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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Sorvete de chocolate causa tragédia

Por Andre Barcinski
16/04/12 07:11

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poucas coisas me deixam mais nervoso que ir ao supermercado. Prefiro fazer um tratamento de canal a aturar a fila da mortadela.

Nunca me importei em pagar um pouco a mais numa mercearia de bairro. Na verdade, faço o que posso para não dar dinheiro a esses megamercados, com seus comerciais cheios de famílias sorridentes comprando margarina.

Há pouco mais de dez anos, passei por um caso traumático envolvendo uma dessas redes poderosas.

Na época, eu morava bem em frente a um supermercado gigante.

Como o lugar funcionava 24 horas, eu sempre fazia compras à noite, para evitar muvucas.

Um dia, eu estava na fila e a caixa perguntou: “Senhor, teve algum produto que não encontrou?”

Devia ser a centésima vez que me perguntavam aquilo. Eu nunca tinha pensado em responder, até porque estava sempre doido para sair dali, mas falei, meio que por instinto:

“Teve sim, sorvete de chocolate pequeno.”

“Como assim, senhor?”

“É, só tem sorvete de chocolate de dois litros. É muito sorvete pra uma pessoa. Custava ter uma embalagem menor?”

A mulher imediatamente ficou com o semblante tenso e assumiu uma posição de alerta; parecia uma fuzileira naval passando por uma inspeção:

“Senhor, vou falar AGORA MESMO com nossa central de pedidos e requisitar o sorvete de chocolate pequeno! Vou exigir uma resposta rápida para seu pedido!”

Normalmente, eu nem me importaria com aquilo. Eu não estava nem aí pro sorvete.

Mas aquela pataquada de atendimento perfeito, aquela pose ridícula de eficiência corporativa, me irritaram. Prometi que voltaria depois em busca do sorvete de chocolate pequeno.

Alguns dias depois, voltei ao lugar. Nada de sorvete pequeno. Fiz questão de ir à mesma caixa.

“Senhor, teve algum produto que não encontrou?”

“Teve sim, o sorvete de chocolate pequeno que você me prometeu semana passada.”

Parecia que eu tinha anunciado a falência da empresa. Em dez segundos, a caixa tinha chamado um gerente, e este, aos berros, convocado um infeliz de um repositor de estoque, que não tinha nada a ver com a história. O gerente começou a esbravejar com o sujeito:

“Mas como? O cliente pediu o produto há DIAS e nós não conseguimos? Isso é inadmissível! Não é assim que trabalhamos!”

Não sei o que me deixou mais furibundo, se a subserviência da caixa ou a prepotência do gerente com o pobre funcionário.

A coisa azedou. Eu disse ao gerente que ia voltar lá TODO DIA, até eles conseguirem o sorvete de chocolate pequeno, e que ia ligar para a ombudsman (sim, a rede tinha uma ombudsman) todo dia, até resolverem a questão.

Cumpri a promessa: toda manhã, a primeira ligação era para a ombudsman. E toda noite eu dava uma passada no supermercado, só para confirmar que eles não haviam conseguido o maldito sorvete.

Isso durou uns dois meses.

Chegou ao ponto de a secretária da ombudsman já reconhecer a minha voz, pedir desculpas antecipadamente e dizer que eles estavam “fazendo de tudo” para resolver o problema.

E o gerente, assim que me via, sumia e mandava dizer que não estava.

Eu estava disposto a levar aquilo até o limite. Ou eles conseguiam o maldito gelato, ou teriam de admitir sua incapacidade.

Tudo corria bem, até que abri o jornal um dia e li uma notícia que me deixou petrificado: a ombudsman tinha sofrido uma parada cardíaca no Aeroporto de Congonhas e morrido.

Fiquei mal pacas, com um tremendo peso na consciência.

Nunca mais entrei no tal supermercado. E, pouco depois, mudei pra outro bairro. Mas nunca achei o sorvete de chocolate pequeno.

A saga continua.

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Vai perder o Mark Lanegan?

Por Andre Barcinski
13/04/12 07:10


Difícil imaginar um programa melhor para este sábado em São Paulo do que assistir ao show de Mark Lanegan no Cine Jóia.

Lanegan chega com a turnê do disco “Blues Funeral”, um dos melhores de sua carreira.

E que carreira teve esse sujeito. Foi líder dos heróis grunge Screaming Trees e melhor voz de sua geração, depois quase morreu de bebida e heroína, e agora ressurge como um dos cantores mais procurados para parcerias.

Lanegan já lançou sete discos solo, além de três com Isobel Campbell (ex-Belle and Sebastian) e uma penca de colaborações com Greg Dulli (Afghan Whigs), Queens of the Stone Age, Martina Topley-Bird e Soulsavers, entre vários outros artistas.

“Blues Funeral” é um disco bem diferente na carreira de Lanegan.

Conhecido por sua voz rouca de bluesman do inferno, Lanegan incorporou elementos eletrônicos a sua música.

Mas que ninguém pense que ele agora quer virar o Prodigy.

A praia, aqui, é o eletrônico anos 70 e o krautrock (rock alemão da virada dos 60/70) de Neu!, Kluster e Kraftwerk, que ele diz adorar.

Imagine o Roxy Music com Tom Waits cantando, e você terá uma boa idéia do que é “Blues Funeral”.

Lanegan conseguiu fazer um disco que mantém a atmosfera lenta e dark de seus blues, mas com uma roupagem diferente da habitual. O resultado é surpreendente.

Só fico na torcida para que ele tope, qualquer dia, uma reunião do Screaming Trees. Era uma grande banda ao vivo, que eu adoraria rever.

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Por que banda nova é tão ruim de palco?

Por Andre Barcinski
12/04/12 07:10

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Você já viu esse filme antes.

A banda sobre ao palco de um festivalzão, tipo Lollapalooza ou Planeta Terra. Os músicos parecem meio assustados.

O vocalista, com cabelo cuidadosamente caindo na frente da cara para esconder a timidez, balbucia alguma coisa ao microfone.

Quase sempre é alguma frase engraçadinha ou uma piada interna, só compreensível para os outros integrantes. O público, mesmo sem entender, aplaude. Afinal, é início do show, tem aquele frenesi da expectativa…

Daí começa o show. Na frente do palco tem os 15 indies de sempre, que conhecem todas as músicas e pulam como se estivessem presenciando a volta dos Smiths. Os outros 20 mil mortais ficam parados.

A banda toca todo seu repertório de dez músicas. No intervalo entre as canções, o vocalista balbucia mais algumas gracinhas ininteligíveis. Os 15 indies sorriem e fazem o gesto do coraçãozinho.

O show acaba.  Os 15 indies vibram e ficam comparando com outros shows de bandas igualmente desimportantes, que só eles conseguem lembrar. Os outros 20 mil mortais esquecem tudo depois de dois minutos.

Casos assim rolam direto. O Planeta Terra, então, é o paraíso desses shows esquecíveis, geralmente realizados por bandas novas e sem grande experiência de palco.

O que leva à pergunta: por que toda banda nova é tão ruim de palco?

OK, “toda” é exagero. Deve existir alguma banda nova e boa de palco, embora eu não consiga lembrar nenhuma, nesse momento.

Mas a grande maioria faz shows péssimos. Estão aí Bombay Bicycle Club, Gang Gang Dance, White Lies, Foster the People e tantos outros que não me deixam mentir.

Quando o assunto é banda indie-hipster-dance, então, é batata: nenhuma faz um show que preste. Nem as mais “antigas”: Rapture, Friendly Fires, Klaxons, Two Door Cinema Club, etc. Tudo enganação.

Acho que isso tem a ver, principalmente, com a rapidez com que as bandas saem do anonimato para os grandes festivais.

Antes da geração Myspace, um grupo tinha de penar em clubinhos para divulgar sua música. Isso lhe dava uma certa cancha, uma maturidade de palco.

Mas depois que o Arctic Monkeys saiu diretamente da garagem de casa para o palco principal de Reading, esse período de experiência acabou. Hoje, o que mais se vê são “headliners” totalmente despreparados para encarar um público grande.

Nos anos 90, eu tinha a teoria – e acredito até hoje – que a maioria das bandas britânicas era ruim de palco, e que isso seria culpa, em boa parte, da mídia musical inglesa, com seus semanários obcecados em descobrir a próxima novidade para alimentar os festivais.

Em outros lugares do mundo, sem o suporte do “NME” e da “Melody Maker”, bandas tinham de ralar em espeluncas por um bom tempo para fazer sua fama. Isso explicaria também o fato de tantas bandas inglesas só fazerem sucesso em casa.

Com a Internet, esse fenômeno da “ajudinha” às bandas se tornou global e instantâneo. Um grupo põe duas músicas no Soundcloud (Myspace já era, né?) e em dois minutos é chamado pro Coachella. O resultado, quase sempre, é desastroso.

E tome banda sem carisma, sem empatia com o público, sem noção de espetáculo e sem humor. Ou o vocalista se joga na platéia – saída mais fácil para simular emoção – ou pega uma bandeira do Brasil e sai dando uma de Galvão.

Isso não é show, é missa.

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Lado a lado com Ziggy Stardust

Por Andre Barcinski
11/04/12 07:15

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Várias revistas de música estão falando dos 40 anos de “Ziggy Stardust”, clássico álbum de David Bowie.

As matérias me lembraram uma história que rolou no Rio, em 1989.

Em julho daquele ano, aconteceu um show do Uriah Heep no Canecão. E o baixista do Heep era Trevor Bolder, que havia tocado no Spiders from Mars, banda que acompanhou Bowie em quatro discos que mudaram o rock: “Hunky Dory” (1971), “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972), “Aladdin Sane” (1973) e “Pin Ups” (1973).

Pedi à assessoria da gravadora uma entrevista com Bolder. A moça perguntou se eu não queria falar com Mick Box, o líder do Uriah Heep. Eu disse que queria mesmo era falar com o baixista.

No bar do hotel, enquanto todos os jornalistas tentavam exclusivas com Mick Box, passei um tempão batendo papo com Trevor Bolder.

O cara foi super simpático. Falou das primeiras bandas que teve em Hull, no nordeste da Inglaterra, com o grande guitarrista Mick Ronson, com quem formaria o Spiders from Mars.

Contou como acabou tocando com Bowie: “David ligou pro Mick (Ronson), disse que ia se apresentar na BBC e precisava de uma banda. Fui junto com Mick. Acabei gravando quatro discos com Bowie.”

“Foi surreal”, disse Bolder. “Num dia eu estava tocando em pubs de Hull; no outro, estava vestido de herói ‘glam’ tocando pra 15 mil pessoas. Isso é rock’n’roll!”

Segundo Bolder, Bowie era um ególatra mal agradecido, que usava músicos e depois os esquecia quando não precisava mais deles.

Mas disse também que nunca tinha trabalhado com um compositor tão talentoso, e que sentia saudades do tempo de “Ziggy Stardust”. “Aquele disco foi muito, muito importante. Foi muito bom ter feito parte daquilo.”

Depois de uma meia hora de papo, a entrevista acabou. Agradeci e me despedi. Foi aí que ele se ligou: “Mas você não perguntou nada sobre o Heep!?”

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Semana Santa nas trevas

Por Andre Barcinski
10/04/12 07:17

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quem mora em cidade litorânea tem duas certezas quando chega um feriado prolongado: a primeira é que o lugar ideal para passar o feriadão é trancado em casa. A segunda é que vai faltar luz.

Moro em Paraty, litoral do Rio de Janeiro. A luz aqui é fornecida – ou melhor, não-fornecida – pela Ampla, concessionária que atende, segundo o site da empresa, a 73% do território do Estado do Rio.

Quando chega um feriado, já deixamos preparado nosso “Kit Ampla”, que consiste em velas (normais e de citronela, para espantar mosquitos), fósforos, lanternas, pilhas, cantil e bússola.

Só esse ano, já faltou luz aqui em casa pelo menos 19 vezes. Média de uma queda de energia a cada 5,3 dias.

Mas sou otimista, e tento sempre ver o lado bom das coisas.

Se não fosse pela Ampla, minha filha provavelmente nunca teria visto um vaga-lume em ação. Mas com o jardim eternamente mergulhado em trevas, ela se diverte vendo as luzinhas voando pelo ar.

E o brilho da Lua? Que criança, em cidade sem a presença da Ampla, teria a chance de conferir a surpreendente fosforescência lunar?

Agradeço também à Ampla pela aula de História que oferece aos clientes aqui da cidade.

Paraty é uma cidade colonial, fundada em 1667, e que preserva sua arquitetura. E a forma que a Ampla criou para homenagear as tradições locais é promover constantes blecautes, para dar aos paratienses um gostinho de como era viver por aqui no século 17. Uma beleza.

Nessa Semana Santa, a história se repetiu. Entre quinta e domingo, a luz caiu sete vezes.

Como sempre, ligamos para a Ampla. A primeira pergunta é a mais engraçada: “Você está sem luz”?

Se isso não te mata de rir, que tal a frase seguinte: “Então pegue uma caneta e anote seu número de protocolo…”?

Anotar como, se a casa está no breu? O pessoal aqui se escangalha de rir.

Mas o melhor são os prazos de atendimento: “A equipe de emergência estará em poucos minutos em sua residência”. Isso foi às 19h34 de quinta.

Às 3:45 da manhã de sexta, toca o telefone. É a Ampla, perguntando se a luz já tinha voltado. “Ué, por que você não pergunta pra equipe de emergência, que nunca apareceu aqui?”, respondi.

O curioso é que, quando a gente quer que a luz acabe, isso nunca acontece. Por exemplo: a festa EXPLOSÃO ELETRONEJA, que rolou sábado à noite numa chácara aqui perto e que deixou o bairro todo acordado até seis da manhã ouvindo “Ai Se Eu Te pego” em versão poperô, rolou numa boa, sem nenhuma queda de energia. Vai entender.

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O Lollapalooza, do sofá de casa...

Por Andre Barcinski
08/04/12 23:57

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Já disse aqui e repito: festival grande é roubada. Só vou se precisar cobrir pra Folha.

Vi o Lollapalooza do melhor lugar: do sofá de casa, cercado de família, comida e bebida.

Confesso que ri muito quando um amigo postou no Instagram a foto da fila do bar do Lollapalooza. Tô fora.

Aqui vão minhas impressões do que vi pela TV…

SÁBADO

A cobertura do Multishow continua privilegiando fofoquinha de bastidores. É impressionante como ninguém consegue dar UMA informação sobre as bandas, suas origens, estilo e importância.

Tirando uma entrevista pré-gravada com Perry Farrell, não vi nada que sequer lembrasse jornalismo. O TV on the Radio foi chamado de “banda influente”, mas não disseram quem ou como eles influenciaram alguém. Dave Navarro virou membro do Foo Fighters.

De resto, foi uma sucessão de “o público está enlouquecido”, “a banda promete arrebentar” e “o show foi alucinante”.

Quanto aos shows, Marcelo Nova foi divertido como sempre. Gosto do cara desde os tempos do Camisa e ele sempre fez bons shows.

Depois veio um tal de Cage the Elephant, que eu nem sabia o que era. Me pareceu uma banda cover de Pixies e Pavement, com um vocalista que acha que ser intenso é pular na galera e voltar pra casa sem carteira. O som nem era ruim, mas tão genérico que me bodeou em cinco minutos.

Depois entrou O Rappa. Por sorte, foi na mesma hora de Fluminense x Madureira, que tava bem melhor.

O Band of Horses foi o caso clássico de artista no lugar errado. Todo festival grande tem isso, bandas que são prejudicadas por tocar fora de seu ambiente ideal. Num clube pequeno, certamente o show funcionaria melhor.

Era nítido que eles não sabiam nem se comportar num palco daqueles. E isso não tem nada a ver com o tipo de som que fazem. Basta compará-los ao Wilco, por exemplo, que habita a mesma seara musical e que se sente em casa em qualquer palco.

O TV on the Radio também não fez um bom show. Aliás, sempre preferi seus discos aos shows. Curioso foi ver a banda tocando “Waiting Room”, clássico do Fugazi, e perceber que quase ninguém na platéia sabia do que se tratava. Diz muito sobre nossa cena indie.

Daí foi a vez de Joan Jett and the Blackhearts.

Todo festival tem seu veterano que chega para “mostrar como é que se faz”. No Rock in Rio foi Stevie Wonder; no SWU, o Lynyrd Skynyrd. Jett cumpriu o papel, fazendo um show simples, divertido e cheio de hits.

Sem querer comparar as bandas, até porque tocam estilos muito diferentes, mas sugiro assistir ao Band of Horses seguido da Joan Jett, só para sentir a diferença na qualidade do som (não da música) tirado no palco. É impressionante.

Finalmente, o Foo Fighters.

Dave Grohl e cia. fizeram um show prolixo e que poderia muito bem ter durado 45 minutos a menos.

O Foo Fighters, pra mim, é quase uma grande banda. Faz ótimos shows, tem muitos hits, uma presença de palco bacana e um cantor carismático e adorado. Mas falta alguma coisa.

Acho que Dave Grohl aperfeiçoou um método de criar hits. O cara conhece rock como poucos, e parece montar suas músicas como Quentin Tarantino monta seus filmes: tirando pedaços de uma coisa ali, juntando uma pitada de outra ali, criando um Frankenstein que, no fim das contas, parece mais original do que é na verdade.

Grohl aprendeu com Cobain – que, por sua vez, aprendeu com os Pixies – a importância da dinâmica, da colocação de silêncios e pausas, da força que pode ter um refrão que parece surgir de repente.

Mas faltam a Grohl duas coisas que Cobain tinha de sobra: a capacidade de escrever letras viscerais e um senso de drama mais aguçado.

A música do Foo Fighters é boa, mas nunca se arrisca a ponto de ser transcendente.

 

DOMINGO

Diazinho difícil esse, não? Teve tanta banda chata que vou resumir ao máximo:

Gogol Bordello –  Imagine o Karnak formado por mendigos e imitando o Pogues. Insuportável.

Thievery Corporation – Muzak pra publicitário. Soporífero.

Friendly Fires – Indie-dance-hipster-mauricinho, misturava o funk branco do INXS com o groove do Simply Red. Abominável. Acho que foi a pior coisa que já vi em cima de um palco. Continuo em busca de uma banda desse time que não seja uma total enganação ao vivo, como Two Door Cinema Club, Clap Your Hands Say Yeah!, Rapture e tantas outras. A busca continua.

Manchester Orchestra – Grande surpresa da noite. Sem presepada, tocaram músicas que ninguém conhecia, mas que impressionaram pela qualidade. Me pareceu um metal puxado para um rock sulista americano. Muito bom mesmo.

Foster the People – Por uns cinco minutos, achei que era uma pegadinha. Um bando de mauriçolas que pareciam o elenco de “Malhação” tocando um pop xexelento. O crítico Regis Tadeu definiu essa belezinha como “Jonas Brothers tocando Franz Ferdinand”. É exatamente isso.

Jane’s Addiction – Nunca foi minha banda favorita, mas impressiona em cima do palco. Perry Farrell é um “frontman” difícil de ser batido, e a banda é coesa demais. Foi um show curto, 1h15, mas cheio de momentos épicos e muito bonitos. “Ocean Size”, que encerrou o show, foi o momento mais bonito que vi em todo o festival.

Arctic Monkeys – Banda típica da geração Myspace, fez sucesso tão rápido que nem teve tempo de aprender a se portar em cima de um palco. O show de ontem foi bem melhor que o de 2007, mas ainda assim foi frustrante, pela falta de carisma e empatia. A banda tem um ótimo repertório. Pena que acha que fazer show se limita a reproduzir as músicas no palco, iguaizinhas ao disco.

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Já ouviu Jonathan Wilson?

Por Andre Barcinski
04/04/12 07:35


Quando as revistas e site de música que leio – “Mojo”, “Uncut”, “Pitchfork” – enchem a bola de um disco, eu sempre espero um pouco para me empolgar.

Já perdi as contas de quantas vezes li resenhas que parecem ter sido escritas mais no afã do momento, sem considerar as qualidades duradouras de um disco.

“Gentle Spirit”, de Jonathan Wilson, não é um desses. O CD saiu no fim do ano passado, e está em alta rotação aqui em casa desde então.

Wilson há havia lançado um disco com a banda Muscadine, e gravou um disco solo, “Frankie Ray”, em 2007.

“Gentle Spirit” traz melodias e arranjos dignos de Neil Young, das partes mais tranqüilas do Wilco, e tem um clima pastoral que remete a um dos discos mais bonitos já gravados, “Paris 1919”, de John Cale.

É um disco raro, com músicas bem compostas, bem produzidas, e tocadas com um virtuosismo que nunca descamba para o estéril.

Wilson é dono de um dos estúdios mais concorridos da Califórnia, com equipamentos antigos e analógicos (veja o clipe).

Ele está ficando conhecido também por organizar jams com músicos de primeira linha incluindo gente do Black Crowes, Wilco, da banda de Tom Petty, e até Jakob Dylan.

Jonathan Wilson já é um “músico dos músicos”. Ágora, só falta o público conhecê-lo.

De hoje a domingo, estarei fora e com acesso limitado à Internet. O blog retorna segunda. Bom feriado.

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Sexo, drogas e chucrute: o rock alemão está em todo lugar

Por Andre Barcinski
03/04/12 07:15


Já ouviu falar de Julian Cope?

Cope teve uma banda em Liverpool com Ian McCulloch, fundou o cultuado grupo pós-punk Teardrop Explodes, pirou de ácido, iniciou uma turbulenta carreira solo, escreveu livros sobre cultura neolítica e antigos monumentos da Europa, estudou ocultismo e shamanismo, e é considerado um dos grandes especialistas do mundo em rock japonês. Um cara singular.

Em 1995, Cope escreveu “Krautrocksampler”, livro que conta a história do rock alemão do fim dos anos 60.

Cope era obcecado por grupos como Can, Faust, Neu!, Kraftwerk, Ash Ra Tempel, Amon Duul, Tangerine Dream, Popol Vuh e tantos outros, e resolveu contar a história desse importante movimento musical.

Naquela época, havia pouquíssima literatura sobre o tema.

Os músicos que viriam a formar esses grupos cresceram nos escombros da Segunda Guerra, lidando com a sombra de seu passado nazista e a necessidade de criação de uma “nova” Alemanha.

Muitos partiram em viagens radicais. Estudaram música dodecafônica, piraram com os experimentos sônicos de Stockhausen e Sun Ra, e renegaram o comercialismo do pop.

Ao mesmo tempo, eram fanáticos por Velvet Undergound, Stooges e Frank Zappa, e sonhavam em fazer rock diferente do que ouviam nas paradas inglesas e americanas.

No livro, Cope cita outra influência marcante para essa geração: o The Monks, uma banda de garagem formada por militares americanos em serviço na Alemanha nos anos 60.

O movimento ganhou um nome – krautrock – curiosamente aceito pelas bandas, apesar de “kraut” (de “sauerkraut”, ou chucrute) ser um termo pejorativo usado na época da Guerra para se referir aos alemães.

Estilisticamente, é impossível definir o krautock, tamanha sua variedade de sons e estilos.

Num disco do Neu! ou do Can, por exemplo, é possível identificar ecos do pré-punk de Stooges, experimentos com eletrônica, mantras repetidos à exaustão, e pirações que lembravam as viagens de um Captain Beefheart. Era o rock mais livre do mundo.

O impacto do krautrock foi imenso. Howard Devoto, fãzaço do Neu!, saiu do Buzzcocks decepcionado com o punk e fundou o Magazine. John Lydon largou o Sex Pistols e criou o Public Image Ltd., basicamente a sua versão para a música do Can, por quem era fanático.

A lista é imensa: de Fugazi a Sonic Youth, de Horrors a My Bloody Valentine, de Mission of Burma a Simple Minds (acredite!), todo mundo bebeu no krautrock.

Quer exemplos mais concretos? Então ouça “Mushroom”, do Can, e compare com “Last Living Souls”, do Gorillaz; ou o primeiro disco do Neu! seguido por “Embryonic”, do Flaming Lips. Diabos, ouça qualquer disco do Radiohead pós-“Kid A”. É krautrock puro.

Voltando a Julian Cope: “Krautrocksampler” fez um barulhinho na época, mas rapidamente sumiu de circulação. Hoje, um exemplar sai por 200 a 300 euros no Ebay.

Até que os abençoados editores do blog Swan Fungus resolveram fazer um favor ao planeta: escanearam todas as páginas do livro e o disponibilizaram de graça, aqui.

Mesmo se você não lê em inglês, vale a pena baixar, só pela lista dos 50 discos fundamentais do krautrock, escolhidos por Julian Cope.

E para quem tem preguiça de ouvir 50, recomendo três para começar: “Tago Mago” (1971) do Can, “Neu ‘75”, do Neu! e “Yeti” (1970), do Amon Duul II. E boa viagem…

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Eu vi o futuro do cinema, e ele se chama 6D

Por Andre Barcinski
02/04/12 07:15

O 3D já era. Bateu as botas. E não vai deixar saudades.

Já está em experiência um sistema que promete ser a maior revolução do cinema desde o advento do som: o 6D.

Sim, isso mesmo, seis dimensões. Uma novidade que deixa no chinelo essa mixaria tridimensional de “Avatar” e “A Invenção de Hugo Cabret”.

Nesse fim-de-semana fui com minha filha a um cinema 6D, montado numa pracinha aqui perto de casa.

 

Na porta, perguntei ao bilheteiro – que também era dono, projecionista e faxineiro – como era possível um mundo em seis dimensões.

“O 3D você já tem só com os óculos. Os outros “Ds” são vento, água, e as cadeiras que mexem.”

O cinema oferecia a opção de seis filmes – “Mas dois estão com problema técnico, então só tem quatro”, disse o chefão.

Nossas opções eram “O Fundo do Mar”, “Parque dos Dinossauros”, “Guerra no Espaço” e “Fábrica de Chocolate”. Optamos pela batalha espacial.

A experiência foi incrível. Cinco minutos de pura magia. Usando os óculos azuis e vermelhos, fomos imediatamente transportados para um mundo em que naves espaciais zuniam pelo espaço, perseguindo inimigos e fugindo de asteróides.

O som era uma variação do Dolby Stereo, que batizei de Dolby Mistério, já que demorei metade do filme para descobrir em que idioma o filme era falado – em inglês.

Tudo corria bem, mas em 3D. Até que os outros “Ds” apareceram: primeiro, as cadeiras começaram a pular, como um touro mecânico. Depois, fomos surpreendidos por um forte jato de vento, que simulava uma perseguição por Alfa Centauro. E, por último, borrifadas em nossos rostos provaram que, sim, há água em Júpiter.

Foi tudo rápido e indolor. Nem sombra da dor de cabeça torturante que me atacou em “Avatar”. Minha filha deu o veredito: “Foi o melhor filme que eu já vi”.

Tudo isso por seis mangos. Um real por cada dimensão. O 3D já era.

 

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A morte que assombrou - e inspirou - Neil Young

Por Andre Barcinski
30/03/12 07:01


Mil novecentos e setenta e dois foi um ano de altos e baixos para Neil Young.

Começou muito bem, com o lançamento de “Harvest”, até hoje seu disco de maior sucesso.

E terminou tragicamente,com a morte, por overdose, de seu amigo e parceiro Danny Whitten, do Crazy Horse, grupo de apoio de Neil.

Whitten havia sido a inspiração principal da música “The Needle and the Damage Done” (em tradução literal, “A Agulha e o Dano Causado”), um dos hits de “Harvest”.

Guitarrista talentoso e excelente compositor (fez a linda “I Don’t Want to Talk About it”, gravada por Rod Stewart), Whitten ficou viciado em heroína e acabou expulso do Crazy Horse em 1971.

Para ajudar o amigo, Neil o convidou para tocar em sua turnê de 72. Mas Whitten estava tão anestesiado pela heroína que não conseguiu. Chegou a dormir em pé durante os ensaios.

No dia 18 de novembro de 1972, Young despediu Whitten. Horas depois, Whitten morreu de uma overdose de bebida e Valium. Young nunca se recuperou do baque.

Poucos meses depois, outro choque: seu “roadie”, Bruce Berry, morreu de overdose de heroína.

Os dois álbuns de inéditas que Young gravou imediatamente após as mortes de Whitten e Berry – “Tonight’s the Night” e “On the Beach” – são os mais pesados e depressivos de sua carreira. Para muitos fãs, são também os melhores.

Os discos têm um climão pesado que remete a Altamont, Manson e Vietnã. Falam de drogas, de guerra e de amigos perdidos.

É inacreditável que Young tenha gravado um disco tão doce quanto “Harvest” e, na sequência, uma barbaridade angustiada como “Tonight’s the Night”. Sua voz parece que vai despedaçar a qualquer momento. É a voz de alguém no limite da sanidade.

Young disse que teve a idéia de gravar o disco depois de um surto, quando resolveu abandonar o megagrupo CSNY, com Stills, Crosby e Nash, “aqueles popstars ridículos e mimados”.

Young chamou o produtor David Briggs, juntou os remanescentes do Crazy Horse – Ralph Molina (baixo) e Billy Talbot (bateria) – e convocou o guitarrista prodígio Nils Lofgren e Ben Keith, que havia tocado steel guitar em “Harvest”.

O grupo passava o dia todo chapando e a noite gravando, em sessões que Young chamaria de “velórios para Danny e Bruce”.

O resultado foi “Tonight’s the Night”, um dos discos mais “dark” já feitos, e completamente antagônico às melodias bonitas e assobiáveis de “Harvest”.

Ninguém sabe a razão, mas Neil adiou o lançamento de “Tonight’s the Night” por dois anos. O disco só saiu em 1975.

E “On the Beach” (1974), espécie de continuação de “Tonight’s the Night”, foi renegado por Neil, que só permitiu seu lançamento em CD quase 30 anos depois.

“Tonight’s the Night” é um daqueles discos raros que parece encapsular um período, sem nunca soar datado.

Achei esse clipe lindo de Neil e o Crazy Horse tocando a faixa-título do disco, que abre com uma citação ao amigo morto: “Bruce Berry era um trabalhador / Que carregava aquele Econoline (furgão de excursão)”. Bonito demais.

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