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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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O maior rival do esporte foi a Guerra Fria

Por Andre Barcinski
13/06/12 07:05


 

Morreu o boxeador cubano Teofilo Stevenson. Quem o viu lutar diz que só Muhammad Ali teria sido páreo para o monstro.

Infelizmente, nem todo mundo viu Teofilo Stevenson lutar. Mo mundo da Guerra Fria, ele e outros grandes atletas comunistas pouco duelaram com seus rivais ocidentais.

Imagine que delírio teria sido ver Stevenson enfrentar Ali, Frazier, Foreman e outros gigantes do ringue?

Stevenson foi tricampeão olímpico em 1972, 1976 e 1980. Não ganhou o quarto título porque Cuba boicotou as Olimpíadas de Los Angeles, em 1984 (assim como os EUA haviam feito em Moscou, 1980). Ficou invicto por onze anos.

Nos anos 70, lhe ofereceram 5 milhões de dólares por uma luta com Muhammad Ali. Stevenson recusou com uma frase dramática, tirada diretamente de algum panfleto de propaganda cubana: “o que são um milhão de dólares perto do amor de oito milhões de cubanos?”

Quando eu era adolescente, esportistas como Teofilo Stevenson mexiam com a nossa imaginação. Só ouvíamos falar deles por jornal. Não havia imagens desses grandes atletas disponíveis em qualquer lugar. No mundo pré-globalizado, cubanos lutavam em Cuba, soviéticos lutavam em Moscou. Era muito raro vê-los em ação.

A gente ficava grudado na TV quando tinha a chance de ver os astros do esporte comunista. Lembro de ver todos os jogos da Polônia, em 1978 – a primeira Copa que acompanhei – só para ver o carequinha Lato e craques como Boniek e Deyna.

E os enxadristas soviéticos? Kasparov, Karpov, Spassky…

E Savin, o implacável atacante do vôlei soviético? E Nadia Comaneci, a romena que tirou o primeiro “dez, nota dez!” da história?

Mas nenhum atleta vermelho era mais fascinante – especialmente para um adolescente – quanto Vladimir Tkachenko, um gigante de 2,22m que tornava impenetrável o garrafão da seleção soviética.

Tkachenko parecia uma aparição, um gigante de conto de fadas, bloqueando os arremessos adversários como se matasse moscas.

Nos anos 70 e 80, era difícil viajar ao exterior. Não existiam passagens promocionais em 20 vezes sem juros. Não havia Youtube.

A imagem que tínhamos de países distantes ou politicamente isolados era, muitas vezes, a imagem de seus atletas. Os atletas tinham um ar de mistério que ampliava nossa curiosidade sobre seus lugares de origem. Era um mundo fechado e cinza, que o esporte, de vez em quando, tornava mais alegre e arejado.

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O filme que George Harrison merecia

Por Andre Barcinski
12/06/12 07:05


Semana passada, entrevistei para a Folha Olivia Harrison, 64, viúva do Beatle George Harrison (1943-2001) e co-produtora do documentário “George Harrison – Living in the Material World”, dirigido por Martin Scorsese.

Como a entrevista rolou de última hora, não tivemos muito espaço para o texto no jornal. Por isso, resolvi postar aqui a íntegra. Aproveite…

– Depois que George morreu imagino que a família deva ter recebido muitos convites para fazer um filme sobre ele…

– Sim, muitas. Até fiquei com medo de que outra pessoa fizesse um filme antes de nós.

 

– E como surgiu a idéia de fazer o filme com Scorsese?

– Bom, eu vi “No Direction Home” (documentário de Scorsese sobre Bob Dylan), e achei sensacional. Mas nunca imaginei que ele se interessaria por contar a história de George. Mas temos um amigo em comum que mencionou a idéia do filme para Marty e ele ficou muito empolgado. Depois, percebi que fazia todo sentido Marty se identificar com George. Eram pessoas muito parecidas…

 

– Em que sentido?

– São pessoas muito espirituais, grandes artistas que sempre buscaram objetivos maiores em suas vidas, um sentido mais amplo e profundo para suas vidas. Ambos tiveram sucesso e não se iludiram com isso. E ambos perderam muitos amigos, vítimas do sucesso.

 

– É impressionante a quantidade de cenas raras e inéditas no filme. Vieram de arquivos pessoais?

– A maioria, sim. O que pouca gente sabe é que George estava fazendo um filme autobiográfico quando morreu (em 2001, de câncer). George dizia que o filme seria o primeiro documentário sobre uma pessoa que não apareceria no filme, porque estava atrás das câmeras (risos). Por isso George estava filmando tudo que acontecia com ele: queria usar as imagens em seu próprio filme.

 

– Scorsese usou todas as imagens inéditas, ou restaram algumas?

– Sobrou muita coisa. Algumas cenas que eu julgava importantíssimas e muito raras, Marty não quis usar. Havia imagens de George e John, por exemplo, que eu achava lindas, mas ele disse que só usaria imagens que adicionassem alguma coisa à história. Marty foi absolutamente honesto. Ele é um autor, e nós respeitamos isso.

 

– George sempre teve uma relação estreita com o cinema, não? Ele financiou filmes do Monty Python…

– Muita gente acha que George era um aficionado por cinema, mas isso não é verdade. Ele gostava muito, mas não era um cinéfilo, como Marty, por exemplo.

 

– Mas os Beatles sempre tiveram um senso estético apurado e os filmes da banda foram muito influentes…

– Sim, isso é verdade. Coisas que eles filmaram nos anos 60 são copiadas até hoje…

 

– Quanto disso era influência de George? Ele opinava muito nos filmes da banda?

– Naquela época, não. Os Beatles sempre se cercaram de pessoas muito talentosas e criativas. Acho que, na época dos Beatles, a banda confiava muito nas pessoas com quem trabalhava.

 

– O que você achou do resultado final do filme?

– Tenho muito orgulho desse filme e tenho certeza que George também teria. Não é um desses filmes açucarados e que só elogiam o biografado, mas um retrato honesto e profundo sobre vida de um homem. Acho que é o filme que George merece.

P.S.: Amanhã, publico uma homenagem ao boxeador cubano Teofilo Stevenson, que morreu segunda-feira…

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Ivan Lessa: “O que mais me interessa hoje é aquilo que passou”

Por Andre Barcinski
10/06/12 15:54

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ivan Lessa saiu do Brasil em 1978. Quer dizer, saiu fisicamente, porque espiritualmente, ele já havia se mandado bem antes.

O Brasil de Ivan Lessa – ou melhor, o Rio de Janeiro de Ivan Lessa – existiu até os anos 60. O que surgiu depois foi tão tenebroso aos seus olhos que ele se mandou para Londres e não voltou – na verdade, voltou uma vez, bem rápido, a convite da revista “Piauí”, e não gostou da experiência.

Eu adoro saudosismo. Acho saudável. Diferentemente de muitos, não vejo retrocesso em olhar para o passado. Vejo sabedoria.

Adorava ler Ivan Lessa porque ele falava de um Rio que eu não conheci. Um Rio que meu avô, amigo dessa turma toda, amava.

E Lessa escrevia com uma ironia fina que parece totalmente fora de moda hoje. Estilisticamente, também era um saudosista. Não deve ter sido à toa que se mudou para a Inglaterra, onde a ironia é um modo de vida.

E as frases? Cada uma melhor que a outra:

“Para os sertanejos, Euclides da Cunha era, antes de tudo, um chato.”

“O brasileiro tem os dois pés no chão… e as duas mãos também.”

“O que mais me interessa hoje em dia é aquilo que passou.”

Seus textos têm um poder de síntese raro. Sem invencionices, sem rococós, sem exibicionismo.

Para quem não conhece Ivan Lessa, separei duas entrevistas ótimas, em que ele fala de seu trabalho e sua visão de mundo.

Se você curtir – e acho difícil alguém não se interessar pelo que ele diz – procure os três livros de Lessa e leia suas colunas no site da BBC Brasil.

A primeira entrevista está no blog de Dodó Macedo e foi publicada pelo Jornal do Brasil, em 2005. (leia aqui).

A segunda foi feita por Geneton Moraes Neto, em 1999 (aqui). Bom proveito.

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Sexo! Vídeos secretos! Intriga! A saga de Ronaldinho Gaúcho...

Por Andre Barcinski
06/06/12 07:05

 

 

 

 

 

 

Tentei evitar o assunto “Ronaldinho Gaúcho” aqui no blog, mas o caso chegou a um nível de ridículo tão inacreditável que merece uma reflexão.

Depois de R10 abandonar o Flamengo e processar o ex-clube, e de este ameaçar processar o Palmeiras por supostamente ter sondado o jogador enquanto ele ainda tinha contrato vigente – coisas que todos os times do Brasil fazem, incluindo o próprio reclamante – agora o Flamengo ameaça divulgar “exames” que mostram que o jogador estava bêbado em um treino, e usa um vídeo do circuito interno de um hotel para “provar” que ele passou a noite com uma mulher.

O que é isso, o colegial?

Vamos esquecer por um minuto que o conceito de “concentração” seja um anacronismo patético: mesmo que o jogador tenha passado a noite no quarto de uma mulher, o que isso prova? Que ele não dormiu no próprio quarto?

E se ele tiver passado a noite conversando sobre o Código Florestal ou a crise na Grécia? Quem vai provar o contrário?

Para piorar, agora vem o presidente do Galo, clube que contratou Ronaldinho, dizer que, se ele for pego novamente “fazendo isso”, será demitido na hora.

Fazendo o quê? Não dormir no quarto da concentração?

Nessa história toda, ninguém mostrou um pingo de lucidez ou honestidade. Ronaldinho deu entrevistas fantasiosas, se fingindo de coitadinho. Os presidentes dos clubes tentaram jogar para a torcida, com declarações bombásticas que não terão conseqüência alguma.

Alguém acha, de verdade, que Ronaldinho Gaúcho vai mudar?

Sem querer comparar jogadores, mas alguém achava que Jobson iria mudar? Ou Carlos Alberto? Ou Roger? Ou o Imperador Adriano?

Talvez o Galo tenha feito certo ao contratar Ronaldinho Gaúcho. Jogar futebol ele sabe, ninguém questiona.

A dúvida é: qual Ronaldinho Gaúcho vai aparecer em Belo Horizonte? A ver…

A todos, um ótimo feriado. O blog volta segunda-feira.

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Stop Making Sense: shows estranhos em filmes inesquecíveis

Por Andre Barcinski
05/06/12 07:05

Essa semana finalmente vi “U.F.O.S at the Zoo”, filme do show que o Flaming Lips fez em 2006 no zoológico de Oklahoma City, cidade de origem da banda.

Como eu pude passar cinco anos da minha vida sem ver essa obra-prima é inexplicável.

Resolvi listar alguns filmes-concerto que, a exemplo deste, subvertem as fórmulas típicas do “filme de show” e usam a criatividade, seja escolhendo locações fora do habitual ou filmando de forma inusitada.

 


Flaming Lips – U.F.O.s at the Zoo (2007)

Minha banda predileta dos últimos 20 anos no melhor filme-concerto que já vi. As imagens do show são intercaladas com entrevistas com o público e cenas dos animais no zôo. Estranhamente, faz sentido. Como tudo que envolve essa banda.

Difícil acreditar que o Flaming Lips seja formado por apenas quatro músicos, tamanha a riqueza sonora do repertório.

Sugiro assistir numa sessão dupla com “Fearless Freaks”, o excelente documentário sobre os Lips. Dá para ter uma boa idéia de onde vêm Wayne Coyne e o genial Steve Drozd, e é possível entender a empatia que a banda causa em freaks por todo o mundo.

 


Sigur Rós – Heima (2006)

Em 2006, o grupo islandês resolveu viajar por seu próprio país, tocando shows-surpresa em 16 locais inusitados, incluindo encostas de montanhas próximas a vilas praticamente inabitadas. Um dos filmes mais bonitos que já vi – musicais ou não.

 


The Cramps – Live at Napa State Mental Hospital (1978)

“Me disseram que vocês são loucos, mas eu não tenho certeza. Vocês parecem normais para mim”, diz Lux Interior, do Cramps, dirigindo-se ao público. Mas não é um público qualquer: são os pacientes de uma instituição psiquiátrica na Califórnia, nesse que é um dos filmes-concerto mais dementes já gravados.  Absolutamente impossível parar de ver.

 


Talking Heads – Stop Making Sense (1984)

O pop sofisticado do Talking Heads ganha o tratamento cinematográfico que merece, cortesia de Jonathan Demme. Um dos filmes-concerto mais criativos já feitos (e não, aquele não é Arnaldo Antunes no palco…).

 


Iron Maiden – Flight 666

Goste ou não do Iron, esse filme é divertido demais. Durante 45 dias, a banda fez 23 shows em cinco continentes, viajando no avião pilotado pelo próprio Bruce Dickinson. Um delírio megalômano com os fãs mais insanos do mundo.

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Mudou a música caipira ou mudaram os caipiras?

Por Andre Barcinski
04/06/12 07:05


Dia desses, participei de uma entrevista com um músico que admiro muito: Renato Teixeira.

Certa hora, alguém pediu ao Renato para listar as diferenças entre a música sertaneja antiga e a atual.

A resposta dele surpreendeu a todos:

“Não há diferença alguma”, disse.

“Como assim?” reagiu o entrevistador.

“A música caipira sempre foi a mesma”, explicou o músico. “É uma música que espelha a vida do homem no campo, e a música não mente. O que mudou não foi a música, mas a vida no campo.”

Faz todo sentido: a música caipira de raiz exalava uma solidão, um certo distanciamento do país “moderno”.

Exigir o mesmo de uma música feita hoje, num interior conectado, globalizado e rico como o que temos, é impossível. Para o bem ou para o mal, a música reflete seu próprio tempo.

Fiquei pensando muito sobre a frase do Renato Teixeira.

Será que nossa nostalgia por uma música melhor não reflete nossa nostalgia por outros tempos?

Será possível, nos tempos atuais, ter uma música popular de qualidade e mais “autêntica”?

Será que a decadência cultural e a globalização permitiriam ao público jovem apreciar uma música que não refletisse a confusão de estilos e tendências que é a marca da modernidade?

“Ai Se Eu Te pego” é sertanejo?

Segundo a teoria de Renato Teixeira, sim.

Talvez não o “sertanejo” a que nos acostumamos, ou o que gostaríamos que fosse. Mas um sertanejo que é inescapável.

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Tributo à Legião: pede pra sair!

Por Andre Barcinski
01/06/12 07:05


Passei a semana toda numa filmagem e havia preparado de antemão todos os textos da semana.

Mas foram tantos os pedidos de um texto sobre o Tributo à Legião Urbana, que não resisti. O assunto merece.

Quando ouvi dizer que os remanescentes da Legião Urbana preparavam um show-tributo com a participação de Wagner Moura, achei uma bola dentro, pelo menos no aspecto de marketing: a presença do sujeito certamente atrairia uma mídia gigantesca.

O que eu não sabia é que o show INTEIRO seria com Wagner Moura cantando.

É nessas horas que o agente do cara precisava tirá-lo de canto: “Wagnão, numa boa, você é adorado pelo Brasil todo, um baita ator, tá por cima da carne seca e tal… mas tem certeza que vai se arriscar nisso? Bicho, isso aí vai passar ao vivo pro país todo, pensa bem!”

Botar um não-cantor para carregar nas costas um show desses é uma temeridade.

Se o próprio Wagner Moura tiver um pingo de simancol, ele será o primeiro a concordar com isso (e se ainda restar alguma dúvida, basta ver esse vídeo de “Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar”).

Se eu fosse dirigir esse show, faria o mais simples: convidaria uma penca de cantores – Dinho Ouro Preto, Toni Platão, Ana Carolina, os caras do Restart, NXZero, qualquer um – e os colocaria para cantar duas músicas cada.

No meio, poria o Wagner Moura, animado como só um fã de verdade pode ser e desafinando mais que o gerente de RH no karaokê da firma.

Ia dar MUITA mídia. Mas pelo menos seria divertido e inusitado.

Do jeito que fizeram, foi triste.

O show de terça foi ruim, mas o de quarta foi pior ainda. Havia uma tensão no ar.

Dado Villa-Lobos mandou expulsar um espectador: “Ele xingou minha mãe”.

Como assim? Quer dizer que um artista acostumado a tocar para milhares de pessoas dá chilique porque foi xingado?

Estava na cara que o clima não era dos melhores.

Não sei o que a MTV pretende fazer com as gravações. DVD? Disco?

Tem certeza, MTV?

Mais importante: tem certeza, Wagner Moura?

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O disco que inventou os anos 80

Por Andre Barcinski
31/05/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Todo mundo tem uma fase em que redescobre um disco que não ouvia há muito tempo.

Há uns dois meses, tirei da estante o vinil de “Avalon” (1982), último disco de estúdio do Roxy Music. E a bolacha ainda está na vitrola, em alta rotação.

Muitos insistem em incluir “Avalon” na onda new romantic que tomava conta da Europa no início dos anos 80 e que incluía nomes como Duran Duran, Spandau Ballet, ABC, Ultravox e Visage.

Mas acho errado incluir o Roxy Music nesse leva, já que a inspiração maior dos new romantics sempre foi o próprio Roxy Music.

Tem mais: “Avalon” inspirou outros estilos, como o gótico, o ambient e o synthpop. É um daqueles discos que marcam gerações.

Lembro muito bem de fãs do Sisters of Mercy carregando o vinil de “Avalon” debaixo do braço. E quem não lembra da cruz banhando Bryan Ferry de luz no clipe de “More Than This”?

Ao mesmo tempo, já ouvi artistas ligados ao ambient, como The Orb, contando como foram inspirados pelas texturas etéreas e tranquilas do disco (curiosamente, mas nunca ouvi David Byrne dizer que imitava o estilo vocal de Bryan Ferry, mas deixa pra lá…)

O Roxy Music sempre esteve um passo à frente da concorrência. Era eletrônico demais para ser “glam”, chique demais para ser punk e velho demais para ser “new” romantic. Sempre pairou acima de estilos e tendências.

“Avalon” tem um clima gélido de elegância europeia, uma fleuma que faltava a muitas bandas da geração new romantic, jovens demais para parecer blasé de forma convincente.

E os clipes? Bryan Ferry parece dizer: “Ah, isso é a MTV?” Então tome clipes (“Avalon”, “More Than This”) que ajudariam a criar a estética chique-futurista-onírica que dominaria 90% dos clipes de bandas dançantes dos anos 80.

Deixo vocês com duas homenagens bonitas a “Avalon”:

A primeira, um artigo sensacional da revista “Mix”, sobre a gravação do disco (leia aqui).

E a segunda… Bom, veja aqui…

Estarei sem acesso à Internet até o meio da tarde. Por isso, alguns comentários podem demorar a ser publicados, ok?

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Adeus, Pulitzer!

Por Andre Barcinski
30/05/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Continuando o tema de ontem, pedi a amigos jornalistas que enviassem casos curiosos de gafes cometidas por eles ou por colegas de trabalho.

O amigo Paulo Cesar Martin fez mais: mandou um link para uma seção da Folha Online chamada “Antologia do ‘Erramos’”. É sensacional.

Veja alguns dos “Erramos” memoráveis:

“Diferentemente do que foi publicado na edição de ontem, a rodovia que passa pela cidade de Praia Grande chama-se Pedro Taques, e não Pedro Táxi.”

“Está errada a idade do engenheiro mecânico Claudinei de Oliveira. O texto dizia que Oliveira tem 54 anos e sua mãe, Edna Cecconello de Oliveira, 52. A idade correta do engenheiro é 34.”

“Há um erro de tradução na tira Hagar publicada na Ilustrada no último dia 3. Hagar diz não confiar em conservantes, e não em preservativos, como saiu publicado.”

“Diferentemente do que foi publicado, a Segunda Guerra Mundial começou em 1939, os EUA entraram na guerra em 1941, a Guerra dos Seis Dias foi em 1967, o presidente Richard Nixon (EUA) renunciou em 1974, Margaret Thatcher assumiu o poder no Reino Unido em 1979, o Muro de Berlim caiu em 1989, e o Iraque invadiu o Kuait em 1990.”

“Em alguns exemplares da Ilustrada de hoje, saíram trocadas as fotos do ator Jack Palance e da ensaísta Leyla Perrone-Moisés no alto da pág.4-1.”

“A reunião do ministro Eliseu Resende com sua equipe durou quatro horas e não quatro anos, como foi publicado no caderno Brasil.”

Entre os casos relembrados por meus amigos, selecionei os melhores. Claro que alguns aconteceram há muito tempo e, por isso, estão sujeitos a lapsos de memória:

– Certa vez, um maluco foi preso envenenando barras de chocolate. Um jornal fez uma reportagem que trazia a foto de uma das barras envenenadas, com a legenda: “Cuidado ao comer essa gostosura”. Na hora de descer a página, a foto sumiu e foi substituída pela foto do diretor da empresa de chocolates. A legenda, claro, foi mantida.

– Em um caderno de imóveis, um anúncio saiu com o seguinte texto: “Apto. Vila Mariana – suíte, 2 quartos, vaga na garagem, área de lazer… O resto não dá pra ler porra nenhuma.”

– Em um caderno regional, havia duas fotos: uma vaca premiada numa matéria sobre pecuária e uma primeira-dama de algum município paulista em alguma cerimônia. Claro que as legendas estavam trocadas: a foto da vaca trazia o nome da mulher do prefeito e a foto da socialite descrevia o prêmio vencido pela vaca.

– No primeiro jornal em que trabalhei, no fim dos anos 80, as agências internacionais mandavam imagens por telefotos. Eram imagens de qualidade péssima, que chegavam num papel fino, semelhante a papel de fax. Na redação, tínhamos o hábito estúpido de pegar as fotos mais chinfrins e pintar chifres, bigodes, falos, essas coisas que idiotas como nós faziam. Havia um diagramador que sempre dizia: “Seus filhos da p…, não façam isso, que um dia uma foto dessas vai sair!” E não é que saiu? A vítima foi Carlos Menem, presidente da Argentina, que apareceu acenando para uma multidão, ostentando um par de chifres e um bigodinho de Hitler.

– Para finalizar, minha predileta: no fim dos anos 80, um festival de cinema no Rio exibiu um filme gay alemão chamado “Táxi para o Banheiro”. Foi uma comoção, com sessões lotadas e muitas reportagens na imprensa. O jornal em que eu trabalhava deu uma foto da fila na porta do cinema, com a legenda: “Mais de mil gays lotaram o cinema para ver a sessão”. E quem aparecia na foto senão o próprio autor da matéria, entrevistando um espectador?

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O dia em que Malcolm 10 enforcou Jesus

Por Andre Barcinski
29/05/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Por erro de edição, na coluna de Álvaro Pereira Júnior, “Quando a música termina”, o nome da banda inglesa XX foi substituído por “século 20” no trecho ‘Na demência dos Cramps, (…)’”.

Esse texto foi publicado domingo na seção “Erramos”, da Folha.

Sou fã do “Erramos” e de todas as seções semelhantes em outros jornais.

Além de achar divertido ler sobre os erros, acho que admitir o engano é uma obrigação do bom jornalismo.

Erros desse tipo não são incomuns. Na Folha, que não permite o uso de algarismos romanos, já aconteceu de um redator confundir o nome do líder negro norte-americano Malcolm X e escrever “Malcolm 10”.

Em outra ocasião, o curso de inglês “Cel Lep” virou “Coronel Lep”.

O grande maestro Eleazar de Carvalho já teve seu sobrenome publicado sem o “v”.

Que jornalista nunca cometeu gafes?

Uma vez, fiz um texto sobre o grupo Ira. Por alguma razão escondida em meu subconsciente, escrevi que o baterista da banda, meu xará André Jung, se chamava CARL Jung.

Por sorte, um redator esperto percebeu o erro.

Menos sorte teve o saudoso Daniel Piza, autor de um artigo que rendeu a seguinte errata:

“Diferentemente do que foi publicado no texto ‘Artistas ‘periféricos’ passam despercebidos’ (…) Jesus não foi enforcado, mas crucificado (…)”

Pressa, prazo apertado, falta de atenção, cansaço… Muita coisa pode fazer um jornalista culto e inteligente como Piza cometer um erro desses.

O negócio é assumir o erro e tentar não repeti-lo.

Lembrei outra gafe que cometi: em 1994, na Copa do Mundo nos Estados Unidos, fiz a crônica de um jogo da Alemanha contra a Bélgica.

Naquele jogo, o veterano Rudi Voller marcou dois gols para a Alemanha, mas foi vaiado pela torcida. Eu escrevi que a torcida, inexplicavelmente, estava pegando no pé do jogador.

Depois, conversando com um jornalista alemão, percebi a gafe: o público não estava vaiando, mas gritando “Ruuuuuuudi! Ruuuuudi!” Parecia uma grande vaia.

Outro caso bizarro: no fim dos anos 80, o jornal em que eu trabalhava fez um perfil de Warren Beatty. O artigo informava que o astro do cinema estava namorando a cantora Madonna.

O redator da primeira página deve ter passado os olhos no texto rapidamente e, sem pensar muito, tascou a chamada: “WARREN BEATTY NAMORA MARADONA”.

Como minha memória já não é das melhores, escrevi a um ex-colega do jornal para confirmar que a chamada de capa tinha realmente sido publicada.

Resposta dele: “Não lembro. Aquele Dreher todo que eu tomava no boteco em frente não me permite lembrar essas coisas”.

P.S.: Inspirado pelo tema, pedi a amigos jornalistas que lembrassem outras gafes cometidas por nós. São tantas – e tão boas – que farei outro post amanhã com as melhores.

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