Tony Scott não fez só "Top Gun"...
21/08/12 07:05
Ainda chocado com o suicídio de Tony Scott.
Difícil entender por que um sujeito de sucesso, com uma família estável e filhos jovens, possa se jogar de uma ponte. Há boatos de que Scott sofria de um câncer inoperável. De todas forma, a infelicidade é uma arma poderosa e inexplicável.
Veja aqui meu texto sobre Scott para a Folha.
Como cineasta, Tony Scott era um típico produto da era Reagan, quando filmes de ação começaram a se parecer com versões gigantes daqueles carrinhos de bate-bate de parques de diversões.
Embalado por orçamentos monstruosos – cortesia da dupla de produtores Don Simpson e Jerry Bruckheimer – Tony Scott transformou a década de 80 em seu autorama particular, criando filmes fetichistas/publicitários, em que homens violentos pareciam ter mais prazer em dirigir Ferraris e pilotar jatos do que em conquistar damas.
Quem já viu Tony Scott de perto – eu o entrevistei duas vezes – sabe que o sujeito encarnava exatamente o machão típico de seus filmes, com um charuto permanentemente enfiado no canto da boca e um boné esfarrapado que usava até em festas “black tie” com tapete vermelho.
Era fanático por velocidade. Amava pilotar carros e motocicletas e escalar montanhas.
Tony Scott ajudou a definir a estética do cinema dos anos 80, e seu estilo Jet ski-Jece Valadão influenciou também os videoclipes e o cinema publicitário da época.
Meus dois filmes preferidos de Scott foram seus maiores fracassos de bilheteria.
“Fome de Viver”, de 1983, era um filme de terror gótico, com David Bowie e Catherine Deneuve no papel de vampiros. Foi um sucesso “cult” gigante, inclusive no Brasil, onde lotou sessões de meia-noite e foi a coqueluche da turma dark que freqüentava casas como Crepúsculo de Cubatão, no Rio, e Napalm, em São Paulo.
Quem esquece a abertura, com “Bela Lugosi’s Dead”, do Bauhaus? Incontáveis quantas bandas surgiram depois de ver esse filme…
Já “True Romance” (me recuso a chamá-lo pelo péssimo título em português, “Amor à Queima-Roupa”), foi um “pulp” com roteiro de Tarantino, que foi quase estragado pela escolha de Christian Slater para o papel principal, mas acabou salvo por uma cena antológica entre Dennis Hopper e Christopher Walken, que deixo como homenagem a Tony Scott…