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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Dudu França e o pop “made in Brazil”

Por Andre Barcinski
04/02/13 07:05

Está no ar a mais recente edição do programa “Garagem”, na Rádio UOL, em que entrevistamos Dudu França (ouça o programa aqui).

Dudu é lembrado por “Grilo na Cuca”, hit da discoteca brasileira que ele gravou em 1978. Mas ele também fez parte de uma geração muito importante na história do pop nacional e que hoje é praticamente esquecida: a dos brasileiros que gravaram em inglês.

 


 

No fim dos anos 60, logo após a Jovem Guarda, Dudu foi cantor do Memphis, um grupo que, junto a outros como Lee Jackson, Sunday, Kompha e Watt 69, cantavam em inglês e embalavam a juventude nas domingueiras do Círculo Militar, Pinheiros, Harmonia e outros clubes paulistanos.

Alguns desses conjuntos se tornaram verdadeiros popstars na época: o Lee Jackson excursionou em vários países. O Sunday chegou a ter um programa de TV, com o bizarro nome de “Sunday é Sábado”.

Paralelamente ao surgimento desses grupos, alguns cantores brasileiros passaram a se lançar como intérpretes românticos “estrangeiros”: Fábio Jr. fez sucesso como Mark Davis ou Uncle Jack; Hélio Costa Manso, do Sunday, virou Steve Maclean; Jessé foi Tony Stevens; Ivanilton de Souza virou Michael Sullivan; Thomas Standen foi Terry Winter e o próprio Dudu França “virou” americano, com os nomes de Dave D. Robinson e Joe Bridges (“Meu sobrenome era Pontes”, explica Dudu).

 


 

O maior sucesso da época foi o carioca Maurício Alberto Kaiserman, um playboy boa pinta que havia sido coroado “o homem mais bonito do Brasil” no programa de Flávio Cavalcanti. Com o nome de Morris Albert, Maurício gravou uma balada melosa chamada “Feelings”. Lançada nos Estados Unidos, “Feelings” chegou a número 6 na parada da “Billboard”, vendeu muito e foi indicada a três prêmios Grammy em 1976. Também foi regravada por Frank Sinatra e Nina Simone, entre outros.

O sucesso desses “falsos estrangeiros” se deveu, em boa parte, ao crescente interesse do público brasileiro pelo pop internacional, motivado pelo “milagre econômico” brasileiro, que inseriu milhões de novos consumidores no mercado, incluindo muita gente jovem, que estava a fim de ouvir algo mais “moderno”.

Quem se interessa pelo assunto deve ler o livro “Hits Brasil – Sucessos “Estrangeiros” Made in Brazil”, de Fernando Carneiro de Campos, ou ouvir a caixa de 4 CDs “Hits Again”, lançada pela Som Livre.

O livro de Campos traz entrevistas e perfis dos maiores nomes do movimento, enquanto a caixa de CDs inclui os maiores sucessos e tem um encarte escrito por um especialista no gênero, o radialista Carlos Alberto Lopes, o “Sossego”. Tem muita coisa boa ali.

 


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Empanada agoniza mas não morre

Por Andre Barcinski
01/02/13 07:05

Dias atrás, fiz uma coluna para o caderno “Comida”, da “Folha”, sobre o fechamento do Bar do Seu Zé, um botecão de Pinheiros famoso por suas empanadas (leia a coluna aqui).

O bar existe há 43 anos e será demolido para a construção de um prédio de “alto luxo”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Outra instituição do bairro, o bar de sinuca Big Small, que funciona há 27 anos, também sairá pelo mesmo motivo: a construção de um prédio comercial de 12 andares.

Histórias assim são sempre tristes e provocam reações emocionadas de freqüentadores. E nem poderia ser diferente: esses lugares fizeram parte da vida do bairro e vão deixar saudades.

Claro que a especulação imobiliária é uma praga, e o crescimento das cidades vive jogando para escanteio comércios mais tradicionais. Mas é sempre emocionante falar com um dono de estabelecimento que dedicou a vida a um lugar e subitamente é enxotado dali.

Conversei com Ananias Bezerra de Souza, 60 anos, que há nove comprou o Bar do Seu Zé e o transformou em um ponto de encontro de famintos e durangos. Ele estava triste, mas conformado. “Fazer o quê, né? É o progresso!”

Por sorte, tanto Ananias quanto os donos da sinuca Big Small conseguiram alugar outros imóveis comerciais no mesmo bairro e vão reabrir próximos aos endereços originais. Mas sempre fica aquela ponta de nostalgia: “É muito triste deixar um lugar onde fiquei tanto tempo”, diz Ananias.

Até a terça de carnaval, dia 12 de fevereiro, o Bar do Seu Zé ainda funcionará no endereço original. “Espero todo mundo aqui para se despedir do bar antigo.”, diz Ananias. Se puder, darei uma passada para a empanada derradeira.

P.S.: Estarei o dia todo fora e impossibilitado de moderar os comentários até à noite. 

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“Os Dois Escobares”: uma história de futebol, drogas e morte

Por Andre Barcinski
31/01/13 07:05

Uma das melhores compras que fiz nos últimos tempos foi a caixa de DVDs com os 30 filmes da série “30 for 30”, que a ESPN exibiu entre 2009 e 2010.

São documentários sobre grandes histórias dos esportes. Já comentei aqui sobre o filme que conta a amizade – e depois briga – de dois craques do basquete, Petrovic e Divac, separados pelos conflitos étnicos na ex-Iugoslávia.

Há também filmes sobre a rivalidade das tenistas Martina Navratilova e Chris Evert, sobre a surra que Muhammad Ali levou de Larry Holmes e sobre a  desastrada tentativa de Michael Jordan em se reinventar como astro do beisebol.

Já assisti a 19 dos 30 filmes. E o melhor que vi até agora foi “Os Dois Escobares”, de Jeff Zimbalist e Michael Zimbalist.

 


 

O documentário conta a história de dois homens de mesmo sobrenome e que acabaram, mesmo que involuntariamente, trabalhando juntos: o traficante colombiano Pablo Escobar e o jogador de futebol Andrés Escobar.

Nos anos 80, quando Andrés despontou para o futebol, Pablo Escobar era um mito: o maior traficante de cocaína do planeta. Era tão rico que apareceu na lista de revista “Forbes”. Pablo chefiava o Cartel de Medellin e mandava e desmandava na Colômbia, ordenando a morte de juízes, políticos, policiais e rivais do tráfico.

Já Andrés se destacou no Nacional de Medellin. E quem era dono do time? Pablo, claro, o que valeu ao Nacional o apelido de “Narconal”.

No fim dos anos 80, o futebol colombiano viveu uma época de ouro, com altos salários sendo pagos a jogadores e técnicos. E isso aconteceu porque os principais times – Nacional de Medellin, América de Cali, Milionários de Bogotá – eram dominados pelos cartéis de cada cidade.

Há imagens impressionantes. Em uma entrevista realizada na cadeia, onde cumpre pena, o bandido conhecido por “Popeye”, braço-direito de Pablo Escobar e autor confesso de 250 homicídios, conta que Pablo o mandou matar um juiz de futebol que havia prejudicado o Nacional. As imagens de arquivo mostram o juiz estirado na rua, depois de fuzilado por “Popeye”.

Já Andrés Escobar era o oposto de Pablo: um sujeito do bem, que usava sua imagem pública para tentar acabar com a imagem da Colômbia como uma terra sem lei.

No início dos anos 90, Andrés era líder de uma notável seleção colombiana que tinha ainda jogadores como Valderrama, Higuita, Asprilla e Rincón, e que chegou à Copa de 1994, nos Estados Unidos, sendo apontada por Pelé como a favorita ao título, especialmente depois de ter trucidado a Argentina, em Buenos Aires, por 5 a 0.

O que aconteceu com os dois Escobares não é segredo: Pablo Escobar foi morto pelo Exército colombiano em 1993, e Andrés foi assassinado assim que voltou para a Colômbia, depois de ter feito um gol contra na partida contra os Estados Unidos e que eliminou a Colômbia da Copa.

Mesmo sabendo o fim da história, é difícil não se emocionar com o filme.

Não consegui descobrir se os filmes da ESPN foram lançados em DVD no Brasil. Desconfio que não. Passam de vez em quando na emissora, então é bom ficar ligado. E li que a ESPN começou, em 2012, uma nova série de documentários. Não posso esperar pela caixa.

 

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Leitores falam de alvarás, burocracia e corrupção

Por Andre Barcinski
30/01/13 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Desde que publiquei um texto aqui no blog sobre a necessidade de tornar transparente o processo de emissão de alvarás para casas comerciais, para evitar burocracia e corrupção e permitir uma regulamentação eficaz de normas de segurança, recebi várias mensagens de leitores.

Alguns falavam em casas noturnas com saídas de emergência pequenas e mal sinalizadas; outros citavam estádios de futebol com rotas de fuga apertadas e restaurantes com bujões de gás expostos e perigosos.

Muitos botaram a culpa pela tragédia de Santa Maria nos artistas que usaram pirotecnia no palco e provocaram o acidente. Outros culparam os donos do clube. Alguns acusaram as autoridades de omissão.

Acho que, em casos assim, não há um único responsável, mas uma longa cadeia de culpados.

Claro que é uma irresponsabilidade usar fogos de artifício dentro de um local fechado, e é óbvio que uma casa noturna precisa atender a todas as normas de segurança. As responsabilidades, no caso de Santa Maria, precisam ser investigadas e os culpados devem ser punidos.

Mas se existisse uma fiscalização eficiente, uma casa noturna não poderia funcionar com um revestimento acústico que não fosse à prova de chamas, certo? Não se pode eximir o poder público de responsabilidade.

Selecionei trechos de duas mensagens reveladoras. Omiti o nome das pessoas e das cidades, até porque seria uma injustiça publicar acusações sem que os acusados tivessem a chance de responder.

A primeira mensagem é de uma leitora cujo marido é dono de uma casa noturna que toca rock:

“Digo que meu marido tenta há vários anos fazer a coisa certa e nunca pagou propina. Por isso mesmo, é penalizado e paga muito mais do que deveria em multas, taxas e tentativas de obter todas as documentações. Faz mais de sete anos que isso está rolando. A prefeitura de _______  por duas vezes simplesmente perdeu a documentação que ele forneceu, sendo que ele precisou pagar engenheiros, arquitetos e bombeiros para emitir qualquer tipo de certificado, e o alvará nunca sai. Arquitetos somem ao segundo contato, telefones desligados e desculpas sem fim (…) fiscais aparecem e ele prefere ser multado a pagar propina. (…) É o sonho dele e ele sabia quais as responsabilidades e deveres (…) mas, sinceramente, algumas horas já pedi pra ele abandonar o barco.”

A outra mensagem foi enviada por um leitor que construiu um “pequeno prédio de três estágios”. Ele conta que foi à sede do Corpo de Bombeiros da cidade para tentar a emissão do laudo. Na conversa, o leitor informou ao bombeiro que um dos andares de seu projeto não tinha corrimão, e o bombeiro respondeu que, dessa forma, o laudo não poderia ser emitido.

“Acontece que, quando cheguei ao prédio da corporação, tive que me dirigir até um piso superior. Veja você: neste intervalo não havia nenhum tipo de corrimão. (…) Eu perguntei para ele: “Essa exigência é dirigida a todos?”Ele me respondeu que sim. “Lamento te perguntar: a escada aí do lado já foi inspecionada?” Ele me disse: “Por quê?” E eu disse a ele, com todo o respeito, que ali não havia nenhum tipo de corrimão. Ele se desculpou de forma esfarrapada, mas não me puniu. Me deu um laudo assim que tomei as providências necessárias. Soube, depois de algum tempo, que eles também tinham se adequado às normas pelas quais zelam, mas algumas vezes não praticam.”

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Oscar só é Oscar com Rubens Ewald Filho

Por Andre Barcinski
29/01/13 07:05

Muito legal: quinta-feira, dia 31, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho receberá sua estrela na Calçada da Fama do Cine Roxy (Av. Ana Costa, 495/Santos).

Que coisa rara alguém que escreve sobre filmes ser homenageado. E nada mais justo que seja Rubens, que além de ser o crítico mais conhecido do país, é cidadão santista e aprendeu a gostar de cinema nas salas da cidade.

Desde que comecei a me interessar por cinema, Rubens Ewald Filho é uma presença inescapável. Seja comentando a cerimônia do Oscar ou lançando seus guias de filmes, ele sempre esteve lá.

E olha que eu raramente concordo com as opiniões dele. Acho que temos gosto diferente para filmes. Mas isso não me impede de ler suas críticas sempre e de, por várias vezes, ter reavaliando um filme depois de ler um texto dele.

Recentemente, participei de uma entrevista com Rubens para o programa de TV de Zé do Caixão, que vai ao ar em maio, e fiquei muito surpreso com sua história de vida.

Sem estragar a surpresa, mas ele disse que teve uma infância muito infeliz e que usava o cinema como válvula de escape para seus sonhos. Foi muito bonito vê-lo falando sobre como o cinema mudou sua vida.

Desde pequeno, Rubens passou a anotar e comentar todos os filmes que viu. Hoje, a lista tem mais de 32 mil títulos. E é bem capaz de ele lembrar todos. Nunca conheci ninguém com uma memória igual.

Não poderei estar em Santos para a cerimônia, mas deixo os parabéns para ele. E dia 24 de fevereiro estarei, como sempre, vendo seus comentários do Oscar.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet por boa parte do dia e incapaz de moderar os comentários até, pelo menos, o fim da tarde.

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Já viu "O Mestre"?

Por Andre Barcinski
28/01/13 07:05

Difícil imaginar um personagem mais perdido que o Freddie Quell de Joaquin Phoenix em “O Mestre”. Nas primeiras cenas do filme, Freddie está numa praia com companheiros da Marinha americana, na época do fim da Segunda Guerra. Ele usa um machete para abrir uma lata de óleo de motor, que mistura dentro de um coco e bebe.

 


 

Solitários, os homens esculpem mulheres nuas na areia. Freddie deita em cima “dela” e faz sexo com o ser imaginário. Quando ouve a notícia do fim da Guerra, Freddie celebra esvaziando o combustível de um torpedo e bebendo o líquido negro.

A história pula até 1950. Vemos Freddie trabalhando de fotógrafo em uma loja de departamentos, depois colhendo vegetais numa plantação. Mas ele não se adapta: arma briga e bebe qualquer coisa que possa lhe tirar, espiritualmente, dali.

A imersão de Joaquin Phoenix na miséria de Freddie Quell é total. Suas expressões, tiques nervosos e postura corporal sugerem um homem sem nenhuma ambição a não ser sobreviver mais um pouco. Suas costas arqueadas e braços esticados lembram um macaco.

Freddie entra de clandestino num navio, onde acontece uma festa. A festa celebra o casamento da filha de Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), líder de uma seita chamada “A Causa”. Dodd está viajando para Nova York, aonde vai se encontrar com outros seguidores da “Causa”. Freddie logo se junta à seita.

O filme se torna então uma batalha entre dois personagens tão fascinantes quanto perdidos: o destroçado Freddie Quell e o messiânico e carismático Lancaster Dodd. O primeiro vê em Dodd uma figura paterna, capaz de lhe conceber um fiapo de luz na vida. Já Dodd enxerga o pupilo como um desafio, ao mesmo tempo em que precisa lutar contra acusações humilhantes de charlatanismo e divulgar suas crenças.

“O Mestre” é o sexto longa-metragem de Paul Thomas Anderson (“Boogie Nights”, “Sangue Negro”), na minha lista o melhor cineasta norte-americano da atualidade.

O filme é inspirado em três personagens reais: Dodd lembra L. Ron Hubbard, o escritor e fundador da Cientologia, religião preferida de astros de Hollywood como Tom Cruise e John Travolta. Já Freddie Quell  é inspirado não só na biografia do escritor John Steinbek, como em histórias de bebedeiras relatadas pelo ator e veterano da Segunda Guerra Jason Robards, que trabalhou com Anderson em “Magnólia” (1999).

“O Mestre” é o primeiro filme de ficção rodado em 65 mm – formato de alta definição – desde “Hamlet”, de Kenneth Brannagh, em 1997.  A fotografia do romeno Mihai Malamaire Jr. é linda, com cores marcantes e um tom retrô “Kodachrome”, bem típico dos anos 50. As imagens e a trilha sonora de Jonny Greenwood (guitarrista do Radiohead) imploram que o filme seja visto numa tela grande e com som de qualidade.

“O Mestre” foi rodado em película e custou 30 milhões de dólares, que hoje não pagam nem o cabeleireiro do Will Smith. Numa época em que o cinema se aproxima cada vez mais de uma linguagem televisiva, é bom saber que ainda tem gente como Paul Thomas Anderson para fazer cinema.  Comparado ao ritmo frenético de narrativa preferido por plateias modernas, “O Mestre” é lento e contemplativo. Mas quem embarcar na viagem não vai se arrepender.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet por boa parte do dia e incapaz de moderar os comentários até, pelo menos, o fim da tarde.

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Burocracia e corrupção também causam tragédias

Por Andre Barcinski
27/01/13 13:32

Acordei domingo, a exemplo de todo mundo, fulminado pela notícia arrasadora da tragédia em Santa Maria.

É um daqueles eventos que nos fazem ligar para parentes e amados, mesmo que estejam a milhares de quilômetros de distância do acidente, só para confirmar que estão bem.

Para os familiares e amigos das vítimas, fica nossa solidariedade, mesmo sabendo que nada pode diminuir a dor que estão sentindo.

Os detalhes da tragédia ainda estão nebulosos , e só serão revelados inteiramente daqui a algum tempo.  De quem foi a culpa? O que poderia ter sido feito para ser evitado? O que fazer para evitar novos acontecimentos assim?

De uma coisa, tenho certeza: o governo precisa rever urgentemente o processo de liberação de alvarás. E não só para casas noturnas, mas para todo tipo de estabelecimentos comerciais.

Não conheço os meandros da burocracia em Santa Maria, mas conheço os de São Paulo. E a impressão que tenho é de que as leis e regulamentos para obtenção de alvarás são propositalmente absurdas e kafkianas, com o único intuito de dificultar a vida de quem deseja tirá-los. E quando isso acontece, sabemos as consequências: corrupção e falta de fiscalização adequada.

Não estou eximindo nenhum comerciante de suas responsabilidades. Mas desafio qualquer pessoa a entrar sozinha numa secretaria e conseguir um alvará, sem a ajuda de despachantes, advogados e “técnicos” e sem apelar, no fim das contas, para liminares judiciais.

Se os regulamentos forem levados a ferro e fogo, nem os prédios do governo seriam liberados. Faça um teste: procure na Internet notícias sobre prédios do governo que estão sem alvará, e você terá uma surpresa.

Se tiver tempo e disposição, faça mais: vá a prédios da prefeitura de sua cidade e verifique se todos os extintores estão posicionados de acordo com a lei, se o corrimão da escada está na altura devida, se as rampas para cadeiras de rodas estão no ângulo adequado e todas as luzes de emergência estão sem seu lugar.

Com uma legislação mais simples e menos burocratizada, os comerciantes não passariam anos ou gastariam absurdos para tirar o alvará, e acabaria a verdadeira “indústria” dos alvarás que hoje, infelizmente, existe.

São em momentos assim, quando o país todo está chocado e sensibilizado por uma tragédia, que governantes correm o risco de tomar decisões populistas e que, no fim, não levariam a nada: fechar comércios, trancar lojas, fazer ajustes cosméticos e sem efetividade a longo prazo.

O que é preciso fazer, de verdade, é mudar o processo todo, rever a longa cadeia de burocracia que existe hoje, e acabar com as dificuldades. Só assim, “limpando” tudo, poderíamos ter uma fiscalização eficiente.

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Ele conseguiu melhorar até a Vera Fischer...

Por Andre Barcinski
25/01/13 07:05

Sem ele, o cinema brasileiro teria sido perdido muito da graça: José Luiz Benício da Fonseca, o Benício, foi o ilustrador de dezenas de cartazes de filmes nacionais. E conseguiu a proeza de deixar mulheres que já eram lindas, ainda mais irresistíveis.

Quem não lembra Vera Fischer de pernas cruzadas no cartaz de “A Super Fêmea”? Ou Marlene Silva de decotão em “A Dama da Zona”? Ou Adele Fátima cercada por anões – e por Costinha – no cartaz de “Histórias que Nossas Babás não Contavam”?

 

 

 

 

 

 

 

Quem foi criança nos anos 70 e 80 certamente lembra os coloridos e engraçados cartazes dos filmes dos Trapalhões. Foi Benício quem desenhou.

Leia aqui uma ótima entrevista por Benício, feita pelo ilustrador Orlando.

O jornalista Gonçalo Júnior, especialista em quadrinhos, lançou recentemente o livro “E Benício Criou a Mulher”. Comprarei imediatamente.

Numa época de censura e regime militar, Benício fez a alegria de muita gente, com suas deusas voluptuosas. Se você passasse pela Cinelândia e visse um grupo de homens parado em frente à fachada de um cinema, sabia que estavam olhando para algum cartaz de Benício.

E Benício continua na ativa, aos 76 anos, apesar de ter sofrido um AVC há dois anos. Espero que o livro de Gonçalo ajude uma nova geração a conhecer o trabalho do rei das “pin-ups” brasileiras. Benício merece.

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Tarantino vs. Spike Lee: a briga continua

Por Andre Barcinski
24/01/13 07:05

E a briguinha entre Spike Lee e Quentin Tarantino teve um segundo “round”. O primeiro aconteceu há 15 anos, quando Tarantino lançou “Jackie Brown” e Lee o acusou de usar demais no filme a palavra “nigger”, uma expressão racista extremamente ofensiva. Tarantino retrucou, dizendo que eram apenas seus personagens falando, não ele.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No fim de 2012, às vésperas do lançamento norte-americano do novo filme de Tarantino, “Django Livre”, Spike Lee chamou o filme de “desrespeitoso”, apesar de ter admitido não tê-lo visto. “A escravidão americana não foi um spaghetti western de Sergio Leone. Foi um Holocausto. Meus ancestrais foram roubados da África”.

No filme, o personagem de Jamie Foxx é um escravo que tenta libertar sua esposa de um poderoso e sádico senhor de terras (Leonardo Di Caprio).

Em uma entrevista ao programa de rádio de Howard Stern, Tarantino retrucou de novo: “O filme fala sobre a época da escravidão, um período terrível e injusto. Como alguém pode fazer um filme sobre a escravidão sem mostrar as injustiças que eram cometidas?”

A verdade é que Spike Lee se acha “dono” do tema “conflito racial”. E não é de hoje que se mostra incomodado quando um diretor branco resolve abordá-lo.

Em 1991, o cineasta Norman Jewison se preparava para rodar “Malcolm X”, cinebiografia do líder negro. Spike Lee, que havia feito sucesso com “Faça a Coisa Certa”, protestou, dizendo que um branco nunca poderia contar direito a história de Malcolm X. A chiadeira deu resultado, e a Warner tirou Norman Jewison do projeto e colocou – surpresa! – Spike Lee para dirigir o filme.

Detalhe: Norman Jewison, que na época tinha 65 anos e já era um veterano do cinema norte-americano, havia dirigido pelo menos dois grandes filmes sobre o tema do racismo: “No Calor da Noite” (1967), com Rod Steiger e Sidney Poitier, filme que ganhou cinco prêmios Oscar, e “A História de um Soldado” (1984).

Separei trechos de uma entrevista que Elvis Mitchell, excelente crítico de cinema, fez com Spike Lee para a revista “Playboy”, em 1991. Foi um papo revelador:

– Você disse que nunca se envolveria com uma mulher branca…

– Não preciso desse problema. Não gosto dessa merda. Eu simplesmente não acho mulheres brancas atraentes, é só isso. E há muitas mulheres negras lindas por aí.

– Você disse também que nenhum cineasta branco poderia fazer justiça à história de Malcom X.

– É verdade.

– Você não acha que Norman Jewison, que estava originalmente escalado para dirigir o filme, poderia fazê-lo?

– Não, não acho. Por que sempre perguntam essas merdas para os negros? Você não acha que Francis Ford Coppola trouxe algo de especial para “O Poderoso Chefão” pelo fato de ser italiano? Ou que Martin Scorsese trouxe algo especial para “Os Bons Companheiros” por ser italiano?

– Marlon Brando não é italiano e trabalhou em ‘O Poderoso Chefão’. Será que o ponto não é a baixa presença de minorias no cinema?

– Sim. E quando essa merda mudar, nós podemos conversar. Até que tenhamos muitos diretores negros trabalhando em filmes, e minorias trabalhando em filmes, a ponto de isso não ser mais uma questão, temos de tratar o assunto de maneira diferente.

– Mas e se um cineasta tiver qualidades que outro não tem?

– Eu respeito Norman Jewison, respeito seu trabalho (…) Mas acho que, nesse caso, um homem negro é mais qualificado. Mas também acredito que cineastas negros são qualificados para dirigir filmes sobre pessoas brancas.

– E como isso funciona?

– Porque nós crescemos com imagens brancas o tempo todo, na TV, no cinema, em livros. O mundo branco nos rodeia.

Depois das críticas de Spike a “Django Livre”, o ator do filme, Jamie Foxx, respondeu: “Qual é a de Spike Lee? Ele não gosta de Whoopi Goldberg, não gosta de Tyler Perry, não gosta de ninguém. Acho que ele se esgotou (…) Spike é um diretor fantástico, mas ele se torna mesquinho ao atacar seus colegas sem acompanhar o trabalho que está sendo feito. Para mim, isso é irresponsável.”

Será que vem por aí um terceiro round?

P.S.: Estarei sem acesso à Internet por boa parte do dia. Se o seu comentário demorar a ser publicado, por favor, tenha um pouco de paciência. Obrigado.

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Michael Jackson e o mito do bilhão de discos

Por Andre Barcinski
23/01/13 07:05

O blog da revista “The New Yorker” publicou recentemente uma matéria muito interessante sobre venda de discos no mundo (leia aqui).

O “gancho” foi a divulgação de uma nota de representantes de Michael Jackson, que dizia que o artista havia atingido a marca de um bilhão de discos vendidos. Outro número impressionante: o álbum “Thriller” teria vendido mais de 100 milhões de cópias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A reportagem entrevistou o francês Guillaume Viera, um designer de web que, em suas horas vagas, coleta obsessivamente material sobre venda de discos em todo o mundo.

Os números calculados por Viera são bem menores. Segundo ele, “Thriller” é o LP mais vendido da história da música, mas não chega nem perto dos 100 milhões vendidos: tem “só” 66 milhões e uns quebrados.

E o número total de discos vendidos por Jackson seria de 515 milhões, empatado com os Beatles, mas abaixo de Paul McCartney, que lidera a lista com 670 milhões.

Aqui vai a lista dos 30 LPs mais vendidos em todo o mundo:

1. Michael Jackson, “Thriller”: 66,200,000
2. Trilha Sonora de “Grease”: 44,700,000
3. Pink Floyd, “The Dark Side of the Moon”: 44,200,000
4. Whitney Houston, “The Bodyguard”: 38,600,000
5. The Bee Gees, “Saturday Night Fever”: 37,200,000
6. The Eagles, “Their Greatest Hits 1971-1975”: 36,900,000
7. Bob Marley, “Legend”: 36,800,000
8. Led Zeppelin, “IV”: 35,700,000
9. AC/DC, “Back in Black”: 35,700,000
10. Shania Twain, “Come on Over”: 35,400,000
11. Michael Jackson, “Bad”: 34,700,000
12. Trilha Sonora de “Dirty Dancing”: 33,300,000
13. Dire Straits, “Brothers in Arms”: 33,200,000
14. Alanis Morissette, “Jagged Little Pill”: 33,200,000
15. Fleetwood Mac, “Rumours”: 33,000,000
16. The Beatles, “1”: 32,400,000
17. Pink Floyd, “The Wall”: 31,900,000
18. ABBA, “Gold”: 31,400,000
19. Guns N’ Roses, “Appetite for Destruction”: 30,800,000
20. Simon & Garfunkel, “Greatest Hits”: 30,700,000
21. Queen, “Greatest Hits”: 30,600,000
22. Celine Dion, “Let’s Talk About Love”: 30,300,000
23. Michael Jackson, “Dangerous”: 30,200,000
24. Celine Dion, “Falling into You”: 30,200,000
25. The Eagles, “Hotel California”: 30,000,000
26. Bruce Springsteen, “Born in the U.S.A.”: 29,100,000
27. Metallica, “Metallica”: 28,900,000
28. Meat Loaf, “Bat Out of Hell”: 28,700,000
29. Trilha Sonora de “Titanic”: 28,500,000
30. The Beatles, “Abbey Road”: 28,300,000

Se nos Estados Unidos e Europa a contagem de discos vendidos é sujeita a todo tipo de erro, no Brasil a situação sempre foi caótica.

Se você perguntar para “x” pessoas envolvidas na gravação de qualquer disco no Brasil quanto vendeu tal disco, receberá “x” respostas diferentes. Ninguém sabe.

Um exemplo: na lista divulgada pela ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos) dos artistas que mais venderam discos no Brasil, Tonico e Tinoco aparecem em primeiro lugar, com 150 milhões de cópias. Por mais que eu admire Tonico e Tinoco, não dá para acreditar que eles tenham vendido 30% do que os Beatles, que fizeram sucesso no mundo todo, venderam.

Em segundo lugar na lista da ABPD está Roberto Carlos, com supostos 120 milhões de discos vendidos na carreira. Mas Roberto, que tem cerca de 55 LPs lançados, entre discos de inéditas e coletâneas, não tem um LP sequer na lista dos 16 mais vendidos no país publicado no livro “Os 10 Mais”, de Luiz André Alzer e Mariana Claudino (o 1º da lista é “Músicas para Louvar o Senhor”, de Padre Marcelo Rossi, com 3,3 milhões de cópias). A conta simplesmente não fecha. E agora?

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