Sexo, drogas e Duran Duran
08/10/13 07:05A música pop dos anos 80 é sempre lembrada como uma caricatura: cabelos engraçados, canções ruins e roupas esquisitas de cores berrantes.
Mas duas autobiografias lançadas recentemente mostram um lado mais sombrio do pop oitentista. A primeira é “Le Freak”, de Nile Rodgers, livro espetacular que já citei no blog (leia aqui). A segunda é “In The Pleasure Groove – Love, Death & Duran Duran”, de John Taylor.
Filho único e mimado de uma família classe média de Birmingham, o baixista fundou o Duran Duran em 1978/79, inspirado pela elegância do Roxy Music e pelos grooves do Chic.
Desde o início, a banda sabia o caminho do sucesso. Em vez de penar por anos em clubinhos vagabundos, investiu em roupas caras, criou um visual moderno e um som limpo e dançante, na contramão do punk. Um ano depois do primeiro show, já tinha muitos fãs e um contrato com a EMI.
O Duran Duran foi dos primeiros grupos a perceber o potencial da MTV – inaugurada em 1981 – e tratou de investir em videoclipes caros e sofisticados para a época, muitos dirigidos pelo australiano Russell Mulcahy, que depois ficaria famoso pelo filme “Highlander”.
“Videoclipes, para nós, eram tão importantes quanto o estéreo era para o Pink Floyd”, disse o tecladista Nick Rhodes.
O grupo surgiu numa época de mudanças na indústria musical. Em 1979, as gravadoras sofriam com uma grande queda de vendas, causada pela decadência da discoteca e pela segunda crise do petróleo, que encareceu a matéria-prima para fabricação de vinis.
Gravadoras começaram a enxugar seus “casts”, mantendo só artistas com grande potencial de vendas. Foi o início da “Era Michael Jackson” – contratos milionários, investimentos maciços em publicidade e orçamentos ilimitados para videoclipes, discos e turnês. Foi aí que Madonna, Elton John, Bruce Springsteen, Prince, George Michael e outros viraram superastros. Além do Duran Duran, claro.
Foi também uma época de drogas em excesso – especialmente cocaína – e de fãs em histeria beatlemaníaca, amplificada pelo sucesso da MTV e pela superexposição dos astros. O próprio Taylor foi um dos maiores ídolos “teen” dos anos 80. “Logo descobri uma coisa incrível: meninas de todos os idiomas adoravam tomar drogas comigo!”, escreve o músico.
Taylor vivia uma espiral ininterrupta de cocaína, álcool e festas. Toda manhã, o “tour manager” do Duran Duran mandava colocar debaixo da porta do baixista um aviso com informações sobre o que ocorria no mundo real: “HOJE É SEXTA-FEIRA. VOCÊ ESTÁ EM CHICAGO. HOJE À NOITE TEM SHOW. PASSAGEM DE SOM ÀS 4 DA TARDE.”
O livro é muito engraçado. Não sei se foi o próprio Taylor que escreveu ou se teve ajuda de alguém, mas algumas passagens são hilariantes. Numa das melhores, Taylor descreve uma entrevista para a TV em que chegou ao estúdio chapado depois de uma noite farreando com Freddie Mercury e conseguiu insultar toda a população de Birmingham. Para piorar, ainda levou um pito de Bryan Adams no camarim: “John, tem certeza que você está bem?”
Em outro trecho, o baixista dá uma espinafrada em Sting, narrando um show do Police em 1978, abrindo para o Heartbreakers, grupo de Johnny Thunders, ídolo de Taylor.
Sting: Daqui a pouco teremos aqui no palco o Heartbreakers!
Taylor (na platéia): Yeah!!
Sting: Eles não sabem tocar, vocês sabem, né?
Taylor: Vai se f…, seu babaca!
Sting: É verdade. Eles são caras legais, mas não tocam p… nenhuma!
Mesmo que você não seja fã do Duran Duran, vale a pena ler o livro para entender as engrenagens que moveram o pop dos anos 80, época em que a indústria da música fincou os pés, definitivamente, no “material world”.
Falando em livro, que tal fazer como o Ricardo Alexandre e republicar o seu? Paguei caro por um exemplar de “Dias de Luta” da editora DBA, mas no caso do seu o pessoal já tá apelando: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-508526721-barulho-uma-viagem-pelo-underground-do-rock-andre-barcinsk-_JM
Até já liberei PDF de graça do livro pra quem quiser baixar, procura que vc acha.
Já sugeri aqui: um post sobre outros anos 1980 – tony wilson/ madchester
Mudando de assunto, tens lido o fora do beiço? O cara é genial…
Carlos Campos comentou em 30/08/13 at 14:10
(…)
“André, aproveitando o post, deixa eu te cobrar uma coisa: há cerca de um ano meio, dois anos, ainda na plataforma antiga, eu sugeri que você fizesse uma postagem falando sobre as mais importantes gravadoras/selos de rock. Você disse que era uma boa idéia, mas acabou não escrevendo sobre isso”.
Andre Barcinski comentou em 30/08/13 at 15:01
“Farei sim. Vai dar trabalho, mas faço semana que vem, promessa”.
Com o Barça, promessa é dÚvida! HAHAHA!
Foi mal, Carlos, mas esqueci completamente. Vou fazer.
Na boa, foi só pra descontrair mesmo!
fora do tópico: Você viu o novo Costa-Gravas, André? É um projeto de muito risco e ambicioso, mas o velhinho costuma saber dosar as coisas. Se viu, o que achou?
Não consegui, Neder, só daqui a uns dias. É bom assim? Gosto muito dos filmes dele.
Também não vi ainda. Fico com um pé atrás porque desta vez ele está arriscando muito. Mas vou conferir em nome da carreira brilhante do diretor. Se errou a mão agora, octogenário, tá mais que perdoado pelo conjunto da obra.
parece que o diretor tem 18 anos, não 80 – atira pra todo lado, não sei se acerta em alguma coisa.
Muito irregular, ridiculamente esquemático algumas vezes e preciso outras (função da “comunicação social”, por exemplo).
vale o ingresso, de qualquer maneira
Vou ver hoje à noite…
Nossa nem conhecia esse lado junkie do Duran Duran. Barcinski tem alguma biografia sobre o Johnny Thunders?
Abraços!!!
Demais! Mais um pra lista! Barça, semana passada tava rolando no programa de rádio do Ron Wood que passa no BIS, a entrevista dele com a Pattie Boyd. Nossa, fantástica! Acho que foi a melhor que eu vi. A parte em que ele rola Mystifies Me e conta a história de como escreveu a música pra ela e ainda canta olhando nos olhos da loira é de chorar de tão bonito!
Eu vi, Rodrigo, foi demais mesmo. Achei a Pattie super bem humorada. Essa aí tem história, não?
Ô, se tem! Era uma gata e pegou poucos caras, né? Hahaha
Gosto de Duran Duran. Faz uns meses que ainda ganhei de um grande amigo meus dois discos prediletos dos caras: Notorious e Big Thing.
momento vexame, barcinski: eu os entrevistei para a folha em 97 ou 98, em londres, num dia de muito calor e que eu estava passando mal (tinha anemia e minha pressão caiu por causa do calor). passei boa parte da entrevista com medo de desmaiar e acabei acudida por eles, que, naquele momento, lançavam trabalho e diziam que seriam maiores do que foram nos anos 80. na hora de ir embora, chamei o john taylor de simon le bon (que não estava na entrevista) e eles me olharam com cara de ódio. blame it on the blood! bj
Muito boa a história, Denise, imagino a cara do JT ao ser chamado de Simon. Mas o livro é muito divertido, vale a pena até para quem não é fã. Eu não consigo gostar desses new romantics, acho um dos subgêneros mais chatos do pós-punk, mas rolei de rir com as histórias. Beijo.
É muito grande o número de celebridades estrangeiras que contam as podreiras de suas biografias por conta própria. Se isso fosse comum no Brasil certamente surgiria um projeto de lei criando a “proteção da privacidade de terceiros”, medida judicial a ser proposta por fãs idealistas e familiares do autor da autobiografia.
André, assim como a Lady Di vc é fã do Duran Duran ou vc só leu este livro para entender as engrenagens da música pop nos anos 1980????
Não sou fã da banda não, mas a história é muito legal e fala de um período que acho fascinante na música pop, a virada dos 70 pros 80.
Hahaha. Daqui a pouco a biografia não-autorizada do A-ha vai fazer menção ao sexo grupal entre os suecos e a Lady Di.
Off-topic: Dia desses eu vi o Michael Mann sendo citado aqui, e revi “Heat\Fogo contra fogo”. O filme continua muito bom, apesar de quarenta minutos de sequencias desnecessárias e aquela trilha sonora “Steve Vai depois de ser abandonado pela mulher”.
O Al Pacino tá muito bem. Esse momento é impagável:
http://www.youtube.com/watch?v=NOgrLiD4Qo8
Os caras do a-ha são noruegueses, não suecos. E a biografia deles não é muito interessante, mas quem deu uma chance e ouviu as músicas que fizeram, sobretudo pós retorno, na década de 2000, não se arrependeu.
Eu ouço o Duran Duran desde ’81. Mas prefiro o grupo depois de The Wedding. Não dava para levá-los a sério nos oitenta.
Engraçado…estas biografias q o Barça sugere…praticamente em TODAS não há censura, os caras falam TUDO de bom e ruim da vida q eles tiveram. Aí vem estes MALAS da MPB e censuram previamente. Que beleza, né…
Disse tudo: malas. Malas da MPBosta. Estão perdendo público porque quem gosta de embromação musical está morrendo e porque são isso, malas.
Anos 80, musica ruim? Jamé. As melodias que você tem na cabeça ainda são dos 80 ou antes. Dos 90 em diante, só eletrônica (algumas coisas boas) e indie marrento. Alem de “Smells Like…” alguem lembra de algum refrão?
Biografias de bandas de fora devia estar em toda estande de músicos chamados MPB’s.
É uma aula de como ser sinceros nessa vida de excessos e melhor ainda saírem vivos dela.
Esses robertos carlos da vida, e essa gentalha da mpbesinha, deviam ler e muito essas bio, e aprenderem como ser honesto com o seu medíocre público que acha que essas baianada é gênio.
Fico imaginando o tanto de putaria que apareceria numa biografia uncensored desses babacas da MPB que se juntaram em prol da censura. O que deve ter rolado de suruba e drogas nos anos 70 entre Caetano, Gil, Gal, Bethânia (essa com certeza usando cintaralhos de 40 cms), Novos Baianos…
Eu acompanho a banda desde a década de 90, mas minha fase favorita é a de 80. O John sempre foi meu favorito!
Gosto dessas biografias, pois mostra que a carreira musical não é só glamour e dindin.
No mundo do futebol, há uma máxima que diz que o jogador tem que saber deixar o futebol antes que o futebol o deixe. Isso de uma banda voltar depois que se desfez é o pior mal que a própria banda pode fazer pra sua história. E há casos mais escabrosos, como o Queen que teve a sandice de colocar um vocalista no lugar simplesmente do Freddie Mercury. E, me parece, os membros da banda não podem alegar que fizeram isso porque estavam quebrados e precisavam levantar uma graninha pra pagar os credores (rs).
Os Beatles e Pelé são o que são em suas respectivas áreas porque, além da obra genial que deixaram, souberam a hora exata de parar. E tomar essa decisão é, sem dúvida, a mais difícil de todas.
Nunca gostei de Duran Duran musicalmente falando mas sempre via os videos clipes (nisso eles eram bons mesmo) nos tempos de Clip Trip na TV Gazeta.
Tem alguma informação de por onde anda o apresentador Beto Rivera, o primeiro VJ do Brasil ?…
Atualmente ele é superintendente da Rádio Gazeta FM.
Isso me fez lembrar uma frase do Ozzy: “Eu tomei muitas drogas, bebi demais, fui um péssimo pai, uma pessoa maluca e irresponsável… peraí… podia ter sido pior, eu podia ter sido o Sting”.
Falando nisso: Você vai assistir ao Black Sabbath???
Não sei ainda, juro. Vi a primeira das 50 voltas deles, acho que bastou. E sem o Bill Ward é de lascar.
Eu fiquei animado com essa volta por que o disco que lançaram é bom pacas!!!
A formação completa seria o ideal, mas se tem alguém que pode se ausentar é o Bill Ward. Os outros três são imprescindíveis. Mas só veria se fosse em casa de show, sem banda de abertura (apesar de gostar do Megadeth), com relativo conforto (cose di maturità…).
Realmente o Bill Ward é o mais dispensa´vel deles, ainda mais agora que o cara mal consegue ficar em pé sem ajuda.
Por tudo o que você falou acredito que o U2 (e o bom mocismo de Bono) foi a contramão da época. O fato de todos estarem curtindo a vida e aproveitando o mainstream enquanto o líder do U2 ficava papagaiando papo furado para salvar o mundo daria um bom livro chamado “Bono, você é uma mala!”
Já vi uma entrevista do The Edge onde ele lembra da gravação de um clipe, acho que “New Years Day”, no meio da neve, e enquanto eles estavam lá tremendo de frio ele pensava: “Os caras do Duran Duran estão fazendo clipes no praia, o que é que eu tô fazendo aqui?”
*na praia
Mas pra fazer justiça, não foi só ele não. Esse ativismo político era comum nos artistas dos anos 80, é só lembrar de Simple Minds, Tracy Chapman (que era chamada de Tracy Chata), Midnight Oil, etc. Teve aquela turnê dos direitos humanos, a ainda Live Aid, USA for Africa, etc.
Peter Gabriel….
Tenho esse livro mais ainda não… e, sim, foi o próprio John que escreveu… aprendi a tocar baixo com ele e com a Tina Weymouth 🙂
A música “Girl Panic!” de um dos últimos discos deles retrata bem estes excessos, as festinhas pós-shows com muita cocaína e sexo. O vídeo oficial inclusive foi proibido. Vi um show deles ano passado e fora a Fernanda Takai (uma convidada dispensável) o show foi muito bom, com boa performance do John Taylor, para mim, um dos grandes baixistas da música pop.
Muito bom!
Recomendo – de verdade – também a Scar Tissue. Biografia do vocalista do RHCP.
Sexo (muito) drogas (mais ainda) e rock n roll (só um pouquinho…)
Estava sabendo do livro e uma amiga que leu citou justamente esse trecho, do tour manager passar avisos por baixo da porta… Só não entendo como se pode lembrar da década de 80 por “canções ruins”. É possivelmente a última década em que a música pop, no sentido radiofônico, fez algum sentido. Não faltavam grandes músicos e “songwriting” de qualidade. Ou quem são os Durans Durans, Cults, Smiths e Tears For Fears de hoje? Isso só pra citar uns poucos.
Barça, o livro do Rodgers já foi lançado no Brasil varonil??
Acho que não, infelizmente.
Tem alguém que não é fã de Duran Duran?? Hehehehe.
Difícil me lembrar de um clipe deles que não gosto.
“A View to a Kill” e “Rio” são sensacionais.
E essa autobiografia foi liberada pela “cônclave de notáveis” do post anterior?
Assista o clip Girls on Film. Se fosse no Brasil seriam presos a pedido da Liga das Senhoras Católicas.
E o clipe de Planet Earth com Simon LeBon vestido de gaúcho fashion?!?!?! Mas o John Taylor como baixista era bem legal e levava a banda nas costas.
Sensacional, já está na minha lista de compras! Mas o texto de hoje tem uma pequena imprecisão, creio eu: o Elton John já era um superastro desde meados da década de 1970, não?
Eu ia comentar isso também. Sempre achei que o caso do Elton John foi mais ou menos parecido com o do Bowie: nos 80’s tomou um novo fôlego, mas na década anterior já era um artista grande.
Só uma dúvida, Barcinski…vc importa estes livros ou compra formato digital..vou comprar todas as suas sugestões!
Esses dois comprei em ebook. Mais barato e rápido.
Barça, sabe se saiu no Brasil ?
Estou na fase biografias de músicos.
Comprei a do Tony Iommi e a do Ron Wood.
E acabei de ler a do Ozzy, certamente o livro mais engraçado que já li na vida.