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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Brasil e Itália: 30 anos da derrota mais dolorosa

Por Andre Barcinski
10/07/12 07:05


 

Dia 5 de julho foi o aniversário de 30 anos da derrota do Brasil para a Itália, na Copa de 1982.

Não vou ficar aqui elogiando aquele time. Um monte de gente já escreveu sobre isso.  O time era mesmo uma máquina, com Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo, Junior, Eder, Leandro e uma constelação de craques.

Veja o vídeo. Dá vontade de chorar quando John Motson, da BBC, ao comentar o gol de Sócrates, solta uma das frases mais lindas já ditas por um comentarista de futebol: “Sócrates! Um gol que resume a filosofia do futebol brasileiro!”

O mais triste ao lembrar aquela seleção de Telê Santana é perceber como a atual perdeu totalmente a sintonia com o povo brasileiro.

Claro que o êxodo dos craques para times do exterior, que se intensificou nos anos 90, colaborou muito para distanciar os jogadores do público.

Mas é impressionante como este time de Mano Menezes não tem carisma, não tem simpatia, não tem nada. Parece um time de aluguel que finge ser a seleção brasileira.

O que, no fundo, não deixa de ser verdade. Não foi Ricardo Teixeira que disse que a seleção é da CBF e que a CBF é uma entidade privada?

O que mudou de 1982 para cá?

Será que os caciques do nosso futebol são piores que os de 30 anos atrás?

Sinceramente, acho que não. O futebol brasileiro sempre foi mal administrado.

Os jogadores pioraram?

Tenho certeza que que sim. Comparar a safra de 1982 com a de hoje dá vontade de chorar.

Mas já tivemos times ruins que, ao menos, tinham a simpatia do povão. Esta seleção do Mano, nem isso.

Recordar o time de 1982 serve para outra coisa também: provar que a beleza é mais memorável que a vitória.

Garanto que muito mais gente sabe escalar o time de 82, que perdeu, do que o de 94, que ganhou.

Isso diz muito.

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A FLIP e Paraty precisam se reinventar

Por Andre Barcinski
09/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Terminou ontem a décima edição da FLIP. O consenso, entre as pessoas com quem falei, foi que 2012 não será lembrado como um dos anos mais marcantes do evento.

Entre os nomes mais aguardados, o francês J.M. G Le Clézio, deu o cano. Outro, o norte-americano Jonathan Franzen, botou o público para dormir em um dos debates mais chatos que já vi.

Ian McEwan, Javier Cercas e Ruy Castro fizeram debates interessantes e divertidos. Mas foi pouco.

A parceria entre a FLIP e Paraty é boa para todo mundo. A FLIP movimenta a economia local como nenhum outro evento, lotando pousadas e restaurantes e empregando muitos moradores. Já a FLIP se beneficia do charme e beleza da cidade, qualidades que atraem os turistas.

Agora que a festa completa dez anos, está na hora dela – e de Paraty – se reinventarem, sob pena de entrar num piloto automático entediante.

Acho que a maior qualidade da FLIP é ser um evento democrático. Já escrevi isso aqui: mesmo quem não tem ingresso para os debates consegue acompanhá-los, seja do telão ou do lado de fora da tenda do telão, onde dá para ver tudo numa boa.

A Flipinha também funciona bem. É muito bonito ver crianças das escolas da região tendo contatos com livros e autores, tudo de graça e num clima descontraído.

Por outro lado, a infra-estrutura precária de Paraty prejudica o evento.

Durante cinco dias, os 20 mil turistas que chegam à cidade precisam conviver com problemas que os moradores conhecem muito bem: saneamento básico inexistente, falta de água e luz, serviços de telefonia e internet de quinta categoria e dificuldades para estacionar.

Para uma cidade que vive do turismo, a precariedade do apoio ao turista é chocante: não há sinalização ou informações nas ruas. O centro de informações turísticas fica, inexplicavelmente, a 2 km do centro histórico. Grande parte dos restaurantes não aceita cartão de crédito e tem atendimento de tartaruga. As pousadas cobram tarifas exorbitantes e têm atendentes despreparados, que não sabem dar informações ou falar inglês.

Achar um lugar para comer sem uma fila de espera de pelo menos uma hora era tarefa das mais difíceis.

Conheço várias pessoas que deixaram de vir à FLIP porque não tinham mais condições de pagar as tarifas surreais pedidas pelas pousadas.

Se a cidade tivesse mais eventos bons como a FLIP, o Bourbon Fest (festival de blues e jazz) ou o Paraty em Foco (encontro de fotografia), talvez as pousadas lucrassem mais ao longo do ano e não precisassem extorquir os turistas desta maneira.

Paraty precisa urgentemente mudar de foco e perceber que seu forte é o turismo cultural, não o turismo de massa. É uma cidade pequena demais, charmosa demais e importante demais para sediar barbaridades como a Festa da Cachaça ou os shows de popstars (Michel Teló, Luan Santana) que têm rolado nos últimos anos.

A FLIP também precisa se reinventar.

Os debates com autores só funcionam quando estes conseguem falar bem sobre suas próprias obras, o que não é sempre o caso.

O ofício de escrever é solitário, e não é todo escritor que consegue transmitir, falando, as mesmas coisas que consegue pôr no papel.

Também acho inadmissível como um evento literário em 2012 pode ignorar temas tão em voga quanto o livro eletrônico e a autopublicação.

Sei que a FLIP depende das editoras e serve para editoras lançarem seus livros. Mas há uma massa de autores sem editoras por aí, e um debate sobre como publicar seu livro de forma independente teria um apelo enorme.

Tomara que a FLIP e a cidade de Paraty reflitam bastante sobre os acertos e os erros desses dez anos, para que os próximos dez sejam ainda melhores. Ficamos na torcida.

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A volta do livro mais engraçado de todos

Por Andre Barcinski
06/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quem me deu a dica foi o leitor Felipe Harisson: “Uma Confraria de Tolos”, o grande livro de John Kennedy Toole que dá nome a este blog, acaba de ser republicado no Brasil.

A Record lançou o livro em formato de bolso, pelo selo Best Bolso, a um preço sugerido de apenas R$ 19,90. Sensacional.

“Uma Confraria de Tolos” estava fora de catálogo há um tempão. Depois que escrevi sobre o livro aqui, vários leitores relataram dificuldades para encontrá-lo em sebos.

Espero que o blog tenha incentivado a editora a republicar o livro, para mim um dos mais engraçados já escritos.

Repito aqui o que já escrevi sobre o livro aqui no blog:

Uma Confraria de Tolos é, junto com Don Quixote, o livro mais engraçado que conheço. Na primeira vez que li, tive ataques incontroláveis de riso.

As semelhanças com a obra-prima de Cervantes não param por aí.

O personagem do livro é uma espécie de Don Quixote do século 20, Ignatius J. Reilly, um nerd obeso, glutão, fedorento e desagradável. Reilly despreza a modernidade, ridiculariza a cultura pop e se acha o centro do Universo.  Um delirante megalômano e fracassado.

 A história se passa em New Orleans, nos anos 60. E a forma como Toole descreve a cidade, cheia de malandros, biscateiros, policiais desonestos e aposentados ridículos, é um primor. A cidade vira um personagem.

É difícil resumir a trama. A rigor, é só a história de Ignatius – que ainda mora com a mãe – procurando por um emprego. O que acontece com ele durante essa busca é o interessante.

Tão incrível quando a história de Ignatius é a saga de seu criador, John Kenedy Toole.

O talento de Toole nunca foi reconhecido – pelo menos enquanto ele estava vivo.

Depois de ter o livro rejeitado por inúmeras editoras, Toole, que sofria de depressão, cometeu suicídio, em 1969.

Sua mãe, Thelma, disposta a provar o talento do filho, passou os anos seguintes enviando cópias do livro para editoras. Nenhuma se interessou.

Até que, sete anos depois, o conhecido escritor Walker Percy, cansado da insistência de Thelma, aceitou ler o manuscrito. Ficou tão impressionado que convenceu uma editora a publicá-lo.

Uma Confraria de Tolos foi publicado em 1980. No ano seguinte, ganhou o Prêmio Pulitzer de melhor romance.

Mesmo com o prêmio, o livro ainda é um “cult”. Nunca foi uma obra popular, apesar de ser citado como influência por gente bacana como o escritor chileno Roberto Bolaño.

Outra notícia animadora para os fãs do livro: uma adaptação para o cinema foi anunciada, com Zach Galifianakis (“Se Bebe, Não Case”) no papel de Ignatius.

É a terceira ou quarta vez que anunciam um filme inspirado no livro. Será que dessa vez vai?

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Cada macaco no seu galho

Por Andre Barcinski
05/07/12 07:05


 

Eu já tinha lido sobre o documentário “Project Nim”, mas não tinha visto, até que um leitor o recomendou. Agradeço ao leitor: o filme é sensacional.

“Project Nim” conta a história de um experimento iniciado em 1973 por um professor americano, Herb Terrace.

Ele queria ver se um bebê chimpanzé, chamado Nim, conseguiria se adaptar à vida de uma família de humanos e aprender a se comunicar por sinais.

Lembre-se, era 1973, o mundo ainda vivia os delírios da contracultura e do hippismo. A comunicação com animais era um assunto em voga nos restaurantes macrobióticos de São Francisco e em reuniões boêmias em Nova York. Mutcho loco, bicho.

Herb Terrace levou isso a sério. Convenceu a Universidade Columbia, em Nova York, a financiar o projeto. E convenceu uma ex-namorada, na época casada com um hippie milionário (sim, eles existem), a levar Nim para sua casa e a cuidar dele como se fosse um bebê de verdade.

Não vou estragar a surpresa, mas as conseqüências são devastadoras. Não só para Nim, mas para todos os humanos envolvidos.

O filme, dirigido por James Marsh (de “O Equlibrista”), acompanha mais de 20 anos da saga de Nim, por várias casas e com várias “famílias”. É um dos documentários mais tristes que já vi.

Não consegui achar nenhuma informação sobre o lançamento do filme no Brasil, nem em DVD e muito menos nos cinemas. Como foi produzido pela HBO, acredito que possa pintar na TV por aqui.

E já que estamos falando de documentários sobre animais, por que diabos ainda não saiu no Brasil o assustador “The Cove”, vencedor do Oscar em 2010, sobre a matança de golfinhos no Japão? Veja o trailer:


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Se você fosse curador, quem viria para a FLIP?

Por Andre Barcinski
04/07/12 08:34

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Hoje começa a décima edição da FLIP, a Festa Literária Internacional de Paraty.

Fiz uma entrevista para a Folha com Liz Calder, 74, a editora inglesa que fundou a FLIP.

Na conversa, Calder falou dos momentos mais emocionantes desses dez anos e dos autores que sempre sonhou trazer ao Brasil, mas nunca conseguiu. Leia a entrevista aqui.

Calder é conhecidíssima no meio literário, não só por causa da FLIP e por ser uma das fundadoras da editoria britânica Bloomsbury, mas por ter revelado autores como Julian Barnes, Salman Rushdie e John Irving e descoberto uma então anônima escritora chamada J.K. Rowling.

Calder tem uma antiga relação com o Brasil. Morou por aqui nos anos 60, quando trabalhou como modelo e jornalista.

O Guardian fez um ótimo perfil dela, que você pode ler aqui.

Sobre a FLIP, confesso que a edição deste ano, pelo menos para o meu gosto pessoal, não está das mais emocionantes.

Tenho curiosidade de ver Jonathan Franzen, de quem só li artigos para a “New Yorker”. E gostei muito de “Soldados de Salamina”, do espanhol Javier Cercas. Também quero ver o debate com Jennifer Egan, mesmo não tendo gostado tanto de “A Visit from the Goon Squad” (no Brasil, “A Visita Cruel do Tempo”), livro que deu a Egan o prêmio Pulitzer.

A FLIP dos sonhos, para mim, teria Nick Tosches, Philip Roth, Joseph Wambaugh, T. Coraghessan Boyle, Elmore Leonard, Mario Vargas Llosa e os mais “impossíveis” de todos, Dalton Trevisan e Cormac McCarthy, que não saem de casa para nada.

Não custa sonhar.

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Tributo muito bom a um filme muito ruim

Por Andre Barcinski
03/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sábado, 7 de julho, uma multidão vai se reunir no Cine Windsor, em São Paulo, para um tributo a um filme horroroso.

Na ocasião, será exibido um ótimo documentário sobre este filme horroroso.

O filme é “Coisas Eróticas”, dirigido por Rafaelle Rossi e lançado nos cinemas de São Paulo em 7 de julho de 1982. O documentário se chama “A Primeira Vez do Cinema Brasileiro”.

Até o próprio Rafaelle Rossi – que morreu em 2007 – sabia que seu filme não prestava: “Coisas Eróticas foi meu pior filme”, disse.

Por que então homenagear um filme tão ruim?

Fácil: porque a importância de “Coisas Eróticas” não é estética, é sociológica.

“Coisas Eróticas” foi o primeiro filme de sexo explícito brasileiro e um marco na história da Boca do Lixo e do cinema independente nacional.

O documentário, dirigido por Hugo Moura, Denise Godinho e Bruno Graziano, conta não só a saga da produção do filme, mas a história do cinema da Boca e da transição da pornochanchada para o sexo explícito, no início dos anos 1980.

É um período muito interessante e pouco explorado do nosso cinema, em que o enfraquecimento da Censura e a esperteza dos produtores, que passaram a usar mandados de segurança para liberar os filmes, fizeram nascer uma verdadeira indústria do sexo explícito.

Paradoxalmente, o sexo explícito acabou matando a Boca do Lixo, como explica muito bem Carlão Reichenbach, em uma de suas últimas entrevistas.

O filme também resgata a figura de Rafaelle Rossi, um diretor medíocre e conhecido trambiqueiro da Boca, “homenageado” no documentário por vários atores e técnicos, que aparecem contando os canos que tomaram do homem. Divertidíssimo.

Não estarei em São Paulo sábado, ou não perderia a estréia do documentário.

Fui entrevistado para o filme e dei um depoimento sobre um dos astros de “Coisas Eróticas”, Oásis Minitti, um guerreiro da época em que não existia o Viagra para ajudar os atores.

Oásis vivia na redação no “Notícias Populares”, sempre disposto a ficar pelado e tirar fotos para divulgar um novo filme ou peça. Assim que ele pintava na redação – e “pintava” é a palavra certa – os fotógrafos já sabiam o que lhes esperava: ver Oásis batendo continência. Era hilariante.

Aqui vai a programação de sábado no Cine Windsor, com entrada franca:

19h: exibição do documentário “A Primeira Vez do Cinema Brasileiro”.

20h30: coquetel de intervalo.

21h: mesa de debate com a presença de Eduardo Rossi (filho do Raffaele), Fábio Fabrício Fabretti (escritor e biógrafo da Jussara Calmon), Walder Laurentis (ator de “Coisas Eróticas”) e Débora Muniz (atriz da Boca e que falará sobre o período de transição entre pornochanchada e o pornô).

22h: exibição de “Coisas Eróticas”.

E aqui, o trailer do documentário (só para maiores de 18 anos, por favor).

Não há programa melhor para este sabadão. Sério.

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O maior cineasta que Hollywood revelou nos últimos 20 anos

Por Andre Barcinski
02/07/12 08:55


 

O canal HBO Plus exibe hoje, às 23h50, “Boogie Nights”, de Paul Thomas Anderson.

Já decidi: não vou assistir. O filme tem três horas de duração e não quero ficar acordado até 3 da manhã. Porque é um desses filmes que, se começar, eu não consigo parar de ver.

Para quem não viu, “Boogie Nights” conta a história de um adolescente burro e sem futuro, vivido por Mark Wahlberg, que encontra sucesso como ator pornô e vira o astro Dirk Diggler. O filme começa em 1977 e termina no meio dos anos 80.

Mas a história de Dirk é só uma desculpa para Anderson fazer uma parábola sobre a decadência do cinema.

Acho notável como Anderson usa a história do cinema pornô como metáfora para a própria história de Hollywood, mostrando como tudo piorou quando a liberdade criativa e a rebeldia dos anos 70 deram lugar a preocupações corporativas e a obsessão pelo lucro, nos anos 80.

Sou feliz proprietário do DVD deste filme e sempre tiro a belezinha da estante para rever alguma cena particularmente bem escrita, bem filmada e bem atuada.

Difícil escolher a melhor cena do filme.

Será a abertura, com um plano-sequência scorsesiano dentro de uma boate?

Ou a cena em que o produtor Philip Baker Hall vai à casa do diretor Burt Reynolds convencê-lo de que o futuro do cinema pornô é o videocassete, e é humilhado por um discurso sobre a ética do cineasta: “I am a filmmaker”, diz Reynolds… “Eu NUNCA vou filmar em vídeo!”

Que tal a catártica sequência em que Julianne Moore, a veterana atriz pornô, e Heather Graham, sua jovem discípula, passam dias trancadas num quarto, cheirando cocaína e tendo delírios sobre maternidade?

E o pesadelo que é a mansão do milionário cocainômano vivido por Alfred Molina? Inesquecível ver Molina de robe e cueca, tocando air guitar ao som de Rick Springfield enquanto seu filho – ajudante? Namorado? Escravo? – chinês solta bombinhas no chão da casa.

Paul Thomas Anderson tem 42 anos. Para mim, é o melhor diretor que Hollywood revelou nos últimos 15 ou 20 anos. Melhor até que Tarantino.

Ele fez cinco filmes. Dois, para mim, estão entre os melhores dos últimos 20 anos: “Boogie Nights” (1997) e “Sangue Negro” (2007).

Seu próximo, “The Master”, inspirado na Cientologia e com Philip Seymour Hoffman no papel do líder de uma religião chamada “A Causa”, estréia no fim do ano. Não posso esperar.

Muita gente gosta de “Magnólia” (1999), mas eu acho forçado demais, com diálogos e personagens caricatos. Além de me parecer uma cópia descarada de “Short Cuts”, de Robert Altman.

Anderson, aliás, é grande fã de Altman. E a recíproca era verdadeira: quando Altman, que tinha 80 anos na época, foi filmar “A Prairie Home Companion” (2006), a seguradora exigiu que ele escolhesse um “diretor substituto” para tomar seu lugar caso não conseguisse completar as filmagens.

E quem Altman escolheu? Paul Thomas Anderson, claro.

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Quem explica a decadência do cinema?

Por Andre Barcinski
29/06/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

Que as artes estão em crise, ninguém discute.

Não conheço ninguém que diga que o cinema, a música e a literatura estão melhores hoje do que há 30, 40 ou 50 anos.

Vejo pelo que consumimos aqui em casa: tirando filmes, CDs e livros recentes, que preciso conhecer por obrigação profissional, quase tudo que vemos, ouvimos e lemos tem pelo menos 30 anos de idade.

No caso do cinema, arte mais cara do mundo e certamente a mais “escrava” da indústria e do mercado, o caso é ainda mais sério.

Essa semana , revi “The Last Wave”, um thriller dirigido em 1977 pelo australiano Peter Weir.

O filme é mais inventivo e experimental do que qualquer coisa nova que eu tenha visto recentemente.

Claro que a decadência das artes – e do cinema em especial – é um tema complexo e que vem sendo discutido há um tempão.

Gostaria de colaborar com a discussão citando uma teoria que, se não explica totalmente esta decadência, certamente contribui muito para ela.

A primeira vez que essa idéia me chamou a atenção foi há quase 20 anos, quando meu amigo Ivan Finotti e eu fazíamos entrevistas para a biografia de José Mojica Marins.

Um dos entrevistados era Virgilio Roveda, o “Gaúcho”, conhecido fotógrafo e assistente de câmera, que trabalhou por muitos anos na Boca do Lixo.

No meio do papo, alguém lembrou uma cena particularmente complexa que Gaúcho havia ajudado a rodar na Boca (não consigo lembrar de que filme era, só lembro que envolvia um plano-sequência longo e complicado). Perguntei a Gaúcho por que eles haviam filmado a cena daquela maneira e não de uma forma mais simples.

“Naquela época, a gente podia fazer o que quisesse”, respondeu Gaúcho. “Se o diretor entregasse o filme no prazo e dentro do orçamento, o produtor não queria nem saber como ele tinha feito. E tem mais: a gente nunca achava que alguém ia ver o filme depois do lançamento em cinema, não existia essa coisa de VHS.”

Faz todo sentido: filmes eram feitos para cinema. Ninguém achava que o filme seria visto e depois revisto em VHS, laserdisc, DVD, Blu-ray, TV a cabo, Netflix, Internet, etc.

Filmes eram produzidos com um único objetivo: estrear numa sala e arrecadar na bilheteria. Uma vez que o espectador tivesse comprado o ingresso, a batalha estava ganha.

O depoimento de Gaúcho me fez pensar em como as mudanças no mercado têm colaborado para restringir a liberdade criativa do cinema.

Foi no meio dos anos 70 que Hollywood começou a usar, com mais freqüência, testes com público e pesquisas para decidir como fazer filmes (quem quiser se aprofundar no tema, sugiro ler “Como a Geração Sexo, Drogas e Rock’n’Roll Salvou Hollywood”, de Peter Biskind).

Depois, os estúdios perceberam o potencial do lançamento em VHS e da venda de filmes para TV. Filmes passaram a seguira uma certa “fórmula”, com roteiros claramente pensados para obedecer até aos intervalos para os comerciais de TV.

O mercado, que antes consumia cinema, passou a ditar a maneira como este deveria ser feito.

Hoje, o cinema é feito por encomenda. Estúdios investem em produtos de retorno garantido: adaptações de HQs e séries de TV, refilmagens, filmes que copiam outros filmes, com os mesmo atores, a mesma música, o mesmo estilo. No Brasil, a nova moda são comédias de estilo televisivo.

Até o chamado “cinema alternativo” sofre com isso. É só ver o fenômeno da globalização dos filmes de arte para comprovar.

Hoje, se você tirar o som de um filme argentino, por exemplo, é impossível diferenciá-lo de um filme francês ou de um sueco. Todos se parecem. A fotografia obedece à mesma estética publicitária “clean”.

As diferenças estéticas do cinema de cada país, antes tão evidentes, foram quase banidas, em prol de uma assepsia global. O cinema virou um grande saguão de aeroporto, igual em toda parte.

Até os anos 70, ir ao cinema era uma coisa especial. Você via um filme sem saber se teria chance de revê-lo. O cinema causava deslumbramento e um senso de descoberta, que foi se perdendo ao longo dos anos, com a padronização do cinema e a crescente banalização do acesso aos filmes.

Ninguém está dizendo que o acesso fácil e barato, como temos hoje, é uma coisa ruim. Claro que é fantástico dar dois cliques no mouse e baixar a obra completa de Bergman ou Kurosawa.

O ponto é outro: desde que filmes deixaram de ser feitos só para salas de cinema, algo mudou neles. E não foi para melhor.

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O último - e melhor - concerto de rock

Por Andre Barcinski
28/06/12 07:05


 

Dia desses, o Telecine Cult exibiu “O Último Concerto de Rock” (“The Last Waltz”), o documentário de Martin Scorsese sobre o show de despedida da The Band. Se não é o melhor filme-concerto já feito, é um dos melhores.

No show, gravado em novembro de 1976, em São Francisco, o grupo recebeu amigos e artistas com quem havia tocado nos 18 anos anteriores: Bob Dylan, Neil Young, Joni Mitchell, Muddy Waters, Dr. John, Neil Diamond, Van Morrison, Eric Clapton, Ronnie Hawkins e outros.

Difícil escolher o melhor momento do filme, tantos são os destaques: Neil Young (“Helpless”), Joni Mitchell (“Coyote”), Muddy Waters (“Mannish Boy”), Bob Dylan (“Forever Young”).

O encerramento, com todo mundo junto – e ainda Ringo Starr e Ron Wood – cantando “I Shall Be Released”, é de chorar.

The Band foi um supergrupo que fez fama como banda de apoio de artistas famosos, mas que depois gravou dois extraordinários álbuns de músicas próprias, “Music from Big Pink” (1968) e “The Band” (1969).

Era formado por cinco instrumentistas virtuosos: Robbie Robertson, Levon Helm, Rick Danko, Richard Manuel e Garth Hudson. Todos tocavam vários instrumentos e, com exceção de Hudson, todos cantavam.

Quem assiste a “O Último Concerto de Rock” pode ver uma das bandas mais afiadas que já existiu. Anos e anos tocando em bares deu aos cinco uma cancha de palco e uma capacidade de improvisação fora do normal.

Dos cinco membros originais da banda, apenas dois – Robertson e Hudson –estão vivos.  Manuel cometeu suicídio em 1986, Danko morreu do coração em 1999 e Helm morreu há apenas dois meses, de câncer.

Garth Hudson é um disputado músico de estúdio, enquanto Robbie Robertson passou a trabalhar em cinema, compondo música e atuando em vários filmes de Scorsese.

O Telecine Cult promete uma reprise do filme dia 17 de julho, à meia-noite. Não perca.

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A voz do Cocteau Twins quebra o silêncio

Por Andre Barcinski
27/06/12 07:05


 

Podem chorar, fãs de Cocteau Twins: Elizabeth Fraser, a enigmática cantora do grupo, vai quebrar um silêncio de 14 anos. Ela aceitou se apresentar em agosto no festival Meltdown, na Inglaterra (leia entrevista dela ao “Guardian”, aqui).

Desde a dissolução da banda – e de seu relacionamento com o parceiro Robin Guthrie – em 1998, Fraser não canta suas músicas ao vivo.

Ela tem feito raras participações em discos de outros artistas e colaborado em trilhas de filmes. Um disco solo, prometido há anos, nunca aconteceu.

Se você não conhece o Cocteau Twins, sugiro procurar urgentemente os oito LPs de estúdio da banda. São discos capazes de mudar a sua vida.

O Cocteau Twins surgiu na Escócia, no início dos anos 80. Embora seus integrantes odeiem o rótulo, a verdade é que o grupo foi um dos fundadores do “dream pop”, um estilo etéreo, de músicas tranqüilas e lúdicas, com camadas de teclados e guitarras soterradas sob montanhas de efeitos, criando uma atmosfera onírica e envolvente.

O destaque era a voz de Liz Fraser. Liz usava a voz mais como um instrumento, cantando letras indecifráveis, num idioma próprio e ininteligível. O que interessava à cantora, mais que o significado da palavra, era sua sonoridade.

A música do Cocteau Twins tinha uma beleza quase infantil. Para mim, sempre sugeriu uma atmosfera de conto de fadas e de ilusão, quase que uma regressão à infância e a épocas mais “puras”. Não parecia música deste mundo.

O Cocteau Twins inspirou muita gente. Difícil imaginar a onda “shoegazer” de My Bloody Valentine, Lush, Ride e Slowdive sem a influência da banda. Portishead, Massive Attack e todo o trip-hop devem muito ao Cocteau Twins.

Outros grupos em que a influência do CocteauTwins é marcante: Sigur Rós, Mercury Rev, Galaxie 500, Spacemen 3, Spiritualized, Air, Explosions in the Sky e Flaming Lips. Até veteranos do som gótico, como The Cure e Bauhaus, en gente como Trent Reznor já falaram da importância de Liz Fraser e Robin Guthrie.

E agora, que o dream pop parece estar de novo na crista da onda, com o sucesso de Beach House, parece ser uma boa hora para redescobrir o Cocteau Twins.

Será que vem uma turnê de reunião por aí?


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