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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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A noite em que o povo “pisou” no Congresso

Por Andre Barcinski
17/06/13 22:45

De todas as cenas mostradas na TV na noite de segunda-feira, 17 de junho de 2013, a mais bonita e marcante foi a do povo correndo por cima do teto do Congresso Nacional.

Foi uma imagem carregada de simbolismo: pessoas que não se sentem representadas por quem ocupa aquele prédio, mostrando quem são os verdadeiros donos daquilo. E melhor: sem violência ou depredação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com exceção de algumas imagens feias no Rio, onde uma minoria tentou estragar um protesto pacífico, deu um orgulho danado ser brasileiro nessa segunda-feira à noite.

A desorganização dos protestos – em São Paulo, a multidão se dividiu em duas; em Brasília, ninguém parecia saber o que fazer no teto do Congresso – deixou claro que os atos não estavam sendo “coordenados” com uma agenda pré-definida ou liderados por ninguém. Melhor assim.

O “tema” dos protestos – o aumento das passagens – já ficou para trás. Os 20 centavos no bilhete foram o estopim de algo muito maior. Quem sabe, acordamos hoje para o fato de que nem tudo aqui precisa terminar em pizza.

Era até engraçado ler os cartazes dos manifestantes: uns reclamavam das passagens de ônibus caras, outros da qualidade da educação ou da saúde, muitos protestavam contra a Copa do Mundo e a submissão do Brasil à Fifa. Lembrou um velho quadro do Monty Python, em que protestantes marcavam uma reunião para marcar outra reunião para definir a data da reunião “definitiva”.

Acho normal. Há tanta coisa digna de reclamação no país, que é natural que ninguém saiba ao certo para que lado atirar primeiro.

Além de anunciar o nascimento de uma consciência política e de um senso de civismo que muitos julgavam extinto por aqui, os protestos de hoje serviram a um propósito nobre: tiraram das manchetes a Copa das Confederações, esse evento caça-níqueis e desimportante.

Por mais que o vice-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, tenha tentado diminuir a importância dos atos – “Foram quantos? Mil? Tem 199 milhões trabalhando e esses querendo atrapalhar” – acho que vai ser difícil para a CBF, mesmo com toda sua máquina publicitária, convencer alguém a prestar atenção nesse torneiozinho de araque. “Temos de falar de coisas positivas e fazer a torcida gritar: Brasil, Brasil, Brasil!”, disse Del Nero. O que ele não percebeu é que o povão já está gritando “Brasil”, mas a seu próprio modo.

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Vem aí a "Primavera Brasileira"?

Por Andre Barcinski
17/06/13 07:05

Há algo estranho no ar, e não é spray de pimenta nem gás lacrimogêneo.

É só abrir os jornais ou sites de notícias: passeatas, greves, conflitos com a polícia, balas de borracha, a Petrobrás na berlinda, a Bolsa em queda livre, o lucros das empresas engolidos ela alta do dólar, a presidente sendo vaiada, o governador de São Paulo defendendo a truculência da PM.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Até Felipão, fã de Augusto Pinochet e que acredita que o hino nacional, cantado em coro nos estádios, pode “assustar” adversários da seleção, deu uma cutucada na Copa ao sugerir que o gramado do Corpo de Bombeiros de Brasília estava melhor que o do Estádio Mané Garrincha, “arena” construída ao custo de 1,2 bilhão em verba pública.

O que está havendo? Prenúncio de uma “Primavera Brasileira”? Será que as manifestações contra o aumento dos ônibus e a Copa servirão de estopim para protestos maiores?

É preciso pôr as coisas em perspectiva: apesar de 55% dos paulistanos dizerem ao Datafolha que são a favor das manifestações contra o aumento nas passagens, pouquíssima gente foi às ruas.

No sábado, em Brasília, pouco mais de duas mil pessoas participaram de uma marcha contra a Copa do Mundo, que acabou em confusão. No mesmo dia, cerca de 300 mil assistiram ao show do Asa de Águia, evento público que celebrava a abertura da Copa das Confederações. Por enquanto, o axé ainda tem mais apelo que qualquer protesto.

Um novo ato do Movimento Passe Livre está marcado para hoje à tarde, em São Paulo. Estou curioso para ver o desdobramento dessa história. Acho qualquer protesto válido, contanto que seja pacífico e, de preferência, apartidário.

 

PM precisa esclarecer o caso da viatura quebrada

De todas as imagens dos protestos em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, a mais surpreendente foi a cena em que um policial militar quebra a janela da viatura da própria PM.

 


 

Claro que outras imagens foram muito mais violentas: policiais atirando balas de borracha, jogando gás lacrimogêneo e spray de pimenta; manifestantes apedrejando prédios e ônibus, ateando fogo em objetos e pichando patrimônio público. Mas essas são imagens que, infelizmente, nos acostumamos a ver em manifestações.

Já a cena de um policial quebrando a própria viatura foi uma novidade.

É preciso esclarecer essa cena. Por que o policial agiu dessa forma? O governo do Estado diz que ele estava apenas tirando estilhaços de um vidro já quebrado: “Ele não estava quebrando, na verdade, eles estavam tirando os estilhaços de um vidro já quebrado durante a manifestação. Isso já está esclarecido”, afirmou o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella. Será?

Minha primeira reação, ao ver a cena, foi supor que o policial fez isso para culpar os manifestantes pelo vidro quebrado e, assim, justificar a “reação” da PM.

Não quero julgar ninguém antecipadamente. Acho que o caso precisa ser investigado a fundo. Se for confirmado que o PM quebrou o vidro da viatura para botar a culpa nos manifestantes, a credibilidade da PM, que já está lá embaixo, vai para o buraco de vez.

Não é novidade que nossa PM é mal preparada para lidar com situações desse tipo. Segundo todos os relatos de jornalistas, a manifestação de quinta-feira em São Paulo era ordeira e a ação policial foi desproporcional e truculenta.

Todo mundo sabe também que uma minoria, entre os manifestantes, costuma se aproveitar de protestos pacíficos para incitar a violência.

Mas a falta de preparo da PM pode ser corrigida, com treinamento e uma mudança de postura do comando. Agora, se a polícia destrói seu próprio patrimônio para dizer que foi atacada, o caso é bem mais sério.

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Spock merecia um filme melhor

Por Andre Barcinski
14/06/13 07:05

Não tenho nada contra “Star Trek”. Nada mesmo. Não sou fã da série ou dos filmes, mas entendo o fascínio que Kirk, Spock e a Enterprise causam em multidões. Fui ver “Além da Escuridão – Star Trek” em 3D esperando um filme divertido (leia minha crítica na “Folha” aqui).


Que decepção: dirigido por J.J. Abrams (“Super 8”), é um desses “blockbusters” genéricos, sem nenhum charme ou novidade. Se você substituísse os personagens de “Star Trek” pelos de qualquer outra série de ficção-científica, o resultado seria o mesmo: uma correria desenfreada, explosões e perseguições que mascaram a falta de ideias do roteiro, diálogos obtusos e uma história que não faz o menor sentido.

Personagens aparecem e somem sem explicação, diálogos não levam a lugar algum, fios de trama são abandonados sem a menor cerimônia. Há uma personagem, uma louraça belzebu, que surge de repente e cuja única “função” na história é aparecer de calcinha e sutiã.

Uma das poucas cenas interessantes é cópia da famosa sequência do helicóptero que atira contra a reunião de mafiosos em “O Poderoso Chefão 3”.

Em certa parte do filme, a nave Enterprise precisa ir a um planeta dominado por velhos inimigos, os Klingons. A missão é secreta, porque a tensão entre terráqueos e Klingons é grande e qualquer rusga pode causar uma guerra.

Assim que chegam, Kirk e sua turma arrumam uma briga com vários Klingons, e a chapa esquenta. “Isso vai resultar em guerra”, diz Spock.

Pois bem: é a última menção a Klingons no filme. Depois da briga, os Klingons simplesmente somem da história, sem nenhuma explicação. E a guerra, não ia rolar? Ou não importa mais?

Sei que não dá para exigir bom senso de um filme estrelado por um sujeito de orelhas pontudas, mas qualquer grande história, mesmo a mais fantástica, precisa de um enredo criativo.

Vendo esse “Star Trek” de J.J. Abrams, a impressão é de que a história não interessa mais. Tire os efeitos especiais e o 3D, e o que resta é um fiapo de trama tão ralo que não se sustenta.

Filmes de ficção-científica são faroestes futuristas: bem contra o mal, mocinho contra bandido, honra e lealdade. Não é à toa que George Lucas fez “Guerra nas Estrelas” inspirado em um filme de samurais de Akira Kurosawa, e que Kurosawa era obcecado pelos faroestes de John Ford. No fundo é a mesma coisa, só muda a roupa dos personagens – e o formato de suas orelhas.

P.S.: Caso alguém se interesse, sábado, à meia-noite, estreia no Canal Brasil “Nasi Noite Adentro”, programa que eu dirijo e que mostra o lado “B” da noite paulistana. No primeiro episódio, Nasi entrevista Erasmo Carlos na rua Augusta. Nas próximas semanas, tem um bar de sósias de Raul Seixas, um grupo de anões que se reúne para ir ao samba, e uma festa de burlesco com strips estilo “pin-ups” dos anos 50.

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Por favor, alguém publique este livro!

Por Andre Barcinski
13/06/13 07:05

Um apelo a editoras de todo o Brasil: por favor, alguém faça o favor de publicar “Wired – The Short Life and Fast Times of John Belushi”, de Bob Woodward.

Sei que o livro é antigo, saiu nos anos 80, mas acho que nunca foi publicado no Brasil – não encontrei nem em sebos – e é absolutamente matador.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acabei de ler em inglês, em uma versão de bolso, totalmente amarelada e com a capa caindo aos pedaços. Foram mais de 500 páginas devoradas em três noites. É bom assim.

Para quem não lembra, Bob Woodward é o jornalista que, em parceria com o colega Carl Bernstein, revelou o esquema de espionagem do governo Nixon, deflagrou o escândalo de Watergate, ajudou a derrubar Nixon e relatou tudo em “Todos os Homens do Presidente”.

“Wired” conta a vida curta e trágica do comediante John Belushi (1949-1982), famoso pelo programa “Saturday Night Live” e por filmes como “Clube dos Cafajestes” e “Os Irmãos Cara de Pau”.

O livro já começa a mil por hora. Woodward não perde tempo com digressões à infância de Belushi ou tentativas de explicar, no passado, o comportamento animalesco e autodestrutivo do homem, certamente um dos seres mais alucinados a pisar na Terra.

A narrativa já começa com Belushi na faculdade, tentando um lugar em um famoso grupo teatral de Chicago, o Second City, onde já atuaram talentos como Alan Alda, Joan Rivers, Alan Arkin, John Candy, Bill Murray e Dan Aykroyd, este o grande parceiro de Belushi.

A primeira história do livro dá uma ideia do nível de demência da vida de Belushi: durante a filmagem de “Os Irmãos Cara de Pau”, o diretor John Landis se irrita com a demora do ator em sair do trailer e vai atrás dele. Belushi está um zumbi, não dorme há vários dias e tem uma montanha de cocaína em cima da mesa. Irritado, Landis joga o pó na privada do trailer. Belushi enlouquece e parte para cima do diretor, que não tem alternativa senão acertar um murro no queixo do ator, que cai desacordado. “Merda, acabo de acertar um soco na cara do astro do meu filme!” pensa Landis. E isso é só a sexta página.

As outras quinhentas e tantas são recheadas de histórias semelhantes envolvendo personagens conhecidos do mundo da TV, cinema e rock’n’roll, como Jack Nicholson, Robert De Niro, Tony Curtis, Keith Richards, Ron Wood, Carrie Fisher e Harry Dean Stanton.

Belushi era um ator muito talentoso, mas seu gosto por drogas o matou aos 33 anos, rápido demais até para tornar decadente.

Já li muitas biografias de alucinados, mas não lembro nenhuma tão cheia de casos absurdos. A descrição de uma filmagem em que Belushi ficou acordado por onze dias é memorável.

Fiquei impressionado também com as histórias sobre o ciúme que Belushi e seus companheiros de “Saturday Night Live” tinham de Chevy Chase, o primeiro astro revelado pelo programa, e do clima de “todos contra todos” que havia nos bastidores. Ninguém ali era santo.

O livro também detalha como os estúdios e emissoras de TV, que lucravam fábulas com Belushi, atendiam a todos os desejos do ator e lhe faziam pagamentos em espécie, mesmo sabendo que ele usaria a grana para comprar cocaína. A coisa fica tão feia que, em determinado momento da história, o próprio Belushi contrata os serviços de um ex-agente do Serviço Secreto americano, que fica de babá do ator.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet por boa parte do dia e impossibilitado de moderar os comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço um pouco de paciência. Obrigado.

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Dois músicos geniais em filmes desafinados

Por Andre Barcinski
12/06/13 07:05

Vi dois documentários na TV sobre músicos importantes: o primeiro foi “Michel Petrucciani” (veja horários aqui) sobre o cultuado pianista francês. O segundo foi “Dudamel: El Sonido de Los Niños” (veja aqui), sobre o regente venezuelano Gustavo Dudamel.

O filme de Petrucciani (1962-1999) é bem melhor, embora não empolgue. Difícil pensar em um personagem mais rico e cheio de histórias mirabolantes: nascido com uma doença rara, a osteogênese imperfeita, ou “doença dos ossos de vidro”, que não só prejudica o crescimento, mas torna os ossos do corpo delicados e sujeitos a fraturas, Petrucciani revelou-se um gigante – desculpe, não resisti – do jazz.


O filme traz imagens de arquivo impressionantes do menino tocando aos sete ou oito anos de idade e já assombrando a todos com sua técnica. Mas, para um personagem tão interessante, achei o documentário bem careta. Faltou ousadia.

Petrucciani é mostrado como um sujeito meio arrogante, que desde pequeno aprendeu a ver o mundo como um grande desafio. Está na cara que ele sente prazer ao ver a reação de espanto e curiosidade que causa em plateias.

Os trechos mais interessantes são os que descrevem a maneira inusitada como Petrucciani toca o piano. Por causa de seu tamanho, o músico era obrigado a verdadeiros malabarismos para conseguir cobrir toda a extensão do instrumento, e isso lhe causou imensos problemas físicos.

Em uma cena, o pianista quebra alguns ossos da bacia – ele vivia com fraturas em todo o corpo – e, mesmo contundido, chega ao final do show. Parece que ele sabia que tinha pouco tempo e levava a vida como um kamikaze.

O filme traz depoimentos de amigos, músicos e das várias ex-mulheres – Petrucciani era um amante sempre em busca de novas emoções, que não tinha remorsos em abandonar uma mulher assim que se interessava por outra.

Já o filme sobre Dudamel foi uma decepção completa. Eu estava curioso porque queria saber mais sobre O Sistema (El Sistema), o programa de educação musical criado na Venezuela e que revelou Dudamel, 32, hoje regente da Filarmônica de Los Angeles.


Mas o filme parece um comercial, uma peça de propaganda de Dudamel e de “El Sistema”. É tanto elogio, tanta gente babando, que cansa. Só faltou beatificar o homem.

Uma pena, porque seria interessante descobrir porque O Sistema tem dado tão certo em mais de 80 países. Só na Venezuela, o programa criou 30 orquestras sinfônicas, mais de 120 orquestras jovens, e conta com quase 400 mil alunos em suas escolas.

Vale a pena ver o filme por cenas em que Dudamel aparece ensaiando com algumas das orquestras mais conceituadas do mundo – Berlim, Viena, Nova York – e por depoimentos de gente como o maestro inglês Simon Rattle, regente da Filarmônica de Berlim, que diz que Dudamel pode vir a ser um dos maiores maestros de todos os tempos.

Mas o filme – ou melhor, comercial – se perde num amontoado de clichês. Depois da centésima vez em que uma criança aparece tocando violino e dizendo como O Sistema mudou sua vida, você começa a duvidar.

Numa cena patética e claramente ensaiada, duas gêmeas de sete anos de idade dizem que rock é “feio” e que gostam de música clássica porque quando tocam sentem que “a paz é possível”. Tá bom.

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Mais um “Ramone” que se vai

Por Andre Barcinski
11/06/13 07:05

Quem conhece a história dos Ramones sabe que, além dos “irmãos” que formaram a banda, existiam alguns personagens importantes fora dos palcos e que foram fundamentais na trajetória do grupo.

Um é Monte Melnick, o tour manager que acompanhou o grupo desde sua fundação. Outro é Arturo Vega, um artista que estava com os Ramones desde antes do surgimento do grupo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foi Arturo que desenhou o mitológico logotipo da águia com o bastão de beisebol, uma sátira ao selo oficial da Presidência dos Estados Unidos e que periga ser, junto com a língua dos Rolling Stones, o símbolo mais icônico do rock.

Arturo Vega morreu sábado, em Nova York, aos 65 anos. Não foram revelados detalhes da morte. No livro “An American Band”, de Jim Besserman, Arturo explicou como teve a ideia para o logotipo: “Eu os via como “a” banda americana. Para mim, eles refletiam o caráter americano: uma agressividade inocente, quase infantil. Da primeira vez que fui a Washinton, fiquei impressionado com a atmosfera oficial, e pensei: o Selo da Presidência dos Estados Unidos seria perfeito para os Ramones, com a águia carregando as flechas – para simbolizar força e agressividade que seriam usadas contra quem ousasse nos atacar – e um ramo de oliveira, oferecido a nossos amigos. Mas troquei o ramo de oliveira por uma macieira, já que os Ramones eram americanos como torta de maçã, e já que Johnny era fanático por beisebol, troquei as flechas por um taco.”

Arturo morava em um muquifo no Bowery, em Nova York, quando conheceu Joey e Dee Dee. Ambos moraram uma época no apartamento de Arturo, a passos da casa de shows CBGB’s, onde a banda surgiu.

Por toda a carreira dos Ramones, Arturo foi responsável pela venda de camisetas e merchandising, o que rendeu muito mais que cachê de shows. Era um sujeito divertido e cheio de histórias para contar. E era extremamente fiel à tradição da banda.

Lembro um episódio, já no fim da trajetória do grupo, em que se chegou a cogitar a hipótese de Joey sair e CJ assumir os vocais. Eu morava em Nova York, encontrei Johnny uma vez e ele me disse que apoiaria essa decisão. Dias depois, esbarrei em Arturo numa loja de discos perto de St. Mark’s Place e perguntei sobre as brigas do grupo. Ele disse algo do tipo: “Os Ramones nunca vão se apresentar sem Joey, assim como nunca vão tocar sem Johnny.”

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Guarde seu dinheiro, Tom Zé!

Por Andre Barcinski
10/06/13 07:05

E a briga de Tom Zé contra o “Tribunal do Feicebuqui” terminou de forma melancólica.

Para quem não sabe, tudo começou há três meses, quando o compositor baiano gravou a locução de um comercial de TV de um famoso refrigerante. O anúncio era uma peça ufanista sobre a Copa do Mundo (veja aqui).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nas redes sociais, o pessoal caiu matando em cima de Tom Zé: o acusaram de estar vendido ao capitalismo, ao imperialismo, aos dólares ianques e a todas essas bobajadas que aprendemos matando aula em DCE de faculdades.

Em resposta, Tom Zé criou um disco chamado “Tribunal do Feicebuqui”, com letras que ironizavam a reação dos revoltadinhos de Twitter. Em uma, diz: “Que é que custava morrer de fome só pra fazer música?”.

O episódio rendeu pelo menos uma frase antológica, do músico Lucas Lima, da Família Lima: “O mesmo cara que reclama que o Tom Zé tá ‘se vendendo’ pra Coca-Cola tá baixando música de graça na outra aba do navegador, tá fazendo carteirinha de estudante falsa pra pagar meia-entrada.” Boa, Lucas.

Infelizmente, Tom Zé resolveu se curvar ao tal tribunal, e anunciou que vai doar o cachê – R$ 80 mil – para a Sociedade Lítero-Musical 25 de Dezembro de Irará, sua cidade natal.

Acho que Tom Zé pode fazer o que quiser com o dinheiro. Se quisesse queimá-lo em praça pública, ótimo. Só fico decepcionado que um artista tão combativo tenha se rendido ao patrulhamento virtual. Não esperava isso de Tom Zé.

Foi melancólico ver um artista tão importante quase pedindo desculpas por estar trabalhando e ganhando dinheiro.

Será que o velho brigão tropicalista não percebeu que a rede social é o palanque dos desocupados? Que cinco pessoas, munidas de um computador e todo o tempo livre do mundo, se fazem passar por cinco mil?

Quem acompanha o blog sabe que sou contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. Já reclamei aqui de um comercial de cerveja que chamava os críticos da Copa de “pessimistas”. Mas isso não quer dizer que Tom Zé não tenha o direito de trabalhar para quem ele quiser. A empresa que o pagou é privada e pode gastar o dinheiro dela como bem desejar.

Ao anunciar que não ficará com o dinheiro, Tom Zé, um artista que já sofreu com a censura estatal, passa um recado temeroso: o de que patrulhamentos virtuais funcionam. Triste.

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"O Mágico de Oz" em 3D? Não, obrigado!

Por Andre Barcinski
07/06/13 07:05

Foi o amigo Celso Lima, leitor do blog, que deu o toque: “Viu que vão relançar ‘O Mágico de Oz’ em 3D?” Logo depois, vi a notícia na Folha (leia aqui).

Em setembro de 2014, celebrando os 75 anos do lançamento do filme, a Warner vai relançá-lo nos cinemas IMAX, em 3D. Espero estar a pelo menos cem quilômetros de distância de qualquer cinema que exibir essa monstruosidade.

 


 

É impossível celebrar o passado sem destruí-lo?

A desculpa de que crianças modernas não agüentariam ver um filme tão velho é esfarrapada. “O Mágico de Oz” foi um fracasso de bilheteria em 1939, e só se tornou um clássico amado por gerações depois que foi exibido na TV e em relançamentos nos cinemas, a partir dos anos 50.

Ou seja: quem realmente levantou o filme foram gerações posteriores àquela que o assistiu no lançamento; gerações para quem o filme já era uma “velharia”, mas que não deixaram de se encantar com ele.

Será que os jovens cinéfilos não seriam capazes de se encantar com “O Mágico de Oz” na versão original do filme? Ou precisam de um recurso tão grotesco e intrusivo quanto o 3D? Um pai que gostaria de mostrar o filme original aos filhos, numa sala de cinema, terá essa chance?

Acho que a desfiguração do “Mágico de Oz” tem muito a ver com outra notícia triste que recebemos há pouco: a destruição criminosa da marquise do Maracanã, um patrimônio tombado (veja aqui a excelente reportagem de Gabriela Moreira e Lúcio Castro na ESPN) e que foi posto abaixo em desrespeito à lei, ao bom senso e à memória nacional.

Não será a primeira vez que “O Mágico de Oz” sofrerá transformações: em 1949, quando foi relançado, o filme teve suas sequências iniciais, que originalmente tinham um tom sépia, exibidas em preto e branco; em 1955, chegou aos cinemas uma versão em “widescreen”, formato diferente do original.

Mas nenhuma mudança será tão drástica e desrespeitosa quanto ver Dorothy e O Homem de Lata em 3D.

Sabe o que é pior? Será um estouro. Já vejo as reportagens dizendo que o 3D “apresentou o filme a uma nova geração de fãs”, e todo esse blá-blá-blá plantado por assessorias de imprensa.

Não se trata de ser contra ou a favor do 3D, mas de exigir um mínimo de consideração pelo passado e não tratá-lo como algo que deva ser esquecido e desvirtuado. O que vem depois? Hologramas de pinturas clássicas, para o público que não suporta ficar em pé na frente de um quadro?

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James Taylor: lata d'água na cabeça

Por Andre Barcinski
06/06/13 07:05

Outro dia, escrevi aqui no blog sobre Elton John. Disse que não era grande fã da música de Elton, mas que adorava suas entrevistas e sua história de vida.

Por coincidência, comecei a ler um livro que fala sobre um artista do qual também não sou grande admirador, mas que teve uma vida extraordinária: James Taylor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O livro se chama “Fire and Rain – The Beatles, Simon & Garfunkel, James Taylor, CSNY and the Lost Story of 1970”, de David Browne. Eu já tinha lido “Goodbye 20th Century”, biografia do Sonic Youth que Browne lançou em 2008, e gostei muito. Mas esse livro novo é melhor ainda.

O livro conta a história de um ano – 1970 – e de quatro nomes importantes da música do período: Beatles, Simon & Garfunkel, Crosby, Stills, Nash & Young e James Taylor. Dos quatro, Taylor é o único sobre o qual eu realmente não sabia nada. Quer dizer, sabia muito pouco: que vinha de uma família rica, foi casado com Carly Simon e teve graves problemas com drogas e depressão.

Ainda estou no meio do livro, mas os primeiros capítulos, especialmente sobre a vida de James Taylor, são de arrepiar. A família de Taylor tinha uma antiga história de problemas psiquiátricos. O pai, Isaac, era médico da Marinha e passava longos períodos fora de casa, incluindo uma missão de dois anos na Antártida. James tinha quatro irmãos, todos músicos.

Ainda adolescente, James foi internado em clínicas psiquiátricas para se curar de surtos de depressão. Numa das histórias mais incríveis que já li, ele sofreu uma crise ao ter uma visão de seu ídolo, Ray Charles, internado na mesma clínica. Mas não era uma miragem: Charles realmente estava lá, fazendo tratamento de metadona para combater o vício em heroína.

David Browne relata os problemas que James Taylor teve na gravadora Apple, onde lançou um disco totalmente ignorado, conta o fascínio que James exercia sobre qualquer mulher que passasse em sua frente, e descreve, em detalhes, histórias escabrosas de drogas e porres, algumas culminando em James dormindo no chão do Washington Square Park, em Nova York.

A leitura me lembrou um episódio curioso envolvendo James Taylor. Em janeiro de 1985, Tancredo Neves foi eleito presidente, o primeiro presidente civil desde o golpe de 64. Houve uma grande festa na Cinelândia, no Centro do Rio, onde políticos fizeram discursos e alguns artistas cantaram.

Lembro que Perfeito Fortuna, do Circo Voador, pegou o microfone e, num surto de loucura e irresponsabilidade,  disse à platéia: “Hoje à noite vai ter show no Circo pra comemorar a vitória de Tancredo! É de graça, são todos convidados!” Detalhe: havia umas 50 mil pessoas na Cinelândia, pelo menos 15 vezes a lotação do Circo.

Não lembro como, mas consegui entrar no Circo. O lugar parecia uma lata de sardinhas. E no meio do show, quem sobe ao palco para dar uma canja? James Taylor, que estava se apresentando no Rock in Rio.

Assim que James começou a cantar – acho que foi “You’ve Got a Friend” – um débil-mental lançou uma lata de cerveja no palco. O público inteiro viu a latinha voando, voando, passando por cima do público, até atingir em cheio a testa de James Taylor.

Não lembro exatamente qual foi a reação de Taylor, mas ele tocou a música até o fim e foi aplaudidíssimo.

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Finalmente, fez-se o silêncio...

Por Andre Barcinski
05/06/13 07:05

Boa notícia: o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sancionou um projeto que proíbe o som alto em carros estacionados na rua (leia aqui).

Espero que a moda pegue e prefeitos de todo o país façam o mesmo. Não dá mais para agüentar pessoas que acham que seu gosto musical precisa ser dividido com o resto do planeta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não se trata de preconceito musical. Se alguém tocasse Satie num Passat com a capota aberta – ou num Audi – eu também reclamaria.

Outro dia, estávamos numa lanchonete, quando uma dessas carangas “equipadas” parou em frente ao local e começou a tocar, em volume ensurdecedor, a música “Nóis é Caubói”, da dupla Cezar e Paulinho.

Para quem não conhece a canção, aqui vai um trecho da letra:

Nóis tem currar, nóis tem rancho, nóis nascemo aqui
Nóis tem dois Mitsubishi, nóis tem jet-ski
Nóis tem celular e bip, nóis tem internet
Nóis é rico, nóis é chique, com nóis ninguem se mete
Nóis tem música de viola e nóis tem CD
E nóis tem orgulho de ser macho pra valer

Os donos da caranga, ignorando o bem estar dos outros cidadãos que freqüentavam o local, acharam por bem compartilhar a canção, à força, com todos nós. Rapidamente nos mandamos dali – a letra, afinal, dizia “com nóis ninguém se mete”.

Eu não conhecia a música e me chamou a atenção como ela não parece “representar” – só para usar um verbo tão em voga – o povo interiorano. Pelo contrário: a canção e a atitude dos donos do carro me pareceram o oposto do que se costuma ver no interior do país, onde o povo é bem educado e cordial.

Fiquei muito feliz com a notícia da nova lei paulistana. Só acho que ela deveria ser estendida também a carros em movimento. Somos muito criativos quando o assunto é burlar leis, e logo algum espertalhão iria criar uma festa móvel, em que carros dão a volta no quarteirão seguidos por uma multidão de foliões.

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