Dudu França e o pop “made in Brazil”
04/02/13 07:05Está no ar a mais recente edição do programa “Garagem”, na Rádio UOL, em que entrevistamos Dudu França (ouça o programa aqui).
Dudu é lembrado por “Grilo na Cuca”, hit da discoteca brasileira que ele gravou em 1978. Mas ele também fez parte de uma geração muito importante na história do pop nacional e que hoje é praticamente esquecida: a dos brasileiros que gravaram em inglês.
No fim dos anos 60, logo após a Jovem Guarda, Dudu foi cantor do Memphis, um grupo que, junto a outros como Lee Jackson, Sunday, Kompha e Watt 69, cantavam em inglês e embalavam a juventude nas domingueiras do Círculo Militar, Pinheiros, Harmonia e outros clubes paulistanos.
Alguns desses conjuntos se tornaram verdadeiros popstars na época: o Lee Jackson excursionou em vários países. O Sunday chegou a ter um programa de TV, com o bizarro nome de “Sunday é Sábado”.
Paralelamente ao surgimento desses grupos, alguns cantores brasileiros passaram a se lançar como intérpretes românticos “estrangeiros”: Fábio Jr. fez sucesso como Mark Davis ou Uncle Jack; Hélio Costa Manso, do Sunday, virou Steve Maclean; Jessé foi Tony Stevens; Ivanilton de Souza virou Michael Sullivan; Thomas Standen foi Terry Winter e o próprio Dudu França “virou” americano, com os nomes de Dave D. Robinson e Joe Bridges (“Meu sobrenome era Pontes”, explica Dudu).
O maior sucesso da época foi o carioca Maurício Alberto Kaiserman, um playboy boa pinta que havia sido coroado “o homem mais bonito do Brasil” no programa de Flávio Cavalcanti. Com o nome de Morris Albert, Maurício gravou uma balada melosa chamada “Feelings”. Lançada nos Estados Unidos, “Feelings” chegou a número 6 na parada da “Billboard”, vendeu muito e foi indicada a três prêmios Grammy em 1976. Também foi regravada por Frank Sinatra e Nina Simone, entre outros.
O sucesso desses “falsos estrangeiros” se deveu, em boa parte, ao crescente interesse do público brasileiro pelo pop internacional, motivado pelo “milagre econômico” brasileiro, que inseriu milhões de novos consumidores no mercado, incluindo muita gente jovem, que estava a fim de ouvir algo mais “moderno”.
Quem se interessa pelo assunto deve ler o livro “Hits Brasil – Sucessos “Estrangeiros” Made in Brazil”, de Fernando Carneiro de Campos, ou ouvir a caixa de 4 CDs “Hits Again”, lançada pela Som Livre.
O livro de Campos traz entrevistas e perfis dos maiores nomes do movimento, enquanto a caixa de CDs inclui os maiores sucessos e tem um encarte escrito por um especialista no gênero, o radialista Carlos Alberto Lopes, o “Sossego”. Tem muita coisa boa ali.