Show de graça é uma caixinha de surpresas
27/05/12 21:35
Previsível a confusão para entrar no show gratuito do Franz Ferdinand realizado domingo no Parque da Independência, em São Paulo (leia a cobertura da Folha Online aqui).
Trabalhei por um bom tempo com produção de shows e aprendi uma coisa: nunca, em hipótese alguma, nem que a vaca tussa, faça um evento gratuito com lotação limitada.
Se o evento tiver uma atração muito desejada, como o Franz, aí é que a equação show gratuito + lotação limitada pode se transformar numa tragédia.
Não existe nada mais perigoso que multidão. E em show gratuito é impossível prever o tamanho da multidão.
Domingo, mais de 20 mil pessoas foram ao show do Franz. Às 17h50, a produção fechou os portões. Ninguém sabe ao certo quantas pessoas ficaram de fora.
Pergunto: e se pintassem por lá 100 mil pessoas?
Por que não? Domingo de sol, uma banda conhecida tocando de graça num lugar bonito… O que impediria 100 mil pessoas de ter a mesma ideia?
Quem esquece o que rolou na Virada Cultural, quando algum gênio achou que seria uma ótima ideia vender a galinhada do Alex Atala, o chef mais famoso do Brasil, para apenas 500 pessoas? O resultado, todos vimos.
Repito: não existe nada mais perigoso que multidão. Um grito, uma briga, um corre-corre, e o deslocamento desordenado de muita gente ao mesmo tempo é receita para desastre.
Quem estava no show do Prodigy no Skol Beats – que não era gratuito, mas um show com ingressos caros – sabe o perrengue que foi. O deslocamento de muita gente para o mesmo lugar dentro do Anhembi superlotou a área do show. Felizmente, não rolou uma tragédia.
Há alguns anos, ajudei a organizar um evento beneficente para a prefeitura. Era uma festa de música eletrônica diurna na Casa das Caldeiras, em São Paulo. O ingresso era um quilo de alimento, que seria doado para instituições de caridade.
O público esperado era de 3 a 4 mil pessoas. Vieram mais de 10 mil.
Foi uma das piores tardes da minha vida. Por mais que a produção estivesse preparada, chega uma hora em que a multidão se torna incontrolável. Fechar as portas pode causar tumulto. Abri-las, também.