O cineasta que Hollywood estragou
26/06/12 07:05
De terça para quarta, às 2 da manhã, o canal Max exibe “O Ano em Que Vivemos em Perigo” (1982), do australiano Peter Weir. Não perca.
Foi o quinto filme de Weir e o último antes de ele começar a fazer filmes em Hollywood.
É triste assistir a essa beleza e depois perceber como o talento de Weir foi desperdiçado nos Estados Unidos com besteiras do tipo “Sociedade dos Poetas Mortos” e “Green Card”.
Não que todos seus filmes norte-americanos sejam ruins. Em Hollywood ele fez “A Testemunha” (1985), um ótimo policial com Harrison Ford, “O Show de Truman” (1998), uma comédia sobre “reality TV” com Jim Carrey, e “Mestre dos Mares” (2003), com Russel Crowe.
Mas comparar esses filmes com “Picnic na Montanha Misteriosa” (1975), “The Last Wave” (1977), “Gallipolii” (1981) e “O Ano em que Vivemos em Perigo” é covardia.
São quatro filmes que giram em torno do mesmo tema: a convivência de um mundo “civilizado” com outro, “selvagem”.
É um tema comum a muitos filmes australianos, um lugar onde essa contraposição é marcante, com cidades modernas erguidas próximas a áreas inóspitas e habitadas por populações aborígenes.
Em “O Ano em que Vivemos em Perigo”, um jovem Mel Gibson faz Guy Hamilton, um jornalista australiano que vai à Indonésia em 1965, nos dias que antecedem à guerra civil que derrubou o presidente Sukarno.
Lá, conhece um fotógrafo misterioso e estranho – tanto na atitude quanto na aparência – Billy Kwan (Linda Hunt) e tem um romance quente com uma funcionária da embaixada inglesa, interpretada por Sigourney Weaver.
Linda Hunt ganhou um Oscar de melhor atriz coadjuvante, o primeiro ganho por um ator interpretando uma pessoa do sexo oposto.
O filme tem um clima à Graham Greene, com uma história que mistura política, espionagem e intriga internacional. E Sigourney Weaver correndo na chuva é sempre uma visão do paraíso.
O mais bonito no filme é a forma como Weir mostra a Indonésia e as tradições culturais afetando a vida e as idéias de “forasteiros” como Guy Hamilton e Billy Kwan.
“O Ano em que Vivemos em Perigo” um filmaço. E quem se interessar pelo estilo deve procurar outros filmes feitos por uma turma talentosa de cineastas australianos, todos cooptados posteriormente pelo dinheiro hollywoodiano: George Miller, Bruce Beresford, Gillian Armstrong e Phillip Noyce.