Há uma semana, o jornalista Vitor Birner publicou, em seu blog do UOL, um texto chamado “O drible de Andrés Sanchez em José Maria Marin” (leia aqui).
Quando li o texto, achei que teria uma repercussão imensa. Nos dias seguintes, fiquei procurando mais notícias sobre o caso. Mas quase ninguém falou do texto de Birner.
Fiquei surpreso, porque achei o relato de Birner um escândalo.
Para resumir: segundo o jornalista, o diretor de seleções da CBF, Andrés Sanchez, teria pedido ao ex-presidente Lula que pressionasse o presidente da CBF, José Maria Marin, para que este não demitisse o próprio Andrés e o técnico da seleção, Mano Menezes, depois da derrota para o México na Olimpíada.
Aparentemente, deu certo: quinta passada, Marin deu entrevistas garantindo a permanência de Mano: “Estou tranqüilo com o Mano na seleção”.
Claro que Marin está tranqüilo. Quem não estaria, submetendo-se aos desejos de Lula?
Faltando dois anos para a Copa do Mundo, é óbvio que Marin, que sequer é recebido pela presidente Dilma, não vai bater de frente com Lula.
Dilma não chega perto de Marin porque este, quando era deputado estadual em São Paulo pela ARENA, partido que apoiava a ditadura militar, pediu investigações sobre supostas “células comunistas” operando dentro da TV Cultura.
Em 25 de outubro de 1975, 16 dias depois do discurso de Marin, o jornalista Vladimir Herzog, que trabalhava na TV Cultura, foi torturado e morto em um prédio utilizado pelo DOI-CODI.
Fica a pergunta: que república das bananas é essa, em que um ex-presidente pressiona uma relíquia da ditadura para escalar o técnico da seleção e manter seus apaniguados nos empregos?
O caso mostra, mais uma vez, que a seleção brasileira e a CBF viraram massa de manobra de Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e amigo pessoal de Lula. E esse “aparelhamento” da CBF é outro escândalo nacional.
Sei que vou ser massacrado nos comentários, mas espero que os torcedores do Corinthians consigam separar a paixão que têm pelo clube da realidade que está aí, à vista de todos.
A verdade é que nossos políticos e cartolas são mestres em manipular o torcedor, apelando à paixão clubística para justificar as barbaridades que cometem. É o pior tipo de populismo.
Quem critica Andrés Sanchez é imediatamente tachado de “anticorintiano”. Se alguém ousa questionar o absurdo de dar quase um bilhão de reais de dinheiro público para o Corinthians construir um estádio totalmente desnecessário, já que o time joga no Pacaembu, um dos melhores estádios do Brasil, periga ser linchado.
“Ah, mas os vereadores de São Paulo aprovaram os incentivos ao estádio”, dirão alguns.
Claro que aprovaram. Que vereador seria maluco de ser tachado de “anticorintiano”? Seria suicídio político.
Que democracia é essa? Uma democracia em que políticos utilizam a paixão do torcedor de muleta? Onde questões importantes da vida pública são decididas como se fossem discussão de futebol em boteco?
Certamente não é a Democracia Corintiana imaginada por Sócrates, Casagrande e Wladimir.
Enquanto a opinião pública continuar trocando a lógica pela paixão clubística, absurdos assim vão se perpetuar.
Claro que nem todo torcedor compactua com isso. Minha mulher, por exemplo, é corintiana e ficou revoltada quando leu o texto de Birner. Tenho certeza que meus muitos amigos corintianos também sabem separar as coisas.
Os torcedores do Corinthians deveriam é protestar contra o uso político do clube. Estão transformando o “time do povo” no “time estatal”.
E nem o mais alucinado torcedor do Timão será capaz de negar o escárnio que foi a demissão do presidente da comissão de arbitragem da CBF, Sergio Correa, logo após um erro grosseiro que prejudicou o Corinthians no jogo contra o Santos.
“Temos de dar exemplo”, disse José Maria Marin. “A arbitragem não corresponde aos anseios dos clubes e dos torcedores.”
Concordo. Mas ao anunciar a demissão quatro dias depois do erro contra o Corinthians, sendo que, há anos, todo mundo reclama do nível das arbitragens, Marin mostra que nem se importa mais em parecer imparcial.
P.S.: Aviso aos leitores que não vou permitir que usem o espaço dos comentários para briguinhas clubísticas. Quem quiser discordar do texto, que discorde com argumentos.