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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Há meio século, um filme levou nossas almas

Por Andre Barcinski
13/11/13 07:05

Imagine que você está em 1963. Você decide ir ao cinema e escolhe um filme brasileiro com um nome chamativo.

Nosso cinema, na época, vivia de comédias e dramas históricos. Ainda não existia o Cinema Novo ou o Cinema Marginal da Boca do Lixo.

Você paga ingresso, entra na sala lotada, e escolhe um lugar.

 


 

A primeira imagem é a de uma bruxa, amaldiçoando os espectadores:

“Se você tem medo de ruas escuras… de andar por cemitérios… então vá embora! Não assista a esse filme!”

Logo depois, surge Josefel Zanatas, um coveiro popularmente conhecido por Zé do Caixão. Sujeito estranho, de capa preta, cartola, e unhas longas.

Pelos 85 minutos seguintes, Zé barbariza: mata o melhor amigo e depois estupra sua mulher; corta os dedos de um coitado com uma garrafa; castiga outro com uma coroa de espinhos retirada de uma imagem de Jesus.

Pìor: Zé blasfema, zomba da religião, come carne na Sexta-Feira Santa enquanto a procissão passa na janela de sua casa. Desafia Deus a enfrentá-lo.

Não dá nem para imaginar o tipo de reação que “À Meia-Noite Levarei Tua Alma” teve em 1963.

Quem presenciou as exibições diz que muita gente queria matar o diretor, José Mojica Marins.

Por outro lado, muita gente gostou. O filme ficou mais de um ano em cartaz em São Paulo.

Se você ainda não viu “À Meia-Noite Levarei Tua Alma”, recomendo. Existe em DVD por aí e passa de vez em quando no Canal Brasil. É o maior exemplo de que é possível fazer um filme popular, baratíssimo e artisticamente relevante.

“À Meia-Noite” é um conto de fadas brejeiro com visual expressionista e um anti-herói nietzschiano como o cinema nunca viu.

É cinema caseiro, feito de improviso e em condições precárias, filmado em 13 dias num estúdio minúsculo em Santa Cecília, São Paulo,com um elenco quase todo de amadores.

Mas quem assiste ao filme sem preconceitos consegue enxergar o talento por trás das dificuldades de produção.

A fotografia e a montagem são primorosas. O roteiro é dinâmico e não deixa a ação diminuir por um minuto. Os cenários, embora paupérrimos, com suas lápides de papelão, dão ao filme um clima gótico-trash-suburbano de arrepiar.

E os efeitos especiais assustam pelo inusitado: para fazer um relâmpago que atinge uma árvore, Mojica desenhou diretamente no negativo; os fantasmas são pessoas filmadas em positivo.

Mojica não usava som direto e dirigia os atores durante as cenas. Isso era necessário para controlar um elenco formado por amadores e alunos de sua escolinha de cinema.

Há uma cena, em especial, que merece ser vista e revista: o primoroso plano-sequência em que Zé do Caixão desafia os mortos a voltar do Além e levar sua alma. É um dos grandes momentos do cinema brasileiro.

Hoje, José Mojica Marins sofre uma maldição: é muito mais conhecido que seus filmes. Todo mundo sabe quem é Zé do Caixão, mas poucos assistiram aos filmes. Está na hora de mudar isso.

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Comentários

  1. Luis Vieira comentou em 18/11/13 at 15:07

    André, onde encontro para comprar o seu livro, em formato eletronico (EPUB), com a biografia do Mojica?

    Já procurei em varios sites de livrarias e só encontrei o livro “fisico”. Ele saiu em formato eletronico?

    Abraços.

  2. Fernando Jorge comentou em 15/11/13 at 9:04

    Como em 1963 “ainda não existia o cinema novo” ??? E Nelson Pereira, Glauber, Cacá Diegues etc ???

    • Andre Barcinski comentou em 15/11/13 at 9:32

      Já respondi, Fernando. A expressão “Cinema Novo” começou a ser utilizada regularmente depois de “Deus e o Diabo”, em 1964.

  3. Ana Maçaneta comentou em 14/11/13 at 5:10

    faz um texto falando do Bom Senso FC e a Rede Globo mandona do campeonato brasileiro

  4. Danilo comentou em 13/11/13 at 17:31

    Já viu esta lista André? http://br.cinema.yahoo.com/noticias/martin-scorsese-elege-onze-filmes-assustadores-cinema-184300681.html
    Muitos destes eu não vi, mas gosto muito de “Os Inocentes”, acho um dos melhores de todos os tempos.

  5. Magno comentou em 13/11/13 at 15:27

    Barcisnki este vídeo homenagem/paródia feito por um fã americano merce ser visto: http://youtu.be/Tclc9Qkjkvc

  6. Don Ramon Valdez comentou em 13/11/13 at 14:02

    Eu mesmo sou um que nunca viu um filme – e eu adoro terror. AB, gosta do “Uma noite alucinante”? Um amigo me emprestou um box com tudo do Sam Raimi. Diversão garantida no feriado.

  7. lucmes comentou em 13/11/13 at 13:15

    A cena que eu mais gosto no cinema do Mojica é a das aranhas sobre o corpo da mulher e ela completamente histérica. Não podia acreditar quando fiquei sabendo que eram aranhas vivas de verdade e a atriz não tinha sido avisada. Antológico.

  8. Carlos B comentou em 13/11/13 at 13:11

    Barcinski, tá rolando uma mostra incrível de Cinema Marginal na Cinemateca Brasileira (Vila Mariana). Entrada franca e alguns filmes com cópia nova. Dia 6/12 tem “O Despertar da Besta” e dia 8/12, o incrível “Profeta da Fome” em que o Mojica tem sua melhor interpretação, fora o Zé do Caixão, é claro!! Filme de cinema. Abraço

    • Andre Barcinski comentou em 13/11/13 at 13:24

      Ótima dica. Ver esses filmes na tela grande não tem preço.

      • Bruno comentou em 14/11/13 at 2:37

        Um pergunta: esse Profeta da Fome foi lançado em algum outro formato que não cinema e tv? Há anos que procuro isso mesmo em torrent e afins, mas nunca consegui achar… imagino que deva passar naquele canal fechado que passava uns filmes nacionais, mas como não tenho tv a cabo…

  9. Carlos B comentou em 13/11/13 at 13:02

    Barcinski, o filme estreou em 1963 ou foi apenas no ano seguinte? Acho que o cine Art Palácio, que hoje apodrece na Av. São João, deveria ser restaurado por alguma empresa exibidora, e reinaugurado com o nome de cine Mojica!! Se não me engano, foi lá que o “À meia noite…” estreou. É isso, mesmo?

    • Andre Barcinski comentou em 13/11/13 at 13:24

      Cara, tô com meus livros encaixotados aqui, não lembro de cabeça a data exata da estreia.

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