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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Celebrando o Tremendão

Por Andre Barcinski
20/02/13 07:05

Estava gravando um programa de TV e fui ao SESC Vila Mariana ver o show de Nasi com participação de Erasmo Carlos.

O show foi muito bonito e emocionante. Fazia muito tempo – acho que desde os anos 90 – que eu não via Erasmo Carlos num palco.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando o Tremendão entrou, a plateia levantou das cadeiras – sim, o show foi no teatro – e o aplaudiu de pé.

Nasi e Erasmo cantaram algumas músicas, entre elas “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo”, de Roberto e Erasmo, e “Dois Animais na Selva Suja da Rua”, de Taiguara, que estão no disco “Carlos, Erasmo”, de 1971. Tenho o vinil, mas confesso que também não ouvia essas canções há muito tempo.

Ouça “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo” e “Como Dois Animais na Selva Suja da Rua”.

Que desperdício, não? Tantas horas preciosas vendo o Grammy e esse discão do Erasmo parado na estante.

O show me fez pensar sobre algumas coisas: em primeiro lugar, sobre a qualidade do pop brasileiro dos anos 70. Acho que o período de 1971 a 1976 foi o auge da nossa música pop.

Era muito disco bom junto: Roberto, Erasmo, Novos Baianos, Raul Seixas, Secos e Molhados, Arnaldo Batista, Rita Lee, Odair José, Jorge Ben, Tim Maia, Guilherme Arantes, Fagner e tantos outros, que fizeram seus melhores trabalhos nessa época.

Pensei também em como a imagem pública de alguns artistas brasileiros não condiz com a realidade de seus trabalhos.

Erasmo, por exemplo, é até hoje um símbolo da Jovem Guarda e dos primórdios do rock no Brasil, mesmo que seus melhores discos sejam os da primeira metade dos anos 70, quando foi muito influenciado pela soul music e pela psicodelia.

No show, Erasmo contou uma história curiosa sobre “Como Dois Animais”: disse que Taiguara fez essa música em homenagem a ele, Erasmo, e à sua decisão de morar junto com uma namorada sem casar com ela. “Naquela época, isso era um escândalo, e a sociedade caiu de pau em cima de nós”, contou o Tremendão. “Daí o Taiguara fez a música para ironizar a caretice geral da época.”

Já no camarim, depois do show, Erasmo disse que a Universal vai relançar “Carlos, Erasmo” e alguns outros discos dos anos 70. Tomara que muita gente descubra os LPs e que o Tremendão seja ainda mais valorizado.

Num momento surreal, Erasmo foi visitado no camarim pelo cantor Ovelha: “Tremendão, há quanto tempo!”, disse Ovelha, abraçando Erasmo, que respondeu: “Ovelha, meu camarada! Pô, ainda não te tosquearam?”

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Dave Grohl e a velha briga analógico vs. digital

Por Andre Barcinski
19/02/13 07:05

Podem falar o que for de Dave Grohl, mas o sujeito tem bom gosto e sabe usar os milhões de dólares que ganhou com o Nirvana e o Foo Fighters em projetos bacanas.

O último deles é “Sound City”, um documentário que Grohl dirigiu sobre o célebre estúdio de gravação Sound City, em Van Nuys, próximo a Los Angeles. O filme está disponível para venda pela Internet e uma versão legendada em espanhol está no Youtube.

 


 

O Sound City foi inaugurado em 1969 e rapidamente ganhou fama entre músicos por causa do preço baixo de sua locação e sua acústica impecável, mas, principalmente, por uma engenhoca muito especial: a mesa de mixagem Neve 8028, um console analógico fabricado no fim dos anos 60 pelo engenheiro eletrônico inglês Rupert Neve.

Segundo o filme, só foram fabricados quatro mesas iguais às do Sound City. Cada mesa leva vários meses sendo construída e custa uma fortuna. Para exemplificar, um dos donos do Sound City diz que pagou pela mesa, em 1969, 76 mil dólares. No mesmo ano, segundo ele, comprou uma bela casa por 38 mil.

Com a mesa Neve, o Sound City ganhou fama de ser um estúdio com uma qualidade de som maravilhosa, apesar de suas instalações serem “um lixo”, como diz Kevin Cronin, do REO Speedwagon. “Digamos que, se alguém mijasse num canto, ninguém ia perceber”, diz um técnico de som da casa.

Fleetwood Mac, Neil Young, Rick Springfield, Tom Petty, Grateful Dead, Elton John, Cheap Trick e Santana gravaram lá.

No filme, Grohl entrevista os donos, técnicos e funcionários do Sound City, além de muitos artistas que não abriam mão de gravar no estúdio, como John Fogerty, Neil Young, Lindsey Buckingham, Lee Ving (Fear), Tom Petty, Butch Vig, Stevie Nicks, Rick Springfield, Josh Homme, Rick Rubin e vários outros.

O documentário tem um tom nostálgico, fazendo a apologia do tipo de som analógico que o Sound City ajudou a popularizar e que foi arrasado pela chegada, a partir do fim dos anos 80, da tecnologia digital de gravação.

O filme é didático na descrição das técnicas de gravação e das diferenças entre os sons analógico e digital. Mesmo leigos conseguem entender os processos de produção de um disco e a preferência de muitos artistas pela sonoridade analógica.

Independentemente de sua opinião sobre o assunto (eu acho que o digital é uma arma sensacional, só que muitas vezes usada de forma preguiçosa), é interessante ver a opinião de tanta gente talentosa.

Grohl tem um papel importante na história do Sound City: no início dos anos 90, quando o estúdio estava à beira da falência e incapaz de concorrer com os modernos estúdios digitais, o Nirvana gravou “Nevermind” lá.

O disco causou uma corrida de bandas novas ao Sound City, todas atrás de um tipo de som mais “quente” e que não parecesse tão processado em computador. Rage Against the Machine, Queens of the Stone Age, Kyuss, Masters of Reality, Tool, Black Crowes, Red Hot Chili Peppers, todos se renderam à acústica do Sound City e a seu mitológico console Neve.

Uma história curiosa: em 2008, quando foi gravar o álbum “Death Magnetic”, do Metallica, o produtor Greg Fidelman gravou som de bateria em diversos estúdios e, sem dizer aos músicos onde haviam sido gravados, pediu que escolhessem o melhor som de bateria. E o Metallica escolheu o Sound City.

Sem estragar a surpresa do fim do filme, dá para dizer que Dave Grohl teve outra participação marcante na história do Sound City. Assista e confira. E Grohl, que além de ótimo músico é um homem de negócios oportunista (no bom sentido), montou uma banda, o Sound City Players, que está excursionando e toca hoje em Londres. Esperto esse Grohl.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet por boa parte do dia e, portanto, impossibilitado de moderar comentários até o fim da tarde. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço um pouco de paciência. Obrigado.

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Parabéns, Michael Jordan!

Por Andre Barcinski
18/02/13 07:05

Desde que comecei a acompanhar esportes, não conheço um atleta que tenha sido tão dominante em um esporte coletivo quanto Michael Jordan foi no basquete.

Nos anos 90, a disputa na NBA era a do vice-campeonato, já que o título era quase garantido para Michael Jordan e seu Chicago Bulls.

Jordan levou o Bulls a dois tricampeonatos (1991/1993 e 1996/1998), e só não ganhou em 1994 e 1995 porque decidiu tentar a sorte como jogador de beisebol. Sorte do Houston Rockets de Hakeem Olajuwon, que conseguiu beliscar dois títulos na ausência de Jordan.

Ontem, o mito completou 50 anos. Por sorte, suas jogadas espetaculares estão registradas para sempre. Veja aqui uma seleção das dez melhores enterradas da carreira de Jordan.

 


 

Jordan foi tão dominante que ganhou cinco vezes o título de melhor jogador da NBA e liderou o ranking de pontuadores dez vezes.

Quando Jordan foi escolhido pelo Chicago Bulls, em 1984, o time era considerado uma piada. Havia sido fundado em 1966 e nunca ganhara um título da NBA.

Nos anos 80, o basquete norte-americano era dominado pelo Los Angeles Lakers de Magic Johnson, o Boston Celtics de Larry Bird e o Detroit Pistons de Isiah Thomas.

Mesmo jogando em um time muito inferior, Jordan se destacou: marcou 63 pontos em um jogo de “playoffs” contra o grande Boston Celtics na temporada 1985-86, até hoje um recorde na NBA.

Na temporada 1986-87, tornou-se o único jogador, além de Wilt Chamberlain, a fazer 3 mil pontos em uma temporada, com uma média assombrosa de 37,1 pontos por partida.

Jordan jogou contra os melhores: Kareem Abdul-Jabbar, Magic Johnson, Larry Bird, Patrick Ewing, Shaquille O’Neal, Charles Barkley, Isiah Thomas, Dennis Rodman, David Robinson, Alonzo Mourning, Clyde Drexler, Karl Malone, John Stockton. Foi  um período de ouro da NBA.

Vi Michael Jordan jogar, ao vivo,três vezes: duas em Los Angeles e uma em Nova York. Foram jogos normais de temporada, até porque conseguir ingressos para ver Jordan nos “playoffs” era quase impossível.

Mas deu para perceber que era verdade o que os comentaristas diziam, na época: que ele era tão bom que parecia ter dois “níveis” de jogo: um nível “normal”, quase um estado de relaxamento, que usava quando os jogos estavam tranquilos e a vitória parecia certa, e um “nível Jordan”, que acionava quando o jogo estava mais duro. Um assombro.

Veja uma seleção de dez jogadas decisivas de Jordan. Minha preferida é a número 3, num arremesso totalmente desequilibrado que deu a vitória, por 3 jogos a 2, ao Bulls contra o então poderoso Cleveland Cavaliers por 101 a 100, na primeira rodada da série dos “playoffs” de 1989. A imagem de Jordan comemorando enquanto seu marcador, Craig Ehlo, se joga no chão, reflete bem o que foi a NBA para quem enfrentou Jordan: um desespero.

 


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“Muito Além do Peso” e a tragédia da obesidade infantil

Por Andre Barcinski
15/02/13 07:05

Dia desses, vi um filme assustador: “Muito Além do Peso”, um documentário brasileiro sobre obesidade infantil.

Dirigido por Estela Renner, o filme está disponível para download gratuito, aqui.

 


 

Os números mostrados no filme são chocantes: 56% das crianças brasileiras com menos de um ano de idade tomam refrigerantes. Um terço das crianças está acima do peso ou obesa. Já temos uma geração de crianças condenadas a morrer cedo ou ter problemas de saúde por toda a vida.

Especialistas culpam a propaganda de refrigerantes, salgadinhos e “fast food” na TV, a falta de uma política de educação alimentar nas escolas e a ignorância de muitos pais.

Publicitários contra-atacam: no filme, um deles diz que é errado privar as crianças da propaganda a que elas, enquanto consumidoras, têm direito.

Não posso concordar com isso. É óbvio que uma criança não tem discernimento para saber se aquilo que está sendo anunciado na TV é bom ou ruim para a saúde. Pessoalmente, sou a favor da proibição de comerciais para o público infantil. Se as empresas querem vender produtos para crianças, que anunciem para os pais, e não para as crianças.

Mas acredito, também, que os pais têm muita culpa nesse cenário triste da obesidade infantil. Se os filhos não ficassem largados na frente da TV o dia todo, anestesiados, sem brincar ou fazer esportes, a realidade poderia ser outra.

E estou bem longe de seu um fanático por comida “saudável”. Adoro comida de boteco e frituras em geral. Mas é aí que entra o bom senso: se seus filhos quiserem comer uma coxinha de galinha de vez em quando, ótimo. O problema é quando frituras, refrigerantes e salgadinhos viram a regra, e não a exceção.

Que criança não gosta de refrigerante? De pipoca? De açúcar? Alguém vai levar o filho para o cinema e comer cenouras cozidas? Claro que não.

A questão é que o hábito alimentar de grande parte da população já inclui refrigerantes e salgadinhos. Em muitos lares, não se toma água, mas refrigerantes; crianças, como algumas mostradas no filme, são incapazes de distinguir entre um abacate e uma laranja.

Uma das cenas mais reveladoras do filme mostra um menino de quatro anos que pesa, se não me engano, mais de 40 quilos e já tem problemas de colesterol alto.

Na hora do almoço, o menino se joga no chão e esperneia, até os pais lhe darem um copo gigante de refrigerante e um saco de batatas fritas. Daí o pai diz: “Tá vendo? É só isso que ele come”, antes de virar-se para o filho e pedir: “Filho, dá uma batatinha pro papai, dá?”

P.S. Estarei sem acesso à Internet por boa parte do dia. Por isso, alguns comentários podem demorar a ser publicados. 

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“Hotel California” e a era dos excessos

Por Andre Barcinski
14/02/13 07:05

A primeira metade dos anos 70 foi uma época de ouro para o pop-rock: Bowie, Lou Reed, Stevie Wonder, Neil Young, Leonard Cohen, Iggy Pop, todos fizeram seus melhores trabalhos nesse período.

Foi também a época de uma cena musical muito forte e influente em Los Angeles, mais especificamente em Laurel Canyon, onde se concentravam as mansões de superastros como Eagles, Joni Mitchell, James Taylor, Jackson Browne, Crosby, Stills & Nash, Linda Ronstadt e vários outros.

Veja esse documentário que a BBC fez sobre a cena de Laurel Canyon:

 


 

Confesso que não sou muito fã da tal cena de Laurel Canyon. Gosto demais dos discos de CSN&Y e de Joni Mitchell, mas não me importaria passar a vida sem ouvir Jackson Browne ou Carole King, por exemplo. Mas não dá para negar que a história dessa turma seja fascinante.

Acabei de ler “Hotel California” (2006), do inglês Barney Hoskins, um livro espetacular sobre a ascensão da cena dos “cantores sensíveis” de Laurel Canyon. Hoskins escreveu livros sobre Tom Waits e Led Zeppelin e hoje é editor do site “Rock’s Back Pages” (www.rocksbackpages.com), um arquivo que reúne mais de 20 mil artigos sobre o pop-rock, escritos nos últimos 50 anos,

O personagem mais fascinante de “Hotel California” não é um músico, mas um executivo, David Geffen, que percebeu, antes de todo mundo, o fim do ciclo das superbandas dos anos 60 e concentrou seus esforços em criar uma gravadora, a Asylum, que reunisse a nata do som folk-pop que surgia.

Com o fim do sonho hippie de paz e amor, a escalada da Guerra do Vietnã e a evidente derrota da geração do LSD, Geffen sacou que o pop estava pronto para uma turma musical mais introspectiva, que não cantasse mais sobre os sonhos de liberdade, mas sobre a tristeza de não tê-los atingido.

Geffen também foi um dos grandes responsáveis pela transformação da rebeldia hippie em um produto vendável e pela conseqüente corporatização do rock.

O fim dos anos 60 e início dos 70 foi uma época turbulenta: Brian Jones, Janis Joplin, Jim Morrison e Jimi Hendrix morreram num espaço de dois anos; Charles Manson e sua gangue circulavam pelas festinhas de embalo nas montanhas de Hollywood, e David Crosby cheirava metade do PIB da Colômbia (Dennis Hopper até se inspirou nele para criar seu personagem em “Easy Rider”).

Hoskyns mostra como, por trás das canções aparentemente plácidas e contemplativas dessa turma, havia gente muito, mas muito atormentada: James Taylor tinha impulsos suicidas e um pesado vício em heroína; Joni Mitchell deu sua filha para adoção e passou a vida toda abalada por isso; Stephen Stills tinha um ego do tamanho da Califórnia e um apetite por cocaína igualmente gigante; Gram Parsons e todos os Eagles não ficavam muito atrás.

Foi uma época de hedonismo incomparável. Tudo que se dizia que rolou de sexo, drogas e loucura nos anos 60, na verdade, ocorreu nos 70. A descrição das turnês de CSN&Y, com 90 pessoas na equipe e tapetes persas para decorar o palco, é reveladora.

E a melhor frase sobre a música da época talvez seja a de Phil Spector, que sempre criticou o estilo confessional da turma: “Essas pessoas não escrevem canções, escrevem idéias.”

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Cada época tem o Grammy que merece

Por Andre Barcinski
13/02/13 07:05

Vamos deixar uma coisa bem clara: o Grammy nunca foi um prêmio da música, mas um prêmio da indústria da música. Ele não existe para celebrar os melhores músicos, mas aqueles que vendem mais e ajudam a impulsionar a indústria.

Fazia anos que eu não assistia à cerimônia do Grammy. Aquilo não me interessa e não representa os artistas que ouço e admiro.

 


 

Mas, a exemplo da tortura de assistir a “Les Misérables”, a obrigação profissional falou mais alto, e gastei três horas e meia da madrugada do meu domingo de Carnaval assistindo à cerimônia.

Minha conclusão é de que cada época tem o Grammy que merece.

Foi muito triste constatar como a fase atual da música pop é dominada pela caretice, pelo conformismo, pela adesão a regras e pelo “bom mocismo”.

Até poucos anos atrás, artistas como Amy Winehouse, Lady Gaga ou Marilyn Manson, mesmo que fossem produtos de marketing criados em laboratório, traziam ao pop algum resquício de perigo e rebeldia.

Hoje, a cena é dominada por branquelos de cabelo armado e pinta de coroinha, tocando violão ou fazendo baladinhas insípidas. O modelo de popstar é Taylor Swift, um picolé de chuchu que encarna toda a assepsia dessa era da correção política.

Mesmo os artistas “de rock”, como Mumford & Sons, parecem uns cordeirinhos que saíram de um convento.

Antigamente, pais não queriam que os filhos ouvissem rock, com medo de eles se tornaram drogados ou pervertidos. Hoje é o contrário: pais não deixam os filhos ouvir rock para as crianças não virarem umas babacas.

O Grammy é uma grande encenação. Três horas e meia de encenação. Até os números musicais supostamente “autênticos”, como LL Cool J e Chuck D (Public Enemy), parecem musicais da Broadway, de tão falsos. Isso para não falar da constrangedora homenagem a Bob Marley, com Sting e Bruno Mars.

Agora, nem as armações mais nauseabundas, como o tal do Fun, um grupo pop chinfrim que não passaria pela primeira triagem de Mister Sam, consegue ser pior do que o ar blasé e pretensamente entediado de Dan Auerbach, do Black Keys.

O frango ganhou quatro Grammys, mas fez questão de parecer contrariado ao recebê-los, como se alguém o tivesse obrigado a estar ali. Típica pose oportunista de quem quer parecer rebelde para não perder sua credibilidade “indie”.

Tão posudo quando o mártir Auerbach foi a “volta” de Justin Timberlake aos palcos. Ele foi apresentado com tanta euforia por Ellen De Generes e Beyoncé, que achei que estava prestes a rolar o retorno dos Beatles, com as ressurreições de John e George. A apresentação foi ridícula, com Timberlake se matando para imitar um “soulman”.

Para não dizer que a noite toda foi péssima, salvaram-se Dr. John e Black Keys tocando “Lonely Boy”, e o tributo a Levon Helm (The Band), com Mavis Staple, T-Bone Burnette Elton John, entre outros.

Ninguém está pedindo para o Grammy premiar o Swans ou o Godspeed You! Black Emperor. Não é esse o ponto.

Mas dê uma olhada na lista de concorrentes ao melhor álbum de 1975, por exemplo: o vencedor foi Stevie Wonder, que bateu Paul McCartney (“Band On the Run”), Joni Mitchell (“Court and Spark”), John Denver (“Back Home Again”) e Elton John (“Caribou”).

Dá para levar Mumford & Sons a sério?

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My Bloody Valentine: valeu a espera?

Por Andre Barcinski
08/02/13 07:05

Uma espera de 22 anos terminou domingo, quando o grupo irlandês My Bloody Valentine lançou seu novo LP, “MBV”.

Foi apenas o terceiro LP do grupo, fundado em 1983. Desde “Loveless” (1991), o My Bloody Valentine não lançava material de composições inéditas.

Escrevi sobre o My Bloody Valentine na Folha (leia aqui).

 


 

O lançamento de “MBV” foi recebido com estardalhaço pela imprensa musical e pelos fãs do grupo. Todo mundo queria ser o primeiro a ouvir o disco.

Mas por que tanto frenesi em cima de uma banda que só lançou três LPs em 30 anos?

Porque “Loveless” é um daqueles clássicos que influenciou gerações. Com suas guitarras etéreas, vocais sussurrados e camadas de distorção, o My Bloody Valentine fez um disco que é copiado até hoje.

Não houve um guitarrista que não tenha sido influenciado pela massa sonora que Kevin Shields, o gênio louco por trás do My Bloody Valentine, criou em “Loveless”. Outro dia, li uma entrevista de Bob Mould (Husker Dü, Sugar) em que ele dizia como seus parâmetros de “som de guitarra” haviam sido mudados pelo disco de Shields.

“Loveless” não vendeu muito. Mas rendeu ao grupo um ótimo contrato com a gravadora Island, que pagou um adiantamento polpudo, à espera do próximo disco. Mas Kevin Shields tinha outros planos: usou a grana para construir um estúdio, mas nunca entregou o disco.

Desde então, foram 22 anos de boatos e frustrações. Não havia um ano sem alguma fofoca sobre um disco novo de Kevin Shields.

Chegou-se a comentar que Shields havia gravado um disco novo e, depois, engavetado o material. O próprio Shields não fala muito, e qualquer um que já tenha tentando trocar duas palavras com o sujeito sabe que ele não gosta de falar e, quando fala, costuma balbuciar frases aparentemente sem sentido.

Quando Shields esteve no Brasil tocando com o Primal Scream, lembro que Mani, baixista do Primal Scream e ex-Stone Roses, se referiu a ele como “um cara esquisito”. Isso, vindo de Mani, que não é nenhum poço de normalidade, diz muito.

E “MBV”, presta?

Eu gostei, apesar de o grupo não ter mudado nada em sua sonoridade. Estão lá as guitarras fantasmagóricas, os vocais enterrados sob montanhas de efeitos e distorção em cima de distorção, criando mantras de barulho e efeitos sonoros. Parece que a banda retomou exatamente de onde haviam parado em “Loveless”.

P.S. Bom Carnaval a todos. O blog volta na quarta, dia 13.

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"Les Misérables" é a comédia do ano

Por Andre Barcinski
07/02/13 07:05

No meu ranking pessoal de atividades mais desagradáveis, assistir a um musical da Broadway lidera com folga, seguido de extrações dentárias e exames de próstata.

Lembro com terror da noite em que, morando em Nova York, tive de levar um casal de amigos para assistir a “Cats”, e da frustração de não poder gargalhar no meio, já que eles estavam adorando a experiência.

Também não sou grande fã de musicais em cinema, mas só um rinoceronte não se emociona com Gene Kelly sapateando sob a tempestade em “Cantando na Chuva”, ou com as geniais composições de câmera que Bob Fosse usou para enquadrar Liza Minelli em “Cabaret”.

Quando soube da estréia da adaptação para o cinema de “Les Misérables”, meu plano era ignorar completamente o filme. Mas o “Guia da Folha” pediu uma cotação, e a obrigação profissional falou mais alto.

Sem exagero: foram as duas horas e meia mais punitivas que passei em frente a uma tela. Veja o trailer e sinta o drama:

 


 

O problema de “Les Misérables” não é Russell Crowe cantando, embora isso seja medonho. O maior problema é que o filme usa uma ambientação realista, com cenários e figurinos de filmes de época, enquanto os atores cantam o tempo todo, mesmo nos diálogos mais insípidos (“Me passa o saaaaaaaaaaal…”, “Boa noooooooooiteeeeeeee…”).

Se o filme tivesse optado por cenários mais estilizados e lúdicos, a cantoria não pareceria tão forçada e fora de lugar. Do jeito que ficou, mais parece um quadro cômico do Monty Python ou do “Saturday Night Live”.

A produção do filme fez questão de ressaltar que o diretor, Tom Hooper (“O Discurso do Rei”), optou por gravar a cantoria dos atores ao vivo, sem usar o recurso de dublagem.

Pode ter sido corajoso da parte dele e dos atores, mas só tornou a coisa toda ainda mais ridícula, uma baboseira melodramática interpretada com histrionismo, em que caras e bocas tentam substituir, a fórceps, qualquer traço de emoção genuína.

Se você assumir, de cara, que “Les Misérables” é uma comédia, vai se divertir pacas, especialmente nos “duetos” de Russel Crowe e Hugh Jackman.

Talvez uma boa dica seja esperar pelo lançamento em DVD e reunir os amigos para ver em casa. Desconfio que, daqui a algum tempo, “Les Misérables” será apreciado como uma obra-prima “kitsch”, a exemplo de “Barbarella” ou dos filmes de Ed Wood.

Enquanto “Les Misérables” não sai em DVD, fique com esse musical, quase tão pomposo e divertido…

 


 

 

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Romário marca um golaço inesperado

Por Andre Barcinski
06/02/13 07:05

Tenho acompanhado – e aprovado – a gritaria do ex-craque e atual deputado federal Romário (PSB-RJ) contra os gastos públicos na Copa do Mundo e Olimpíadas.

Mas agora tenho outro motivo para elogiar a atuação do parlamentar: foi dele o projeto de lei que prevê a facilitação no processo de importação de material para pesquisa científica.

 

 

 

 

 

 

 

 

Hoje, a burocracia é um grande empecilho para a pesquisa científica e tecnológica no Brasil. Grande parte do material é comprada no exterior, e um pesquisador pode ter de esperar até seis meses para que sua encomenda chegue.

Um levantamento feito pela UFRJ em 2010 com 165 cientistas concluiu que 76% dos pesquisadores ouvidos já haviam perdido material de pesquisa por causa de retenção na alfândega e 99% já tiveram que desistir ou alterar uma pesquisa por causa da demora.

O projeto de Romário é simples: os pesquisadores interessados fariam um cadastro no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e poderiam importar material de pesquisa sem passar pela burocracia alfandegária e sem pagar taxas.

Meu pai trabalha com pesquisa científica e está empolgado com o projeto de Romário. Diz que pode significar um avanço enorme para a ciência brasileira e, por conseqüência, para o país.

O problema é que a proposta ainda precisa ser aprovada pela Câmara dos Deputados.

Tomara que a Câmara apresse logo a votação e não anule o gol do baixinho.

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Quatro anos sem o Cramps é uma eternidade

Por Andre Barcinski
05/02/13 07:05

Sou uma besta. Esqueci que ontem era o quarto aniversário da morte de Lux Interior, vocalista do Cramps.

Não acontecerá de novo. Todo ano, em 4 de fevereiro, prometo publicar algum texto lembrando a data. Porque não dá para esquecer esse banda.

O pessoal do site Dangerous Minds fez o dever de casa e desenterrou um show do grupo em New Jersey, em 1982. Dura uma hora e é absolutamente sensacional. Pare o que você estiver fazendo nesse exato minuto e assista a essa beleza…

 


 

Essa formação de 1982 é uma das melhores da história da banda, com Nick Knox na bateria, Kid Congo Powers e Poison Ivy nas guitarras e Lux no vocal. Você deve lembrar Congo Powers do Gun Club e do Bad Seeds, banda que acompanhava Nick Cave. Se não lembra, pesquise sobre o sujeito, que vale a pena. Grande figura e grande guitarrista.

Tenho um problema com qualquer coisa relacionada ao Cramps, seja a gravação pirata de algum show ou um vídeo do Youtube: se não conheço, não consigo parar até ver ou ouvir tudo até o fim.

Esse show de 1982 é demais. A banda está super afiada e o repertório é matador, com várias músicas do álbum “Psychedelic Jungle”.

Ver o Cramps causa uma melancolia alegre, se é que você me entende: a alegria de saber que uma banda dessas existiu, e a tristeza de saber que não existe mais – e que nunca pisou no Brasil.

Para mim, eles representavam o que o rock tem de melhor: a idéia de que a esquisitice, o diferente e o pessoal deveriam não apenas ser tolerados, mas ser a regra. “Rock’n’roll é a única escapatória para seres esquisitos como nós”, disse Lux Interior.

Outra frase dele que merecia estar em cadernos escolares em todo o mundo (não lembro a frase exata, mas é mais ou menos assim): “Acho que a pior coisa que pode acontecer para uma criança é ser normal. Imagine só, você virar um médico ou advogado e nunca ter experimentado, nem por um momento, a loucura?”

Quatro anos sem Lux Interior. Já estava na hora de alguém se coçar e lançar uma megacompilação com todos os vídeos, clipes e shows da banda. Quem se habilita?

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