Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

Perfil completo

O que vem depois de Feliciano?

Por Andre Barcinski
10/04/13 08:45

E os vídeos com as pregações de Marco Feliciano (PSC-SP) continuam a bombar no Youtube. Os mais recentes encontrados mostram o pastor atribuindo a “Deus” o assassinato de John Lennon e o acidente aéreo que exterminou o grupo Mamonas Assassinas.

Semana passada, a “Folha” publicou uma entrevista de meu colega Fernando Rodrigues com Feliciano (leia aqui).

Acho que a questão da permanência ou não de Feliciano na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara é simples: se ele foi racista ou homofóbico em suas declarações, não deve fazer parte de uma comissão cujo objetivo é justamente defender as minorias (sobre o tema, sugiro a leitura desse artigo de Hélio Schwartsman).

 

 

 

 

 

 

 

 

Mas vamos esquecer Feliciano por um momento. Ele não é o primeiro e nem será o último político brasileiro a misturar convicções religiosas à sua atuação política.

Acho que o país está perdendo uma grande chance de discutir uma questão bem mais importante que a permanência ou não de Feliciano na CDHM, que é a separação entre Estado e religião.

A Constituição não diz que o Brasil é laico? Então por que nossos políticos, que deveriam obedecer à Constituição, teimam em ignorá-la?

Na verdade, Feliciano é só mais um entre tantos políticos que não percebem que suas convicções religiosas não devem servir de regra para governar uma sociedade plural. Feliciano não é causa, mas conseqüência. Ele é resultado da falácia do “Estado laico” brasileiro.

Pergunto: as pessoas que pedem a saída de Feliciano estão preparadas para um Estado verdadeiramente laico? O que diriam se o governo tirasse símbolos religiosos de prédios públicos? Ou acabasse com feriados religiosos para funcionários públicos?

Acho que o caso de Marco Feliciano só assumiu essa dimensão nacional porque ele foi nomeado para uma comissão que defende pessoas que a religião dele não tolera. Mas existem várias outras religiões que não admitem a homossexualidade, e seus defensores no Legislativo continuam barrando a democracia e o progresso científico usando argumentos obscurantistas. Vamos falar sobre isso também? Ou o assunto vai se esgotar com Marco Feliciano?

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

“Robert Smith mandou champanhe para o camarim!”

Por Andre Barcinski
09/04/13 07:05

Meu amigo Elson Barbosa, baixista da banda Herod Layne, achou que era um trote: “Vocês não querem abrir a turnê do The Cure no Brasil?” dizia o e-mail. Pedi ao Elson para escrever um texto contando a bizarra e inesperada aventura de sua banda com o Sr. Robert Smith e cia. Aí vai o relato dele:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Do nada, chegou um email da produtora: ‘Retornar contato urgente referente a dois shows em abril’. ‘Essa produtora é das grandes’, pensei. ‘Deve ser engano’. Daí o surrealismo no reply – ‘Abrir shows do The Cure no RJ e SP. A Herod Layne teria interesse?’ Depois de nos certificarmos que não era trote nem algum esquema pay-to-play, acertamos tudo em três emails. O surrealismo só aumentava – O crivo teria sido do próprio Robert Smith, que faz questão de escolher pessoalmente as bandas de abertura dos shows do Cure. Não entendemos até agora como chegamos até ele, mas a festa foi maior que a dúvida.

Pegamos a van na quinta-feira de manhã (4/4), rumo ao Rio de Janeiro. O motorista era um figuraça – ex-puxador de samba do Salgueiro, sobrinho de Gérson, o Canhotinha de Ouro e compadre do Zico. No caminho esquematizamos toda a estratégia de guerrilha para otimizar os poucos minutos que teríamos de setup, sempre pensando no pior – banda de abertura é sempre a que mais sofre. Mas não – tivemos tempo razoável de passagem de som, iluminação, camarim, uma equipe nos tratando como uma banda grande. ‘Tô com a diretoria!’, dizia o motorista ao telefone.

Cerca de meia hora antes de entrarmos, Robert Smith apareceu para uma rápida visita no camarim. Cumprimentou a todos, conversou amenidades, disse que nos escolheu pelo material que ouviu e assistiu na internet, e que estava ansioso para ver nosso show. E ainda nos mandou de presente garrafas de vinho e champanhe. Dá pra desenvolver aqui – Não sei de nenhuma outra banda do porte do The Cure que faça algo próximo disso. Que se preocupe em se aproximar de bandas pequenas, apoiar, ceder espaços, ser cordial e gentil. Ele não precisa fazer isso. Faz porque quer, porque gosta, porque sabe o quanto o aval dele muda toda uma história.

Em São Paulo, no sábado (6/4), a história foi semelhante. Uma mega-estrutura de palco digna de um festival, toda uma equipe de prontidão para nos ajudar. Durante a nossa passagem de som, Robert Smith tirou uns minutos para visitar o camarim da Lautmusik, banda de Porto Alegre que abriria a noite, também escolhida por ele. Soubemos que a cordialidade foi a mesma, sobrando vinho e champanhe também para o nosso camarim. O brinde com as duas bandas juntas foi um dos pontos altos da noite.

Sobre os shows, causamos a reação que esperávamos – Apatia vencida por nocaute. Até pensamos em facilitar para o público do Cure, pegando um pouco mais leve. Mas quando divulgamos o show, todos os amigos da banda e do nosso selo Sinewave demandavam por barulho. Isso nos fez mudar de ideia e escolher o set mais barulhento possível. Perderíamos o fã de ‘Boys Don’t Cry’, mas a diversão seria certa. Funcionou – Amigos comentaram que viram mãos no público rejeitando a banda nas partes calmas, e diversos punhos cerrados nas partes pesadas. No Twitter e Facebook, reações indo de ‘porcaria’ a ‘puta banda fodida’. Noise era o caminho, afinal.

Já o The Cure no palco é outra história. Mandaram uma quantidade impressionante de hits, abrindo espaço para testar os fãs menos hardcore com faixas desconhecidas de álbuns mais recentes. A voz de Robert Smith continua impecável, e Simon Gallup parece ter uns 20 anos a menos,  tamanha a energia no palco. São poucas bandas que sobem até esse patamar. ‘Shake Dog Shake’, ‘One Hundred Years’ e ‘The Kiss’ foram matadoras.

Ao final do show do Cure, fomos até o camarim deles para agradecer por tudo. Trocamos ideia com Simon Gallup e com o próprio Robert Smith. Com uma atenção fora do comum, pediu instruções de como fazer uma caipirinha com a cachaça que mandamos de presente. Nosso guitarrista, um moleque mais novo que o ‘Disintegration’ (LP do The Cure, lançado em 1989), chorava diante do ídolo, recebendo um abraço apertado de despedida. Não tem como Robert Smith ser mais cool que isso.”


Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Roger Ebert (1942-2013)

Por Andre Barcinski
08/04/13 07:05

Quinta passada, morreu em Chicago o crítico de cinema Roger Ebert, 70. Fiz um texto para a “Folha” sobre vida e carreira de Ebert (leia aqui).

Ebert não era meu crítico preferido. Gosto mais de ler Pauline Kael ou Andrew Sarris. Mas não tenho dúvidas de que Ebert foi o crítico de cinema mais importante e influente dos últimos 30 anos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acho que ele conseguiu isso porque foi o único a entender que, numa época de culto a celebridades, ele também precisaria ser uma para se fazer ouvir. De certa forma, Roger Ebert sabotou o sistema de dentro dele: era uma voz solitária no “mainstream”, tentando fazer as pessoas se interessarem por filmes de fora do “mainstream”.

No dia da morte de Ebert, a rádio norte-americana WEBZ pôs no ar uma entrevista curta com o cineasta alemão Werner Herzog, amigo de Ebert há mais de 40 anos. Ebert foi um defensor do cinema de Herzog e um dos primeiros críticos a elogiar seus filmes nos Estados Unidos. Ebert achava “Aguirre, a Cólera dos Deuses”, um dos maiores filmes já feitos (e eu concordo).

Ouça a entrevista de Herzog aqui. São só cinco minutos, mas dá para ter uma idéia do respeito que o cineasta tinha por Ebert. E Herzog diz uma coisa muito certa: que numa época onde a cobertura de cinema praticamente se resume a notícias sobre bilheterias e celebridades, Roger Ebert era um dos “últimos soldados” que ainda discutiam filmes. No fim da entrevista, Herzog não agüenta a emoção e chora a perda do amigo.

Sempre gostei da militância de Ebert contra o 3D e a favor do cinema independente. Ele criou até um festival, o Ebertfest, que todo ano exibia filmes que, na opinião de Ebert, não tinham recebido a atenção que mereciam.

Tenho uma história curiosa com Ebert: em 1993, fui cobrir a entrega de um prêmio de cinema. Havia um almoço para os convidados e, por sorte, fui colocado na mesma mesa de Roger e de sua esposa, Chaz. Eles tinham acabado de passar férias na Bahia e estavam encantados com Salvador.

Roger e Chaz eram muito interessados em cultura africana. Passamos um tempão falando da colonização no Brasil e da influência africana no país. Chaz queria saber tudo sobre samba. Mas também aproveitei para perguntar a Roger algumas coisas de cinema, claro: eu tinha acabado de ler uma biografia do cineasta Sam Peckinpah que contava como Roger havia sido um dos poucos críticos a elogiar “Meu Ódio Será Tua Herança”, o faroeste sanguinolento que Peckinpah fizera em 1969. Ficamos um bom tempo falando do filme e de Peckinpah.

Nos últimos anos, minha admiração por Roger Ebert cresceu ainda mais depois que ele foi diagnosticado com câncer e não deixou que a doença afetasse seu trabalho. Depois de três operações, que lhe arrancaram o queixo e o impediram de falar, Roger começou a usar um sistema computadorizado de voz que, usando arquivos digitais com sua própria voz, conseguia emitir sons.

E seu ritmo de trabalho não diminuiu. Ele parou de fazer o programa de TV, que apresentava há quase 30 anos, mas continuou resenhando filmes e escrevendo livros (o último, a autobiografia “Life Itself”, de 2011).

Ebert passou a usar seu blog e o Twitter para escrever textos pessoais sobre sua vida e sua doença. Em 2010, depois de quase morrer, escreveu esse texto, que depois reproduziu na autobiografia:

“Eu sei que ela está chegando, e não temo, porque acredito que não há nada do outro lado da morte para temer. Espero ser poupado de sofrimento nesse caminho. Sempre fui perfeitamente feliz antes de nascer, e penso na morte da mesma forma. Sou grato pelo dom da inteligência, do amor, do deslumbramento e do riso. Não dá para dizer que não foi interessante. As memórias de minha vida são o que eu trouxe dessa viagem. E não preciso deles, para a eternidade, mais do que preciso daquele pequeno souvenir da Torre Eiffel que eu trouxe de Paris.”

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Todas as neuroses de Woody Allen

Por Andre Barcinski
05/04/13 07:05

Se você gosta de Woody Allen, já tem programa para hoje: a partir de 16h35, o canal MAX exibe as duas partes de “Woody Allen – O Documentário”, um filme de mais de três horas de duração sobre a vida e obra do cineasta, autor e comediante. O filme será reprisado na 2ª, dia 8, às 19h55.

 


 

Assisti à primeira parte do filme, que conta a vida de Allen desde o nascimento até a filmagem de “Interiores” (1980). O documentário é muito bem feito e interessante, com ótimas imagens de arquivo e entrevistas bem realizadas com Allen, familiares e colaboradores.

Gostei especialmente do início do filme, que relata a infância de Allen e seu começo no showbiz. Gênio precoce, Allen mandava piadas para famosos colunistas de jornal nos anos 50, e assim conseguiu emprego, aos 17 anos, escrevendo para comediantes como Herb Shriner e para programas de TV de Johnny Carson e Sid Caesar.

É emocionante ver Allen falando sobre a emoção de ser contratado para escrever textos para Sid Caesar, quando dividia o trabalho com gênios da comédia como Mel Brooks e Danny Simon.

No início dos anos 60, Allen começou uma carreira na comédia “stand up”. Charles H. Joffe e Jack Rollins, que foram seus empresários por mais de 50 anos, contam que Allen demorou muito a vencer sua timidez de subir no palco, e que eles precisavam empurrá-lo, literalmente, para a frente da platéia.

Seu humor seco e minimalista demorou a ser aceito pelo público. De certa forma, Allen era o “antiperformer”: quase não se mexia no palco, não fazia imitações e não usava a comédia física. Parecia querer que o público prestasse atenção no texto, e não nele.

O documentário mostra a incrível evolução de Allen no cinema: de diretor de comédias divertidas e rasas como “Bananas” e “o Dorminhoco” a autor de sátiras sofisticadas e tipicamente nova-iorquinas como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” e “Manhattan”.

Algumas entrevistas são fantásticas: o grande fotógrafo de cinema Gordon Willis, na época conhecido como “Príncipe das Trevas”, pelo estilo soturno e escuro que imprimiu a filmes como “O Poderosos Chefão”, fala de sua longa colaboração  com Allen, e de como eles criaram o clássico visual preto e branco de “Manhattan”, especialmente a cena antológica em que Diane Keaton e Woody Allen vêem o sol nascer, sentados num banco próximo à ponte Queensboro.

O filme traz várias cenas que eu nunca tinha visto, como imagens de bastidores da filmagem de “A Última Noite de Boris Grushenko”, em que Allen não consegue segurar as risadas com a interpretação de Diane Keaton, e trechos de apresentações de “stand up” de Allen em casas noturnas. “Ontem eu usei, pela primeira vez, um contraceptivo oral”, diz o comediante. “Perguntei a uma garota se ela queria fazer sexo comigo, e ela disse ‘não’.”

P.S.: Este texto estava pronto e agendado para publicação quando veio a notícia da morte do grande crítico de cinema Roger Ebert. Farei um tributo a Ebert semana que vem.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Tragédia do ônibus no Rio: a culpa é coletiva

Por Andre Barcinski
04/04/13 08:34

Quando li a notícia sobre o acidente com o ônibus da linha 328, que na tarde de terça-feira voou de um viaduto na saída na Ilha do Governador e caiu na Avenida Brasil, matando sete pessoas e ferindo várias outras, minha primeira reação foi: como um acidente desses demorou tanto a acontecer?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Durante cinco anos, peguei quase diariamente o ônibus da linha 328 (Castelo- Bananal). Eu morava na Ilha do Governador e estudava no centro do Rio. E qualquer um que anda naquela linha sabe que os perigos são muitos. A Avenida Brasil é uma terra de ninguém, em que ônibus, carros e caminhões disputam o asfalto com ferocidade.

Seria leviano culpar alguém nesse momento. Vai levar um tempo para a perícia descobrir os motivos do acidente. Mas desastres assim raramente são culpa de uma pessoa só. Na maioria das vezes, são resultado de um acúmulo de incompetências.

Como um ônibus que tinha 47 multas registradas e o licenciamento vencido desde 2011 estava rodando? A grade de proteção da ponte estava em perfeitas condições? A fiscalização de trânsito estava atenta para excessos de velocidades de veículos? O ônibus estava acima do limite de velocidade? Há quantas horas o motorista estava trabalhando? Houve uma briga entre um passageiro e o motorista? Tudo isso precisa ser esclarecido.

O acidente escancarou também uma verdade que não pode deixar de ser discutida: a velocidade absurda com que ônibus e táxis circulam pelo Rio de Janeiro.

Cansei de pedir a motoristas de táxi que diminuíssem a velocidade. Quem pega um táxi na Rodoviária Novo Rio, especialmente à noite, sabe a insanidade que é. Outro dia, praticamente tive de implorar a um motorista, que voava a 100 por hora dentro do Túnel Rebouças: “Por favor, meu amigo, quero chegar vivo em casa.”

E os ônibus no Aterro do Flamengo? Assim que entram na Praia de Botafogo e sabem que têm trânsito desimpedido até o MAM, os ônibus aceleram como se estivessem largando em Silverstone.

Claro que o problema não se limita ao Rio de Janeiro, mas acho que o trânsito caótico de São Paulo impede que os ônibus circulem em velocidades tão altas.

O que não quer dizer que usuários de transporte coletivo em São Paulo tenham vida tranqüila. Certa vez, peguei uma van subindo a Teodoro Sampaio, em Pinheiros. O motorista estava tão distraído, que avançou o sinal (ou farol, como dizem os paulistas) no cruzamento com a Doutor Arnaldo, um dos mais intensos da região. Os passageiros começaram a gritar, e por pouco a van não foi atingida por um ônibus.

O motorista parou a van em frente às barracas de flores no Cemitério do Araçá e teve uma crise de choro. Nunca vi nada igual. Soluçando, disse que estava trabalhando há não sei quantas horas e que estava dormindo de olho aberto. Saí na hora da van e peguei um metrô.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Mudhoney e a alegria de ser “pequeno”

Por Andre Barcinski
03/04/13 07:05

Nick Cave e David Bowie me desculpem, mas pintou outro disco para disputar o CD player aqui de casa: “Vanishing Point”, o novo do Mudhoney.

É o nono disco de estúdio do Mudhoney e, ouso dizer, o melhor desde “My Brother the Cow”, de 1995. Fora que tem a música mais legal do ano e com o clipe mais divertido que vi em muito tempo: “I Like it Small”. Veja aí…

 


 

Se eu fosse CEO de alguma empresa de tecnologia e estivesse lançando um tocador de MP3 micro-mini-nano, pagaria um milhão de dólares ao Mudhoney para usar essa música no comercial.

E o clipe? Não sei quem teve a idéia, mas parabéns, você é um gênio: filmado em apenas um “take”, é cinema de guerrilha, lo-fi, divertido demais e com um espírito festeiro que me alegrou todas as vezes que o assisti.

Sempre achei Mark Arm um letrista subestimado. O cara tem um humor seco como o deserto, e “I Like It Small” é seu magnum opus: uma declaração de intenções, bem humorada e sem um pingo de ressentimento, sobre a alegria de ser “pequeno” em um mundo onde todos querem ser grandes e poderosos.

“Produção mínima / ações baratas / ambientações simples / apelo limitado / porões enfumaçados / temporadas curtas / baixas expectativas / O que foi que eu fiz? (…) Eu não preciso de uma Magnum / um cano curto me satisfaz / E a qualquer hora, prefiro G.G. Allin / a Long Dong Silver”.

A letra me parece uma piada com a suposta “falta de ambição” do Mudhoney, uma banda que sempre ficou feliz com o que conquistou. Os caras têm 50 anos, famílias e empregos fora da banda: o baixista Guy Maddison é enfermeiro, o guitarrista Steve Turner vende discos raros no Ebay, e Mark Arm trabalha no setor de vendas pelo correio da sub Pop – se você pedir um disco, tenha certeza de que foi Mark que embalou.

Já escrevi isso antes: se fossem “espertos”, eles teriam dado um tempo depois da morte de Kurt Cobain e voltado uns cinco ou seis anos depois, ganhando fortunas para tocar nos Coachellas da vida.  Mas não é a deles. Outro dia, a Sub Pop calculou que, em 25 anos de carreira, o Mudhoney vendeu um total de 500 mil discos. Só para comparar, “Nevermind” vendeu entre 30 e 35 milhões. E está tudo bem.

E agora, com um documentário na praça (“I’m Now”, com várias cenas filmadas no Brasil), uma biografia a caminho, escrita pelo jornalista inglês Keith Cameron, e um disco que está sendo considerado um dos melhores da carreira da banda, será que o Mudhoney finalmente vai parar de ser chamado de “sobrevivente do grunge”, como se fosse um pecado continuar fazendo o que gosta?

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Se você não esquece os anos 80, a culpa é de Russel Mulcahy

Por Andre Barcinski
02/04/13 08:07

Eu sei, o horário é ingrato, mas é para isso que existe o botão “REC”, não é mesmo? Amanhã, quarta-feira, às 16h, o canal BIS reprisa o documentário “Video Killed the Radio Star” sobre o diretor australiano Russel Mulcahy. Para quem se interesse pela história dos videoclipes, é imperdível.

Cinéfilos conhecem o australiano Mulcahy da série de filmes “Highlander”. Meu filme predileto dele é “Razorback”, um terror trash sobre javalis gigantes que atacam moradores do deserto australiano. Gostei tanto que vi duas sessões seguidas no saudoso Cine Marrocos, em São Paulo.

 


 

Antes de ficar famoso com “Highlander”, Mulcahy foi um requisitado diretor de videoclipes. No início dos anos 80, só dava ele: dirigiu uma penca de clipes – ele calcula mais de 400 – para Duran Duran, Elton John, Billy Joel e Rolling Stones, e fez clássicos absolutos dos primórdios da MTV, como “Bette Davis’ Eyes’ (Kim Carnes), “True” (Spandau Ballet), “Total Eclipe of the Heart” (Bonnie Tyler), “The War Song” (Culture Club), “Turning Japanese” (The Vapors), entre outros.

O primeiro videoclipe exibido na MTV, em 1981, foi “Video Killed the Radio Star”, do Buggles, dirigido por Mulcahy.

O programa é divertido demais. Mulcahy é uma figuraça e fala sem rodeios sobre os problemas que teve nas filmagens. Conta que Rod Stewart estava tão bêbado nas filmagens de “Young Turks” que se trancou no camarim e só saiu quando Mulcahy concordou que ele filmasse de óculos escuros, para esconder a ressaca.

Quando fez o clipe de Kim Carnes, “Bette Davis’ Eyes”, Mulcahy atraiu a atenção de muita gente de cinema e publicidade. Ele conta que, um dia, sua secretária lhe deu um recado: “Russel, Steven Spielberg ligou para você, eu disse que você estava ocupado e que ele deveria ligar depois!”

Às vezes, o estilo ousado de Mulcahy não batia com a preferência dos artistas. O diretor, que era amigo íntimo de Elton John e Freddie Mercury e gostava de “apimentar” os clipes com imagens de homens musculosos com pouca roupa, conta que sempre dava um jeito de incluir “uma pitada de tensão homoerótica” em seus vídeos. Mas quando Bonnie Tyler viu uma cena de “Total Eclipse of the Heart” em que vários rapazes sem camisa são atingidos por jatos d’água, chamou Mulcahy de “pervertido”. “Daí, um ano depois, ela me liga e pede para eu dirigir seu novo clipe”, diz Mulcahy. “Mandei ela se foder!”.

Mulcahy conta também como um acidente quase decapitou Stevie Nicks, do Fleetwood Mac, durante as filmagens do clipe de “Gypsy”, e outro acidente quase afogou Simon Le Bon, do Duran Duran, nas filmagens de “Wild Boys”. Le Bon diz que não lembra ter passado tanto perigo assim, mas depois pensa bem e diz: “Mas eu estava tão chapado naqueles dias que não me lembro muita coisa.”

Os clipes de Russel Mulcahy trazem um futurismo que hoje parece ridículo e cafona, mas que nos anos 80 era a coisa mais moderna e inovadora que havia na TV. Vale muito a pena ver o documentário e lembrar.

Um detalhe: é muito engraçado ver como o canal Bis traduziu para o português o nome de seu concorrente, a MTV: “canal de música”.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

“Sofapalooza”: a glória do Queens e o mico do Pearl Jam

Por Andre Barcinski
31/03/13 23:18

Como já havia antecipado aqui, acompanhei o Lollapalooza da “Pista Premium” aqui de casa, mais conhecida por “sofá”. Desisti de festival grande há uns quatro ou cinco anos, e o prego no caixão foi aquele show do Radiohead no estábulo.

Tenho de dizer que o Sofapalooza foi muito bom: as atrações eram muito melhores que as do ano passado, e me diverti pacas.

Quer dizer, me diverti até a noite de domingo, quando o Multishow anunciou que o Pearl Jam não havia autorizado a transmissão de seu show.

Sinceramente, essa história está muito mal explicada. Acho que banda e emissora deveriam se pronunciar oficialmente sobre o assunto.

O Multishow passou semanas divulgando que transmitiria o show do Pearl Jam. Ora, se havia risco de a banda não aceitar, isso deveria ter sido avisado antecipadamente.

Imagine a situação de um fã do Pearl Jam que não tem os 300 ou 400 reais para ir ao Lollapalooza e que confiou na publicidade do Multishow?

Bem que Eddie Vedder, sempre tão rebelde e iconoclasta, poderia pensar um pouco mais nos fãs. Afinal, o ingresso era caríssimo, a banda certamente ganhou uma fortuna para tocar, e muita gente gostaria de ver o show pela TV. Achei uma falta de consideração do grupo com seus fãs.

Essa presepada pegou muito mal, especialmente para uma banda que diz prezar sua independência e que chegou a acusar a Ticketmaster, gigante do ramo de venda de ingressos para shows nos Estados Unidos, de inflacionar preços de ingressos. Muito feio. No mínimo, a banda deveria ter divulgado sua versão dos fatos.

 

O que funcionou:

 

 

 

 

 

 

 

 

Queens of the Stone Age – Tinha visto 45 minutos do show, que estava sensacional (curti ver o novo baterista, Jon Theodore, ex-Mars Volta e Royal Trux), quando a Ampla, nossa valorosa prestadora de serviços de iluminação, conhecida aqui na região pelo carinhoso apelido de “Trevas”, desligou a luz do bairro todo durante os últimos 30 minutos do show da banda. Detalhe: estávamos com luz em meia-fase desde 8 da manhã, e o SAC da Ampla havia prometido uma solução até meio-dia. A luz só voltou às 8 da noite, quando o Perfect Circle assassinava “Imagine”, de John Lennon. Verei o QOTSA inteiro na reprise.

Flaming Lips – Todo festival que se preza deve misturar bandas “de festival”- aquelas que tocam hits, que fazem de tudo para agradar ao público e levantar a galera – e artistas mais ousados e experimentais, que não têm medo de arriscar e de mostrar músicas desconhecidas.

O Flaming Lips havia tocado no Brasil em 2005, e aquele show agradou por dois motivos: porque a banda fez covers de Black Sabbath e Queen e porque Wayne Coyne entrou numa bolha de plástico e se jogou na galera. Mas a verdade é que a banda é pouco conhecida no Brasil.

Assim, quando uma banda que não tem hits resolve tocar músicas lentas e “estranhas” de um disco que ainda não saiu, acho óbvio que o resultado não seria dos mais agradáveis para a maior parte do público.

Foi o show “ame ou odeie” do festival. Quem conhece e gosta da banda estava louco para ouvir as músicas novas. Achei todas lindas e não posso esperar pelo disco. Mas acho que o grupo poderia ter sido escalado num palco menor, talvez simultaneamente a alguma grande atração mais pop. Ajudaria muito.

Lembrando que a banda, há pelo menos quatro anos, entrou numa fase de experimentações sonoras bem mais melancólicas e lentas do que os hinos alegres e festivos da época dos discos “Soft Bulletin” e “At War With the Mystics”. Quem fica parado é poste.

Tomahawk – Muita gente talentosa junta: Mike Patton, o baterista John Stainer (Helmet, Battles), o guitarrista Duane Denison (Jesus Lizard) e o baixista Trevor Dunn (Mr. Bungle, Melvins Lite). Barulheira sensacional. Mais um ótimo projeto de Patton, o Robin Hood do som alternativo, que rouba dinheiro dos grandes festivais com o Faith no More e usa a grana para alavancar sua gravadora, a Ipecac, e seus vários projetos paralelos. Grande sujeito.

Black Keys – O show foi bom, o público adorou, mas eu realmente não consigo entender tanta devoção ao Black Keys. Acho uma banda competente de blues/rock, mas sem nenhum atrativo especial. O White Stripes fez o mesmo, antes e melhor. Mas é fato que o Dan Auerbach tem ótimas influências, e só por ter produzido o último discaço do Dr. John, merece respeito demais.

Alabama Shakes – Tenho um certo preconceito com cantoras que parecem estar morrendo quando cantam. Nunca consegui gostar de Janis Joplin ou de nenhuma de suas imitadoras. Mas não dá para negar que a tal da Britanny Howard tem uma voz privilegiada. A banda faz um country rock de bar, divertido e totalmente genérico. Mas o show foi muito bom e o público adorou.

Kaiser Chiefs e The Hives – Duas bandas cheias de hits, que fazem rock adolescente com muita energia e que fizeram shows empolgantes. Não vão mudar o mundo, mas sabem disso.

Planet Hemp – Confesso que não é a minha praia, mas são excelentes no que fazem e que mostraram um ótimo show. Muito legal ver uma banda brasileira no topo da programação de um festival e que o público respondeu tão bem.

 

O que não funcionou

 

The Killers – Não dá. O Killers joga no time de Snow Patrol e Coldplay, todos filhotes do U2. É pop de arena ultraproduzido. Bem feito e tal, mas tão limpinho e politicamente correto que dá vontade de subir no palco e despentear o gel na cabeça do tal Brandon Flowers.

Two Door Cinema Club – Todo festival tem seu representante indie-hipster-dance: bandas com o groove de uma orquestra de gaita de foles. Duvido que alguém consiga diferenciar TDCC de Friendly Fires, Bombay Biclycle Club, We Are Scientists, ou de qualquer outras dessas bandas de branquelos universitários que sonham em ser o Chic.

Deadmau5 – Se eu tivesse 17 anos e estivesse cercado de meninas pulando enlouquecidamente, teria adorado o Deadmau5. Mas ver show de música eletrônica pela TV, tirando espetáculos audiovisuais como Chemical Brothers e Daft Punk, é muito chato.

Som da transmissão da TV – Que mixagem ruim, não? Acho que o pior show foi do Killers, em que só se ouvia a voz do Brandon Flowers.

Jornalismo do Multishow – Impressionante como a produção consegue ferrar a vida dos repórteres. Por que deixar Didi Wagner, que conhece as bandas e tem experiência de entrevistá-las, jogada no fundo do palco, onde a maioria dos grupos se recusa a dar entrevistas antes do show? Por que não gravar entrevistas com os grupos antes e exibir trechos do papo? Ou fazer pequenos clipes sobre a história dos grupos? Foi triste ver a Didi se limitando a mostrar por onde Brandon Flowers iria passar.

Os comentaristas, Guilherme Guedes e Rodrigo Pinto, não parecem ter se preparado muito bem para o evento. Pinto disse que o Queens of the Stone Age não tocava no Brasil desde o Rock in Rio, em 2001 (o grupo tocou em 2010) e cometeu a heresia de dizer que “Jimmy Page e Eric Clapton devem ter ‘inveja branca’ de Dan Auerbach (do Black Keys)”. Tenho certeza que o próprio Auerbach ficaria envergonhado se ouvisse.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Bom Lollapalooza para vocês!

Por Andre Barcinski
28/03/13 07:05

Amanhã começa o Lollapalooza. Bom show para quem vai.

O festival tem várias bandas que eu gostaria de ver – Flaming Lips, Tomahawk, Queens of the Stone Age, Hives, Black Keys – mas só de pensar em fila de banheiro químico, fila de bar e fila de táxi, desisto. Verei em casa mesmo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando escrevi aqui no blog que festival não é para quem gosta de música, mas para quem gosta de festival, muita gente chiou. Mas a verdade é que festivais, especialmente esses gigantes, não são os lugares ideais para apreciar música. O som não costuma ser dos melhores, o desconforto é grande, e as melhores bandas geralmente têm shows encurtados para abrir espaço para atrações mais populares.

Outra coisa que irrita são shows simultâneos. No sábado, por exemplo, é difícil saber que show perder, se o Franz Ferdinand ou o Alabama Shakes. Farei questão de perder os dois.

Ontem, meus colegas Lucas Nobile e Matheus Magenta fizeram uma matéria ótima na “Folha” sobre a crise dos festivais e megashows no Brasil (leia aqui).

A coisa não está fácil: SWU e Sónar cancelados, shows de Madonna e Lady Gaga encalhados, The Cure transferido para lugar menor, e o próprio Lollapalooza vendendo menos que o esperado (vi promoção de ingressos em sites de compras coletivas, o que é péssimo sinal).

Talvez o mercado de grandes shows no Brasil tenha, finalmente, chegado ao limite.

Acho que o principal problema são os custos envolvidos, que encarecem demais o preço dos ingressos.

E as razões são muitas: em primeiro lugar, o “custo Brasil” (impostos, frete, passagens aéreas, burocracia) realmente dificulta a vida dos promotores.

A lei da meia-entrada, como já escrevi aqui no blog, é uma falácia, um trambique que só serve para enriquecer associações estudantis e punir quem tem a decência de não usar carteirinha falsa.

Mas o principal culpado pelos custos abusivos dos ingressos são os próprios eventos, que há anos fazem leilões para garantir artistas e, com isso, tornaram o Brasil um oásis para agências de artistas. Nenhum país do mundo paga cachês tão altos.

E isso aconteceu devido à guerra entre grandes eventos corporativos, que atingiu seu auge no meio da década passada.

A loucura por atrações de peso era tanta que eventos pagaram fortunas para ter artistas tocando em lugares pequenos. Quem pode esquecer o Tim Festival escalando artistas gigantes como Kanye West, Strokes e Beastie Boys em shows para 2 a 4 mil pessoas?

Quando um evento não precisa da bilheteria para se pagar, acontecem essas barbaridades.

Por muitos anos, os grandes festivais brasileiros pagaram cachês inflacionados e irreais. E como todos os artistas se conhecem e trabalham com as mesmas agências, essa farra do boi se espalhou pelo mundo.

Cansei de ver bandas recusarem propostas para fazer turnês no Brasil, na esperança de encher o bolso em algum festival.

O Wilco, por exemplo: conheço um promotor que estava negociando três ou quatro shows, por um cachê compatível com que a banda recebia lá fora. Daí, um grande festival corporativo ofereceu à banda três vezes mais, por apenas um show. Detalhe: o festival colocou o Wilco para tocar depois do Arcade Fire, e 90% da platéia foi embora depois do Arcade Fire.

Diferentemente do promotor do Lollapalooza, que comemorou a derrocada do SWU, torço para que o festival dê certo e tenha uma vida longa no Brasil. Mas alguém precisa frear a insanidade do preço dos ingressos. Pagar 990 reais (mais “taxas de conveniência”) por três dias no Lollapalooza é uma barbaridade.

Quem quiser acompanhar meus comentários do Lollapalooza pelo Twitter, é só acessar @andrebarcinski. Bom feriado a todos e até segunda!

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Salvem o frescobol!

Por Andre Barcinski
27/03/13 07:05

Dia desses, andando de táxi pela orla de Ipanema, vi uma coisa tão esdrúxula que quase pedi ao motorista para parar o carro só para me certificar de que não estava alucinando: um personal trainer de frescobol.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na areia, o “personal” – é mais chique assim, em uma palavra só, certo? – batia bola com um adolescente. O aluno estava todo emperequetado, com boné, munhequeira e camiseta regata. Tinha o semblante sério e caprichava nas devoluções, com cuidado para posicionar o corpo de acordo com as instruções do mestre. O aluno, claro, empunhava uma raquete de última geração. Coisa fina.

Procurando na web mais informações sobre o “personal frescobolator”, achei vários links para o “beach tennis”, uma variação mais competitiva e moderna do frescobol. Mas na aula não havia nenhuma rede por perto, então suponho que a lição não era de “beach tennis”, mas do nosso bom e velho frescobol.

Criado nas areias da praia de Copacabana nos anos 1940, o frescobol não é um esporte, é um jogo. E um jogo sem vencedores ou vencidos, onde o que importa não é competir, mas brincar. Duas raquetes de madeira e uma bolinha bastam para passar horas agradáveis na praia, trocando raquetadas com os amigos. Um dos maiores praticantes era Millôr Fernandes.

Mas o frescobol anda por baixo. Nesses tempos ultracompetitivos, não há espaço para uma brincadeira onde não há contagem de pontos e onde o único uniforme é uma sunga ou um biquíni. A singeleza do frescobol não combina com nossos tempos.

Hoje, nada vale se não tiver todo um aparato por trás: uniformes, treinadores, clubes, rankings, analistas… Você não é um ciclista de verdade enquanto não usar todos os apetrechos dos corredores da Tour de France; não é um corredor enquanto não fizer parte de um grupo que se reúne, com hora marcada, para treinar e trocar informações sobre aquele novo isotônico diet, última moda na Finlândia.

Vejam o caso do novo hype da zona sul do Rio: o Stand Up Paddle.

Basicamente uma prancha de surfe com um remo, o “SUP” já tem até revista. Na capa, um famoso ator da Globo aparece no Havaí, mostrando seus músculos e seu equilíbrio.

Em revistas de boa forma, atrizinhas que acabaram de dar à luz mostram que já perderam os quilos indesejados que ganharam com os filhos e que estão aptas a voltar a seus papéis na novela. Obrigado, SUP!

Assim como a prancha com remo, que virou “SUP”, e o show de piadas, que virou “Stand Up Comedy”, analistas de hype prevêem que o frescobol será ressuscitado em breve. Mas de roupa nova, com a cara de nosso tempo.

Em primeiro lugar, precisa mudar de nome. Que tal “Freshball”? E as regras também precisam mudar. Que negócio é esse de jogar de sunga? Onde entram os logos dos patrocinadores? E esse negócio de não ter contagem de pontos? Nada a ver.

Assim que a Ju ou o Cauã redescobrirem as maravilhas do “Freshball”, todo o Brasil vai entrar na onda. Daí para um banco montar uma arena nas areias do Leme e a Oscar Freire fechar para o desafio das celebridades, é um pulo.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
Posts anteriores
Posts seguintes
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailandrebarcinski.folha@uol.com.br

Buscar

Busca
  • Recent posts André Barcinski
  1. 1

    Até breve!

  2. 2

    Há meio século, um filme levou nossas almas

  3. 3

    O dia em que o Mudhoney trocou de nome

  4. 4

    Por que não implodir a rodoviária?

  5. 5

    O melhor filme do fim de semana

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 04/07/2010 a 11/02/2012

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).