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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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As tentações do jornalismo Ctrl c + Ctrl v

Por Andre Barcinski
24/04/13 07:05

Costumo receber pedidos de entrevistas de alunos de escolas e universidades. Há alguns meses, fiz duas com o mesmo tema: a carreira de Zé do Caixão.

Sou procurado para falar sobre isso porque escrevi um livro e fiz um filme (ambos em parceria com Ivan Finotti) sobre o Zé.

 

 

 

 

 

 

 

Outro dia, recebi links para os dois trabalhos e percebi que ambos continham os mesmos erros de informação. Na verdade, ambos continham o mesmo parágrafo, que trazia vários erros em datas de lançamento de filmes do cineasta.

Fiz uma busca rápida na Internet e achei a fonte: um blog sobre cinema. Os dois grupos de estudantes haviam copiado o parágrafo inteiro do mesmo blog. E agora, todos – o blog e os dois grupos de alunos – estavam divulgando informações equivocadas.

Está aí o maior perigo da era do jornalismo “Ctrl c + Ctrl V”: a disseminação de informações sem a checagem apropriada.

Comecei a trabalhar em jornais no fim dos anos 80, quando pesquisas em jornais eram feitas no microfilme ou em volumes encadernados de periódicos amarelados. E ninguém pode ter saudade daquela época.

É claro que trabalhar hoje é muito mais fácil e prático. Qualquer informação está acessível em poucos segundos. Mas o trabalho de informar corretamente também se tornou muito mais perigoso e traiçoeiro, por causa da imensa quantidade de mentiras, erros, suposições e boatos que vagam pelo mundo virtual.

Dois exemplos recentes: estou em meio a uma pesquisa sobre música brasileira dos anos 70. Procurei a data de nascimento do músico Robertinho de Recife. A Wikipédia diz que ele nasceu em 1965. Ora, se Robertinho fez parte de bandas de blues nos Estados Unidos no início dos 70, significa que ele tocava com feras em Memphis aos 5 ou 6 anos de idade, o que o tornaria um dos maiores prodígios da história da música.

“Ah, mas a Wikipédia não é confiável”, dirão alguns. E o que é confiável? O site oficial de um artista?

Como explicar então que o site oficial de Jorge Benjor informe que o LP “A Tábua de Esmeralda” foi lançado em 1972, quando o correto é 1974?

Se nem os sites oficiais de artistas trazem informações confiáveis, como saber se uma informação está correta?

O que eu tento fazer – não estou dizendo que é uma regra, é só a minha dica – é ir direto à fonte. Para confirmar a data de nascimento de Robertinho de Recife, por que não ligar para o próprio?

Mas e quando os entrevistados se enganam ou mentem? Não acontece?

Claro que acontece. Fazer pesquisa é igual ao filme “Rashomon”, de Akira Kurosawa: peça a quatro pessoas para contar a mesma história e você terá quatro histórias diferentes.

O segredo é não parar enquanto não tiver esgotado todas as possibilidades de conseguir uma informação válida. É falar com o maior número possível de pessoas, procurar em todos os arquivos e fuçar em todas as coleções. Resumindo: é se esforçar, que é exatamente o que a Internet inspira a não fazer.

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Não perca: TV exibe o pior filme do mundo

Por Andre Barcinski
23/04/13 07:05

A HBO 2 exibe amanhã, às 15h22, “Marina Abramovic – The Artist Is Present”, documentário sobre a cultuada artista performática sérvia. É o pior filme que já vi e absolutamente imperdível (veja outros horários aqui).

“Imperdível” porque acredito que assistir a filmes ruins pode ser didático. Enquanto grandes obras inspiram pelo exemplo, as péssimas o fazem pelo não-exemplo: assista e aprenda como não fazer um filme.

 


 

Brincadeiras à parte, posso dizer que o filme é tão ruim que ficamos até em suspense para ver como terminava. A cada minuto, aumentava a ansiedade aqui em casa: “Não é possível, vai ficar pior ainda?”

Quero deixar uma coisa bem clara: não estou criticando a arte de Marina Abramovic, mas o filme. Confesso que não tenho o menor interesse em “performance art” e vi o filme até para conhecer mais sobre o assunto.

Mas o efeito foi oposto: agora não quero mesmo ouvir falar de nada que se refira a artes performáticas e muito menos a Marina Abramovic.

O filme conta a preparação para uma importante exposição de Abramovic no MoMa, o Museu de Arte Moderna de Nova York. Durante vários meses, a equipe acompanhou a artista e seus incontáveis assistentes.

Na exposição, atores jovens iriam reencenar peças “clássicas” (o termo é da própria Marina) da artista. E ela estrearia uma nova “performance” chamada “A Artista Está Presente”, em que ficaria sentada numa cadeira por três meses, durante o horário de funcionamento do museu, enquanto os visitantes poderiam sentar-se em uma cadeira em frente a ela e ficar olhando para sua cara pelo tempo que quisessem.

O filme é a maior “egotrip” que já vi. Marina Abramovic é uma artista que não fala sobre o mundo, mas sobre como o mundo deve falar sobre ela.

Durante as quase duas horas, a artista é cercada pela mais caricata cambada de puxa-sacos, uma claque que se limita a rir de suas piadas sem graça e achar genial qualquer espirro da iluminada.

Marina não consegue falar nada interessante, apenas platitudes sobre ela mesma, mas ditas com a pompa de quem está prestes a revelar um segredo milenar. Quando alguém avisa que a exposição já chegou a 750 mil visitantes, ela diz: “Mas é quase um milhão!”

O filme não consegue explicar por que Marina Abramovic é tão importante. Há imagens de arquivo de performances antigas em que ela e o então marido, Ulay, dão tabefes na cara um do outro por 14 horas e jejuam por 15 dias em uma mesa de jantar, mas não há uma contextualização que ajude o espectador a entender por que aquilo é tão bom.

Em determinado momento, Marina critica o culto a celebridades no mundo das artes, sem perceber que sua fama, pelo menos a mostrada no filme, se baseia justamente num hype sem vergonha. Para realçar, o documentário mostra astros hollywoodianos como James Franco e Orlando Bloom esperando na fila para poder sentar na frente de Marina por dois minutos. “Eu senti uma conexão profunda com Marina”, diz James Franco. Tá legal.

O filme me lembrou outro exercício ególatra, “Lixo Extraordinário”, supostamente um documentário sobre catadores de lixo no Rio de Janeiro, mas que na verdade é um comercial da bondade do artista plástico Vik Muniz, mostrado como um anjo que desce dos céus para salvar os coitadinhos. Também merece ser visto.

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Então esta é a tal “liberdade de informação”?

Por Andre Barcinski
22/04/13 07:05

Semana passada indiquei aqui no blog o livro “The Soundtrack of My Life”, autobiografia de Clive Davis, um dos executivos mais influentes e polêmicos da música pop.

Um dos primeiros comentários que recebi, poucos minutos depois de o texto ser publicado, trazia um link para que todos pudessem baixar o livro sem pagar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Esta ideia de que tudo é de graça já encheu a paciência. Será que as pessoas têm tanto desprezo por livros que se acham no direito divino de usufruir deles sem pagar?

Escrever sobre esse tema é mexer em vespeiro. Já sei os tipos de comentários que receberei. Boa parte será ao estilo “Robin Hood de laptop”, defendendo a “liberdade de informação” e tachando de “reacionário” qualquer um que tenha opinião diferente.

Outra parte usará o método de intimidação mais comum nas redes sociais, a desqualificação do debatedor: “Olha quem está falando, até parece que ele não baixa nada da Internet…”

Para início de conversa: baixo, sim, muita coisa de graça da Internet. Mas tento usar o bom senso: baixo filmes que não estão disponíveis no Brasil (especialmente documentários, cada vez mais raros por aqui) e discos de bandas novas que me interessam.  E se gosto das bandas, geralmente compro o disco. Posso dizer que nunca comprei tantos discos, filmes e livros e assinei tantas revistas e jornais quanto nos últimos anos.

Já prevejo a réplica: “Quero ver se você liberaria um livro seu…”

Respondo: liberaria sim, dependendo das circunstâncias. Há alguns meses, um leitor escreveu dizendo que não estava encontrando meu livro “Barulho”, que publiquei em 1992. Outro leitor disse que tinha o livro em pdf e perguntou se poderia disponibilizá-lo na rede. Ora, o livro está fora de catálogo e a editora que o publicou nem existe mais. Por que diabos eu seria contra liberá-lo de graça, se isso não vai acarretar prejuízos para a editora que me contratou? Claro que liberei.

Espero receber também vários comentários furibundos me acusando de ser contra a “democratização” da Internet. A esses reclamantes, adianto: acho perfeitamente possível respeitar o direito autoral e defender o direito de todos a uma Internet acessível e de qualidade. Não são coisas excludentes.

Acho que o autor deve ser livre para decidir como sua obra, seja livro, disco, artigo ou filme,  é veiculada. O Radiohead quer vender um CD no esquema “pague quanto acha que vale”? Ótimo. Uma banda quer disponibilizar todos seus discos de graça? Ótimo também.

Vale lembrar que na época em que existia indústria do disco, artistas faziam shows para vender discos, e hoje fazem discos para vender shows. O que explica, em parte, a inflação no preço de shows nos últimos 10 ou 15 anos.

O problema é que nos acostumamos à ideia de que ideias não valem nada. Pagar para ler qualquer coisa é considerado “injusto”. Mas na hora em que alguém explode duas bombas em Boston, onde buscamos informação? No blog de um desses Robin Hoods virtuais ou na CNN?

No documentário “Page One”, sobre o jornal “The New York Times”, há uma cena marcante: David Carr, colunista do jornal, participa de um debate sobre a crise no jornalismo. Um dos debatedores defende a tese de que jornais são “obsoletos” porque todas as informações podem ser encontradas em sites de busca. Para provar, exibe uma folha impressa com a página principal de um desses sites, que traz dezenas de notícias.

Carr pede um intervalo de alguns minutos para continuar o debate. Quando a conversa é reiniciada, ele mostra a mesma folha impressa com a “homepage” do site de notícias, inteiramente recortada e sem conteúdo algum. “Cortei todas as reportagens que foram tiradas de jornais ‘obsoletos’. Como se vê, não sobra muita coisa.”

Para resumir: “agregar” conteúdo é diferente de “produzir” conteúdo.

Em janeiro, o franco-norte-americano André Schiffrin foi ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura. Schiffrin é chefe da The New Press, uma editora sem fins lucrativos e mantida por fundações, que publica livros de qualidade que não encontram espaço num mercado que privilegia “best-sellers”.

Na entrevista, Schiffrin falou das propostas que existem para que sites de buscas, como o Google, comecem a pagar pelo uso de conteúdo. Na Alemanha, o governo aprovou uma lei que permite a editoras cobrarem de sites de buscas e outros “agregadores online” (leia mais aqui). O Google, claro, é contra, e começou uma campanha chamada “Defenda Sua Internet”, dizendo que a lei “vai dificultar o fluxo livre de informações”. Só para lembrar: o Google vale 250 bilhões de dólares. Não é uma ONG.

Enquanto legisladores e o Google não chegam a um acordo, os Robin Hoods continuam a roubar dos ricos para dar aos mais ricos ainda. No caso do Brasil, com um agravante: frequentemente usam dinheiro público para organizar debates e eventos para defender que tudo seja de graça. O que está errado nesta equação?

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O canto do cisne de John Huston

Por Andre Barcinski
19/04/13 07:05

Em 1981, John Huston tinha 75 anos e lançou o filme “Fuga para a Vitória”, em que Sylvester Stallone e Pelé comandavam um time de presos de um campo de concentração que vencia um poderoso esquadrão formado por oficiais nazistas. Eu tinha 13 anos e lembro que morri de rir com o abacaxi, especialmente com uma cena em câmera lenta que mostrava um drible circense executado pelo argentino Ardilles.

No ano seguinte, Huston lançou o filme infantil “Annie”, outra bomba. Será que o diretor de “O Falcão Maltês”, “O Tesouro de Sierra Madre”, “Uma Aventura na África” e “The Misfits” terminaria a carreira dirigindo Pelé e Stallone?

Felizmente, Huston tomou jeito, e seus três últimos filmes foram sensacionais: “À Sombra do Vulcão” (1984), “A Honra do Poderoso Prizzi” (1985) e “Os Vivos e os Mortos” (1987).

Hoje, 22h, o Telecine Cult exibe “A Honra do Poderoso Prizzi”. E já sei o que vai acontecer aqui em casa: vamos começar a revê-lo pela enésima vez, “só uns cinco minutinhos…” só para desligar só 130 minutos depois, com os créditos rolando na tela.

 


 

O filme é uma comédia de humor negro sobre gângsteres. A melhor definição foi da crítica Pauline Kael: “é uma mistura de ‘O Poderoso Chefão’ e ‘Os Monstros’.”

Jack Nicholson faz Charlie Partana, matador profissional que trabalha para uma poderosa família de mafiosos. Charlie se apaixona pela fogosa Irene Waker (Kathleen Turner), outra matadora de aluguel. Só que Charlie recebe a missão de matar Irene, enquanto ela é incumbida de dar cabo de Charlie.

Não tenho dúvida de que os Irmãos Coen viram muito esse filme antes de fazer “Fargo”, outra comédia negra sobre crimes e criminosos.

“Prizzi” tem um elenco sensacional. Anjelica Huston ganhou um Oscar pelo filme. E a turma de “mafiosos” que Huston juntou é inigualável: William Hickey, Robert Loggia, Laurence Tierney… Jack Nicholson está impagável.

Bem que alguma emissora poderia fazer uma sessão tripla com os últimos filmes de John Huston. Faz anos que não vejo “À Sombra do Vulcão” e “Os Vivos e os Mortos” na TV. Quem se habilita?

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Confidências do Midas da música pop

Por Andre Barcinski
18/04/13 07:05

Em tempos de música de graça e MP3, ler a autobiografia de Clive Davis é mergulhar numa era extinta, em que poderosos titãs da indústria da música dominavam a Terra. Se a época de Clive era melhor ou pior que hoje, não sei, mas certamente foi um período muito interessante.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O livro chama  The Soundtrack of My Life”, foi escrito em parceria com o jornalista Anthny De Curtis, e é leitura obrigatória para quem quiser conhecer mais sobre a indústria musical dos últimos 50 anos.

Clive Davis foi um dos mais influentes e importantes executivos da música pop. Foi presidente das gravadoras Columbia, Arista e J Records. Trabalhou com Bob Dylan, Janis Joplin, Santana, Bruce Springsteen, Chicago, Grateful Dead, Simon & Garfunkel, Aretha Franklin, Patti Smith e Alicia Keys, entre centenas de outros artistas. Fundou a gravadora LaFace, casa de Usher, Outkast e Toni Braxton e a Bad Boy, casa de Puffy Combs e Notorious B.I.G.

Foi Clive Davis que descobriu uma menina de 19 anos, que se tornaria a cantora de maior sucesso comercial da história: Whitney Houston.

A carreira de Davis também teve seus percalços: ele foi despedido da Columbia Records por suspeita – nunca provada – de ter fraudado a empresa. E era presidente da Arista quando um de seus contratados, a dupla Milli Vanilli, teve de devolver os Grammys que ganhou depois que foi revelado que eles não haviam cantado no disco.

Não leia o livro esperando revelações de bastidores ou histórias de sexo, drogas e rock’n’roll; Clive Davis é respeitoso até demais com os artistas e sempre foi um homem da indústria, capaz de guardar segredos e usá-los quando necessário.

O divertido é ler Clive contando histórias sobre a contratação de Janis Joplin (que sugeriu transar com Clive no escritório da gravadora, para comemorar), ou sobre a insegurança de Bob Dylan com os rumos da própria carreira.

Um dos capítulos mais interessantes é sobre Whitney Houston. Davis rejeita a tese de que teria controlado a carreira de Whitney nos mínimos detalhes. Diz que ela era uma grande artista e dona de seu destino. Mas acaba se traindo ao reproduzir uma longa carta que enviou a Whitney, depois de um de seus primeiros shows, em que “sugere” mudanças no repertório e até na forma com que a cantora se dirige ao público.

Outro trecho de destaque narra a ressurreição da carreira de Santana, com o disco “Supernatural”. E a maior surpresa do livro foi a revelação da bissexualidade de Davis, que em 2004, aos 72 anos, resolveu assumir um relacionamento com outro homem.

“The Soundtrack of My Life” ainda não saiu no Brasil, e espero que não demore. Mesmo que o livro adoce a realidade para tornar Davis um sujeito muito mais simpático e justo do que outros relatos fazem supor, é um registro importante sobre um titã da indústria da música.

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Já ouviu Thee Oh Sees? Está esperando o quê?

Por Andre Barcinski
17/04/13 07:05

Minha “nova” banda favorita existe há pelo menos dez anos.

Ok, não me xinguem, só comecei a ouvir Thee Oh Sees há pouco tempo. Muita coisa na fila para ouvir, pouco tempo livre, muitas dicas de amigos e leitores, e o grupo passou batido.

 


 

Por sorte, resolvi dar uma ouvida com mais calma. Isso foi há um mês. Desde então, os sete últimos CDs do Thee Oh Sees estão em altíssima rotação aqui em casa. E a coisa está chegando às raias da obsessão (quando você para de ouvir o novo do Bowie e guarda para mais tarde o último do Flaming Lips, sabe que a coisa é séria).

Thee Oh Sees vêm de São Francisco, devem ter passado boa parte da vida ouvindo Gun Club, Birthday Party e Cramps, e fazem o som mais empolgante que ouvi nos últimos tempos.

 


 

Gosto de tudo na banda: o minimalismo lo-fi à Gories e Mummies, a psicodelia pantanosa à Cramps e Gallon Drunk, as guitarras surf à Man or Astro-Man?, o pé na lisergia sessentista à Brian Jonestown Massacre, a pegada pop dos vocais, a influência dos girl groups de Phil Spector, uma certa ambientação cabulosa nas músicas mais lentas, um pouco de eletrônica old school.

Nem tudo é caos no mundo do Thee Oh Sees. Os caras também fazem umas músicas mais lentas, têm senso de humor e, aparentemente, gostam de um cinema B. Esse clipe da faixa “Minotaur” fez sucesso até com as crianças aqui em casa. Aproveite…

 


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O império das babás

Por Andre Barcinski
16/04/13 07:05

Costumamos frequentar uma praia perto de casa. É uma praia pequena e nunca fica cheia. Tem um quiosque com ótimos frutos do mar e que não tem som ambiente. Perfeita.

Na praia, há um pequeno condomínio de quatro casas, que o dono aluga para fins de semana e feriados. Dia desses, um grupo de cinco ou seis famílias alugou todas as casas.

Eram famílias jovens. Os pais deviam ter por volta de 30 anos. Todas as famílias trouxeram os filhos. Além das crianças, trouxeram também um batalhão de babás. Contamos oito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A cena chegava a ser cômica: de um lado, os pais tomando cerveja na praia. A alguns metros, os filhos brincando com as babás, todas vestidas de branco. De vez em quando, um pai se dignava a ir lá, pegar o filhão e tirar uma foto, para logo depois voltar ao papo com os amigos.

Dali a pouco, chega um barco, que eles haviam alugado para um passeio. Todas as crianças foram levadas até uma pequena piscina dentro do condomínio. Ouvi uma mãe comentando com outra: “Se o Fefê vê a gente saindo, abre o berreiro!” Os pais saíram para o passeio de barco, deixando as crianças numa piscina minúscula, atendidas por oito babás.

Essas coisas nunca deixam de me surpreender. Será que os filhos não gostariam de passear de barco? Visitar ilhas? Mergulhar? Um pai não acha divertido fazer isso acompanhado dos filhos?

Também entendo que babás sejam necessárias, especialmente para casais que trabalham fora. Não é só herança cultural e social brasileira, mas resultado também de nossa legislação.

Dia desses, um casal de amigos alemães contou que cada um teve um ano de licença remunerada do emprego quando nasceu o filho. Além disso, a escola da criança era em período integral e os horários casavam com os horários de trabalho deles. Ou seja: eles podiam levar e buscar a criança na escola. No Brasil, o pai tem uma semana de licença-paternidade e a mãe tem de quatro a seis meses.

Independentemente das leis, acho impressionante como as pessoas usam babás como “muletas”. Parece que não conseguem viver sem elas. Tudo bem usar os serviços de profissionais durante a semana, mas num sábado de sol? Na praia?

Quantas vezes não fomos tomar café numa padaria, num domingo de manhã, e vimos mães jovens falando ao celular enquanto a babá passa manteiga no pãozinho da criança? Ou babás levando crianças ao teatro enquanto o pai compra um tênis novo no shopping? Dá para imaginar que tipo de cidadão está nascendo desse distanciamento?

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E não é que Phil Spector desafinou?

Por Andre Barcinski
15/04/13 07:05

A expectativa era grande: um filme sobre Phil Spector, estrelado por Al Pacino e escrito e dirigido por David Mamet. Foi exibido pela HBO sábado e será reprisado diversas vezes nas próximas semanas.

Mas que decepção: o que poderia ter sido um mergulho na mente atormentada de um dos maiores gênios do pop virou um telefilme policial de quinta categoria.

 


 

Se você não conhece Phil Spector, leia este texto, que fiz há alguns meses.

No filme, Al Pacino interpreta Spector e Helen Mirren (“A Rainha”) faz Linda Kenney Baden, a advogada que o defende.

O destino de Spector não é segredo: ele foi condenado a um mínimo de 19 anos de cadeia pelo assassinato de Lana Clarkson, uma garçonete. Spector levou Lana para seu “castelo” e a matou com um tiro.

Se o fim da história já é sabido, por que David Mamet resolveu fazer um filme “de tribunal”, tentando criar suspense? Não teria sido mais desafiador e bacana tentar explicar o que levou Spector a ser o que é?

A vida de Phil Spector foi marcada por extremos: no campo profissional, só triunfos: nenhum produtor da história da música pop chegou perto da sua genialidade e inventividade. No campo pessoal e afetivo, sua vida foi uma sucessão de tragédias: o pai cometeu suicídio em 1949, quando Phil tinha 10 anos. Seu casamento com Ronnie Spector terminou em brigas e processos. Phil virou um recluso, morando num castelo em Los Angeles e colecionando armas.

Tudo isso é dito em “Phil Spector”, mas não explorado. Há UMA recriação de uma cena do passado de Spector, a famosa história em que ele deu um tiro no teto do estúdio, para chamar a atenção dos músicos.

Ninguém estava esperando um documentário sobre Spector. Este já existe e é muito bom: “The Agony and Ecstasy of Phil Spector” (2009), de Vikram Jayanti. Mas David Mamet bem que poderia ter tentado explorar a psique de Phil Spector, em vez de ficar falando de provas, sangue e balística. Isso já foi decidido. O que ninguém consegue explicar até hoje é de onde veio Phil Spector.

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Mário Sérgio e Roger: o corporativismo entra em campo

Por Andre Barcinski
12/04/13 07:05

Não é segredo que o jornalismo esportivo sofre demais com o corporativismo de boa parte da mídia. Mas dois exemplos recentes mostram como o problema chegou a um estágio tão arraigado que muita gente está vendo o corporativismo como uma coisa “normal”.

Há alguns dias, num debate no canal Fox Sports, Mário Sérgio se irritou quando seu colega Rodrigo Bueno criticou o nível dos técnicos do futebol brasileiro. Sacando o velho argumento de que “você nunca foi técnico”, Mário Sérgio, ex-jogador e ex-técnico, tentou desqualificar a opinião de Bueno. Veja aí:

 


 

Anteontem, o UOL trouxe uma reportagem sobre o comentarista (e ex-jogador) Roger Flores, que estaria irritando jogadores com seus comentários ácidos (leia aqui). Sobre o volante Edinho, do Fluminense, Roger disse: “Ele precisa de um 38 pra dominar uma bola”. Enquanto torcedor do Fluminense, não só concordo com Roger, como o aplaudo. Confesso que já xinguei muito Roger na arquibancada, mas gosto demais de seu trabalho de comentarista.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os comentários de Roger não caíram bem entre os boleiros, que fizeram questão de lembrar seu passado de “chinelinho”, quando supostamente simulava contusões para não treinar e se esforçava pouco em campo.

Se Roger era “chinelinho”, isso não importa. Se Mário Sérgio foi técnico, isso também não importa. O que importa é discutir a validade dos argumentos e não esquecer os argumentos para desqualificar o argumentador.

Seguindo a lógica de Mário Sérgio, de que só ex-técnicos podem analisar o trabalho de técnicos, ninguém poderia falar mal de políticos a não ser ex-políticos. E os jogadores que lembram os defeitos de Roger no campo só poderiam ser criticados por Pelé.

Infelizmente, temos o péssimo hábito (me incluo nisso) de argumentar contra a pessoa (Argumentum ad hominem), que é uma maneira covarde e simplória de ganhar uma discussão. E as coisas só pioram quando a discussão chega às redes sociais, que são o túmulo da ponderação e do bom senso.

Li muita gente dizendo: “Quem é Mário Sérgio pra falar alguma coisa? Ele foi um técnico horrível!”, ou “Esse chinelinho do Roger não tem moral pra falar nada!”

Quer dizer que se Mário Sérgio fosse um “técnico bom”, ele teria moral para falar de outros técnicos? E se Roger fosse o Pelé, poderia expor suas idéias sem reclamações?

Curioso perceber como a maioria usa a mesma artimanha de Mário Sérgio para impor sua opinião, não?

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Filme conta a vida curta e trágica do Morphine

Por Andre Barcinski
11/04/13 07:05

Às vezes, você precisa de um empurrãozinho, uma desculpa, para redescobrir certos artistas. Foi o que aconteceu aqui em casa dia desses: depois de vermos “Cure for Pain – The Mark Sandman Story”, documentário sobre a vida de Sandman (1952-1999), líder do grupo Morphine, tiramos os CDs da estante e passamos os últimos dias lembrando como era boa aquela banda.

 


 

O fim da vida de Sandman não é segredo: em 3 de julho de 1999, ele sofreu uma parada cardíaca em cima do palco, na pequena cidade italiana de Palestrina, e morreu. Sua morte acabou com a carreira do Morphine, que estava no auge do sucesso indie.

Quando o Morphine surgiu, no início dos 90, parecia uma aberração: em plena era do grunge e das guitarras distorcidas, ali estava um trio de jazz-rock formado por saxofone, baixo de duas cordas e bateria. Sandman tocava baixo e cantava letras existencialistas e crípticas, claramente influenciadas pela poesia dos beats.

Confesso que não levava muita fé no filme. Não sabia nada sobre a vida pessoal de Sandman, e a carreira do Morphine havia sido muito curta – menos de sete anos – para merecer um documentário.  Por sorte, eu estava erradíssimo: dirigido por Robert Bralver e David Ferino, “Cure for Pain” é um filme bonito e melancólico, que revela detalhes fascinantes sobre a vida de Sandman.

Sandman tinha dois irmãos e uma irmã. Ele era o mais velho e tomava conta do caçula, Johnny, que tinha paralisia cerebral. Num período de dois anos, a família Sandman sofreu duas tragédias: Johnny e o irmão, Roger, morreram. Isso abalou Mark, que decidiu abandonar tudo e sair pelo mundo.

Por sete anos, Mark Sandman vagou pelo planeta: foi pescador de atum no Alasca, trabalhou em plantações de maconha na América Central, e acabou no Brasil. O filme mostra vários cartões postais que ele enviou dos lugares que visitou. Dá para ver um da praia de Torres, no Rio Grande do Sul, e outro do Rio de Janeiro.

No filme, a mãe de Mark conta que ele ficou doente no Brasil e decidiu voltar aos EUA e montar uma banda. Não fica claro que doença ele teve em terras brasileiras. Que intrépido repórter se habilita a rastrear os passos de Sandman no Brasil e contar essa história?

O filme traz depoimentos de amigos e colaboradores de Sandman, como Josh Homme (Queens of the Stone Age), Les Claypool (Primus), Ben Harper, Mike Watt, Chris Ballew (Presidents of the United States of America) e Dicky Barrett (The Mighty Mighty Bosstones), entre outros.

Por enquanto, “Cure for Pain” pode ser achado no Cine Torrent. Recomendo demais. Não só é uma história pessoal marcante, mas fala de uma banda especial e que merece ser redescoberta.

P.S.: Sensacional: acabo de receber o e-mail de uma distribuidora portuguesa que detém os direitos do filme. Vejam se alguém consegue ajudá-los:

Temos tentando, sem sucesso, encontrar um parceiro no Brasil que esteja interessado em fazer a distribuição de DVD, TV e Video on Demand. Será que nos podia aconselhar alguma empresa e/ou contactos de potenciais interessados? O DVD sai em Portugal este mês.

 
José Alberto Pinheiro
realizador/ director de produção

VIGÍLIA, LDA
Web: www.vigilia.pt // www.facebook.com/vigiliafilmes“

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