Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

Perfil completo

Tchau, Maracanã, foi bom ter te conhecido...

Por Andre Barcinski
04/06/13 07:05

Assisti ao jogo Brasil vs. Inglaterra domingo, pela TV, para ver como estava o “novo” Maracanã. Fiquei muito, mas muito triste. Não era o mesmo lugar que visitei pela primeira vez em 1970, levado – e fotografado, veja abaixo – por meu avô, que na época ainda tentava me convencer a torcer pelo Botafogo (mas eu já tinha dois anos e, felizmente, pressenti que era roubada).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para começar, vi uma torcida calada e comportadinha. Parecia que os torcedores estavam assistindo a um concerto no Municipal, todos constrangidos em falar alto ou parecer deselegantes.

Quando as câmeras mostravam o público, procurei um negro. Não achei. Também não vi sinal dos torcedores folclóricos que sempre habitaram o estádio.

Estou com medo de ir ao “novo” Maracanã. Fui ao último jogo antes do fechamento, Vasco vs. Fluminense, em 2010, e planejo voltar assim que acabar essa presepada dessa Copa das Confederações. Mas tenho quase certeza de que vou me decepcionar.

Não estou fazendo elogio da pobreza. Ninguém é a favor de estádios obsoletos e desconfortáveis. Só acho que é possível conciliar conforto e segurança com um certo respeito às tradições, o que, infelizmente, não aconteceu com o Maracanã.

Aliás, o Maracanã estava longe de ser obsoleto. Para quem tinha medo de machucar seu valioso traseirinho no cimento quente e áspero da velha arquibancada, vale lembrar que o cimento já sumira do estádio há mais de uma década. Desde 2000, o Maraca tinha assentos anatômicos e indolores – ao custo de meio bilhão de reais, mais ou menos.

Agora, gastamos mais 1,2 bilhão, o dobro do que seria honesto gastar em um estádio novo, para transformar um lugar único em uma “arena” banal. Bem disse Thiago Silva ao final do jogo: “Parece coisa de Europa”. Parece mesmo. Só não parece o Maracanã.

Se eu tivesse 1,2 bilhão de reais, gastaria metade construindo um estádio novo na Barra da Tijuca, batizaria o colosso de “Arena Cururu”, poria um Playstation em cada assento e deixaria o Maracanã em paz.

Pensando bem, era só questão de tempo até acabarmos com o Maracanã. O processo de “vipização” de nossas cidades já extinguiu os cinemas de rua, transformou botequins em “espaços gourmet” e embranqueceu os desfiles das escolas de samba. O passo lógico era acabar com o futebol também.

O jogo de domingo teve pouco menos de 60 mil pagantes e uma renda de nove milhões de reais. Dá uma MÉDIA de 150 reais por ingresso. Talvez o Eike possa levar os filhos ao estádio; eu não.

Podem me chamar de saudosista, de apologista da pobreza, não me importo. Mas eu realmente gostava da arquibancada de cimento, gostava de trocar de lado para ver meu time atacando no segundo tempo, gostava de andar pela arquibancada e encontrar os amigos, gostava de entrar naquele túnel estreito e ver, aos poucos, o verde do gramado aparecendo. Principalmente, gostava do eco da marquise do Maracanã. Será que o eco estaria no “padrão FIFA”?

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Enfim, o livro do Lobão

Por Andre Barcinski
03/06/13 07:05

Já vou avisando: esse texto não é sobre o PT, os Tucanos, os Racionais ou lei Rouanet. Não é um texto contra ou a favor de nada. É só um texto sobre o novo livro de Lobão, “Manifesto do Nada na Terra do Nunca”.

É bom deixar isso claro, para que ninguém venha me atirar no esgoto ideológico que vem dominando qualquer conversa sobre o livro e sobre Lobão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aliás, chamar essas discussões de “ideológicas” é errado. Não há nada de ideologia nelas. São discussões partidárias. Um verdadeiro Fla x Flu de intolerância e falta de bom senso, como têm sido a maioria das discussões “políticas” no Brasil nos últimos tempos.

A verdade é que não temos direita ou esquerda. Temos dois grupos de hooligans salivantes, que há muito abandonaram ideologias e abdicaram de qualquer senso ético e respeito aos fatos para se engalfinhar em briguinhas de jardim de infância.

Nossa “direita” é formada, em boa parte, por apologistas da ditadura, que tentam justificar 21 anos de golpe militar com a desculpa fajuta de que ele só estava salvando o Brasil de se tornar um “Cubão”.

Já nossa “esquerda” deixou de lado bandeiras ideológicas para levantar outra bandeira: a do governo. O pessoal acha super Odara dar as mãos a Renan Calheiros, Collor e Sarney, e se comporta como um cãozinho dócil comendo biscoitos na mão do governo. A “esquerda” jovem paulistana, então, é uma fofura só: quando Haddad apaga grafites dos Gêmeos, todo mundo fica na miúda e abana o rabinho; se Kassab tivesse feito o mesmo, haveria alunos da FAAP vestidos de cor-de-rosa se imolando na Praça Roosevelt.

Voltando ao livro: em meio a discussões acaloradas no Twitter, onde pessoas opinam sobre o livro sem o menor indício de tê-lo lido, resolvi andar na contramão dessa turma e li a bagaça de cabo a rabo.

“E aí? Gostou ou não?” é a pergunta que você deve estar se fazendo.

Bom, o livro de Lobão é uma coletânea de pensamentos e ideias dele. Não é exatamente um livro para se gostar ou odiar, mas para concordar ou não. E eu prefiro a turma que não respeita só o que espelha suas próprias opiniões.

Se você acompanha as entrevistas e debates com Lobão, já sabe o que vai encontrar: ele desanca boa parte da MPB, especialmente a ala “combativa” de Gonzaguinha e Chico Buarque; bate no que considera “aparelhamento” do rap e do hip hop pelo Estado, esculhamba o sertanejo universitário, elogia o funk carioca, que considera ainda livre do abraço nefasto da “intelectualidade de esquerda”, reclama do fisiologismo do PT, diz que a Comissão da Verdade deveria investigar não só os abusos cometidos pela ditadura, mas o da esquerda guerrilheira também, incluindo as atividades da presidente Dilma,  bate no sistema de cotas raciais em universidades e questiona o “Manifesto Antropófago” por meio de uma “carta” a seu autor, Oswald de Andrade.

As partes mais divertidas foram as histórias em primeira pessoa, em que Lobão conta casos curiosos de sua vida. Uma delas descreve a metamorfose de amigos que, tendo aula com “professores comunistas”, subitamente abandonaram os discos de Led Zeppelin e Mutantes e apareceram com LPs de Pablo Milanés e Mercedes Sosa. Outro relato engraçado é o da noite em uma casa de shows country, onde Lobão foi investigar o fenômeno do sertanejo universitário e acabou perdido em um salão chamado “John Wayne”. Também ri muito com a história da campanha presidencial de 1989, quando Lobão apoiou o comunista Roberto Freire pensando tratar-se do psiquiatra homônimo.

Um capítulo sobre o patrulhamento da música pop nos anos 70 e 80 é interessante, apesar de conter alguns erros de informação (Guilherme Arantes não ganhou o Festival Shell de 1981, como diz Lobão, mas perdeu para “Purpurina”, o que causou uma das maiores vaias da história do Maracanãzinho, quando Lucinha Lins foi cantar a música vencedora).

Não concordo com o trecho em que Lobão diz que a morte de Julio Barroso, da Gang 90, “acabou com as esperanças em tornar viável uma estética eletrificada, potente e livre de chavões preconcebidos como o da MPB”. Esqueceu o Raul Seixas, Lobão?

Também não dá para concordar – falo por mim – com a opinião de Lobão sobre os militares, que ele vê como uns pobres coitados que “salvaram o Brasil de virar um Cubão”. Ao justificar uma ditadura com a desculpa da ameaça de outra – e ainda se enganando ao dizer que o Brasil viveu “23” anos de ditadura militar – Lobão usa o mesmo argumento dos defensores da ditadura castrista em Cuba.

Se valeu a pena ler o livro? Acho que livros sempre valem a pena. Por mais que você discorde deles, ler é bem mais prazeroso que ficar xingando no Twitter.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

David Foster Wallace e a inveja do tênis

Por Andre Barcinski
31/05/13 07:05

Ano passado, a Companhia das Letras lançou um livro de textos de não-ficção de David Foster Wallace (1962-2008): “Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Que Longe de Tudo”. Se você não leu esse ou “Breves Entrevistas Com Homens Hediondos”, coletânea de contos de Wallace, sugiro correr à livraria mais próxima.

 

 

 

 

 

 

 

 

Dia desses, reli pela enésima vez o texto que fecha o livro de não-ficção, um artigo chamado “Federer como Experiência Religiosa”, em que Wallace relata seu fascínio pelo suíço Roger Federer, considerado por muitos – e pelo próprio Wallace – o maior tenista de todos os tempos.

É um dos artigos mais legais que já li sobre tênis ou qualquer outro esporte. Wallace adorava tênis e narra alguns jogos que viu em torneios profissionais. Fala também das mudanças que o jogo sofreu nos últimos anos, devido ao advento de raquetes modernas de grafite e titânio, que têm acelerado o jogo, e explica por que a experiência de ver um jogo na TV não se compara a vê-lo ao vivo.

O parágrafo que abre o texto é demais:

“Quase todo mundo que ama o tênis e acompanha o circuito masculino na televisão teve, nos últimos anos, o que pode ser denominado de Momentos Federer. São ocasiões em que, assistindo ao jovem suíço jogar, a mandíbula despenca, os olhos saltam para fora e os sons produzidos fazem o cônjuge aparecer na sala para ver se você está passando bem.”

Wallace descreve então um ponto da partida entre Federer e o norte-americano Andre Agassi, pela final do Aberto dos Estados Unidos, em 2005. Achei o ponto no Youtube. Sugiro que você assista ao ponto (começa em 1:57) antes de continuar a leitura.


 

Para quem não acompanha tênis, pode parecer uma jogada normal. Mas a reação do comentarista, o lendário John McEnroe, dá uma ideia do grau de dificuldade do golpe: “Agassi deve estar se perguntando como ele (Federer) acertou o golpe daquela posição (…) Muitos poucos jogadores, talvez só Roger, são capazes de acertar uma jogada assim”, diz McEnroe.

O que impressiona Wallace em Federer é a simplicidade, a maneira como ele transforma jogadas impossíveis em lances “normais”.

Essa jogada é o maior exemplo: Agassi está pressionado e rebate uma bola alta e profunda, na esquerda de Federer, que é destro e está no canto direito da quadra. A jogada de Agassi é puramente defensiva, um artifício destinado a lhe dar tempo para voltar ao centro da quadra e esperar a rebatida de Federer.

Mas o suíço, em vez de virar o corpo para a esquerda e correr de frente em direção à bola, o que o permitiria bater na bola no lado esquerdo do corpo, simplesmente anda para trás, com velocidade espantosa, a tempo de acertar a bola de seu lado direito e marcar um “winner”, uma bola que não permite a devolução do adversário. Uma obra-prima.

Se você tiver tempo, vale a pena procurar no Youtube a íntegra dessa partida, ou pelo menos assistir ao quarto set, que Federer ganhou por 6 a 1 e foi um dos maiores massacres que já ocorreram entre tenistas fora de série.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Liberdade para as caxirolas!

Por Andre Barcinski
29/05/13 07:05

Fiquei revoltado com a proibição da caxirola na Copa das Confederações.

Para quem passou os últimos meses vivendo em Marte e ainda não conhece a beleza, elegância e design revolucionário desse sublime instrumento criado pela mente astuta de Carlinhos Brown, basta dizer que a caxirola simboliza todo o afeto e respeito que os brasileiros estão demonstrando pela Copa do Mundo. Tanto que milhares delas foram pisoteadas e arremessadas no gramado da Fonte Nova pela torcida baiana.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tal manifestação de civismo provocou pânico no COL (Comitê Organizador Local), no governo e na FIFA, entidade que recebeu carta branca do governo para mandar no Brasil até o fim da Copa.

Assustados com a possibilidade de ver os gramados de nossas arenas superfaturadas salpicados de estranhos objetos de plástico verde, os novos síndicos do país proibiram o uso das caxirolas durante a Copa das Confederações, torneio sem a menor importância e que servirá apenas para confirmar o tamanho do ralo em que nosso dinheiro – e não dinheiro privado, como havia sido prometido – desapareceu.

Confesso que fiquei triste com a proibição das caxirolas. Sempre me considerei um liberal, odeio proibições de todo tipo, e não gostaria de ver Carlinhos Brown alçado a mártir da liberdade de expressão (imaginei Brown de violão em punho, cantando “Pra Não Dizer Que Não Falei das Caxirolas”).

Preferiria ver as caxirolas fracassarem por seus próprios deméritos e não por imposições arbitrárias. Sonhava com pilhas de caxirolas encalhadas nas lojas, vendidas como peso de papel ou mordedor para cachorros.

Mas o brasileiro não desiste nunca – só para usar uma frase de efeito bem típica do espírito ufanista que deve contaminar o país nos próximos meses – e, hoje, tivemos uma ótima notícia: a The Marketing Store, empresa que fabrica as caxirolas e espera vender 50 milhões delas a 29,90 reais cada, anunciou que, para tornar a caxirola “ainda mais segura”, vai diminuir o peso do objeto, dos atuais 90 gramas para 78 gramas (leia a matéria completa aqui).

Jogadores, técnicos e todos os aspones, VIPs, pseudocelebridades, ex-BBBs e papagaios de pirata que estarão nos gramados da Copa, respiraram aliviados: com 12 gramas a menos, levar uma caxirolada na cabeça certamente não será tão doloroso.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Não pare de falar, Elton John!

Por Andre Barcinski
29/05/13 07:05

Não sei como demorei três anos para ler esta entrevista. Se você lê inglês, não perca tempo. Se não lê, peça a alguém para traduzir. É sensacional.

Trata-se de uma entrevista que Mick Brown, do jornal “The Telegraph”, fez com Elton John e Leon Russell, em 2010, por ocasião do lançamento do CD “The Union”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Confesso que nunca fui grande fã de Elton John. O que não quer dizer que não reconheça o talento do cara. A música dele, com poucas exceções, nunca mexeu comigo. Mas não conheço ninguém que dê entrevistas tão boas.

Lembro uma entrevista, dez ou quinze anos atrás, para a revista “Uncut’, em que Elton perguntava ao jornalista: “Você acha que alguém vai lembrar de mim por minha música?”.

A entrevista com Brown começa com Elton falando de sua coleção de CDs. Eu não sabia, mas o cantor é um dos maiores colecionadores de discos do planeta. Sua coleção tem 70 mil títulos.

Elton é tão obcecado por discos que, toda segunda-feira, recebe de uma loja a lista dos lançamentos da semana, escolhe os CDs que deseja e compra quatro cópias de cada – uma cópia para cada uma de suas mansões.

Outra informação bacana: em 1992, Elton vendeu sua amada coleção de compactos, que incluía TODOS os 45 rotações lançados na Inglaterra desde 1954, e usou a grana para começar sua fundação contra a Aids.

Eu já tinha lido histórias surreais sobre a obsessão do astro por óculos e chapéus, mas não sabia que se estendia também a discos.

Ri demais com o seguinte parágrafo:

“Ele sempre foi um homem meticuloso. Quando, em 1990, ele e seu parceiro à época, Hugh Williams, iniciaram terapia devido a problemas com álcool e drogas, cada um teve de escrever uma lista dos maiores defeitos do outro. William escreveu: ‘Elton toma drogas, é alcoólatra, é bulímico e tem terríveis surtos de ódio.’ Elton escreveu: ‘Hugh nunca guarda seus CDs direito.’”

Também gostei de saber que Elton não tem iPod, computador ou celular. “Sou a única pessoa que conheço que memoriza números de telefone. Todo mundo põe números na agenda dos celulares. Às vezes me sinto um velho rabugento, mas escolhi não me render a isso.”

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

"Ethel" mostra bastidores da família Kennedy

Por Andre Barcinski
28/05/13 07:05

O canal HBO HD exibe amanhã, às 12h40 (veja aqui a lista de reprises no canal MAX) o documentário “Ethel”, de Rory Kennedy. É um dos filmes mais bonitos e emocionantes que já vi sobre uma família de políticos.

 


 

A Ethel do título é Ethel Skakel Kennedy, viúva do senador Bobby Kennedy. O filme é dirigido por Rory, filha do casal. Rory foi o 11º rebento de Bobby e Ethel, e só nasceu seis meses depois da morte do pai, assassinado no hotel Ambassador, em Los Angeles, em 5 de junho de 1968.

O filme conta a vida de Ethel Skakel e como ela acompanhou as carreiras políticas do marido e do cunhado, John Kennedy.

Filha de um magnata da indústria do carbono, Ethel veio de uma família muito conservadora. O pai era um Republicano ferrenho e demorou a aceitar o romance da filha com um Kennedy.

Ethel estava longe de ser apenas uma decoração, uma esposa calada. Era uma mulher de opiniões fortes e muito carisma, que logo se tornou um trunfo na ascensão política de John e Bobby Kennedy.

O filme tem imagens de arquivo impressionantes. Além de muitos filmes domésticos da família Kennedy, traz cenas marcantes da carreira de Bobby, como sua atuação na comissão que investigava atividades comunistas nos Estados Unidos (Bobby renunciou por não concordar com atitudes do senador Joseph McCarthy, chefe das investigações) e suas discussões com o líder sindical Jimmy Hoffa, durante as investigações sobre corrupção em sindicatos.

A diretora Rory Kennedy mostra habilidade ao equilibrar o lado pessoal e familiar da história de Ethel com uma preocupação em contar a trajetória política do pai e do próprio país.

A vida de Ethel foi marcada por tragédias pessoais. Em 1955, perdeu os pais num acidente de avião; em 1963, perdeu o cunhado, John Kennedy, e, cinco anos depois, o marido, Bobby. Ethel viria a perder também dois filhos, um por overdose de drogas e outro em um acidente de esqui.

Os trechos mais emocionantes do filme, para mim, foram as imagens do caixão de Bobby Kennedy sendo levado de trem para a costa leste dos Estados Unidos. Nunca tinha visto as cenas, que mostram milhares de pessoas – brancas e negras – esperando pela passagem do trem e chorando à beira dos trilhos.

Parte biografia familiar, parte documento sobre uma época crucial na história norte-americana, “Ethel” merece ser visto. Independentemente de sua posição política, não dá para negar que a vida dos Kennedy foi fascinante.

P.S.: Estarei fora até meio-dia e só conseguirei moderar os comentários a partir desse horário. Por favor não me xinguem se o seu comentário demorar a ser publicado.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Por que tantos largam tudo pela Chapada?

Por Andre Barcinski
27/05/13 07:05

Não pode ser apenas a beleza da Chapada Diamantina que faz tanta gente largar tudo e se mudar para lá. O lugar tem um charme inexplicável, que leva muita gente a abandonar empregos e cidades grandes para se tornar cidadão local.

Ficamos uma semana na Chapada e conhecemos pelo menos cinco pessoas que foram visitar o lugar e acabaram ficando.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Encontramos um chefe de almoxarifado de uma empresa de São Paulo que, ao voltar de 30 dias na Chapada e perceber que sua sala de trabalho não tinha sequer uma janela, fez as malas e se mandou para a Bahia. Hoje é guia turístico.

Conhecemos também uma sexagenária violinista russa, tão deslumbrada com a Chapada que decidira se aposentar por lá.

Nossa viagem foi inesquecível. Nos primeiros dias, conhecemos alguns locais mais próximos de Lençóis, como o Poço do Diabo, a Caverna de Lapa Doce e o Lago da Pratinha. Tudo era lindo, mas o excesso de turistas incomodou. Queríamos algo mais isolado e aventureiro. Nos recomendaram o Vale do Pati.

Decidimos fazer um trekking de três dias pelo Vale do Pati. Normalmente, esse passeio leva quatro a cinco dias e percorre 80 km do Vale, mas estávamos com nossa filha de cinco anos e optamos por uma versão mais light: 35 km em três dias. As fotos que ilustram esse texto são nossas.

O Pati é um dos lugares mais bonitos que já conhecemos. Um vale verde, cercado por formações rochosas de paredes quase retas, que lembram fortes. O caminho até lá passa por uma região pedregosa e de vegetação rasteira, cortada por rios de fundo vermelho. De cair o queixo.

Durante o passeio, os visitantes dormem na casa de moradores locais. Ficamos na casa de Seu Wilson e Dona Maria. A casa fica a 14 km da vila mais próxima. Não tem energia elétrica ou sinal de celular. Uma vez por semana, um morador vai de jegue fazer compras de suprimentos. Há quatro anos colocaram placas solares, que garantem a energia necessária para carregar alguns equipamentos elétricos.

O lugar é muito simples: paredes e chão de barro, camas rústicas e nenhum luxo. Mas nunca dormimos e comemos tão bem em nenhum hotel estrelado. Depois de andar por sete horas explorando cachoeiras e cânions, devoramos a comida deliciosa de Dona Maria, feita em forno a lenha. Às oito da noite, todo mundo estava roncando.

Fizemos o passeio com um guia muito atencioso e competente chamado Eric. Na teoria, é proibido fazer passeios na Chapada sem o acompanhamento de um guia profissional, mas encontramos alguns turistas que se arriscavam sozinhos, sempre com resultados desastrosos.

Um deles foi um paulista que se perdeu no Pati quando o GPS deu pau e ficou várias horas vagando no escuro pelo meio do mato, até ser encontrado por um morador local.

Em nosso último dia, quando retornávamos ao local onde o carro da agência nos buscaria, encontramos um casal entrando no Vale. Eles estavam de chinelos de dedo, sem casaco, e carregavam sacos plásticos com cerveja e biscoitos. Quando passaram por nós, perguntaram se era o caminho certo. Já passava de três da tarde. Havíamos levado seis horas para percorrer os 14 km de subidas, descidas e escaladas. Eric disse que, sem nossa filha, teríamos levado cerca de quatro horas. Ou seja: o casal certamente chegaria ao Pati de noite. Devem estar lá até agora.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Jeff Hanneman e a nostalgia do metal

Por Andre Barcinski
13/05/13 07:05

É sempre a mesma coisa: quando morre um músico que marcou sua vida, você tira da estante alguns discos empoeirados e homenageia a figura. Daí para ter flashback proustiano é um pulo.

A morte de Jeff Hanneman, do Slayer, foi um desses acontecimentos. Sacrilégio juntar Slayer e Marcel Proust na mesma frase? Bom, cada um tem o tempo perdido que merece, certo?

 


 

Estava ouvindo o primeiro disco do Slayer e lembrei um vídeo chamado “The Ultimate Revenge Combat Tour Live 85”. O filme reunia três das bandas mais pesadas e extremas do metal oitentista: Slayer, Exodus e Venom. Foi gravado no Studio 54, a famosa discoteca de Nova York, que na época abrigava shows de todos os tipos.

Nunca esqueci duas cenas antológicas do filme: a primeira era a abertura, com uma foto de John Travolta pegando fogo. A segunda era a imagem de um bêbado, perdido em meio aos metaleiros que gritavam na frente do clube (veja em 01:36).

Revendo o filme, lembrei a pobreza que era nossa vida de fã de música na época. Havia pouquíssimos shows internacionais (o Rock in Rio, em janeiro de 85, pareceu uma miragem) e os lançamentos internacionais demoravam meses para chegar.

Sem shows de verdade, nos contentávamos em pagar ingresso para ver vídeos de shows. Cansei de ir ao Circo Voador e ao Roxy Roller, na Lagoa, ver shows em telões. Vi Black Sabbath (com Dio), Van Halen, Judas Priest, UFO,  Iron Maiden. Era o que nos restava.

A coisa era tão triste que o público se comportava como se estivesse vendo as bandas ao vivo. Alguns até pulavam do palco. Isso era realidade virtual!

Tenho um fraco por filmes e documentários sobre metal. Acho engraçada demais a mistura de ingenuidade, testosterona e fanatismo dos “true”. Fiz, aqui no blog, uma lista de meus filmes de metal prediletos (leia aqui).

Para homenagear Jeff Hanneman (e Paul Baloff, do Exodus, que morreu em 2002), vou encomendar o DVD da “Combat Tour” e assistir com meus filhos. Morte aos poseurs.

P.S.: Estarei de férias pelas próximas duas semanas. O blog volta em 27 de maio. Até lá!

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Adeus, Twitter!

Por Andre Barcinski
10/05/13 07:05

Bastaram dois cliques. O primeiro levou a uma página: “Você tem certeza que deseja desativar sua conta de Twitter?” O segundo completou o serviço.

Enfim, livre.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em duas tecladas, sumiram 11586 tweets e 8663 seguidores. Quer dizer, só vão sumir de vez daqui a 30 dias, prazo que o Twitter dá para apagar os dados de ex-usuários.

Comecei a usar o Twitter há pouco mais de dois anos. Sugestão de um amigo: “É uma ótima ferramenta para divulgar seu blog”. E foi mesmo. Também serviu para me atualizar sobre música, cinema e livros.

Mas o bichinho vicia. O mundo dos 140 caracteres é tentador demais. É espaço suficiente para dar o recado com rapidez e sem o mínimo de profundidade, o que, no fim das contas, é a razão de existir das redes sociais: reduzir qualquer assunto a duas frases.

Descobri muita coisa legal no Twitter: pessoas com opiniões interessantes, sites cheios de informação e blogs especializados nos assuntos mais esquisitos. Também descobri que a estupidez, o ressentimento e a mesquinhez não aumentaram nos últimos anos. O que mudou foi que eles agora têm as redes sociais de vitrine.

Um dia, me peguei trocando 20 ou 30 frases sobre um assunto estúpido com uma pessoa mais estúpida que eu.  Quando percebi, 67 minutos de minha vida tinham passado. Diabo, eu poderia estar lendo, jogando botão ou fazendo cooper, mas estava ali, discutindo a rebimboca da parafuseta com uma pessoa que eu nem sei se é de verdade. Tô fora.

Agora que saí, quero dar os parabéns ao tal do Jack Dorsey, criador do Twitter. Gênio. Jack sacou que 140 caracteres era o máximo que uma ideia deveria ter para não correr o risco de se tornar interessante. Boa, Jack.

Se eu tivesse chance de dar uma sugestão a Jack, seria essa: que tal instalar um sistema que, antes de publicar cada tuíte, mostrasse a mensagem: “Você não quer pensar por cinco segundos antes de escrever esta asneira?” Só isso eliminaria 95% do lixo e tornaria desnecessária a função “Block”.

Sempre fui brigão e gostei de discutir. Desde pequeno quis ser jornalista. Não consigo ficar calado quando ouço alguém dizer algo com que não concorde. E o mundo do Twitter é um pântano de areia movediça para pessoas assim: a cada curva, lá vem outra opinião, outra discórdia. E o acúmulo de pequenas e desimportantes discussões não resulta num avanço, mas na paralisia total.

Quando você percebe, está discutindo se o céu é azul e porque o governo não presta, ou tentando explicar para alguém oque “ojeriza” não é elogio.

Então é isso. Adeus, Twitter. Espero os ex-amigos de Twitter aqui no blog. Que também é virtual, mas onde ninguém é limitado a 140 caracteres.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Olha quem está de volta...

Por Andre Barcinski
09/05/13 07:05

Inacreditável. Dezessete anos depois das mortes de PC Farias e da namorada, Suzana Marcolino, começa o julgamento de quatro policiais militares acusados pelos crimes. Dezessete anos para começar um julgamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Suspeito que a grande maioria dos leitores nem sabe quem foi PC Farias. Por alguns anos, ele foi uma presença dominante na política brasileira, primeiro como tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Mello à presidência, em 1989, e depois como pivô dos escândalos de corrupção que levaram ao impeachment de Collor, em 1992.

Em 1989, Collor venceu Lula na corrida presidencial. Collor foi vendido ao povão como um político enérgico e cheio de novas idéias, conhecido por “Caçador de Marajás”.

Nessa época, eu era “foca” da editoria de fotografia de um jornal carioca. Dei muita sorte: numa tarde, o editor virou-se para mim e disse: “Hoje tem o lançamento da candidatura de um tal de Collor, vai lá e fotografa.” Collor era um dos últimos nas pesquisas. A Globo ainda não havia entrado pesadamente na campanha do “Caçador de Marajás”, como faria depois, quando percebeu que Collor era o único que poderia bater Lula e Brizola.

Fotografei o lançamento da campanha de Collor no Rio. Lembro que foi um evento melancólico, com pouca gente e uma ou duas celebridades presentes (precisaria checar nos arquivos do jornal, mas tenho quase certeza de que Claudia Raia estava lá).

Comecei a acompanhar Collor em suas andanças e comícios pelo Rio e pude testemunhar o crescimento impressionante de sua popularidade. A assessora de imprensa da campanha de Collor era a jornalista Belisa Ribeiro (mãe do rapper Gabriel, o Pensador), que eu admirava, na época, por um livro sobre o atentado do Riocentro.

Quem acha que hoje existe polarização política entre tucanos e petistas não tem ideia do que foi a campanha de 1989. Não era incomum ver brigas na rua entre partidários de Collor e de Lula. Uma carreata da campanha de Ronaldo Caiado, candidato ligado à UDR e aos grandes latifundiários, foi recebida a pedras e ovos no Rio.

Na rua, circulavam vários panfletos apócrifos, uns dizendo que Lula iria obrigar todo cidadão a dividir suas casas com integrantes do MST e com extremistas cubanos, outros dizendo que Collor era usuário de cocaína.

Minha impressão sobre a campanha de Collor era que ninguém sabia o que estava fazendo. Os comícios eram uma bagunça, os assessores, uns trapalhões. Nem eles imaginavam que Collor acabaria eleito. Collor vivia gritando com todo mundo, sempre nervoso e paranóico, dando “bananas” para quem o vaiava. Pelo menos rendia grandes fotos, como esta (não achei o crédito, mas acho que é de minha então colega Christina Bocayuva).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O governo Collor foi uma sucessão de trapalhadas. Imagine o elenco de “Zorra Total” no Planato, e você terá uma ideia. Collor vivia se exibindo de jet ski; a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, teve um “affair” tórrido com o então Ministro da Justiça, Bernardo Cabral, e depois contou tudo ao escritor Fernando Sabino no livro “Zélia, Uma Paixão”, que praticamente acabou com a carreira de Sabino.

O ministro do Trabalho e Previdência de Collor era o sindicalista Rogério Magri, que, antes de sair do governo por acusações de corrupção, criou frases memoráveis, como “o salário do trabalhador é imexível” e declarou que cachorros eram seres humanos.

Em dezembro de 1994, cinco anos depois da eleição de Collor, meus caminhos cruzaram de novo com as da família Collor. Eu era correspondente em Nova York , quando o irmão de Fernando, Pedro Collor de Mello, que denunciara o esquema de corrupção chefiado por PC Farias, morreu num hospital nova-iorquino de câncer no cérebro.

Passei semanas acompanhando a família de Pedro no hospital, incluindo sua esposa, Thereza. Foi um capítulo shakespeareano da história brasileira: o sujeito denuncia o próprio irmão, que é tirado da Presidência. Dois anos depois, o acusador morre de um tumor fulminante na cabeça. Não foram poucas as teorias sobre magia negra e feitiçaria.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
Posts anteriores
Posts seguintes
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailandrebarcinski.folha@uol.com.br

Buscar

Busca
  • Recent posts André Barcinski
  1. 1

    Até breve!

  2. 2

    Há meio século, um filme levou nossas almas

  3. 3

    O dia em que o Mudhoney trocou de nome

  4. 4

    Por que não implodir a rodoviária?

  5. 5

    O melhor filme do fim de semana

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 04/07/2010 a 11/02/2012

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).