“Drive” é um exagero de talento e de sangue
02/03/12 07:09
Estréia hoje “Drive”, do dinamarquês Nicholas Winding Refn.
É um “thriller” que começa como um policial existencialista, na linha Michael Mann, e termina, infelizmente, com um banho de sangue à Tarantino (mas sem o humor deste).
Ryan Gosling faz um personagem sem nome, um motorista hábil que trabalha como dublê de dia e, à noite, é recrutado para dirigir carros em fugas de assaltos.
A primeira sequência é sensacional: fugindo de carro com dois ladrões no banco de trás, o motorista é perseguido pela polícia – até por um helicóptero – e tenta escapar se escondendo embaixo de pontes e se misturando ao tráfego.
Os primeiros minutos quase não têm diálogos, só cenas de perseguição muito bem filmadas. Animador.
O motorista sonha em pilotar carros de corrida. Um amigo, mecânico e figura paterna (Bryan Cranston) consegue dinheiro de dois mafiosos (os sensacionais Albert Brooks e Ron Pearlman) para começar uma equipe de corridas. Claro que a associação com a máfia não vai terminar bem.
Ao mesmo tempo, o motorista conhece uma vizinha (Carey Mulligan), cujo marido acaba de voltar da cadeia e está sendo pressionado por bandidos para cometer um assalto. O motorista resolve, muito a contragosto, ajudar o vizinho em um “último golpe”.
Aí, o filme muda completamente: o motorista vira uma espécie de Rambo, quase um super-herói, matando bandidos e explodindo crânios.
O que era um filme contido e elegante vira um massacre, e perde muito de sua força.
O diretor, Refn, é talentoso. Quem viu a trilogia “Pusher”, história de um traficante de heroína, sabe.
“Pusher” lhe rendeu muitos fãs. Até o trovador Mark Lanegan, ex-Screaming Trees, homenageou a trilogia em “Ode to Sad Disco”, faixa de seu último CD, “Blues Funeral”, que copia uma música da trilha do segundo filme da série.
Com “Drive”, Refn dá uma guinada em direção a um público mais amplo. Ótimo. Só espero que ele faça filmes mais parecidos com a primeira metade de “Drive”, e não com a segunda.