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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Riquelme e o futebol sem dancinhas

Por Andre Barcinski
14/05/12 07:08

 

 

 

 

 

 

 

 

Sou fã do argentino Riquelme. Prestes a completar 34 anos, ele está lento e não tem a movimentação de antes, mas vê-lo jogar é sempre uma surpresa.

O que mais me impressiona em Riquelme é que ele não parece um craque. Nem postura de jogador ele tem, com os ombros caídos, uma pequena corcunda e um jeito de correr que lembra aqueles filmes de jogos dos anos 50.

Riquelme não é um meia “elegante”, só para usar uma expressão que define um craque como Paulo Henrique Ganso, por exemplo.

O que Riquelme fez nos dois jogos do Boca Juniors contra o chileno Union Española, pelas oitavas da Libertadores, beirou o sobrenatural. O cara ganhou os dois jogos sozinho.

No primeiro jogo, em Buenos Aires, Riquelme marcou um gol e começou a jogada do segundo. O Boca ganhou por 2 a 1.

No segundo, no Chile, elemarcou um golaço e ainda deu passe para os outros dois gols do Boca. Resultado: 3 a 2.

Mas o impressionante mesmo foi o que Riquelme fez sem a bola.

No jogo em Buenos Aires, o Union Española jogou melhor que o Boca. O time argentino saiu na frente, mas os chilenos empataram e perderam vários gols.

Riquelme passou a bater boca com o capitão do Union, Diego Scotti. Dava para perceber que a irritação de Scotti crescia a cada instante, enquanto Riquelme mantinha um sorrisinho irônico no rosto.

O Boca desempatou no fim. Mas o 2 a 1 não era um resultado ruim para o Union Española, que só precisaria de uma vitória por 1 a 0 no jogo da volta para se classificar.

No último minuto da partida, Scotti perdeu a cabeça e deu um chute em Riquelme. Foi expulso.

Não sei o que o argentino disse para Scotti, mas deve ter sido um xingamento daqueles cabeludos e de “timing” impecável – como o de Materazzi para Zidane, na final da Copa de 2006.

Resultado: o time chileno perdeu seu capitão para o jogo da volta.

No Chile, Riquelme “cozinhou” o jogo como só um maloqueiro profissional sabe fazer: demorava uma eternidade para bater escanteios, olhava para a torcida com ar desafiador, prendia a bola no meio de campo e irritava os adversários.

Numa falta perto da área, ele fingiu que ia cruzar alto e bateu rasteiro, atravessando a pequena área. Jogada ensaiada, um a zero. No segundo, pressionou o zagueiro chileno, que perdeu a bola. Riquelme esperou o goleiro sair, tirou-o da jogada com um drible de corpo e deu um toquinho de lado, sem olhar, deixando o companheiro livre para marcar.

O terceiro foi uma pintura: Riquelme recebeu do lado esquerdo da defesa e entrou em diagonal, passando por três chilenos e batendo no contrapé do goleiro. Gol de craque.

Gosto ainda mais de Riquelme porque ele é o oposto do biótipo do jogador “moderno”. E o futebol moderno, convenhamos, já encheu, com sua objetividade de laboratório e seus esquemas táticos montados em computador.

Ao irritar o adversário ou provocar sua expulsão, Riquelme desmonta qualquer esquema desses. É a vitória da psicologia sobre a tecnologia.

Outra coisa que gosto em Riquelme: ele nunca foi visto fazendo dancinhas, correndo para a câmera ou ajeitando o penteado antes de entrar em campo.

Sempre torço por Riquelme. Com exceção dessa semana, quando ele joga contra meu Flu. Quero que ele se exploda.

P.S.: Tributo a Donald “Duck” Dunn

O texto acima estava pronto quando soube da morte de Dunn, baixista do Booker T. & the MG’s. Amanhã publico um post sobre ele e seus quase 50 anos de carreira.

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Conheça o empresário do século

Por Andre Barcinski
11/05/12 07:22

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há alguns dias, reencontrei um conhecido que não via há muito tempo.

Ele é dono de bares e restaurantes. Não vou dizer onde para não entregar o sujeito. Vamos chamá-lo de “M.”

M. me convidou para visitar um de seus bares, que estava completando 11 anos.

– Onze anos? E você já tirou o alvará? – brinquei com ele.

– Alvará? O que é isso?

Fiz a brincadeira porque o assunto “alvará” era recorrente em nossos papos. Há uns oito ou nove anos, eu estava com idéia de abrir uma casa noturna e fui pedir conselhos a ele. Perguntei sobre os procedimentos de alvará, regulamentação, etc. Nunca esqueci a resposta:

– Alvará é coisa de otário. Pega o dinheiro que você vai gastar em obras e alvará, deixa 20% num cofre e guarda pra pagar o fiscal quando ele aparecer. Você vai economizar uma fortuna.

Não segui o conselho. Escolhi o caminho “do otário”. Foi um processo longo, frustrante e muito, mas muito caro.

Apesar de discordar da postura de M., sempre gostei dele e me divertia com suas histórias. Sua cara de pau era impressionante: certa vez, a Prefeitura colocou um daqueles blocos de cimento em frente a um de seus bares. M. foi lá com uma marreta, destruiu os blocos e reabriu imediatamente. Sua filosofia era: “Fiscal feliz não enche o saco”.

Quando descobriu que havia um terreno baldio colado a uma de suas casas noturnas, M. abriu um buraco na parede e fez um “fumódromo” no terreno do vizinho.

M. é empresário da noite há quase 20 anos e se orgulha de nunca ter tirado um alvará, pago uma multa ou feito uma obra exigida pelas leis de segurança. Sobreviveu ao século 21 todo na ilegalidade. Também nunca passou uma noite na cadeia e, a julgar pelo carro que usa – um SUV de 140 mil reais – está bem de vida, obrigado.

Um dia, M. me convidou para visitar uma nova casa que ele tinha acabado de inaugurar. Cheguei lá e achei que estava no lugar errado: o lugar tinha o teto cheio de infiltrações, banheiros quebrados e fios expostos. Parecia um cativeiro.

M. me perguntou o que eu tinha achado. Fui sincero: disse que aquilo ali era podre até para os padrões dele. M. riu e disse que só ia usar o lugar por uns cinco ou seis meses, porque o dono estava vendendo o imóvel.

– Não vale a pena investir em obra se eu só vou ficar aqui um tempinho, né?

Você tem de admirar o sangue frio de um sujeito desses. Imagine passar a vida toda sem cumprir uma regra?

Mas as idéias dele, mesmo que absurdas, até fazem algum sentido, quando colocadas no contexto das leis kafkianas e regulamentações insanas que existem no Brasil.

O que aprendi com M.:

– Leis não existem para facilitar a vida de comerciantes e empresários, mas para dificultá-la e, assim, impulsionar a indústria da corrupção dos fiscais.

– Um real gasto com obras ou regulamentação significa um real jogado fora.

– Quando for abrir um negócio, abra de qualquer maneira e não se preocupe com papelada. Isso você resolve depois.

– Agradar o cliente é importante. Mas agradar o fiscal é muito mais.

Claro que não concordo com nada disso. Mas que é uma maneira interessante de ver o mundo, é.

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Coppola, Pakula, Frankenheimer: o cinema da paranóia

Por Andre Barcinski
10/05/12 07:05


Dia desses, o Telecine Cult exibiu “A Trama” (1974), de Alan J. Pakula. Se não viu, sugiro buscar em DVD ou na programação da emissora. É um grande filme.

Pakula (1928-1998) foi um excelente diretor, especializado em “thrillers” psicológicos envolvendo conspirações. O homem era fascinado por histórias de governos e corporações atacando cidadãos.

Esse tipo de filme foi muito popular nos Estados Unidos, especialmente entre o meio dos anos 60 e o fim dos 70.

O período da história norte-americana compreendido entre a morte de John Kennedy, em 1963, e a queda de Richard Nixon, em 1974, foi fascinante.

Nesse tempo, Malcolm X, Robert Kennedy e Martin Luther King foram assassinados, e a Guerra do Vietnã mostrou ao povo a manipulação e as mentiras perpetradas pelo governo.

Os cineastas entraram na onda, lançando uma série de filmes que mostravam o governo como um inimigo do povo e da liberdade.

Era um cinema bem mais pessimista do que os filmes patrióticos e anticomunistas dos anos 50, inspirados pela Guerra Fria e pela briga contra a união Soviética.

Não foi só nos Estados Unidos que esse subgênero fez sucesso: diretores europeus como Bertolucci (“O Conformista”), Francesco Rosi (“Cadáveres Ilustres”) e até Wim Wenders (no “noir” paranóico “O Amigo Americano”) experimentaram com o gênero. E Costa-Gavras construiu toda uma carreira baseado nele.

Fiz uma lista de dez filmes americanos fundamentais desse estilo. Três são de Alan J. Pakula, um cineasta que merecia mais reconhecimento.

A morte de Pakula lembrou uma cena de seus filmes: em 1998, ele dirigia numa estrada de Nova York, quando um caminhão que andava na frente deixou cair uma barra de ferro. A barra atingiu o carro de Pakula, que perdeu o controle do veículo e bateu no acostamento, morrendo na hora. Uma tragédia.

Aqui vão, em ordem cronológica, dez grandes filmes sobre a paranóia americana:

 

O Segundo Rosto (Seconds) – John Frankenheimer, 1966

Um homem infeliz é procurado por uma empresa chamada, simplesmente, “A Companhia”. A empresa propõe: que tal mudar de vida? Começa assim um pesadelo que John Frankenheimer transformou num dos filmes mais intensos e estranhos dos anos 60, encerrando sua “trilogia da paranóia”, iniciada com “Sob o Domínio do Mal” (1962) e “Sete Dias de Maio” (1964).

 

À Queima-Roupa (Point Blank) – John Boorman, 1967

Lee Marvin faz um assassino de aluguel perseguido por uma corporação sem rosto ou motivo aparente. Um faroeste transportado para o concreto de Los Angeles, com um clima intenso de mistério. Filmaço.

 

Na Mira da Morte (Targets) – Peter Bogdanovich, 1968

Inspirado pelo caso real de um homem que subiu numa torre e matou diversas pessoas a tiros, Bogdanovich fez esse filme B para Roger Corman, inclusive utilizando Boris Karloff de coadjuvante (Karloff devia a Corman dois dias de filmagem). Lançado logo após os assassinatos de Robert Kennedy e Martin Luther King, o filme foi um fracasso de bilheteria, mas depois virou “cult”, sendo inclusive homenageado por Elvis Costello na faixa “Big Tears”.

 

Klute, o Passado Condena (Klute) – Alan J. Pakula, 1971

Donald Sutherland investiga a morte de um homem poderoso em Nova York. Sua única pista é uma prostituta misteriosa (Jane Fonda, sexy como nunca). O resultado é um thriller psicológico de primeira, com uma atmosfera sombria. Pakula reina.

 

A Trama (The Parallax View) – Alan J. Pakula, 1974

Um famoso politico é assassinado numa festa na Space Needle, ponto turístico de Seattle. Um fotógrafo de jornal tira uma fotografia dos presentes, segundos antes do crime. Pouco a pouco, todas as pessoas que aparecem na foto começam a morrer misteriosamente. Warren Beatty faz um jornalista que descobre os crimes e se infiltra numa corporação que recruta assassinos para cometer crimes políticos. Um clássico esquecido dos anos 70.

 

Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (Bring Me The Head of Alfredo Garcia) – Sam Peckinpah, 1974

Tô com Takeshi Kitano: esse é um dos melhores filmes já feitos. Quando a filha de um poderoso senhor de terras mexicano engravida de um capataz, o pai oferece um milhão de dólares para quem trouxer a cabeça do galã. Warren Oates faz um pianista vagabundo que aceita o desafio e passa o filme todo fugindo de gângsteres enquanto carrega um saco com a cabeça do tal Alfredo. Peckinpah faz uma brilhante metáfora de uma época triste e violenta, com um faroeste urbano e paranóico que periga ser seu melhor filme.

 

A Conversação (The Conversation) – Francis Ford Coppola, 1974

Entre as duas partes de “O Poderoso Chefão”, Coppola filmou essa obra-prima inspirada por “Blow up”, de Antonioni: Gene Hackman interpreta um detetive participar especializado em escutas, que se vê no meio de uma conspiração política e passa a ser, ele próprio, perseguido.

 

Três Dias do Condor (Three Days of the Condor) – Sydney Pollack, 1975

Robert Redford no papel de um agente da CIA que começa a ser perseguido por seus próprios empregadores. Sydney Pollack em seu melhor momento, junto com o inesquecível “A Noite dos Desesperados” (“They Shoot Horses, Don’t They?), de 1969.

 

Todos os Homens do Presidente (All the President’s Men) – Alan J. Pakula, 1976

Pakula chega ao auge nesse filme irretocável sobre Bob Woodward e Carl Bernstein, os jornalistas do “Washington Post” que descobriram o escândalo de Watergate e ajudaram a derrubar Nixon.

 

The Domino Principle – Stanley Kramer, 1977

Gene Hackman está em cana pelo assassinato do primeiro marido de sua mulher, quando é procurado na cadeia por um mal encarado misterioso (o sensacional Richard Widmark) com uma proposta: ele pode ajudar Hackman a fugir da cadeia, contanto que este faça um “trabalhinho” para uma empresa. O resto, você adivinha…

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Loucura: um ranking dos 62 livros de Stephen King

Por Andre Barcinski
09/05/12 07:12

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Você pode gostar ou não dos livros de Stephen King, mas uma coisa não dá para negar: o sujeito escreve muito.

São 62 livros em 38 anos, de “Carrie”, em 1974, ao recém-lançado “A Torre Negra – Volume 8”.

O site www.vulture.com fez um trabalho de louco: um ranking dos 62 livros de Stephen King. Clique aqui para ler a matéria.

Confesso minha ignorância sobre o assunto. Li sete livros de King, ou pouco mais de 10% de sua obra.

Mas se a avaliação do site é um bom parâmetro, dei sorte: cinco dos livros que li estão no Top 10 do site: “On Writing”, “A Coisa”, “O Iluminado”, “Angústia” e “A Hora do Vampiro”.

Confira aqui os melhores e os piores livros de Stephen King, segundo o www.vulture.com, e faça sua lista.

 

Melhores:

1 – A Dança da Morte (The Stand, 1978)

2 – On Writing (2000)

3 – A Coisa (It, 1986)

4 – O Iluminado (The Shining, 1977)

5 – Quatro Estações (Different Seasons, 1982)

6 – Angústia (Misery, 1987)

7 – A Torre Negra 4 – Mago e Vidro (The Dark Tower 4 – Wizard and Glass, 1997)

8 – A Hora do Vampiro (Salem’s Lot, 1975)

9 – A Zona Morta (The Dead Zone, 1979)

10 – Love- a História de Lisey (Liseys’s Story, 2006)

 

Piores:

58 – Justiceiros (The Regulators, sob pseudônimo Richard Bachman, 1996)

59 – Insônia (Insomnia, 1994)

60 – O Apanhador de Sonhos (Dream Catcher, 2001)

61 – Os Estranhos (The Tommyknockers, 1987)

62 – Rose Madder (1995)

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Tributo tardio a um Beastie Boy

Por Andre Barcinski
08/05/12 07:05


Adam Yauch, mais conhecido por MCA, dos Beastie Boys, morreu sexta-feira passada, aos 47 anos, de câncer (e eu peço desculpas pela demora em publicar esse texto; o cara merecia mais pressa).

Musicalmente, o Beastie Boys foi um dos grupos mais influentes e importantes do pop nos últimos 30 anos.

Eles foram, para o hip hop, o que Elvis foi para o rock nos anos 50: alguém que chegou para os brancos e disse: “pode ouvir que isso é legal”.

Eles não foram pioneiros do hip hop. O que eles fizeram foi levar o gênero para o “mainstream” e apresentá-lo a um público cheio de preconceitos.

Lembro bem do choque que foi ver Kerry King, do Slayer, no clipe de “No Sleep Till Brooklyn”, em 1986: “Que p… ele tá fazendo num clipe de rap?”

Os Beastie Boys não estavam nem aí. Enxergaram, antes de todo mundo, o que ligava o Bad Brains ao Public Enemy, as conexões entre a guitarra de Kerry King e os “scratches” de Grandmaster Flash.

Assim que estouraram, com “Licensed to Ill”, obra-prima da velhacaria e uma genial fusão de metal e rap, a primeira coisa que fizeram foi levar seus ídolos em turnê. O line-up era Beastie Boys, Murphy’s Law e Public Enemy.

Ao juntar duas grandes influências – o rap do Public Enemy e o punk do Murphy’s Law – os Beasties pareciam dizer: “punk e rap são farinha do mesmo saco”.

E eram mesmo. Especialmente no caldeirão musical da Nova York do fim dos anos 70, onde o punk, o rap, o “no wave”, a música latina, a discoteca e tantos outros sons se misturavam nas calçadas. Os Beastie Boys só poderiam ter nascido ali.

Ao longo dos anos, o trio começou a explorar outros elementos em sua música, como o soul, o funk e até trilhas sonoras de cinema, criando uma sonoridade única e inconfundível.

Mas não foi só na música que os Beastie Boys deixaram sua marca. Seus videoclipes foram muito copiados em filmes e comerciais de TV.

Dos três Beasties, Yauch (a pronúncia correta é “Yawk”) era o mais preocupado com a criação de uma identidade estética para a banda.

Yauch sempre foi ligado em cinema. Usando o pseudônimo Nathaniel Hornblower, dirigiu vários videoclipes do grupo, como “Intergalactic”, “Shake Your Rump”, “Body Movin'”, “So What’cha Want”, “Shadrach”, “Three MC’s & One DJ” e “Pass the Mic”, entre outros.

Os clipes dos Beastie Boys sempre trouxeram surpresas. “Gratitude”, dirigido por David Perez, homenageava o cultuado filme-concerto “Pink Floyd: Live at Pompeii”, de 1972.

“Body Movin’”, dirigido por Yauch, trazia referências a “Danger: Diabolik”, filme de terror que o italiano Mario Bava dirigiu em 1968 (para quem quiser saber mais sobre as referências cinéfilas dos Beasties, sugiro ler esse artigo sensacional no blog do selo de DVDs Criterion).

E finalizo com duas dicas de DVDs: “Beastie Boys Video Anthology” (Criterion, 2000), com 18 videoclipes, entrevistas, storyboards, etc., e “Awesome! I Fuckin’ Shot That” (2006), que traz um concerto em Nova York, em 2004, em que os Beasties distribuíram 50 camcorders para fãs e usaram as imagens na edição final. Bonito demais.

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O mistério da Funchicórea

Por Andre Barcinski
07/05/12 07:00

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Você provavelmente já usou. E seus pais. E até seus avós.

Estou falando da Funchicórea, um medicamente fitoterápico usado no Brasil há 72 anos para aliviar cólicas de bebês.

Em fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cancelou o registro da Funchicórea, alegando que sua eficácia não é cientificamente comprovada. O processo estava rolando há oito anos (leia mais aqui).

A notícia causou uma correria de pais a farmácias, atrás dos últimos vidros do pó milagroso. Uma farmacêutica me disse que uma mãe, desesperada, comprou os últimos seis vidros do estoque.

O consenso entre médicos é de que o produto, se não resolve o problema das cólicas, pelo menos alivia as dores do bebê.

O pediatra de nossa filha nunca se opôs ao uso da Funchicórea: “Mal não faz, só não use em excesso”, dizia.

Não sou cientista e não sei dizer se a Funchicórea acaba com cólicas. O que sei é que ela realmente funciona para acalmar o bebê. E nunca ouvi falar de nenhum bebê que passou mal depois de usá-la. Afinal, um remédio usado há 72 anos já foi bastante testado, certo?

A proibição da Anvisa levanta algumas questões:

Em primeiro lugar: se o remédio faz mal, por que o Brasil levou 72 anos para proibi-lo?

Em segundo lugar: quem se favorece com a proibição?

Não estou levantando nenhuma teoria da conspiração. Mas vivemos num país sabidamente dominado por lobby de empresas, e só gostaria de ter certeza de que a proibição visou o bem-estar da população e não os interesses de alguém.

Em um fórum nas redes sociais, um leitor escreveu, comentando a proibição:

“As agências do governo não permitem vender tanta porcaria para as crianças em embalagens coloridas nas gôndolas dos mercados?”

Disse tudo.

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Punk, funk, e bisteca: um guia da Virada Cultural

Por Andre Barcinski
04/05/12 07:07

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Que me perdoem os outros bairros, mas o Centro é “o” lugar para aproveitar a Virada Cultural. É onde rolam as melhores atrações e dá para fazer tudo a pé.

Preparei um guia pessoal da Virada, com o roteiro que eu faria se estivesse em São Paulo (não estarei, infelizmente). Aí vai:

19h – McCoy Tyner Quartet (República) – Nada como começar a noite ouvindo o lendário pianista do John Coltrane Quartet.

20h – Pra relaxar, uma sessãozinha de “O Bandido da Luz Vermelha” no Cine Windsor (Av. Ipiranga, 974).

22h30 – Fantástico: a volta do Man or Astro-Man? (Barão de Limeira)

0h – Correr até a República pra ver Roy Ayers matando no vibrafone.

2h30 – Isso deve ser demais: o filho de Fela Kuti, Seun Kuti, acompanhado da banda do pai, o Egypt 80 (Palco Julio Prestes).

4h – Intervalo para um rango. Pode ser um contrafilé à brasileira no Aliados (Av. Rio Branco, 492, 3221-4860 – ligue antes, costuma fechar às 3); ou um sanduba de pernil no Estadão (Viaduto 9 de Julho, 193, 3257-7121) ou ainda uma bisteca monstro no Boi na Brasa (R. Marquês de Itu, 188, Centro, 3222-9479).

De barriga cheia, que tal um rock pra alegrar a manhã?

6h – Olho Seco (Gusmões)

7h – White Denim (São João)

8h30 – Pin Ups (Barão de Limeira)

9h30 – Suicidal Tendencies (São João)

10h – The Jordans (Palco Baratos Afins, Av. Rio Branco)

Depois, eu daria uma chegada embaixo do Viaduto do Chá para ouvir música erudita e descansar os ouvidos.

Lá pelas 14h, um bom puchero (cozido espanhol) no PASV (Av. São João, 1145, 3221-2715).

Depois, uma passadinha na Sé para ver o Campeonato Sul-Americano de Luta Livre (não é MMA, por favor!)

Para encerrar, que tal voltar à República às 17h30 e ver o monstruoso baixista do Sly & The Family Stone, Larry Graham, quebrando tudo?

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Jerry Lee Lewis: o último americano selvagem

Por Andre Barcinski
03/05/12 07:01


Foi lançado no exterior “Whole Lotta Jerry Lee Lewis”, caixa de quatro CDs com 106 de suas melhores gravações entre 1957 e 1989. Não consigo pensar num presente melhor para o seu amor ou para você mesmo.

Por coincidência, esses dias andei relendo um livro sensacional sobre os primórdios do rock: “The Sound of the City – The Rise of Rock and Roll”, de Charlie Gillett.

Não sei se foi o bode causado pelo Lollapalooza e suas bandas horríveis, mas no último mês não consegui ouvir nada senão Fats Domino, Little Richard, Howlin’ Wolf, Bo Diddley, Eddie Cochran e, claro, Jerry Lee Lewis.

Adoro ler sobre os pioneiros do rock. A história deles é emocionante não só pela qualidade da música, mas pelas implicações sociais, raciais e geracionais da época. Nos anos 50, rock era a música do diabo.

Acho incrível como pode ter existido um sujeito como Little Richard – preto, gay e maluco, corrompendo a juventude com seus gritos histéricos e letras eróticas. Tinha que ser muito macho pra ser Little Richard em 1958.

Mas, de todos os heróis da gênese do rock, ninguém encarnou o fatalismo e niilismo do estilo como Jerry Lee Lewis.

Como escreve Nick Tosches em “Criaturas Flamejantes” (lançado no Brasil pela Conrad e que traz trechos do livro “Country – The Twisted Roots of Rock’n’Roll”):

“Podem falar dos depravados do rock and roll: Jerry Lee faz todos eles parecerem o Wayne Newton. Podem falar dos heróis do honky tonk: perto de Jerry Lee, eles são um bando de vomitadores em festas de repúblicas universitárias. ‘Quando nasci, meus pés saíram na frente e eu chacoalho desde então’, ele lhe dirá se estiver de bom humor. Seus servos e parentes dirão mais: Jerry Lee bebe mais, se droga mais, briga mais, xinga mas, atira mais e fode mais do que qualquer homem vivo. Ele é o último americano selvagem, homo agrestis americanus ultimus.”

Há alguns meses, entrevistei o jornalista Neil Strauss, autor de livros sobre Motley Crue e de entrevistas com rappers casca grossa como Tupac Shakur e Notorious BIG. Perguntei a Strauss quem era o artista mais amedrontador e estranho que já conhecera.

Resposta: “Sem dúvida, Jerry Lee Lewis. Foi o único entrevistado que me deu medo. Tive a impressão de que ele poderia me atacar a qualquer momento.”

Detalhe: Lewis tinha 65 anos quando Strauss o entrevistou.

Jerry Lee teve uma vida amaldiçoada: enterrou duas mulheres e dois filhos, tentou matar algumas pessoas (o número exato, só ele sabe), viveu tragédias shakespearianas, andou pelas trevas e sobreviveu pra contar a história. Se você se interessa pela mitologia do rock – e Jerry Lee é um mito – não deixe de ler “Criaturas Flamejantes”.

Mas nada disso valeria se não viesse acompanhado de boa música. E a música de Jerry Lee Lewis é um tesouro: dos primeiros compactos de rockabilly na Sun até sua fase country, passando pelo gospel, ninguém cantou e tocou piano com a intensidade de Jerry Lee. Vida longa a ele.

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Quem se leva mais a sério: Obama ou Luan Santana?

Por Andre Barcinski
02/05/12 07:15


Separei, no noticiário, alguns acontecimentos curiosos das últimas semanas:

“O humorista Vinícius Vieira, da Record, está sendo processado pela paródia da música ‘Amar Não É Pecado’, de Luan Santana. Na canção ‘Dar Rosca Não É Pecado’, ele brinca com a orientação sexual do sertanejo. A editora da faixa original, Rede Pura, pede R$ 200 mil de indenização. Procurada, a assessoria de Luan Santana não quis comentar o assunto.”

“Na última terça-feira (17/4), a apresentadora do programa ‘Muito +’ da Band, Adriane Galisteu, disse que um filho melhoraria muito o jeito de Ana Hickmann. No último fim de semana, uma fonte próxima a Ana e seu marido disse ao portal F5, da ‘Folha de S.Paulo’, que eles pensam em entrar com uma ação judicial proibindo Galisteu de citar novamente o nome da apresentadora publicamente. A apresentadora do ‘Tudo É Possível’ deve usar como base a ação que Xuxa move contra a Band. A emissora é terminantemente proibida citar o nome da rainha dos baixinhos em quaisquer de seus programas.”

“Os cantores Thiago Bianchi (Shaman) e Edu Falaschi (Angra) enviaram um pedido ao blog ‘Collector’s Room’, de Ricardo Seelig, ameaçando processá-lo caso a matéria ‘Edu Falaschi e Thiago Bianchi: os maiores hipócritas do heavy metal nacional’ não fosse tirada do ar.”

Olha que curioso: há alguns dias, Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, foi ao programa de TV do comediante Jimmy Fallon.

Fallon é autor de diversas piadas sobre Obama. Aqui vão duas delas:

“A Casa Branca disse que o Presidente Obama não vai se concentrar na campanha por um bom tempo. Parece que ele quer esperar um ano ou dois antes de entrar de cabeça no assunto – assim como Obama fez com a Presidência.”

“A polícia do Texas prendeu um homem que usava o apelido ‘Barack Obama’ e tentava roubar dinheiro de caixas automáticos. Eles desconfiaram quando souberam de um homem chamado Obama tentando tirar dinheiro de bancos, em vez de dar dinheiro pros bancos.”

Dias depois do programa com Fallon, Obama participou do tradicional jantar com os correspondentes na Casa Branca, onde ironizou seus rivais Republicanos e fez piadas com seu próprio envelhecimento (chegou a mostrar uma foto de Morgan Freeman e disse: “Assim é que vou ficar daqui a quatro anos”).

Ou seja: o presidente dos Estados Unidos não vê problema em ir a um programa de TV que o ironizou, mas o cantor do Angra não aceita a crítica de um blog?

Claro que Obama nunca entraria numa roubada, e que a entrevista com Fallon foi uma peça de propaganda planejada nos mínimos detalhes.

De qualquer forma, é curioso perceber que o político mais poderoso do mundo tem mais senso de humor e tolerância que um cantor sertanejo ou um vocalista de heavy metal.

Estranha democracia a nossa, não?

P.S.: estarei fora do ar de 12h30 às 18h, por isso alguns comentários podem demorar a entrar no ar, ok? 

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O que aconteceu com o Dandy Warhols?

Por Andre Barcinski
01/05/12 07:08


Em 2000, o Dandy Warhols era uma das boas promessas do rock americano.

O grupo havia lançado três ótimos discos – o terceiro, “Thirteen Tales from Urban Bohemia” foi um dos meus lançamentos prediletos de 2000 – e explodiu depois que uma marca de celulares inglesa escolheu a música “Bohemian Like You” para um comercial de TV.

A banda começou a tocar em grandes festivais e teve várias músicas incluídas em trilhas de filmes e programas de TV. David Bowie e Madonna eram fãs. O DW parecia invencível.

Quem quiser conhecer mais sobre a história do Dandy Warhols e de sua “banda irmã”, o sensacional Brian Jonestown Massacre, não deve perder o documentário “Dig”.

O filme é centrado na figura do instável e genial Anton Newcombe, líder do BJM, e sua relação conflituosa com outro egocêntrico talentoso, Courtney Taylor-Taylor, líder do Dandy Warhols.

Em 2003, o Dandy Warhols lançou “Welcome to the Monkey House”.  Produzido por Nick Rhodes, do Duran Duran, o disco apontava novas direções para o som do grupo, com sintetizadores, um clima “new romantic” e um pé na fase “Let’s Dance” de Bowie. Um discaço. Achei, na época, que eles estavam prestes a virar uma banda gigante.

Mas aí tudo mudou: as grandes gravadoras acabaram, o mercado mudou, e Taylor-Taylor, com o ego inflado, não percebeu.

Os caras compraram um galpão em Portland, que transformaram em estúdio e “sede” da banda, e lançaram um disco fraco, pretensioso e auto-indulgente, “Odditorium”, que não vendeu nada.

O grupo foi despedido da gravadora, a Capitol, fundou seu próprio selo, e desde então só lançou um disco de inéditas, “Earth to the Dandy Warhols” (2008), que também não deu em nada.

Há uma semana, saiu “This Machine”, mais recente disco do grupo. Já ouvi duas ou três vezes e achei muito bom, mais inspirado que os dois últimos.

Tomara que o disco recoloque o Dandy Warhols numa posição de destaque na cena indie. É uma ótima banda, que passou os últimos anos meio perdida.

Tenho um carinho especial pelos caras, porque participaram de um dos shows mais divertidos e inusitados que já vi.

Em 2001, eu estava no festival de cinema de Sundance, nos Estados Unidos, andando com uns amigos na rua, quando vi o baterista do DW, Brent De Boer, entrando num clubinho em plena tarde. Perguntei a um segurança o que estava rolando. Ele disse que a banda estava passando o som para um show-surpresa que fariam à noite.

O show foi sensacional. Não só por ver o Dandy Warhols num lugar de 200 pessoas, mas principalmente pela atração de abertura: um show pesadão e raivoso da gatíssima Nikka Costa – ela mesma, a cantora infantil de “On My Own” – que, na época, tentava uma carreira na linha Alanis Morrissette.  Obrigado, Dandy Warhols…

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