Uma banda amaldiçoada pelo próprio nome
17/10/13 07:05Seguindo a recomendação de alguns leitores, vi o documentário “A Band Called Death”, de Mark Christopher e Jeff Howlett, sobre a banda proto-punk Death.
Eu conhecia a história da banda e tinha gostado muito do único LP deles, gravado em 1975 mas lançado só em 2009 pela gravadora Drag City.
O Death é um caso clássico de banda à frente de seu tempo. Formada em 1973 em Detroit por três irmãos negros, David, Danis e Bobby Hackney, fazia um som de garagem muito rápido e pesado, influenciado por Stooges, MC5 e The Who.
O líder do grupo era David, um ótimo guitarrista e autor de letras esotéricas e sombrias. David convenceu os irmãos a batizar a banda de Death (“Morte”). O nome seria, apropriadamente, a sentença de morte da banda.
Todos os selos e produtores que ouviam os irmãos Hackney ficavam impressionados com as músicas e queriam trabalhar com eles, mas o nome era um empecilho. Segundo o filme, o todo-poderoso Clive Davis, dono do selo Arista, queria assinar o grupo, contanto que mudassem de nome. David mandou Clive pastar.
O Death gravou uma fita demo, mas nenhuma gravadora se interessou em lançar o disco. Desapontados, os irmãos prensaram 500 cópias do compacto da faixa “Politicians in My Eyes”. Anos depois, o disquinho virou um caríssimo item de colecionador, quando pesquisadores do punk, como Jello Biafra, do Dead Kennedys, começaram a caçar os compactos em sebos.
No filme, alguns entrevistados – Henry Rollins, Questlove (The Roots) e Jello Biafra – falam da importância histórica do grupo.
Mas alguns depoimentos são, francamente, mentirosos. Questlove diz que o Death deveria ser considerado um pioneiro do punk porque surgiu “dois anos antes dos Ramones”, o que não é verdade.
Os irmãos Hackney já tocavam juntos em 1971, mas faziam funk e soul music, e não punk (Johnny e Joey Ramone também tiveram bandas pré-Ramones). Na verdade, Death e Ramones surgiram quase que simultaneamente, entre o fim de 1973 e o início de 1974. E muita gente já fazia som pesado nessa época.
A história do Death é muito triste. Não vou contar muito para não estragar a surpresa. Assista ao filme, que vale a pena.
Mas tenho uma recomendação: assista aos primeiros 70 minutos e depois desligue. O epílogo, que mostra a ressurreição da banda, é de uma pieguice sem tamanho, que por pouco não estraga o ótimo começo.
O Barcinski, você não vai escrever nada sobre a tunê do Black Sabbath no Brasil?
Não vi os shows, Tiago, infelizmente.
Barça, são tantos os chamados “pais” do punk – precursores, o que seja – que acaba não havendo consenso. Quem você elencaria, Troggs, Pretty Things, Blue Cheer, Seeds, Chocolate Watchband? Outros? Abs.
Trashmen, Sonics, Monks…
Uma banda peruana muito boa chamada Los Saicos também contribuiu para o nascimento do Punk! Eu gostaria de citar também The Fugs.
Boa tarde André, bom o filme, mas gostaria de perguntar sobre o garagem, sou fã do programa de vc’s, é um estilo de programa bem humorado que faz muita falta e precisa acontecer sempre! Abraço!
Só no seu blog mesmo para encontrarmos algo sobre bandas desconhecidas e, ao mesmo tempo, importantes como o Death. Recentemente estava pesquisando sobre o Mummies, outra banda maravilhosamente tresloucada e igualmente desconhecida, não? Como conseguir algum registro em CD dessas bandas? Somente pelo torrent?
The Mummies você acha fácil na Amazon.
Achei que o filme tinha ficado longo demais mas a verdade é que ele fica piegas mesmo na parte final. E o que faz o kid rock ali?
Que coincidência: há coisa de uns quatro dias estava ouvindo o disco desses caras. Muito bons mesmo. Tem uma outra banda com história semelhante com o curioso nome de Black Merda. O som deles é um pouco mais puxado para o soul e o funk, mas os dois álbuns são igualmente bons. Até semana passada eu sempre confundia as duas…
O Black Merda é uma ótima banda, sem dúvida. Eles têm esse nome por causa da sonoridade da palavra merda em inglês, algo como “mârda”, uma corruptela da palavra “murder” em inglês. O nome “normal” seria, portanto, Black Murder.
Black Merda.
Dj Bobo
Acho que daria “um caldo” para um post sobre bandas-ou-artistas-estrangeiros-que-têm-seus-nomes-com-palavras-comuns-à-língua-portuguesa-e-de-preferência-de-duplo-sentido-ou-irônico.
Tivemos um outro Death depois, menos interessante e mais bem sucedido. Este era das hordas do death metal. Curioso como o tempo muda as coisas.
Caraca, que paulada na moleira o som desses caras! Não acredito que eu, que adoro música e me considero conhecedor de rock’n’roll, vivi até hoje sem nunca ter ouvido nenhum som desses caras! Energia bruta, muito bem tocada e com uma ótima letra! Vou procurar já esse filme!
Boa!
André, acho que o pessoal tb ficou com medo do Death, nenhum comentário até agora?????
Mas agora um OT do assunto do momento: seria esse o real motivo da existência do Procure Saber? http://br.noticias.yahoo.com/blogs/blog-ultrapop/procure-saber-saber-o-qu%C3%AA-135511320.html
Li o artigo e também acho que as “possibilidades do audiovisual”, a que Caetano se referiu, é que estão por trás do “Procure Saber”. Acredito que os interesses comerciais, para este grupo, são muito mais importantes do que a liberdade de expressão.
Realmente muito bom. André por acaso você ouviu falar da Judee Sill, se conhece o que acha da historia dela?
Valeu pela dica, Barcinski!
Agora, veja o que fizeram com o perfil da Death na lastfm:
http://www.lastfm.com.br/music/Death/…For+the+Whole+World+To+See
Abraços!
A unica banda que eu conheço por esse nome é de death metal. Alias você bem que poderia escrever também sobre esse estilo, não entendo porque o preconceito.
E o Biafra também está em ótimo depoimento no “Desagradável”, recente doc sobre o GANGRENA GASOSA que segue bem os moldes tradicionais de doc de entrevista, mas é certamente uma história que deve ser contada.
Caraca, que coincidência! Assisti no último sábado à noite! Será que falei dele pra você e não me recordo? Conheci o disco há pouco mais de um ano e pirei demais. Daí soube na semana passada que existia o tal doc, por acaso.
Entendo perfeitamente a ressalva com relação à segunda metade do filme, André, mas eu, particularmente, achei extremamente tocante a cena o pai, do lado da esposa, vendo o filho tocando as músicas do DEATH. Claro, é notória a exacerbação com a história do irmão falecido, mas não sei como é passar por isso e aparentemente ele era o cabeça da coisa toda mesmo.
Só achei que o elenco de entrevistados é pequeno, acho que a produção não conseguiu aliar todos que deveriam. Faltou o pessoal do BAD BRAINS (alguém vestia a camisa deles no doc, não? Não me lembro direito.. era o Vernon Reid mesmo?) e não só o Vernon Reid, mas os outros músicos do LIVING COLOUR também, escolhas óbvias.
Por falar em 3 irmãos, já ouviu falar de Radkey? São 3 irmãos (5,17 e 19 anos), que soltam o braço!!! Olha eles no Johns Holland!!!
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=svy-0phlnBk
Legal, não conhecia essa banda, já estou baixando via torrent.
Falando em documentários, já assistiu sobre o John Lennon, que vai passar na Mostra de cinema de SP:
http://youtu.be/XlpEfoHlF1E
Falando da Mostra, já recomendo um que assisti: Outrage Beyond do Kitano:
http://36.mostra.org/filme/374893/outrage-beyond
Esse documentário sobre o John Lennon é ótimo, recomendo a todos…. mas já passou na mostra há três anos atrás (eu sei porque assisti), já esteve em cartaz nos cinemas, passou na tv por assinatura e foi lançado em DVD.
Ops, *em outros discos.
Grande banda. Imagina o que eles teriam gravado sem outros discos? Ainda não vi o doc, mas vou providenciar. Ah, você assistiu Last Days Here, sobre o cara do Pentagram?
Não vi o filme, vale?
Vale demais. Se assemelha um pouco com a história do Anvil: o Pentagram era uma banda promissora, uma espécie de Black Sabbath com crueza punk. A banda atraiu a atenção do KISS e de produtores famosos, mas o comportamento errático de Bobby Liebling pôs tudo a perder. O filme acompanha a situação lastimável do cinquentão Liebling: viciado em crack e heroína, vivendo no porão da casa dos pais, completamente fudido e cheio de feridas no corpo. A aparência é a de um idoso esquelético de 80 anos. Os problemas de Liebling fazem os do Anvil parecerem coisa pouca: o cara vive à espera da morte e consegue sabotar toda oportunidade para ressuscitar o Pentagram. Não vou contar mais para não estragar, mas é um filme de cortar o coração, emocionante pra cacete.
ontem encontrei o filme sobre o Pentagram, ao acaso. lembrei desse post e vim aqui pra deixar o link.
http://www.youtube.com/watch?v=ETNNpq4qtJc&list=WLB94092FD6B52C6F2
não é um doc sensacional. não vai fundo na história da banda, afinal a trajetória deles é super errática. mas é bacana ver como os envolvidos conseguiram dar um chute na bunda do lunático do Bobby Liebling e fazer com que ele voltasse a ativa. encontrei boas apresentações da banda, super recentes.
Boa!
Se esta banda chama(va) Death… imagino se o Roy Orbison tivesse sido uma banda… seria tipo o Genocide…
Olá Barca, tudo bem? caramba, que descoberta maravilhosa!!!Conheci tantas bandas desse período e não tive acesso a eles.cara, eu estou apaixonado por essa banda. Eu gostaria de saber se esse filme sobre eles está rolando aqui no Brasil? e mais uma vez queria agradecê-lo por apresentar essa preciosidade em seu blog. abs
Pelo jeito o nome é amaldiçoado mesmo… A outra banda “Death” também teve tragédia, a morte do Chuck Schuldiner por cancer no cérebro quando a banda estava começando a decolar, apesar de fazer death metal.
Bandas que polemizam pelo nome tendem a se dar bem em alguns casos, muito legal conhecer essa banda, valeu.
Na década de 80 existiu o Death(Chuck Schuldiner) banda de Death Metal muito boa por sinal.
Cara, que som!!! inacreditável!
A primeira vez que ouvi falar do Death foi em 2010, na MTV, numa daquelas madrugadas de insônia. Bendito seja o sono mal dormido. Saí a caça do álbum e achei sensacional. Além das influências que você citou, os caras também me fazem lembrar (de leve) o Grand Funk (em momentos inspirados), só que com uma pegada bem mais crua.
Quanto ao nome Death, bem, deve ser “amaldiçoado” mesmo, vide o caso daquela banda de metal homônima.
Só por essa música já gostei do som dos caras. Pena que eles não cederam em relação ao nome. Poderiam ter feito sucesso e ter tido mais reconhecimento ao longo dos anos.
André, você conhece o som do Los Saicos? Esses sim verdadeiros precursores do punk. Só não podem ser considerados de fato os inventores porque, infelizmente,ninguém os ouviu fora da terra natal, o Peru, onde gozaram de um bom prestígio. E o disco é de 65, quer dizer, os Beatles mal tinham saído do iê-iê-iê e esses adolescentes retardados de Lima já estavam rasgando os vocais e fazendo barulho. Sensacional!
Conheço, os peruanos pré-punk? Outra história bem legal…
Não conheço,vou ouvir.Fugindo um pouco,você ouviu o novo do Elvis Costelo?_achei brilhante.O do McCartney também parece resgatar parte da velha magia.Gostei de ouvir e perceber o que remete a que.Dois caras que eu não ouço a muito tempo mostrando que são mestres do oficio.
Bom dia, Barça.Irei procurar o documentário mas perigosamente piegas mesmo é o artigo do Chico Buarque no jornal “O Globo”. A resposta escrita e audiovisual do Paulo Cesar Araújo deixou o assunto do artigo do Chico em seu devido lugar. Quanta decepção em relação ao nosso caro tricolor. O horror ! O horror ! Sérgio Buarque de Holanda deve estar envergonhado com a mancada. Um grande abraço.
Vou escrever sobre isso amanhã.
Muito, mas muito bom mesmo!!!