Soul, Rock’n’Roll, Joseph Campbell e George Lucas, e cá estamos.
Igor, na boa, você está tergiversando. A tal era do marketing obsessivo que estamos discutindo começou pra valer nos anos 70, resultado da “profissionalização” da indústria cultural, do domínio da TV e das grandes corporações do entretenimento.
Eu acho extremamente positivo que uma cultura influencie outra, e isso ocorre no sentido contrário também (vide influência cultural do México e da África nos EUA). Também acho que um produto cultural não precisa ser puro para ter qualidades. São infinitos os exemplos de filmes, discos e livros considerados comerciais que são melhores que seus pares tidos como “artísticos”. E a linguagem acadêmica é um porre. Sempre. Uma das maiores demonstrações de como se pode adornar o vazio. É Rolando Lero se levando a sério.
Não fazia nem 5 anos, na época do filme, que os carros passaram a ter as cores dos patrocinadores, antes tinham as cores dos países das escuderias. Recomendo ao nosso sociólogo dar uma olhada no youtube nas filmages dos anos 50 e 60, há várias sendo resgatadas inclusive em cores. Mostra um mundo muito mais simples e precário do que nós acostumamos a ver da segunda metade nos anos 80 para frente. No início da década a esculhambação reinava nos boxes da F-1 com gente sem camisa, ambientes sujos de graxa e ferramentas espalhadas. O ambiente hospitalar começou a surgir por volta de 1987 e tomou conta da categoria nos anos 90
Obrigado pelo esclarecimento. Dá pra perceber isso pelo filme. Mas acontecia o mesmo em quase todos os ramos. Veja as imagens das Copas de 78 ou 82, a bagunça divertida que era.
As imagens das arquibancadas até a Copa de 86 no México fariam um burocrata da FIFA de hoje vomitar de “nojo corporativo”. Há uma tomada que um inglês no estádio Jalisco porta uma cobra em plena arquibancada!
Verdade. E o tênis, então? Já viu uma imagem de uma disputa da Davis entre Argentina e EUA em que os hermanos xingam o John McEnroe? Hoje a platéia parece que está na ópera.
Igor, ele tem razão.
Há pouco tempo fiz um trabalho sobre essa era dos blockbusters.
Nos livros que li, há pequenas divergências de qual seria o “marco inicial” dos arrasa quarteirões.
O “Poderoso Chefão”, que, por ocasião do seu lançamento, alcançou o status de “evento” através da venda em massa do romance de Mario Puzo (publicado durante a produção) e intensa publicidade focalizando tanto a realização do filme quanto os protestos de grupos ítalo-americanos contra o seu conteúdo supostamente preconceituoso.
Já Tubarão, lançado 3 anos depois, foi o primeiro filme de orçamento milionário de Hollywood a receber uma farta publicidade na televisão e a ser lançado simultaneamente em um grande número de cinemas.
Filme fraco. Já, já os “fanboys” aparecem por aqui para descer a lenha no seu texto.
A F1 no Brasil tem uma influência atípica na cultura esportiva do país. Os motivos são óbvios: Fittipaldi, Piquet e Senna.
O maior exemplo desta influência é a existência da legião de fãs de Senna que, veja só, na sua maioria absoluta nunca viu sequer uma corrida de F1, nem mesmo pela TV.
Se você apontar as virtudes do falecido piloto provavelmente será ignorado. Mas se ousar apontar as deficiências (que nem eram tão poucas) estará cometendo a pior das blasfêmias. Segundo seus fãs, o rapaz era apenas perfeito. Em tudo.
Os três campeões gozam até hoje de enorme prestígio, assim como Barrichelo e Massa são exageradamente crucificados por não terem este título.
A presença da F1 na boca do povo deve se reduzir até desaparecer de médio a curto prazo devido ao esforço permanente e gigantesco da Confederação Brasileira de Automobilismo em acabar definitivamente com a geração de pilotos brasileiros de monopostos.
Apesar do Senna ser um baita piloto, três fatores justificam facilmente a idolatria pelo cara:
– O jejum de Copas do Mundo por parte da nossa seleção, agravado pela duríssima derrota pra Itália em 82, que gerou uma “lacuna” de ídolos do esporte.
– Senna era amigo pessoal do Galvão Bueno e tinha boa relação com o restante da mídia, ao contrário do Piquet (um piloto quase tão competente como o Senna) que fugia de uma entrevista como o diabo da cruz.
– Ele morreu ainda em atividade, o que consolidou o mito. Todos se esqueceram que em 1994, ano de sua morte, ele teve um começo de temporada muito ruim na equipe Williams, sendo facilmente batido por Schumacher e Damon Hill.
Tudo que você falou é verdade, mas dizer que ele foi “batido” por Schumi e Hill merece contextualização: o carro não era tão bom e era muito difícil de guiar, ele estava na ponta nos dois abandonos, andava em um ritmo de corrida muito acima do de Hill em classificação e corrida (fez três poles em três corridas) e tinha que enfrentar uma Bennetton suspeita de ilegalidades tecnológicas.
Enfim, concordo que Senna é endeusado além do limite pela pachecada, mas o cara era bom e estava em plena forma, o carro é que não ajudou…
Vc diz “na ponta” como líder?
Tanto em SP quanto no Pacífico o Senna estava atrás do Schumi quando abandonou – se não estiver enganado rodou em SP e tomou uma pancada do Hakkinen na outra corrida.
Humn… Os anos podem ter traído a memória. Forçando um pouco mais, se não me engano, em SP ele rodou pouco após perder a ponta nos boxes…
De todo modo, ele não estava sendo “facilmente batido”, principalmente por Hill, que não andava no mesmo ritmo.
Luis Felipe
Em situação de igualdade – mesmo que fosse com carrinho de rolemã – era praticamente impossível ser mais rápido que Senna. Nenhum jornalista ou ex-piloto é capaz de contestar este mérito do brasileiro.
Porém, os fatos que você citou (os motivos pelo qual os resultados do início de 94 terem sido ruins) vem exatamente ao encontro de um dos pontos em que Senna falhava miseravelmente: acerto do carro.
Pelos ingleses, os 3 pilotos citados estão entre os 15 melhores pilotos do mundo. Já a viuvada é uma das coisas mais escrotas que existem, mas elas foram criadas pela acessoria do piloto morto e são alimentadas até hoje pela emisora líder
Você tem razão.
Não dá para falar sobre F1 com as viúvas.
Aliás, a discussão sequer se mantém neste assunto. Se transforma em algo sobrenatural sobre o único super herói na face da Terra contra os vilões – que são todos os outros.
Afinal o maior herói brasileiro de todo o universo não pode ser maculado !!
Mesmo com seu post sobre esse filme não me senti c/ vontade de assisti-lo. Vai que aparece o Galvão Bueno narrando essas corridas…
Melhor seria se vc perdesse essa má vontade com as séries e falasse sobre o final de Breaking Bad, por exemplo, que sempre foi uma AULA de cinema, desde direção, roteiro, elenco, fotografia, trilha músical e etc.
Um raro caso em que público e crítica estiveram juntos nos elogios à série. E o último episódio ainda “ressuscitou” o velho e esquecido Badfinger com aquele “power pop” típico dos anos 70.
Aliás, a história do Badfinger também dá um outro bom tema para um post.
Pode ter sido uma aula de TV, não de cinema, certo? Sei que BB deve ser demais, todo mundo gosta e elogia. Mas eu simplesmente não suporto ver séries, odeio o “timing” feito pra coincidir com os intervalos comerciais e não gosto de nada que me obrigue a assistir o próximo capítulo. Sei que é um problema meu, mas fazer o quê?
Superar esse problema e assisti-la! Alugue na cineTorrent e forget about those damn commercials…
Vale a pena!!!
Tomara que ele consiga superar, para que tenhamos posts não só sobre essa série como de outras que nem “House of cards”, que é brilhante.
Mad Men é melhor ainda e – HBO – não tem comerciais e aquele “timing” relacionado.
Mad Men é da AMC.
A canção do Badfinger vendeu que nem água depois do final da série.
Breaking Bad é muito bom…. Também não tive paciência de acompanhar pela TV, só agora consegui algumas temporadas (a bagaça é tão bom que assisto 4 ou 5 episódios de uma vez). Estou no episódio 8 da 2ª temporada. Bryan Cranston está demais.
Cinema já era, séries de TV são a bola da vez.
A ultima temporada pra mim é a melhor ! Aguarde por muita coisa boa !
Eu não entendo de cinema, mas o que faz o Ron Howard ser tão ruim?
Acho que o citado: incapacidade de fazer qualquer coisa que fuja do estilo novelão-cinemão.
Também não sou fã do RH, mas Fábrica de Loucuras é um filme bacana e não acho que se encaixa no novelão-cinemão.
Gostaria de ver um filme sobre os anos da rivalidade Senna/ Prost/ Piquet/ Mansel…
Rush é interessante, mas prefiro o documentário do Senna.
Far and Away é legal vai….rsrs.
Putz!…Valeu!
Beans caretaker… caralho!
Caseiro do Rowan Atkinson ou coisa assim?
“Caretaker” é espetacular rs. Lembrei de um professor de inglês que contou ter perguntado ao aluno como responder quando alguém bate à porta, e o aluno: “Hmmm… ‘Between!’?”.
Falando em tradução tosca ontem na “nova” MTV estreou o Beavis and Butthead… quase chorei quando escutei eles dublados.
Dublados?
Dublados… acredita?
Santa tecla “sap”… mas o canal não oferece as legendas.
É a tendência hoje…
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/07/1306760-tv-paga-encara-dublagem-como-recurso-para-cativar-a-classe-c.shtml
… valeria um post, não?
Os primeiros Beavis and Butthead quando ainda passava no Liquid television eram dublados sim. Só depois quando virou série a MTV transmitia com som original.
Lembro destes! Um episódio do balão e outro de um monstertruck… vou chorar aqui de saudade!
Liquid television era muito bom !
André, se você gostou dos personagens é porque os atores pelo menos são bons, correto? Ou são estilo novelão também?
Oi Bia, não achei que os atores atrapalharam não. O cara que faz o Hunt – fez também o Thor – surpreendeu. Mas os diálogos são ruins DEMAIS.
Daniel Brühl foi elogiado pelo próprio Niki Lauda ! Gosto muito desse ator,desde a epoca de Good Bye, Lenin! !
Gostei pra caramba do filme também…me lembrou o documentário do Senna, mas claro, o do Senna é bem melhor, por ter cenas reais.