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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Será que o Ira! volta um dia?

Por Andre Barcinski
04/09/12 07:05


 

Entrevistei Nasi para a Folha sobre sua biografia, “A Ira de Nasi”, que está saindo esses dias (leia a entrevista aqui).

Sempre gostei do Ira!. Das bandas do “mainstream” do rock brasileiro, minhas favoritas eram Ira!, Camisa de Vênus e Ultraje a Rigor.

O que eu mais gostava no Ira! era sua despreocupação com imagem e postura. Goste ou não, era uma banda de rock: não tinha coreografia, não tinha fala ensaiada para o público, não tinha cenografia, não tinha teatrinho. Curtiam punk rock, não teatro universitário. Não era o Titãs.

No palco, cada um parecia estar numa viagem particular: Nasi raramente chegava perto de Edgard, e este vivia concentrado em tirar os sons mais inesperados de sua guitarra (eu gostava do som à Byrds que ele tirava da Rickenbacker); Gaspa e André Jung formavam uma base sólida.

Vi shows memoráveis do Ira!. Este aí de cima, no Canecão, em 1987, foi um deles.

Fiquei bem triste com a briga e a separação da banda, especialmente pela maneira com que aconteceu.

Mas a verdade é que o Ira! sempre viveu da relação conflituosa entre Edgard e Nasi. E essa tensão se refletia no palco, para o bem e para o mal.

Sobre a briga, não acho que exista um “culpado”. A vida na estrada é uma tortura, bandas saem no braço o tempo todo. Com o tempo e a proximidade, pequenos desentendimentos viram abismos intransponíveis.

Mas espero que o Ira! supere as brigas internas, por mais sérias que tenham sido, e faça pelo menos uma turnê de despedida. Está aí um show de rock brasileiro que eu não me importaria de pagar inteira – sou otário, não tenho carteirinha falsa – para ver.


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Gosma na cara, pipoca trufada... os VIPs devem estar loucos!

Por Andre Barcinski
03/09/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma amiga contou e eu não acreditei: abriu um cinema em São Paulo onde um ingresso custa quase 70 reais. A sala fica num novo shopping de luxo, recém-inaugurado na cidade.

Se você quiser ver um filme em 3D na “sala 4DX”, gastará a bagatela de 68 mangos.

E que diabos é o sistema “4DX”?

O release do lugar explica: “As poltronas têm sistema eletrônico que simula quedas, vibrações, aceleração e frenagem. Além disso, a sala ainda tem instalações especiais nas paredes e poltronas que geram até 20 efeitos de luz, água, vento, aromas e névoa.”

O site “Be Style” conferiu uma sessão de “Prometheus” no novo cinema:

“Ao longo da película, outros efeitos inesperados apareceram, como um jato d’água que voou na direção do rosto do público diversas vezes, principalmente nas cenas com alienígenas, o que trouxe uma sensação de asco, tamanha a sintonia com o filme.”

Deve ser uma nova moda entre VIPs: pagar para um ET cuspir na sua cara.

Mas levar uma babada gosmenta nas fuças não é a única atração da sala: ela oferece também uma “Bonbonnière VIP” e a chamada “Coffee Tree”, que vende baguetes, crepes, smoothies e frappés.

O cardápio da “Bombonnière VIP” oferece uma seleção de vinhos chilenos, franceses e italianos, além de canapés de salmão, combinados de sushi e sashimi e pipoca com azeite trufado.

O cinema tem também um mixologista – mais conhecido entre não-VIPs por “barman” – que prepara drinques como o Cosmopolitan e o Long Island Ice Tea, que cinéfilos podem saborear enquanto assistem a uma sessão de obras-primas como “Os Mercenários 2” ou “A Era do Gelo 4”.

Acredite: quem nunca provou um Cosmopolitan enquanto vê o Chuck Norris na tela, não sabe o que é viver.

Apesar do preço, parece que o cinema está sempre lotado. Normal: hoje no Brasil, quanto mais caro, mais disputado.

Não é à toa que os ingressos “premium” para o show de Madonna (850 reais, mais 20% de “taxa de conveniência”) esgotaram rapidinho.

Nada atrai mais o consumidor moderno que uma corda de veludo separando-o das pessoas “não-premium”.

Gente fina é outra coisa.

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“Kes” é a obra-prima de Ken Loach

Por Andre Barcinski
31/08/12 07:05


 

OK, o horário é ruim, mas sempre dá para gravar: hoje, às 15h55, o Telecine Cult exibe “Kes” (1969) de Ken Loach (com reprise dia 2/9, às 2h25 da manhã).

Acho um dos melhores filmes já feitos sobre juventudes devastadas. Para mim, está no mesmo nível de “Os Incompreendidos”, de Truffaut, “Os Esquecidos”, de Buñuel, ou “Pather Panchali”, de Satyajit Ray.

“Kes” se passa no norte da Inglaterra. Billy Casper (David Bradley) tem 15 anos e nenhuma esperança: o pai abandonou a família, a mãe o considera um estorvo e o irmão trabalha nas insalubres minas de carvão da região.

Até que Billy encontra um filhote de falcão, que batiza de“Kes”, e começa a domesticá-lo.

Não vou contar mais. Assista ao filme. É inesquecível.

“Kes” não foi um grande sucesso na época, mas virou “cult” com o passar dos anos. Mark E. Smith, líder do grupo de pós-punk The Fall, disse que “Kes” era seu filme favorito. E Smith sabe uma coisa ou outra sobre proletários ingleses que passam os dias enchendo a cara em pubs…

“Kes” foi o segundo longa de ficção de Ken Loach, diretor que se destacava por combativos documentários para TV.

Loach foi um dos maiores expoentes do movimento chamado “Realismo da Pia de Cozinha” (“Kitchen Sink Realism”), que aconteceu na Inglaterra nos anos 50 e 60.

O movimento se estendeu pelo teatro, cinema, TV e literatura, e buscava contar histórias reais sobre a classe trabalhadora, numa Inglaterra pobre, cinza e dividida por terríveis lutas de classes.

Ken Loach fez do realismo a marca de seu cinema. Dirigiu filmes sobre a Guerra Civil Espanhola (“Terra e Liberdade”, 1995), a guerra de independência da Irlanda (“Ventos da Liberdade” , 2006) e a vida de imigrantes ilegais na Inglaterra (“It’s a Free World”, 2007).

Mas prefiro os pequenos dramas que Loach dirigiu sobre a classe proletária inglesa: “Riff Raff” (1991), com Robert Carlyle, de “Trainspotting”, é uma obra-prima, assim como “Raining Stones” (1993), história singela sobre um homem que pena para comprar um vestido de Primeira Comunhão para a filha.

Vale a pena conhecer a obra de Ken Loach. E “Kes” é o melhor ponto de partida.

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O primeiro punk do mundo se chama Little Richard

Por Andre Barcinski
30/08/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A capa do disco já chama a atenção: sobre um fundo amarelo, uma foto preta e branca de um jovem negro. Ele tem os olhos fechados e a boca aberta num sorriso largo e malicioso. Parece ter sido fotografado no meio de um urro de prazer. Dá para ver seus dentes. Olhando bem, dá para ver até a língua. Em 1957, não pegava bem um astro mostrando a língua…

Na cabeça, o rapaz ostenta um topete Pompadour, batizado em tributo à famosa cortesã que incendiou os palácios franceses no século 18. E o bigodinho fino lhe confere um ar misterioso, de bruxo ou ilusionista.

Seu nome é Richard Wayne Penniman, conhecido por Little Richard. Era um bom menino. Obedecia à mãe e ia à missa. Mas quem viu Ricardinho num palco tinha certeza que ele não era desse planeta.

Seus gritos eram lancinantes (não à toa a família o apelidara, ainda criança, de “Falcão de Guerra”, pela potência animalesca de seus trinados). Tocava piano como um possuído, espancando as teclas com uma ferocidade bestial. E cantava também sob uma espécie de possessão, talvez inspirado pelos fiéis que recebiam espíritos nos cultos pentecostais que freqüentava.

Em março de 1957, chegava às lojas “Here’s Little Richard”, LP de estréia do cantor. As faixas já tinham feito sucesso em compactos: “Tutti Frutti”, “Long Tall Sally”, “Rip It Up”, “Jenny Jenny”…

O LP é o beabá do rock and roll. Marco zero. O Mobral do gênero. E acaba de ser relançado em CD, com faixas-bônus e remasterizado. “Essencial” é pouco: uma discoteca que não tem esse LP já nasce morta.

De todos os pioneiros do rock, Little Richard é meu preferido. Não só pela qualidade de suas músicas e pela intensidade de sua interpretação, mas pelo radicalismo de sua figura pública. Ninguém desafiou o sistema como ele. Little Richard foi o primeiro punk da história.

Cada vez que ouço um rockstar bilionário reclamando da fama ou um indie estatal fazendo manifesto, lembro de Little Richard: pobre, preto e gay, tocando a música do demônio no quintal da Ku Klux Klan.

Little Richard reinou numa época em que negros eram linchados e pendurados em árvores, quando tocar rock era questão de vida ou morte. Fez incontáveis shows com público dividido: brancos de um lado, negros de outro.

Tinha de ser muito macho para ser Little Richard nos anos 50. Porque Ricardinho não era um gay escondido no armário: era uma bicha louca, uma diva, um pavão misterioso que desceu de um disco voador para levar os jovens da América à perdição.

Seis meses depois de lançar esse disco, Little Richard voava para um show na Austrália quando teve uma visão: viu o avião envolto pelas chamas do inferno. Decidiu, ali, no auge da carreira, largar o rock and roll.

Foi o que fez: por alguns anos, só gravou música gospel. Abandonou as orgias que fazia na estrada – com homens, mulheres e sabe-se lá o que mais – e virou pastor.

Até que, em 1962, foi tocar na Inglaterra a convite do empresário Don Arden (pai de Sharon, futura mulher de Ozzy), com uma bandinha iniciante como atração de abertura, uns moleques chamados The Beatles.

Quando o público inglês viu Little Richard cantado gospel, começou a pedir os hits. Queriam ouvir “Tutti Frutti”, queriam ouvir “Long Tall Sally”. Richard capitulou. Tocou seus velhos sucessos e saiu do palco em êxtase. Foi o início de seu retorno ao rock and roll, a ressurreição do performer mais incendiário que o rock já viu.


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Pagar inteira é coisa de otário

Por Andre Barcinski
29/08/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Admito: sou otário. Ainda não fiz minha carteira de estudante.

Não importa se terminei a faculdade há mais de 20 anos. Já perdi tempo demais. Vou mandar fazer a minha carteirinha e poupar uma bela grana em shows, cinema, teatro, etc.

Dia desses, o chapa Elson Barbosa me repassou uma mensagem que a cultuada banda canadense Alexisonfire escreveu para os fãs brasileiros.

O grupo, que vem ao Brasil em dezembro para um show de sua turnê de despedida, se desculpa pelos altos preços cobrados e diz que não sabia da lei da meia-entrada no Brasil.

“Os promotores nos informaram que, até agora, 99% dos ingressos vendidos foram de meia-entrada”, escreve a banda.

Uau: quase todos os fãs do Alexisonfire ainda estão estudando!

Muito bom saber que a evasão escolar não existe, pelo menos entre fãs do Alexisonfire.

Já o Elson e eu não somos mais estudantes e fazemos parte da minoria das minorias:o 1% de otários que ainda não têm suas carteirinhas.

Não vou ficar aqui repetindo a ladainha de sempre: que a lei da meia-entrada virou uma prostituição, uma fonte de renda fácil e corrupta para associações estudantis e uma das razões pelos preços extorsivos cobrados em shows. Isso todo mundo já sabe.

O que fazer?

Acho que só existe uma solução: começar do zero.

A partir de hoje, nenhuma carteirinha seria válida. Todas as carteiras, tanto as obtidas legalmente quanto as compradas em alguma pizzaria – sim, teve promoção em redes de pizzas para tirar carteira, lembra? – estão nulas.

Daí é começar a emissão novamente, com fiscalização adequada e um detalhe importante: DE GRAÇA.

Sim, só mesmo de graça a emissão de carteirinhas vai deixar de ser um comércio e, consequentemente, deixar de interessar a quem, hoje, se beneficia delas.

Garanto que 99% das associações estudantis que hoje faturam horrores com as carteirinhas se desinteressariam na hora se a emissão fosse gratuita.

Fica a pergunta: será que algum político terá coragem de mexer nesse vespeiro? Ou vamos continuar vivendo num mundo de faz de conta, onde promotores de shows dobram os preços para se safar dos falsos estudantes?

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“Gainsbourg”: tributo a um velho safado

Por Andre Barcinski
28/08/12 07:05


 

O TC Cult exibe hoje, às 22h, “Gainsbourg”,de Joann Sfar, filme sobre o ícone francês Serge Gainsbourg (1928-1991).

Gosto do filme. Acho um caso raro de cinebiografia que não pretende esmiuçar a vida do biografado e não tem a pretensão de ser um tratado definitivo sobre sua obra, mas que consegue transmitir uma paixão genuína pelo personagem.

O filme de Sfar é mais um ensaio lúdico sobre a vida de um artista singular.

Quem foi Serge Gainsbourg? Um cantor? Ator? Cineasta? Provocador?  Polemista profissional?

Foi tudo isso e mais: uma das personalidades marcantes da história do pop, um artista que fez de sua vida pessoal a continuação de sua obra.

Gainsbourg foi o “velho safado” que lançou músicas de forte apelo erótico no fim dos anos 1960 – “69, Année Erotique” (1968), “Je T’Aime, Moi Non Plus” (1969) – e tornou-se uma espécie de símbolo do conflito de gerações que marcou a época.

Era um oportunista nato, mestre em manipular a mídia e criar escândalos.

Feio e mal humorado, virou um “sex symbol” na contramão dos galãs de plástico da época. Brigitte Bardot, Jane Birkin, Juliette Gréco e incontáveis mulheres maravilhosas caíram de amores por ele.

Musicalmente, Gainsbourg fez de tudo: começou como cantor romântico na linha de Boris Vian, depois passou ao jazz, aos sons psicodélicos e ao rock. Fez reggae e flertou até com a música eletrônica.

Bandas como Galaxie 500, Air, Pulp, Luna, The Fall, Horrors, Goldfrapp, Portishead e até Morrissey se disseram influenciados pelo clima “décadence avec elegance” da música de Gainsbourg.

O filme, como disse, não é para quem quiser saber tudo sobre ele. Mas veja Gainsbourg cantando “Bonnie and Clyde” e, se isso não te fizer sair correndo para ouvir os discos do sujeito, tem alguma coisa bem errada com você…


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O que houve com a democracia corintiana?

Por Andre Barcinski
27/08/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há uma semana, o jornalista Vitor Birner publicou, em seu blog do UOL, um texto chamado “O drible de Andrés Sanchez em José Maria Marin” (leia aqui).

Quando li o texto, achei que teria uma repercussão imensa. Nos dias seguintes, fiquei procurando mais notícias sobre o caso. Mas quase ninguém falou do texto de Birner.

Fiquei surpreso, porque achei o relato de Birner um escândalo.

Para resumir: segundo o jornalista, o diretor de seleções da CBF, Andrés Sanchez, teria pedido ao ex-presidente Lula que pressionasse o presidente da CBF, José Maria Marin, para que este não demitisse o próprio Andrés e o técnico da seleção, Mano Menezes, depois da derrota para o México na Olimpíada.

Aparentemente, deu certo: quinta passada, Marin deu entrevistas garantindo a permanência de Mano: “Estou tranqüilo com o Mano na seleção”.

Claro que Marin está tranqüilo. Quem não estaria, submetendo-se aos desejos de Lula?

Faltando dois anos para a Copa do Mundo, é óbvio que Marin, que sequer é recebido pela presidente Dilma, não vai bater de frente com Lula.

Dilma não chega perto de Marin porque este, quando era deputado estadual em São Paulo pela ARENA, partido que apoiava a ditadura militar, pediu investigações sobre supostas “células comunistas” operando dentro da TV Cultura.

Em 25 de outubro de 1975, 16 dias depois do discurso de Marin, o jornalista Vladimir Herzog, que trabalhava na TV Cultura, foi torturado e morto em um prédio utilizado pelo DOI-CODI.

Fica a pergunta: que república das bananas é essa, em que um ex-presidente pressiona uma relíquia da ditadura para escalar o técnico da seleção e manter seus apaniguados nos empregos?

O caso mostra, mais uma vez, que a seleção brasileira e a CBF viraram massa de manobra de Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e amigo pessoal de Lula. E esse “aparelhamento” da CBF é outro escândalo nacional.

Sei que vou ser massacrado nos comentários, mas espero que os torcedores do Corinthians consigam separar a paixão que têm pelo clube da realidade que está aí, à vista de todos.

A verdade é que nossos políticos e cartolas são mestres em manipular o torcedor, apelando à paixão clubística para justificar as barbaridades que cometem.  É o pior tipo de populismo.

Quem critica Andrés Sanchez é imediatamente tachado de “anticorintiano”. Se alguém ousa questionar o absurdo de dar quase um bilhão de reais de dinheiro público para o Corinthians construir um estádio totalmente desnecessário, já que o time joga no Pacaembu, um dos melhores estádios do Brasil, periga ser linchado.

“Ah, mas os vereadores de São Paulo aprovaram os incentivos ao estádio”, dirão alguns.

Claro que aprovaram. Que vereador seria maluco de ser tachado de “anticorintiano”? Seria suicídio político.

Que democracia é essa? Uma democracia em que políticos utilizam a paixão do torcedor de muleta? Onde questões importantes da vida pública são decididas como se fossem discussão de futebol em boteco?

Certamente não é a Democracia Corintiana imaginada por Sócrates, Casagrande e Wladimir.

Enquanto a opinião pública continuar trocando a lógica pela paixão clubística, absurdos assim vão se perpetuar.

Claro que nem todo torcedor compactua com isso. Minha mulher, por exemplo, é corintiana e ficou revoltada quando leu o texto de Birner. Tenho certeza que meus muitos amigos corintianos também sabem separar as coisas.

Os torcedores do Corinthians deveriam é protestar contra o uso político do clube. Estão transformando o “time do povo” no “time estatal”.

E nem o mais alucinado torcedor do Timão será capaz de negar o escárnio que foi a demissão do presidente da comissão de arbitragem da CBF, Sergio Correa, logo após um erro grosseiro que prejudicou o Corinthians no jogo contra o Santos.

“Temos de dar exemplo”, disse José Maria Marin. “A arbitragem não corresponde aos anseios dos clubes e dos torcedores.”

Concordo. Mas ao anunciar a demissão quatro dias depois do erro contra o Corinthians, sendo que, há anos, todo mundo reclama do nível das arbitragens, Marin mostra que nem se importa mais em parecer imparcial.

P.S.: Aviso aos leitores que não vou permitir que usem o espaço dos comentários para briguinhas clubísticas. Quem quiser discordar do texto, que discorde com argumentos.

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O mundo precisa de um "Ditador" como Sacha Baron Cohen

Por Andre Barcinski
24/08/12 07:05


 

Hoje estréia “O Ditador”, novo filme de Sacha Baron Cohen.

Gostei do filme. Não tanto quanto “Borat” (2006), mas ainda assim é muito bom (leia minha crítica na Folha aqui).

Fiquei feliz em ver Cohen saindo da armadilha estética que ele mesmo criou em “Borat” e que já se mostrava esgotada em “Bruno” (2009).

Acho “Borat” uma das comédias mais inovadoras que já vi.

Muita gente associa o filme ao estilo dos “mockumentaries”, ou “falsos documentários”, como “This is Spinal Tap” (1984), de Rob Reiner.

Mas acho “Borat” diferente. Não é um “falso” documentário, já que a grande maioria dos participantes acreditava estar fazendo parte de um filme “real”. A única coisa falsa em “Borat” era o próprio personagem principal.

Vejo “Borat” mais como um exercício genial de enganação, uma pegadinha, só que realizada com uma coragem assombrosa e um talento quase sobrenatural para a improvisação.

“Bruno” repetiu a fórmula de “Borat”, mas sem a mesma inspiração.

Agora, chega “O Ditador”, o filme mais formal de Cohen. É uma comédia de estrutura narrativa convencional: tem história, atores, clímax, etc.

O que diferencia o filme da maioria das comédias atuais é sua coragem. A incorreção política de “O Ditador” é muito mais radical e destemida do que a de filmes como “Se Beber, Não Case” ou “Missão Madrinha de Casamento”, só para citar dois sucessos cômicos recentes.

Esses dois filmes fazem parte de uma onda de ressurreição de um tipo de comédia escrachada muito popular no fim dos anos 70 e anos 80, de filmes como “Clube dos Cafajestes” (John Ladins, 1978) e “Porky’s” (Bob Clark, 1982).

Enquanto “Se Beber Não Case” faz graça louvando um estilo de vida ogro e um humor tipicamente universitário americano, numa ode à bebida, a mulheres fáceis e a uma negação da vida “careta” – todos os personagens querem escapar do trabalho, do casamento, enfim, das “obrigações” de adultos – “O Ditador” vai mais fundo.

O filme de Cohen escracha estereótipos. E isso é perigoso, numa época em que a sátira é frequentemente levada ao pé da letra e desvirtuada.

Em “O Ditador”, Cohen faz o general Aladeen, líder da fictícia República de Wadiya. Aladeen vai a Nova York discursar na ONU e é deposto por um golpe. Termina vagando anonimamente pela cidade.

A idéia de colocar o déspota em contato com o “mundo real” é a melhor coisa do filme. Aladeen acaba trabalhando numa loja de produtos naturais, uma meca de ativistas de todos os tipos: veganos, feministas, gays, latinos, africanos…

Em uma sacada absolutamente genial, Aladeen põe ordem na casa e vira o “ditador” da loja, gerenciando o lugar com mão de ferro. Não vou contar mais para não estragar a surpresa, mas não me lembro de ter visto uma “gag” tão subversiva no cinema em muito tempo.

 

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O SESC e a concorrência desleal

Por Andre Barcinski
23/08/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

Sou fã do SESC.

Já perdi a conta de quantos shows, exposições e debates vi em alguma unidade do SESC. Já fiz diversos cursos no Sesc.

A programação é sempre de qualidade e os preços, super acessíveis.

O SESC é inatacável. Se ele não existisse, a vida cultural de São Paulo seria uma lástima.

Mas existe um lado oculto por trás da existência do SESC, que precisa ser discutido. Um lado que traz conseqüências ruins.

Para resumir: o SESC é tão bom e tão barato, que dificulta – e, em alguns casos, elimina –a possibilidade de uma cena cultural existir independentemente dele.

Vou falar especificamente do caso da cena musical de São Paulo, que conheço de perto.

Durante um bom tempo, fui co-proprietário de uma casa noturna em São Paulo.

Nosso sonho sempre foi fazer shows lá. Assim que inauguramos, fomos atrás de bandas para tocar no espaço.

A primeira coisa que ouvimos dos artistas foi: “Não toco por percentual de bilheteria. No SESC pagam cachê fixo.” Os cachês pedidos, claro, eram fora da realidade.

Por diversas vezes, fechamos shows com alguma banda, só para ver a mesma banda se apresentando no SESC , com ingressos até cinco vezes mais baratos do que o menor valor que poderíamos cobrar.

Quem iria ver uma banda na nossa casa por 30 ou 40 reais, se poderia ver a mesma banda no SESC por sete?

E como isso é possível?

Simples: o SESC não sobrevive de bilheteria. O SESC é uma entidade privada sem fins lucrativos, que sobrevive de um imposto compulsório, que toda empresa precisa pagar. Este imposto é de 1,5% sobre a folha de pagamento das empresas.

Ou seja: se você tem uma casa de shows, um pequeno teatro, um local para debates ou uma galeria de arte, você paga para o SESC arruinar o seu negócio. Faz sentido?

O SESC oferece condições tão boas para as bandas – paga um bom cachê, independentemente de quantas pessoas forem ao show – que muitos artistas se tornam “SESC-dependentes”. Só tocam lá.

Essa situação não se restringe à música. Fico imaginando a situação de alguém que tenha uma pequena academia de ginástica ou de natação, e que de repente vê o SESC inaugurar uma unidade próxima, com piscinas e equipamentos de primeira, cobrando uma mixaria.

Se isso não é concorrência desleal, não sei o que é.

Essa situação, claro, não é culpa do SESC. Ele só está cumprindo seu papel. E muito bem.

O governo é que deveria pensar em maneiras de apoiar quem trabalha com cultura e esporte, para que iniciativas privadas possam funcionar em condições justas.

Hoje, quem abre uma pequena casa de shows, por exemplo, não tem nenhum incentivo fiscal. Paga impostos escorchantes e ainda ajuda a financiar o SESC. É o pior dos mundos.

E vou reiterar, para que não me acusem de ser “contra” o SESC: eu acho o SESC uma iniciativa fantástica. Mas se o governo não tomar providências, corremos o risco de ter no SESC a única opção para quem gosta de artes. E isso é perigoso pacas.

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Você assina o “pay-per-ruim” do Brasileirão?

Por Andre Barcinski
22/08/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Brasileirão está pegando fogo.

Na última rodada, o líder Galo continuou sua campanha surpreendente com uma vitória nos últimos minutos sobre o Botafogo.

Em Santos, o time de Neymar bateu o Corinthians num jogo agitado e polêmico.

No Rio, o Flamengo se recuperou com uma vitória no clássico contra o Vasco.

E meu time, o Flu, segundo na tabela, sofreu para vencer um dos lanternas do campeonato, o Sport, o que prova o equilíbrio do campeonato.

Foi uma rodada emocionante. Pena que não deu para ver nada.

Quer dizer: vi uns vultos andando por espaços que, acredito, eram gramados. Mas a qualidade das transmissões era tão ruim, que não tenho certeza. Poderiam muito bem ser fantasmas.

Achei que era só na minha televisão. Para tirar a dúvida, fiz testes: gravei trechos dos dez jogos do fim de semana e assisti a todos.

Conclusão: o único jogo que foi transmitido com uma imagem melhor que a da Copa de 1930, foi Santos e Corinthians.

A partida entre Portuguesa e Internacional parecia estar sendo disputada por 66 jogadores, já que cada um tinha duas sombras a acompanhá-lo.

E o jogo do Náutico? Como já virou hábito em transmissões no estádio dos Aflitos, o gramado, de tão fluorescente, parecia ter sido tratado com Césio-137.

No Jogo do Galo contra o Botafogo, a imagem era tão desfocada que era difícil até identificar os times, ambos de uniforme preto e branco.

Para me certificar de que o problema não era da minha TV, liguei para dois amigos, que assinam operadoras diferentes da minha. Ambos disseram que as imagens também estavam péssimas.

E tive a prova definitiva ao sintonizar a ESPN, que transmitia um jogo do campeonato espanhol: a imagem do “pay-per-view” era mesmo horrorosa.

O pior é que o pacote do Brasileirão não é nada barato. Outro dia, estava na casa de um amigo que não tinha o pacote e fui checar quanto custaria para comprar um jogo do meu time: OITENTA REAIS!

Ou seja: no “pay-per-view”, o “pay” é garantido. Já o “view”…

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