O maior rival do esporte foi a Guerra Fria
13/06/12 07:05
Morreu o boxeador cubano Teofilo Stevenson. Quem o viu lutar diz que só Muhammad Ali teria sido páreo para o monstro.
Infelizmente, nem todo mundo viu Teofilo Stevenson lutar. Mo mundo da Guerra Fria, ele e outros grandes atletas comunistas pouco duelaram com seus rivais ocidentais.
Imagine que delírio teria sido ver Stevenson enfrentar Ali, Frazier, Foreman e outros gigantes do ringue?
Stevenson foi tricampeão olímpico em 1972, 1976 e 1980. Não ganhou o quarto título porque Cuba boicotou as Olimpíadas de Los Angeles, em 1984 (assim como os EUA haviam feito em Moscou, 1980). Ficou invicto por onze anos.
Nos anos 70, lhe ofereceram 5 milhões de dólares por uma luta com Muhammad Ali. Stevenson recusou com uma frase dramática, tirada diretamente de algum panfleto de propaganda cubana: “o que são um milhão de dólares perto do amor de oito milhões de cubanos?”
Quando eu era adolescente, esportistas como Teofilo Stevenson mexiam com a nossa imaginação. Só ouvíamos falar deles por jornal. Não havia imagens desses grandes atletas disponíveis em qualquer lugar. No mundo pré-globalizado, cubanos lutavam em Cuba, soviéticos lutavam em Moscou. Era muito raro vê-los em ação.
A gente ficava grudado na TV quando tinha a chance de ver os astros do esporte comunista. Lembro de ver todos os jogos da Polônia, em 1978 – a primeira Copa que acompanhei – só para ver o carequinha Lato e craques como Boniek e Deyna.
E os enxadristas soviéticos? Kasparov, Karpov, Spassky…
E Savin, o implacável atacante do vôlei soviético? E Nadia Comaneci, a romena que tirou o primeiro “dez, nota dez!” da história?
Mas nenhum atleta vermelho era mais fascinante – especialmente para um adolescente – quanto Vladimir Tkachenko, um gigante de 2,22m que tornava impenetrável o garrafão da seleção soviética.
Tkachenko parecia uma aparição, um gigante de conto de fadas, bloqueando os arremessos adversários como se matasse moscas.
Nos anos 70 e 80, era difícil viajar ao exterior. Não existiam passagens promocionais em 20 vezes sem juros. Não havia Youtube.
A imagem que tínhamos de países distantes ou politicamente isolados era, muitas vezes, a imagem de seus atletas. Os atletas tinham um ar de mistério que ampliava nossa curiosidade sobre seus lugares de origem. Era um mundo fechado e cinza, que o esporte, de vez em quando, tornava mais alegre e arejado.