A primeira perda a gente nunca esquece
06/11/13 07:05Qualquer um que tenha filhos pequenos deve se preparar para algumas perguntas que, inevitavelmente, surgirão algum dia.
“Como eu nasci?”, “Por que fulaninho tem pipi e eu não tenho?” e “Como é que eu saí da barriga da mamãe?” são clássicas.
Aqui em casa, a fase de perguntas anatômicas e gestacionais foi logo seguida pela fase existencialista, motivada pela morte de uma bisavó nonagenária que nossa filha mal conheceu.
“Como é que se morre?”, “Pra onde a gente vai depois de morrer?” e “Eu também vou morrer algum dia?” foram algumas das questões.
Falamos a real: “As pessoas nascem, crescem, ficam velhinhas e morrem. Quando elas estão bem velhinhas e muito fraquinhas, o coração para de bater, e a pessoa morre.”
A explicação provocou toda sorte de momentos embaraçosos: era só pintar um idoso na frente, que ela perguntava: “E aquele velhinho ali, vai morrer logo também?”
Até então, essas questões foram conversadas em bases hipotéticas, e não empíricas. E quem nunca experimentou uma perda não pode saber o que ela significa ou como você vai reagir a ela. Só passando pela experiência.
Mas não demorou.
Há algumas semanas, achamos uma vira-lata na rua. Nossa filha se afeiçoou à cachorrinha e decidimos adotá-la. Ganhou o nome de Granola.
Acontece que já temos dois cães, muito maiores que a vira-lata, e eles não a aceitaram de jeito nenhum. No dia em que a levamos para casa, os dois tentaram atacá-la.
Pesquisamos na Internet, lemos bastante sobre o assunto e tentamos de tudo para conseguir que os dois aceitassem a vira-lata. Mas eles são bichos muito fortes e territorialistas, e ficavam furiosos com a presença dela.
Tivemos de isolar a vira-lata em casa. Os dois monstrengos ficavam possessos toda vez que viam nossa filha levando água e ração para ela.
Contratamos até um adestrador profissional para dar um jeito na situação, mas não houve jeito. Se a vira-lata ficasse em casa, os dois iriam machucá-la seriamente.
O passo seguinte foi doloroso: explicar a uma menina de cinco anos por que ela não pode ficar com a cachorrinha que aprendeu a adorar.
Foi um curso-relâmpago de escolha de prioridades, objetivismo e racionalismo: às vezes, as únicas opções são a ruim e a menos ruim.
Optamos pela menos ruim: doar a cachorrinha para alguém que poderia cuidar e garantir a segurança dela melhor que nós.
Foi duro. Levou dias de papo e explicações sobre o significado de “cuidar”.
Será que uma menina tão nova consegue entender que, às vezes, você precisa perder alguma coisa para fazer o que é melhor para ela? A ver.
Em 1994, meu filho virou-se para a nossa vizinha e disse: Você é velha, né?
Ela respondeu: – Sim!
Ele olhou para ela e disse: – Você vai morrer! : )
Ontem mostrei um besouro a meu filho de 4 anos André. Ele foi lá e pisou…
“Como é que eu saí da barriga da mamãe?” É fácil de responder. Difícil é explicar como entrou lá.
Para sua filhota recomendo “Onda” de Suzy Lee. Um livro só de imagens muito bacana.
http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/11215/Onda.aspx
Nós temos, é muito legal.
O coração humano não é racional…. A pequena já passou por tudo isso sem muitas opções…. sE VAI SER FÁCIL PRA ELA, SE APRENDEU, SE ABSORVEU OU SE ISSO VAI CONTINUAR COMO UM ENTRAVE NA VIDA…. SÓ O TEMPO MOSTRARÁ….Cada um e sua alma……
Kisses and Hughes
Belo texto, André! Minha esposa está gravida do nosso(a) primeiro(a) filho(a) e todo dia me preocupo com essas questões. Uma coisa que não sei se devo ou não dizer é sobre a espiritualidade, se fulano “foi pro céu” quando morreu; se eu mesmo tenho tantas dúvidas a respeito…
Saindo do assunto, o que você acha dessa nova geração de humoristas “ativistas do politicamente incorreto”? Seria uma causa legítima, ou pura demagogia? Pode ser até uma sugestão de pauta para um post futuro…
http://m.youtube.com/watch?v=7qNhbsqJgeA&desktop_uri=%2Fwatch%3Fv%3D7qNhbsqJgeA
EU adoro os boxers o meu morreu atropelado qual o problema em comprar outro, tem cada uma….
Sugestão pra lidar com a morte em relação às crianças: sem essa de morreu, virou estrelinha, foi pro céu e está olhando pra gente lá de cima. Seja honesto e direto, morreu e não volta mais. As crianças não são bestas nem de cristal. Elas entendem tudo melhor que os adultos.
Concordo 100%.
Parabéns pela forma como cria seus filhos, acho muito bacana.
Barcinski, estou de volta ao teu blog e aos blogs culturais, educacionais, científicos, etc. Tentei ler notícia sobre política durante um tempo e quase enlouqueci com tanta falta de lógica, fanatismo e cara de pau. Mas sobre o assunto em questão, tive perdas de familiares e duas perdas de animais de estimação. São perdas inevitáveis ao longo da vida. Com jeito, a menina se acostuma como qualquer um de nós. Perdi uma cadela. No meu caso, foi mais tranquilo porque eu tinha duas. Então, uma continua comigo e até se acostumou melhor sozinha do que junto da outra que morreu. Como você tem outros cães, é só fazê-la se apegar aos cães que ajuda.
Caro André,
Tenho um filho da idade de sua filha,realmente as primeiras lições sempre são doídas,tanto pra criança quanto pros pais,mas creio que tomaram a decisão correta.Em tempo viu o tal do Opus 66?
Nossa, ontem eu vi uma das apresentações do genial Louis CK sobre as “perguntas existencialistas” dos pequenos.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=dYt3NCsYLes
Patrulhamento animal detectado – ótimo texto (pra variar), sir Barça – aqui, o primeiro cachorro do meu filho (cachorro comprado, perdão, mundo !) morreu em 2 dias. Foi difícil, muito difícil. Optamos por NÃO reposição imediata, acompanhado da explicação de que não foi um brinquedo que quebrou, mas uma vida que se perdeu. Ano e meio depois (blasfêmia!) compramos outro cachorro. Dois anos e meio de traquinagem, tem valido a pena…
Faria a mesma coisa… A gente tem que dar tempo pro nosso luto, e pro das crianças também. Também não acho uma boa comprar outro bichinho logo após a morte de um.
É cara, tomara que vc não tenha que explicar o caso dos Beagles.
Imagina só?!
Longa vida pra vira-latinha!!
Off do dia:
http://oglobo.globo.com/mundo/maduro-decreta-natal-antecipado-na-venezuela-10678222
Pode isto, Barça?
Cara, num período curtíssimo de tempo, esse cara: Culpou o Homem Aranha pela criminalidade na Venezuela; viu a cara de Hugo Chavez nas obras do metrô; Antecipou o natal; e ontem ele criou o “dia nacional de lealdade e amor a Hugo Chavez”. É caso pra internação. Superou em muito seu antecessor.
E os EUA espionarem todo mundo, ilegalmente, e não acharem nada de relevante? Ao contrário, os malucos continuam explodindo bomba em todo canto…
o mundo está de cabeça pra baixo. Todo o racionalismo que a gente achava que mandava nas coisas sucumbiu.
Pode até não entender agora, mas um dia- creio que não muito longe – vai perceber a beleza do gesto =)
Eu e minha esposa adoramos cachorros, sempre tive e atualmente são dois vira-latas. Por morar em um bairro afastado, é comum encontrar cachorros abandonados que as pessoas levam pra lá quando não querem mais. Não podemos adotar todos infelizmente, mas sempre que possível damos comida e água para aqueles que passam na frente da nossa casa. Fico feliz que você tenha encontrado alguém para cuidar desse cachorro.
aqui em casa outro dia foi ” papai, o peixe que a gente come é peixe de verdade , morto?” Aí levei-o numa peixaria para ver aquele monte de peixe morto…mas ele ainda não aceitou que matamos os peixes para comer, só aceita que “o moço achou o peixe morto e trás ele pra gente”
A pergunta mais difícil que tive que responder até hoje ao meu filho de 8 anos foi “o que é demagogia?” Tentei mil caminhos mas até hoje ele não entendeu e vive me perguntando novamente.
Essa é dura mesmo.
Belo texto, André.
Meu avô morava em sítio e tinha um cachorro que eu amava e que vivia em volta de mim. Na época, eu devia ter entre 4 a 8 anos. Certa vez, ao visitá-lo, acabei descobrindo que o cachorrinho havia sido atropelado. Foi um choque. Acabei até escrevendo uma redação na escola sobre isso. Uma homenagem ao fiel companheiro. Guardo esse texto até hoje.
Eu não guardei nem redação da escola. Agora me arrependo.
Sobre perdas para crianças. Há um livrinho infantil da Cosac. Eu nem ia comprar, achei caríssimo. Mas li ali mesmo na livraria e chorei. Muito melhor que muito livro e filme poraí e não tem mais que 20 páginas. “O Pato, a Morte e a Tulipa”. Já fiz o teste (de surpresa, para desconhecidos) e fiz (ou melhor, o livro fez) outros chorarem. Procure.
Fiquei muito triste no dia que o cachorro do Paulão(Garagem)morreu.
Quando eu era criança, colocava todo cachorro que achava na rua pra dentro de casa e minha mãe esperava eu dar banho e tudo mais neles pra depois devolve-los pra rua hehehe, a maioria vinha com um número significativo de pulgas.
e vale o clichê, como tantos outros na paternidade/maternidade: a gente aprende mais com eles do que eles com a gente em situações assim. bom dia, barcinski!
Prezado André, aqui em casa a primeira perda de nosso filho mais velho, de três anos, ocorreu na última sexta-feira. Nossa cadelinha Westie faleceu, com oito anos de idade. Explicamos que ela estava doente e que agora ela não estava mais sofrendo, mas foi em vão. Todos os dias ele a procura e pede para “o Deus” devolvê-la, chorando. Não tem sido fácil…A propósito, ótima escolha da foto que ilustrou este post.
Não consegui ler o seu texto sem dar um sorriso de felicidade. Explico: apesar de ser seu fã, desde o primeiro Garagem, adorar seus textos e ter comprado TODOS os seus livros, admito que fiquei um pouco decepcionado ao saber que você tinha COMPRADO dois cachorros, em vez de adotar um animal abandonado. Digo isso por que tenho quatro cães de rua em casa e, na medida das minhas possibilidades, procuro ajudar ongs que cuidam de animais abandonados. Ter comprado animais era, por assim dizer, uma certa mancha na sua biografia. Agora ao saber que você tentou adotar, fico mais aliviado. Espero que a nova dona cuide bem da pequena vira-lata. E que a sua filha cresça com saúde e cercada de amor.
Parabéns por tudo, cara.
Xará, na boa, “mancha na biografia”? Por favor, sem lição de moral e superioridade ética, beleza?
Eu estava apenas tentando fazer uma pequena piada com a polêmica das biografias, que tem ocupado tanto espaço no seu blog ultimamente. “Por assim dizer” indica que a expressão não tem um significado literal, ou que será usada por falta de uma mais precisa.
Lamento que você tenha entendido mal, e que tenha, por assim dizer, respondido furiosamente.
“Furiosamente”? Onde vc viu fúria? Estou discutindo com você, não te xingando. E não “entendi mal”. Você deu sua opinião e eu disse que parecia lição de moral. Você tem todo o direito de discordar do que eu acho. Para isso existe a seção de comentários, certo? Abraço.
GENTE CHATA DA PORRA, cuidar da própria vida NUNCA né? TALOCO
Hipster detected.
Não acho que tenha nada a ver com hipsterismo, mas com a incapacidade de deixar as pessoas fazerem o que elas quiserem e uma certa empáfia de suposta superioridade moral. Se eu quis comprar cachorros de tal ou tal raça, que mal há nisso?
Mas é “cultural” Barça, sabe? Por isso [defini?] como hipster. Hoje somos quase que obrigados a pensar, agir e falar como o Caio Ribeiro, senão somos taxados de sei lá o quê… transgressores ou até imorais. E o governo, os políticos… que fazem pelas pessoas certinhas? Nada? Eles são criticados como o infeliz [comentário] fez aqui?
Daí chega um menino – ele é um rockstar, fato – cospe e dá uns “pitis” e vem todo mundo falar que o cara tá errado!
No meu tempo roqueiro não tinha ética, moral e bons costumes.
Desculpe o paralelo mas enfim… hoje em dia tudo tem que ser uma massa amorfa, sem cor e sem graça da imbecilidade hipster da classe média.
Caio Ribeiro!!!! vc acertou em cheio….F de I.. nada mais nojentamente-politicamente correto; nada mais caco-de-vidro (em cima do muro) que Caio Ribeiro. Gostei.
Se Emerson escrevesse seus Ensaios nestes dias, ele repudiaria o Caio Ribeiro, o mestre dos eufemismos…rsrs
Se o facebook for um bom parâmetro para o hipsterismo, eu estou de acordo – isso de pregar que adotar é o mais correto é muito coisa de hipster. “Ser bonzinho” também é uma modinha…rs
Tem um pior na categoria “caco de vidro” (achei ótima!) atualmente: Roberto Carlos.
Procure saber…
André, no universo daqueles que militam ou às vezes simplesmente simpatizam com a “causa” animal, na qualidade de protetores ou financiadores, os criadores são gente da pior espécie e uns exploradores. Conheço e convivo com algumas dessas pessoas. Dessa forma, para eles, quem compra um animal está dando o seu aval para que esse mercado “cruel” continue prosperando. Por motivos de foro íntimo, é importante que se diga, eu e minha esposa adotamos os três cães que fazem parte da nossa família. Convivendo mais de perto com esses protetores desde quando adotamos um filhote (os outros dois foram numa situação semelhante à relatada por você com a Granola), concordo que alguns deles colocam-se numa posição de superioridade moral em relação a quem age diferente e compra animais de raça, por exemplo. Parabéns pelo post! Um abraço!
Pois é, parece que TODO MUNDO que tem canil não presta e que TODO MUNDO que adota animal é um santo.
É o “mal de facebook”. No face todo mundo é defensor dos animais, é contra a falsidade, a favor da ética na política, etc. E todo mundo se acha no direito de criticar o comportamento alheio. Irritante ao extremo.
Junior você resumiu em poucas palavras a mentalidade atual das pessoas, principalmente os dependentes de facebook. Na minha casa não temos cachorros por que não gostamos desse animal. Temos 8 gatos, duas siamesas, uma mestiça de persa e os outros vira-latas. Mas o meu sonho é comprar um Ragdoll ou um Maine Coon. Infelizmente a grana tá curta e ainda não consegui realizar esse desejo. Assim que sobrar uma grana eu compro. Existe atributos em determinados animais que não vejo problema em pagar por eles, problema mesmo é criança na Luz fumando crack. O resto é pessoal…
Caramba, um texto lindo desse e vem gente cagar regra e dar lição de moral.
Como amante de cães de longa data eu era repreendido por me preocupar tanto com cachorros enquanto muitas crianças passam fome.
Hoje tem essa xaropada de “não compre, adote um cachorro”.
Edgar, você não deveria generalizar. Ninguém é “xarope” simplesmente porque acredita ser melhor, por várias razões de natureza íntima, adotar a comprar um animal, e decide expressar isso de alguma forma. Também como amantes de cães de longa data, eu e minha esposa preferimos adotar, porque para nós características físicas não tem nenhuma importância.
E daí que comprou dois cachorros? “Mancha na biografia” foi sacanagem, falta do que implicar.
Agora que o Barcinski tem mancha na biografia, ele vai entrar no Procure Saber, ahahah. Falar nisso, parece que os caras racharam de vez.
Durou muito, até.
nusss..nem fale o quanto e duro..explicar o inexplicavel? pra uma crianca? ate pra nos adultos nao tem explicacao..( musiquinha com Cassia Eller ao fundo)..dificil..
Belo Texto, Barça.
Tive uma experiência parecida com o meu filho. Sempre tivemos animais de estimação em casa e quando o meu filho nasceu já tínhamos dois gatinhos que havíamos adotados a Mika e o Smoo. Meu filho esta com 4 anos e em junho passado nosso gatinho o Smoo, ficou muito doente, o levamos para vários veterinários e descobrimos que ele estava com pedra na vesícula. Optamos pela cirurgia porém após a intervenção quando recebeu alta ele passou muito mal, corremos com ele para a clínica e infelizmente não resistiu. Para nós foi muito difícil, pois como explicar pra ele que o gatinho havia falecido e que tentamos fazer o melhor pra ele, como uma criança entenderia isso, os dois sempre ficavam juntos e o Smoo adorava dormir ao lado dele, em alguns momentos ele chorava e perguntava: Porque o Smoo morreu? Era difícil explicar, mas com o tempo e somente o tempo, as coisas começaram a voltar ao normal.
De vez em quando ele fala do Smoo, mas de uma maneira carinhosa e com saudade, nós adotamos outro gatinho e ele foi junto, não para substituir o que o Smoo representou, mas para ser um novo companheiro dele e da família.
Abrs.