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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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20 documentários para ver antes de morrer

Por Andre Barcinski
27/11/12 07:05


 

Estarei fora até 3/12. Até lá, vou republicar alguns textos desses últimos dois anos e meio. Infelizmente, não poderei moderar os comentários, que só serão publicados em 3/12, quando o blog volta com textos inéditos.

O canal norte-americano Current TV exibiu o festival “50 documentários para ver antes de morrer”.

Os filmes foram selecionados por Morgan Spurlock, diretor de “A Dieta do Palhaço” (“Super Size Me”), filme em que relata sua experiência como cobaia numa dieta à base de sanduíches do McDonald’s.

A lista de Spurlock é, francamente, ridícula (veja aqui). Pra começar, ele inclui o próprio filme, que não passa de uma curiosidade, como o quinto melhor documentário dos últimos 25 anos.

Claro que há filmes interessantes na lista, mas boa parte são desses que mais parecem programas de TV ou “reality shows”. Como os documentários de Michael Moore, engenhosas peças de propaganda e cinema de quinta categoria.

Resolvi fazer uma lista de meus 20 documentários prediletos, para comparar com a lista de Spurlock. Só concordamos em seis títulos. Faça a sua lista e compare.

Aqui vai minha lista, em ordem cronológica:

 

Nanook, o Esquimó (Robert Flaherty, 1922)

Várias sequências foram reencenadas para as câmeras, mas isso não tira o brilho dessa obra-prima que conta um ano na vida de um esquimó. Flahrety fez também o extraordinário “Homem de Aran” (1935), sobre a vida em uma ilha remota da Irlanda.

 

O Homem com a Câmera (Dziga Vertov, 1925)

Até hoje é um choque ver esse mosaico da vida russa dos anos 20, em que Vertov praticamente inventa a linguagem cinematográfica moderna.

 

Olympia (Leni Riefensthal, 1938)

A cineasta predileta de Hitler revolucionou o cinema com técnicas surpreendentes para a época – closes, câmeras que filmavam de ângulos inusitados e com movimentos fluidos, câmera lenta – e copiadas até hoje. O filme é controverso, mas, a bem da verdade, Riefensthal dedica imagens lindas a Jesse Owens, o atleta negro que irritou Hitler com suas vitórias nas pistas.

 

Marjoe (Howard Smith e Sarah Kernochan, 1972)

Se você não viu ainda, ache esse filme de qualquer maneira. Conta a história de um evangelista, Marjoe Gortner, que depois de enganar milhares de fiéis por anos, tem uma crise de consciência e resolve mostrar para as câmeras suas técnicas de charlatanismo. O filme causou tanta revolta na época que nunca mais foi exibido, apesar de ter levado o Oscar. O negativo por pouco não foi perdido e o filme só foi lançado em DVD há pouco tempo.

 

Corações e Mentes (Peter Davis, 1974)

Obra-prima do cinema documental ou uma eficiente peça de propaganda contra a presença americana no Vietnã? De qualquer forma, vale a pena ver esse filme, que causou muita polêmica na época e continua impressionante.

 

Grey Gardens (Albert e David Maysles, 1975)

Filme arrasador sobre a vida de duas socialites decadentes, mãe e filha, vivendo numa mansão decrépita em Nova York e tentando manter as aparências.

 

Harlan County, USA (Barbara Kopple, 1976)

Clássico sobre a luta de mineradores do Kentucky contra as condições desumanas de trabalho impostas por uma grande empresa de carvão.

 

A Batalha do Chile (Patricio Guzman, 1975-1979)

Documentário em três partes que narra a ascensão e queda de Salvador Allende no Chile. O negativo foi doado pelo cineasta francês Chris Marker (“La Jetée”), e o cinegrafista sumiu, junto com milhares de outras vítimas de Pinochet. Cinema-verdade é isso aí.

 

Koyaaniskatsi (Godfrey Reggio, 1982)

Imagens delirantes, nenhum diálogo, e a música gélida de Phillip Glass fazem desse filme sobre os perigos da modernidade uma experiência aterradora.

 

Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho, 1984)

Dois grandes filmes em um. Depois que os militares interrompem as filmagens de um documentário sobre lideranças camponesas, em 1964, Coutinho volta ao local, 18 anos depois, para retomar a história. Fascinante.

 

The Thin Blue Line (Errol Morris, 1988)

Errol Morris é o cara. Qualquer filme dele poderia figurar nessa lista: “Sob a Névoa da Guerra”, “Doctor Death” e “Fast, Cheap, and Out of Control”… Escolhi “The Thin Blue Line”, história real de um homem condenado à morte por um crime que não cometeu. Não vou estragar a surpresa do fim. É ver para crer.

 

Francis Ford Coppola – O Apocalypse de um Cineasta (Fax Bahr, George Hickenlooper, 1991)

Narrado pela mulher de Coppola, Eleanor, documenta a saga das filmagens de “Apocalypse Now”, marcada por acidentes, problemas gigantescos e egos maiores ainda.

 

Hoop Dreams (Steve James, 1994)

O esporte como único meio de ascensão social para famílias negras norte-americanas é o tema desse filme comovente. O diretor acompanhou anos da vida de dois meninos que sonham em jogar basquete profissional.

 

Crumb (Terry Zwigoff, 1994)

Fiquei estarrecido quando vi este filme pela primeira vez e descobri a história da vida de Crumb e seu relacionamento traumático com os irmãos. Revi o filme há pouco tempo. Continuei estarrecido.

 

Paradise Lost: The Child Murders at Robin Hood Hills (Joe Berlinger e Bruce Sinofsky, 1996)

Berlinger e Sinosfky fizeram também os ótimos “Brother’s Keeper” e “Some Kind of Monster”, o documentário sobre o Metallica. Aqui, eles contam a história de três adolescentes acusados de matar um colega em um ritual de magia negra. Apavorante.

 

Meu Melhor Inimigo (Werner Herzog, 1999)

Herzog tenta entender a demência do amigo/inimigo Klaus Kinski. Melhor momento: um índio se oferece a Herzog para matar Kinski, durante a filmagem de “Fitzcarraldo”.

 

Na Captura dos Friedmans (Andrew Jarecki, 2003)

Os Friedman eram uma típica família de classe média suburbana. Até que o pai e um dos filhos são acusados de molestar sexualmente crianças. Uma história marcante sobre linchamentos coletivos e o sensacionalismo da imprensa.

 

Santiago (João Moreira Salles, 1997-2007)

Adorei esse filme extremamente simples e pessoal sobre a vida do mordomo da família Salles, Santiago, um personagem obsessivo e fascinante.

 

The King of Kong (Seth Gordon, 2007)

Filme divertidíssimo sobre dois nerds que disputam o título de campeão mundial do videogame “Donkey Kong”.

 

Dear Zachary: a Letter to a Son About His Father (Kurt Kuenne, 2008)

Quando seu melhor amigo – cuja esposa está grávida – é assassinado, Kuenne resolve fazer um filme sobre ele, para mostrar ao filho que vai nascer. Já vou avisando: é uma das experiências mais arrasadoras do cinema nos últimos anos.

 

Publicado originalmente em 15/9/2011

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Sua casa tem Terraço Gourmet?

Por Andre Barcinski
26/11/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

Estarei fora até 3/12. Até lá, vou republicar alguns textos desses últimos dois anos e meio. Infelizmente, não poderei moderar os comentários, que só serão publicados em 3/12, quando o blog volta com textos inéditos.

Já virou uma tradição dominical aqui em casa. Mal raiou o dia, botamos o café da manhã na mesa, preparamos o pão com manteiga quentinho, e abrimos o jornal em nossa seção favorita: os classificados de imóveis.

Nada faz tão bem ao humor quanto ler os incríveis anúncios de empreendimentos imobiliários. É um melhor que o outro.

Os nomes dos prédios, sempre em idiomas estrangeiros inventados, são o que primeiro chamam a atenção. E dá-lhe “Chateau”, “Plaza”, “Piazza”, “Residence”, “View”, “Tower”, “Prime”, “Bridge”, “Square” e “Fontana”, entre outros clichês rasteiros da pseudo-sofisticação.

Domingo passado, o reclame de um prédio trazia uma foto da Torre Eiffel e um texto rococó que associava a experiência de morar ali com a vida em Paris. Detalhe: o prédio era em Sâo Bernardo.

Outro listava, entre os muitos atributos do condomínio, uma deslumbrante vista do Hopi Hari.

Até recentemente, eu acreditava morar em Santa Cecília, quase Barra Funda. Mas descobri, graças ao anúncio de um prédio vizinho, que meu bairro agora se chama “Nova Higienópolis”.

Impressionante a liberdade geográfica tomada por certos publicitários. Tiro meu chapéu para eles.

Um típico texto de anúncio imobiliário diria o seguinte:

“Um autêntico dois quartos – com terceiro opcional – a passos de um pólo comercial e gastronômico de primeira categoria. Alegria e conforto para toda a família. Venha desfrutar do Terraço Gourmet, onde você poderá se deliciar com as maravilhas da culinária internacional enquanto seus filhos se divertem na piscina de raia olímpica ou assistem a um filme em nosso Movie Palace. Outro destaque é o Esthetic Beauty Salon Chic, reunindo as mais avançadas técnicas da ciência da beleza, e o moderníssimo Fitness Palace, um autêntico laboratório high-tech com o que de mais atual existe na indústria do personal fitness”.

Traduzindo:

“Uma lata de sardinha com dois quartos do tamanho de um ovo e uma sala minúscula que pode ficar menor ainda se você optar por botar uma parede no meio e fazer um terceiro quarto-ovo, só que este, de codorna. Próximo a um shopping, com engarrafamento garantido do minuto em que você sai da garagem até o seu retorno, depois de 12 horas no escritório. Você pode queimar uma lingüiça na churrasqueira da varanda enquanto seus filhos se espremem numa tripa de água de 10m x 1m (único lugar do terreno em que cabia um buraco no chão) ou assistem a uma reprise do Chaves numa sala sem janelas, com cadeiras de plástico e uma TV de plasma de 40 polegadas. Enquanto isso, o jaburu da sua sogra pode fazer as unhas na manicure e sua mulher pode suar as pelancas numa esteira comprada em 120 prestações na Marabráz enquanto assiste à Ana Maria Braga preparando uma receita com 37 vezes mais calorias do que as que ela acaba de perder na esteira.”

Outro hábito dominical aqui em casa é tentar emular a genialidade dos publicitários e criar alguns novos lançamentos imobiliários. Aqui vão alguns:

La Grande Ver de Terre

A dois minutos do Centro, com pista de atletismo noturna e uma deliciosa promenade bem em frente à sua janela.  Av Sâo João, 171 (Minhocão)

 

Green House Fun View

Venha morar no bairro mais moderno de Sâo Paulo, com uma vista panorâmica de um dos locais mais alegres e jovens da cidade. Rua Unidos do Peruche, Casa Verde (altura do Playcenter)

 

Upper East Side Luxury

Aqui, como em Nova York, o chique é morar no “upper” Zona Leste. Rua Trovão, 69, Vila Ré (ao lado da sede dos Abutres)

 

Le Petit Pipe du Crack Residence

Localização privilegiada, em área recentemente incentivada pela Prefeitura, bem no centro de um dos pontos mais agitados da vida da cidade – especialmente à noite e nas primeiras horas do dia. Rua Vitória, 69, ao lado da Praça Júlio de Mesquita

 

Chateau Alpine

Desfrute do silêncio e da tranquilidade dos Alpes. Mais de 700 mil m2 de total paz. Rua Berna, 198 (ao lado do Cemitério da Vila Alpina)

 

Faithful Hawks Tower

Venha curtir toda a descontração desse novo empreendimento. Som ambiente 24 horas e muita, mas muita alegria. Rua Vicente Matheus, s/n, (ao lado da quadra da Gaviões)

 

Publicado originalmente em 21/10/2010

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A volta do pai do Exorcista

Por Andre Barcinski
23/11/12 07:05


 

Vários leitores já haviam chamado a atenção para o filme “Killer Joe”, de William Friedkin, mas eu não tinha levado muito a sério. Afinal, Friedkin estava mais por baixo que show da Lady Gaga, e acabei ignorando o conselho.

Mas o pessoal insistiu tanto que resolvi conferir. E só digo uma coisa: muito obrigado! É um dos filmes mais surpreendentes que vi em muito tempo. Estava programado para sair em DVD no Brasil como “Killer Joe – Matador de Aluguel”, mas, segundo meu amigo Rodrigo Salem, ainda não saiu. Talvez saia nos cinemas em janeiro.

Houve uma época em que William Friedkin era deus. O cara fez “Operação França” (1971), “O Exorcista” (1973), “Parceiros da Noite” (1980) e “Viver e Morrer em Los Angeles” (1985). Só isso.

Depois, entrou numa maré de azar danada. “Rampage”, que dirigiu em 1987, ficou cinco anos na gaveta, quando a produtora faliu. E Friedkin, um dos maiores egos da história de Hollywood, não agüentou o fracasso.

“Killer Joe” foi um fiasco de bilheteria, lançado mal e porcamente nos cinemas americanos. Baita injustiça. Daqui a alguns anos, é capaz de ser redescoberto como um dos grandes “filmes perdidos” de nosso tempo.

A história é simples e gira em torno da família mais abjeta e desequilibrada que já vi num filme: Chris (Emile Hirsch), um traficante chulé, decide dar um golpe no seguro e matar a própria mãe, uma trambiqueira que não vale o ar que respira.

Chris conta o plano para o pai, um burraldo chamado Ansel (Thomas Haden Church, de “Sideways”) e para a mulher dele,  Sharla, uma periguete safada, vivida pela incomparável Gina Gershon. Os dois dão a maior força.

Chris contrata os serviços de um policial, Killer Joe (Matthew McConaughey), um assassino de aluguel, que logo fica babando pela ninfeta Dottie (Juno Temple), irmã de Chris.

Não vou contar mais, até porque a história é simples e o mais importante, no filme, é a ambientação. Friedkin criou uma galeria de personagens tão repulsivos que chegam a ser engraçados.  O filme começa como um drama, mas logo se torna uma comédia de humor negro, com cenas inesquecíveis.

Há uma sequência envolvendo uma coxa de galinha que é das coisas mais intensas, macabras e, por fim, hilariantes, que o cinema proporciona em muito tempo.

Outro mérito do filme é revelar o talento de Matthew McConaughey, perfeito no papel do matador psicopata. Até esse filme, achava McConaughey um engano ambulante, sempre tentando agradar em comédias sem graça e fazendo o papel de si mesmo. Mas Friedkin consegue tirar dele uma atuação surpreendente.

“Killer Joe” é um filme simples e barato. Tem um elenco pequeno e não conta com a megaprodução dos antigos polciais de Friedkin, repletos de perseguições de carro e tiroteios espetaculares. Mas tem um roteiro tão bem amarrado e personagens tão fortes, que não precisa de muitas estripulias visuais.

Numa época em que Hollywood parece incapaz de fazer filmes para adultos, é um desperdício enorme ter gente como William Friedkin e Paul Schrader jogados para escanteio.

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Led Zeppelin, a maior "boy band" do rock

Por Andre Barcinski
22/11/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Li em duas tacadas, sem conseguir parar, “Luz & Sombra – Conversas com Jimmy Page”, de Brad Tolinski.

O livro é uma compilação de várias entrevistas que Tolinski, editor da revista “Guitar World”, fez com Page ao longo dos últimos 20 anos.

Não é segredo que Jimmy Page nunca gostou de entrevistas.  Na verdade, sempre evitou a imprensa, desde que o Led Zeppelin virou saco de pancadas de críticos, ainda no fim dos anos 60.

Mas Tolinski parece ser o entrevistador ideal para Page. Além de obcecado pelo Led Zeppelin, é um jornalista dócil, que evita tocar em assuntos polêmicos. Além de ser guitarrista, claro, o que o permite entrar em conversas técnicas – e pouco compreensíveis para não-músicos – com Page.

Não espere grandes revelações sobre orgias em turnês, pedaços de peixes usados como objetos sexuais ou a ligação de Page com magia negra. Quem quiser ler sobre isso, que procure “Hammer of the Gods”, de Stephen Davis, até hoje um dos relatos mais impressionantes sobre a vida de uma banda na estrada (ainda não li, mas vou comprar o recente “Trampled Under Foot: The Power and Excess of Led Zeppelin”, de Barney Hoskins, que, pelo visto, também é sensacional).

“Luz & Sombra” evita polêmica, mas trata a música de Jimmy Page com reverência e detalhamento impressionantes.

Tolinski acha que Page merece estar no rol dos grandes produtores da história da música pop, como Phil Spector e George Martin. Eu acho um exagero, mas é uma opinião válida.

O livro destrincha a carreira de Page antes do Led e diz que ele tocou, como músico de estúdio, em cerca de 60% dos compactos de rock gravados na Grã-Bretanha no início dos anos 60, em discos de Donovan, Kinks, Them, etc.

Para mim, a parte mais interessante do livro é a que descreve como Page concebeu e criou o Led Zeppelin.

Admiradores do Zep vão me xingar, mas a verdade é que o grupo é uma invenção de laboratório, em que os mínimos detalhes foram pensados e postos em prática por Page. Nesse aspecto, não se difere em nada de uma “boy band”. Com a diferença, claro, de serem todos músicos extraordinários e criado discos clássicos.

Quando criou o Led Zeppelin, Jimmy Page sabia exatamente o que queria. Os anos tocando em estúdio e excursionando com os Yardbirds (banda que teve Eric Clapton, Jeff Beck e Page como guitarristas), deu a ele uma idéia muito clara do que era necessário para ter sucesso.

Page montou o Led como um grande Frankenstein: criou não só o som do grupo, mas seu visual, a postura no palco, a grandiosidade dos shows. Controlava tudo. Tanto que pagou, do próprio bolso, a gravação do primeiro disco, que vendeu para a gravadora Atlantic. “Eu não queria que a gravadora tivesse nenhuma interferência no disco, por isso fiz tudo sozinho”, conta o guitarrista.

Para quem não é músico ou ligado em truques de estúdio, o livro pode parecer um pouco detalhista demais (um dos capítulos começa com a pergunta “Como você conseguiu o som de bateria em ‘When the Levee Breaks’?” ), mas as respostas de Page são sempre interessantes.

O livro teria sido ainda melhor se Brad Tolinski se arriscasse de vez em quando em perguntas mais ousadas. Eu adoraria, por exemplo, ouvir Page falando sobre a influência do ocultismo em sua obra. Mas isso não tira os méritos de “Luz & Sombra”.

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A tilápia morreu; viva o Saint Peter!

Por Andre Barcinski
21/11/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A gloriosa revista “Mad” tinha uma seção chamada “Cenas que gostaríamos de ver”. Sempre sonhei em presenciar a seguinte cena, entre um cliente e um garçom de um restaurante de luxo:

O cliente chega ao restaurante, abre o “menu” e vê lá: “Saint Peter”.

– Garçom, o Saint Peter está fresco?

– Sim, senhor, foi pescado hoje no pesque-pague ali na estrada.

– Como assim? Saint Peter não é um peixe importado? Com um nome desses?

– Não, otário, é uma tilápia. A gente chama de Saint Peter para poder cobrar o triplo de um mané que nem você.

É oficial: a tilápia morreu. Em seu lugar, surgiu o Saint Peter, sua versão Berrini.

O pobre peixe foi para a mesma cova onde estão “entrega em domicílio”, “tração nas quatro rodas” e “cafezinho”, mortos e substituídos por “delivery”, “four wheel drive” e “coffee break”.

Já está na hora de alguém fazer um dicionário da moderna semântica brasileira.

Por que continuar falando “churrasqueira na varanda”, quando se pode usar “Terraço Gourmet”? Ou “bolinho”, quando “cupcake” é tão mais bacana?

Por que morar na Barra Funda quando você pode comprar um apartamento em “Nova Higienópolis”? Ou deixar seus filhos brincarem no jardim do prédio, quando eles podem se esbaldar no “Play Day”?

E quem gosta de conhecer novidades lingüísticas tem um programão para hoje, em São Paulo, quando será aberta a segunda edição da Fastener Fair Brasil.

Conhecida entre especialistas como “Feira Internacional de Tecnologias de Fixação”, o evento briga para se isolar do nome pelo qual os detratores insistem em chamá-lo: “Feira do Parafuso”.

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A contracultura não seria a mesma sem ele

Por Andre Barcinski
19/11/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma das figuras mais importantes da contracultura dos anos 60 e 70 está no Brasil. O inglês Barry Miles, 69, autor, jornalista, ativista e agitador cultural, amigo pessoal de Paul McCartney, Allen Ginsberg e dos poetas “beat”, faz um debate hoje em São Paulo e quarta, no Rio (veja a matéria que publiquei sobre Miles na “Folha”, aqui).

Entrevistei Barry Miles para a “Ilustrada”. Aqui vai o melhor da conversa:

 

– Você, que viveu intensamente os anos 60, como vê esse processo de idealização que existe sobre aquela década? Os 60 são vistos, hoje, como anos de liberdade total, de experimentações…

– Mas não foi exatamente assim, não é mesmo? Muito do que se fala sobre os anos 60 – a liberdade sexual, a intensa experimentação com drogas – só aconteceu, de fato, nos anos 70.  Nos 60, não havia sequer pelos pubianos em fotos de revistas, era um tempo muito pudico e reacionário. Foi, claro, uma época em que as pessoas começaram a pensar em formas alternativas de vida e comportamento, por isso foi tão importante.

 

– Essa divisão histórica que se faz entre os 60 e os 70 também parece muito forçada, não? Como se o início de uma nova década automaticamente significasse mudanças…

– Sem dúvida. Prefiro ver todo o período de 1964 a 1978 como uma continuidade de um processo de mudanças na sociedade. Isso acabou quando o punk surgiu. E é gozado, porque muitos falam que o punk surgiu como uma reação ao movimento hippie, mas a verdade é que muitos punks gostavam da filosofia hippie. O pessoal do Clash era leitor do “International Times”, por exemplo (jornal alternativo que Miles fundou em 1966).

 

– De todos os personagens com quem você conviveu, quem te marcou mais?

– Difícil, foram tantos… Mas acho que foi Allen Ginsberg. Morei por mais de um ano na casa de campo de Ginsberg, no estado de Nova York, em 1970, quando ele me convidou para organizar seus arquivos e catalogar as gravações de suas leituras de poesia. Allen era uma pessoa muito generosa. Por meio dele, conheci todos os “beats”. Ele mudou minha vida.

 

– Você escreveu a biografia de Ginsberg. Ele era um bom entrevistado? Era do tipo que lembrava tudo sobre a própria carreira?

– Não, pelo contrário (risos), tinha uma memória muito ruim e simplesmente inventava muito sobre o próprio passado. Uma vez, me contou de um verão inteiro que passou numa fazenda de maconha com Neal Cassady (figura fundamental do movimento “beat” e inspiração do personagem Dean Moriarty, do livro “On the Road”, de Jack Kerouac). Quando fui checar as datas, descobri que tinham passado não mais de quatro dias lá. Depois me contou que, no tempo em que esteve na Marinha Mercante, nunca tinha posto um uniforme militar, mas achei fotos dele até no treinamento de tiro! Allen tinha bloqueado algumas coisas de sua memória. Mas o pior entrevistado do mundo tem de ser Mick Jagger. Ele não lembra absolutamente nada sobre a própria vida.

 

– E “Many Years From Now” (biografia oficial de Paul McCartney). Como foi escrever esse livro?

– O livro é baseado em entrevistas que Paul me concedeu. Paul é um artista corajoso e sempre aberto a novidades. Quando fiz o livro, confessou suas experiências com heroína, coisa que só as pessoas mais chegadas a ele sabiam. Mas não pediu para excluir nada do texto, a não ser uma ou duas passagens sobre antigas namoradas, que poderiam chatear Linda (McCartney, esposa de Paul). Na época, Linda estava morrendo de câncer, e tudo que Paul não queria fazer era magoá-la.

 

– Você foi uma espécie de mentor intelectual de McCartney, não?

– Não sei se chego a tanto, mas o apresentei a pessoas muito interessantes. Levei Allen Ginsberg e William Burroughs à casa de Paul, além de pintores e poetas.

 

– Você está trabalhando em algum livro novo?

– Sim, estou terminando a biografia de William Burroughs. Será lançada em 2014, ano do centenário de nascimento dele. As pessoas que cuidam do acervo de Burroughs me deram acesso total a tudo. Tive acesso até aos arquivos de internações psiquiátricas dele.

 

– Não consigo nem imaginar o que existe nesses documentos.

– Você não tem idéia: os relatórios médicos sobre a saúde mental de William Burroughs são absolutamente fascinantes e nunca foram divulgados. Não posso esperar para o livro sair.

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Quando os Rolling Stones metiam medo

Por Andre Barcinski
14/11/12 07:05


 

Não tenho mais paciência para os Rolling Stones.

A cada anúncio de uma nova turnê ou de um novo disco, tenho menos apreço pelos Stones. Ou melhor, pela empresa que a banda se tornou, há pelo menos 30 anos.

O grupo acaba de anunciar mais uma turnê e o lançamento de músicas novas, celebrando meio século de atividade. Já sabemos o que vem por aí: o mesmo show de sempre, com duas ou três músicas novas para tentar empurrar alguns CDs.

A autobiografia de Keith Richards deixou claro que ele e Jagger não se dão bem há décadas e nem parecem se respeitar muito. Estou curioso para ler a recente biografia de Jagger, escrita por Phillip Norman, para saber o outro lado.

O filme-concerto de Martin Scorsese, “Shine a Light”, foi uma chatice. Parecia um comercial de carro, de tão limpinho e asséptico. Os Stones, príncipes das trevas da contracultura, transformados em atração nostálgica para yuppies cinqüentões. Uma vergonha.

Em meio a tantas novidades sonolentas, pelo menos uma boa notícia: acaba de sair em DVD um documento fundamental para se conhecer os Stones na época em que eram os cabeludos mais perigosos do mundo: “Charlie is My Darling”, primeiro documentário sobre o grupo.

Filmado em dois shows na Irlanda, em setembro de 1965, captura os Stones antes de se tornarem celebridades.

Não vi o filme ainda, mas as poucas cenas disponíveis em Youtubes da vida são reveladoras: Mick Jagger falando para jornalistas que existe uma “coisa sexual” entre a platéia e o grupo; fãs adolescentes praticamente implodindo de tensão sexual e desejo reprimido; a banda destruindo em cima do palco, com Brian Jones eclipsando Keith Richards como o Stone mais “cool”.

Dá para ter uma idéia do que os Rolling Stones simbolizaram em 1965: a chegada do “novo”, de mudanças culturais e comportamentais profundas. Quem ouve “Satisfaction” embalando festas de firma mal pode acreditar que já foi o hino rebelde de uma geração.

Não posso esperar para ver “Charlie is my Darling”. Quem sabe me faz esquecer o filme do Scorsese.


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Começou o Natal dos fiscais!

Por Andre Barcinski
13/11/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O restaurante está vazio. Apenas três mesas ocupadas. O almoço não é o forte do local.

De repente, cinco pessoas entram. Parecem apressadas. Usam jalecos com o nome de conhecidos órgãos de fiscalização. Um é da vigilância sanitária. Outros dois, de um órgão ligado à proteção do meio ambiente. Um quarto é da polícia e o último, parece ser da Prefeitura.

O restaurante para. O único garçom trabalhando deixa as mesas e vai atendê-los. Volta com ar preocupado. Vai ao balcão e liga para alguém: “É a fiscalização. Vem correndo pra cá, eles querem ver os recibos de compra.”

Pergunto ao garçom o que está havendo. “É uma denúncia de venda de palmito ilegal”, responde. A tropa da fiscalização está atrás de restaurantes que vendem palmito tirado de áreas de preservação ambiental.

Alguns minutos depois, chega o gerente. Conversa com os fiscais. Some com um deles e retorna cerca de dez minutos depois. Os fiscais agradecem e vão embora. “É a segunda fiscalização nos últimos dias”, diz o garçom.

Normal. Novembro chegou. E se você tem um comércio no Brasil, sabe o que isso significa: começou o Natal dos fiscais.

Não vou revelar o local e nem os órgãos envolvidos na “operação” que presenciei. Seria leviano acusar qualquer um de desonestidade ou má-fé. Mas que o fim do ano é a época de proliferação de fiscais de todos os tipos, isso é.

A situação toda é um teatrinho ridículo. Não que a extração ilegal de palmito não seja um problema que precise ser combatido. Mas, a poucos metros do restaurante, há um rio, onde casas e comércios despejam esgoto há décadas. Mais adiante, um terreno baldio, que virou lixão. Mas com isso, a fiscalização parece não se importar.

Já fui sócio de uma empresa e sei: entre novembro e dezembro, fiscais brotam do chão. E são de todos os tipos: do Trabalho, da Saúde, da Receita, do diabo a quatro. Tem fiscal de órgão que você nem sabe que existe.

Nossa política sempre foi a de não pagar nada. Quer multar, multa. Mas não leva um centavo.

Nossa empresa foi multada porque o corrimão da escada de acesso dos funcionários estava 15 centímetros abaixo (ou acima? Não lembro) do permitido. Já fomos multados porque a iluminação do bar era insuficiente (tentei argumentar com o fiscal que era uma casa noturna, não um hospital, mas não adiantou).

A verdade é que as leis brasileiras existem para não serem cumpridas. Não vou me estender muito sobre o assunto. Me limito a reproduzir esse trecho de uma reportagem recente do jornal “Correio Braziliense”:

“Se a lei que exige a licença de funcionamento para os estabelecimentos comerciais e também para os sem fins lucrativos fosse cumprida à risca, a Esplanada dos Ministérios seria lacrada. Deveriam também ser fechadas as sedes da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e o Banco Central.”

É isso. As leis são inexeqüíveis e só existem para incentivar a corrupção. Não é do interesse de ninguém facilitar e desburocratizar. E quem paga o pato são comerciantes e clientes, que precisam conviver com o maldito “custo Brasil”.

Bom Natal a todos. E cuidado com o palmito que compram…

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Perdoe-nos, Abelão!

Por Andre Barcinski
12/11/12 07:46

 

 

 

 

 

 

 

 

Ontem foi um dia especial para todos os torcedores do Flu. Em homenagem à conquista brilhante do Brasileirão 2012, reproduzo aqui a coluna que fiz hoje para o caderno de Esportes da “Folha”, em tributo ao maior herói do título: Abel Braga.

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Filmes fazem justiça ao Mudhoney

Por Andre Barcinski
09/11/12 07:05


 

Um leitor me avisou, e eu agradeço: este mês, será lançado um documento importante da história do “grunge” e do rock alternativo: o DVD “Mudhoney – Live in Berlin – 1988”.

Gravado na capital alemã em 10 de outubro de 1988, foi o primeiro show do Mudhoney fora dos Estados Unidos. Muito provavelmente, é o primeiro concerto internacional de uma banda associada ao movimento “grunge”, que tem o Mudhoney como seu pioneiro.

O DVD tem 40 minutos de duração e uma entrevista com o cantor e guitarrista Mark Arm.

Curioso é que, no mesmo mês em que fazia sua estréia européia, o Mudhoney lançava seu primeiro disco, o EP “Superfuzz Bigmuff”, que trazia músicas como “Touch Me, I’m Sick” e “In’n’Out of Grace”. Um clássico.

Assistindo ao Mudhoney tocar “If I Think”, em 1988, impressiona como uma banda tão nova podia ser tão boa de palco. Claro que seus integrantes já tinham experiência em outros grupos, mas a intensidade da performance não parece a de uma banda novata.

As boas notícias sobre o Mudhoney não param por aí: dia 11 de dezembro, finalmente será lançado “Mudhoney – I’m Now”, o primeiro documentário sobre o grupo. Veja, abaixo, um “teaser” (o cara de “dread” elogiando a banda é Keith Morris, do Circle Jerks).

Já era hora de o Mudhoney ganhar um filme. Acho que a atitude totalmente despretensiosa de seus integrantes, que não têm a marra de mil bandinhas um milhão de vezes menos importantes, inibe uma avaliação crítica mais sólida sobre sua influência e legado.

Para mim, Mudhoney e Nirvana são as melhores bandas da geração 1988-91.  O único “pecado” do Mudhoney foi ter sobrevivido, construído uma carreira longa e sem grandes sucessos comerciais.

Tivesse o grupo encerrado as atividades em, digamos, 1997, e voltado dez anos depois, estariam milionários, faturando horrores no circuito nostálgico dos grandes festivais.

O mais legal é que eles sabem disso. São as pessoas mais inteligentes e esclarecidas que já conheci no meio da música. Não fizeram isso porque não quiseram, porque sempre gostaram mesmo é de tocar e nunca tiveram a “carreira” como prioridade.

O Mudhoney fundou o “grunge”, mas não se limitou ao estilo. Vejo-o mais como uma banda punk, e adoro as canções mais psicodélicas e lentas. O grupo é um dos pilares do rock alternativo americano, junto com Fugazi, Melvins, Black Flag e outros que nunca mudaram suas convicções de acordo com a onda passageira.

Li outro dia que o Blind Melon, uma bandinha mequetrefe cuja fama fugaz tem mais a ver com a morte de seu cantor do que, com sua música, está voltando em shows concorridos. O Blind Melon. Imagine se fosse o Mudhoney…


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