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André Barcinski

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Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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“In Utero”: o “suicídio comercial” do Nirvana faz 20 anos

Por Andre Barcinski
26/08/13 07:05

Mês que vem, “In Utero”, terceiro e último disco do Nirvana, completa 20 anos.

Será lançada uma edição especial, com o álbum original, lados B e faixas-bônus remasterizados pelo produtor Steve Albini, as mixagens originais de Albini para “Heart-Shaped Box” e “All Apologies”, e a demo de “Scentless Apprentice” gravada no Rio de Janeiro.

 


 

Para um disco que deveria ser o “testamento anticomercial” do Nirvana, até que “in Utero” continua rendendo uma boa grana.

Quando saiu, em setembro de 1993, foi visto como uma reação do Nirvana ao comercialismo de “Nevermind”. Alguns falaram em “suicídio comercial”.

O próprio Kurt Cobain disse que não havia ficado feliz com o som “limpo” de “Nevermind” e que gostaria de fazer um trabalho menos pop.

Para obter um som mais agressivo e pesado, chamou a bordo o produtor Steve Albini,  um herói do underground, líder do grupo Big Black e produtor de Pixies, Jesus Lizard e Didjits.

Diferentemente de “Nevermind”, cujas letras pareciam ser mais genéricas e falar do “teen spirit” da época, Cobain mirou num alvo que conhecia bem: ele próprio. Algum disco já abriu com uma frase tão autodepreciativa quanto “Teenage angst has paid off well / Now I’m bored and old” (“A raiva adolescente pagou bem / Agora estou velho e cansado”?

Cobain era um artista tão talentoso quanto inseguro. Tinha um medo enorme de ser tachado de popstar por seus amigos e fazia de tudo para manter a “credibilidade indie” do Nirvana, mesmo que “Nevermind” tivesse vendido mais que Michael Jackson.

Havia, na época, um ressentimento muito grande por parte da cena alternativa mais radical com a apropriação da música independente pelas grandes gravadoras. Com o sucesso de “Nevermind”, as corporações começaram a comprar pequenos selos a rodo, num fenômeno muito parecido com o que aconteceria, poucos anos depois, com a “bolha” da Internet.

Muita gente ganhou dinheiro, mas, quando o hype do rock alternativo esfriou, as grandes gravadoras simplesmente jogaram fora quem não havia vendido discos suficientes, e toda uma estrutura de pequenos selos, distribuidoras e bandas evaporou. Alguns, como o próprio Albini, já previam e alertavam que isso aconteceria.

Cobain se sentia culpado e fez de tudo para manter seu status de “alternativo”. Foi por isso que chamou Albini para produzir “in Utero”.

No fim das contas, a história não terminou bem. Banda e gravadora julgaram as versões de Albini abrasivas demais, e chamaram Scott Litt, que trabalhava com o REM, para remixar algumas faixas, incluindo o single “Heart-Shaped Box”.

Mesmo não vendendo tanto quanto “Nevermind”, “In Utero” foi um sucesso comercial.

A edição de setembro da revista inglesa “Mojo” traz uma reportagem especial sobre os 20 anos do disco. Há uma ótima entrevista de Cobain com Jon Savage, autor de “England’s Dreaming”, livro clássico sobre a cena punk inglesa, além de entrevistas recentes de Krist Novoselic e Dave Grohl.

Grohl conta que, antes de chamar Pat Smear (Germs) como segundo guitarrista, a banda pensou em Steve Turner e Buzz Osbourne, mas desistiu porque não queria acabar com o Mudhoney ou o Melvins. Grohl contou também que “In Utero” foi muito impactado pela descoberta, por Cobain, da música do Pavement: “As demos que gravamos no Rio provam isso”.

No trecho mais emocionante da entrevista, o baterista conta que mostrou a demo de “Scentless Apprentice” para Ian MacKaye (Fugazi, Minor Threat) e que Ian o alertou para a depressão que via nas letras, especialmente no verso “You can’t fire me, ‘cos I quit” (“Você não pode me despedir, porque eu desisti”): “Dave, isso é fodido”, disse Ian. “Eu não havia pensado nisso até então”, conta Grohl. “Quando comecei a ler as letras é que percebi que elas vinham de um lugar muito escuro.”

Sete meses depois do lançamento do disco, Cobain se matou.

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Acredite: um filmaço sobre arquitetura!

Por Andre Barcinski
23/08/13 07:05

A julgar pelos esparsos comentários em textos recentes sobre J.J. Cale, Herbie Hancock e Elmore Leonard, suspeito que o texto abaixo será o recordista negativo de comentários nesses três anos de blog.

Afinal, quem se interessa por design e arquitetura? Quem seria louco de passar a tarde de sábado assistindo a um filme sobre um casal de designers e arquitetos?

Mas acredite: “Eames: O Arquiteto e a Pintora” (MAX, sábado, 18h25) é um filmaço.

 


 

O documentário, feito em 2011 e dirigido por Jason Cohn, conta a trajetória de Charles e Ray Eames, um casal que revolucionou o design e a arquitetura do século 20 e fez trabalhos marcantes em artes plásticas, ilustração e até em cinema.

Você pode não saber, mas provavelmente já sentou em uma imitação da famosa “Poltrona Eames” (hoje, vendidas até nas Casas Bahia – confira aqui).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Criada em 1956, a Eames continua a ser fabricada. As versões oficiais custam de 4 a 9 mil dólares, mas as antigas, feitas em madeira brasileira, a hoje proibida Jacarandá-da-Bahia, podem chegar a 15 mil.

A programação de TV do fim de semana traz outros dois filmes imperdíveis e sobre os quais já escrevi aqui no blog. O primeiro será exibido na madrugada de hoje para sábado, no Telecine Cult, no péssimo horário de 5 da manhã: “Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia”, filme-bomba de Sam Peckinpah (leia mais aqui). Está no meu Top 10 de todos os tempos.

 


 

O segundo é “Corman: Proezas de um Rebelde de Hollywood”, ótimo documentário sobre o gênio do cinema B, Roger Corman, que rola domingo, 14h20, no MAX.  Leia aqui meu texto sobre o filme. E bom fim de semana!

 


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O que os Cramps e o diretor de “O Mestre” e “Boogie Nights” têm em comum?

Por Andre Barcinski
22/08/13 07:05

Mais uma do grande site Dangerous Minds: existe algo que une a maior banda de psychobilly do mundo, o Cramps, ao grande cineasta Paul Thomas Anderson, de “O Mestre”, “Sangue Negro”, “Boogie Night” e “Magnólia”: ambos são filhos – um espiritual, outro de carne e osso – de Ghoulardi, um popular apresentador de filmes de terror de TV dos anos 60.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os Cramps eram tão obcecados por Ghoulardi – nome real, Ernie Anderson – que batizaram um disco de “Stay Sick”, bordão do apresentador, e dedicaram outro LP à sua memória depois que ele morreu, em 1997.

Lux Interior, vocalista do Cramps, nasceu e cresceu em Ohio, onde Ghoulardi apresentou, entre 1963 e 1966, uma sessão de filmes de terror na TV local. Considerava Ghoulardi um herói: “Foi minha maior influência quando eu estava crescendo. Foi com ele que aprendi que as pessoas não precisavam ser normais, cada um podia ser do jeito que quisesse.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ghoulardi tinha um estilo satírico e descontrolado. Esculhambava os caretas e as autoridades. Costumava fazer piadas com a comunidade de Parma, em Ohio, que considerava “um tédio” (até hoje, em Ohio, rolam piadas com Parma).

Além de mostrar filmes B, Ghoulardi tocava rock nas apresentações. Foi ali que Lux e milhares de crianças e adolescentes ouviram pérolas da insanidade como “Surfin’ Bird” (The Thrashmen) e “Papa Oom Mow Mow” (The Rivingtons). Lux costumava assinar autógrafos com frases de Ghoulardi: “Stay sick!”, “Turn blue!”, “Hey, group!”.

Outros grupos de rock de Ohio também foram influenciados pelo apresentador. Entre seus fãs estavam Dave Thomas, do Pere Ubu, e Mark Mothersbaugh e Jerry Casale, do Devo.

Já Paul Thomas Anderson é filho de Ghoulardi. Nasceu em 1970, depois que o pai já havia se mudado para Los Angeles, onde trabalhou fazendo locuções para TV. Paul cresceu no Vale de San Fernando, cenário de alguns de seus filmes mais conhecidos, como “Magnólia” e “Boogie Nights”.

Achei na Internet um documentário muito interessante sobre Ghoulardi e a TV americana dos anos 60, e trechos de seu programa de TV. E lembre-se: stay sick!

 


 


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Elmore Leonard e a difícil arte de escrever simples

Por Andre Barcinski
21/08/13 08:11

Morreu ontem, aos 87, Elmore Leonard. Fiz um pequeno texto para a “Folha” sobre filmes adaptados de suas histórias (leia aqui).

A morte de Leonard não foi uma surpresa. Ele havia sofrido um derrame em julho e não conseguiu terminar seu 46º romance.  Desde ontem, a Internet está cheia de ótimos obituários do escritor (leia aqui o publicado pela “Folha”).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No lugar de mais um texto biográfico, gostaria de tentar explicar o que, na minha opinião, fez de Elmore Leonard um escritor tão especial.

Em primeiro lugar, seus livros eram simples e diretos. Na segunda ou terceira página, a história já andava. Não havia peso morto. “Tento evitar trechos que os leitores costumam pular”, era um de seus motes.

Por mais cinzentas e pesadas que fossem as histórias, sempre tinham humor.

Os personagens, por mais breves, sempre traziam algo de interessante ou único, nunca estavam lá apenas como figuras de cartolina, só para levar um tiro ou ser atropelado.

E os diálogos eram muito bons.

Leonard nunca escondeu que se inspirou nos livros de George V. Higgins (1939-1999) para escrever diálogos, especialmente em “The Friends of Eddie Coyle” e “Cogan’s Trade” (este recentemente esculhambadoo em uma adaptação para o cinema como “O Homem da Máfia”, com Brad Pitt).

Higgins era advogado e costumava analisar minuciosamente gravações de tribunais e depoimentos de bandidos para entender como se expressavam. Escreveu 14 romances e jogou todos no lixo antes de se dar por satisfeito e mandar para a editora seu livro de estreia.

Os diálogos nos livros de Elmore Leonard são fluidos como os de Higgins. E é preciso muito, mas muito esforço para fazer tudo soar tão natural. Como disse o escritor Dennis Lehane, ler um diálogo de Leonard é como “ouvir uma conversa por uma porta entreaberta”. Martin Amis entregou um prêmio a Leonard e disse: “sua prosa faz Raymond Chandler parecer atrapalhado”.

Dos 45 romances que Leonard escreveu, li 12 ou 13 (faroeste não é meu gênero predileto, então me dediquei aos policiais). O último foi “Djibouti” (2010), passado entre piratas modernos na Somália, mas não me empolguei. Parecia ter sido escrito por alguém imitando Elmore Leonard.

Dos que li, gostei muito de “Pronto” (1993), “Swag” (1976), “Rum Punch” (1992), “Maximum Bob” (1991), “La Brava” (1983) e “Get Shorty” (1990). Uma tarde chuvosa na companhia de qualquer um desses é alegria na certa.

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Herbie Hancock, Nelson Freire, Madredeus, Jards Macalé? De graça?

Por Andre Barcinski
20/08/13 07:05

Devo estar alucinando, não é possível: Herbie Hancock, Madredeus, Nelson Freire, Hamilton de Holanda, Raul de Souza, Nouvelle Vague, Jards Macalé e outros, de graça? Além de filmes, debates e palestras gratuitos? Em três das cidades históricas mais bonitas do Brasil?

 


 

Pode crer: a partir de sexta, 23 de agosto, Paraty, Ouro Preto e Olinda recebem o festival MIMO. O que começou em 2004 como Mostra Internacional de Música de Olinda cresceu, chegou a outras cidades e se firmou como um dos eventos culturais mais bacanas do país (veja a programação completa aqui).

Não posso esperar para ver Herbie Hancock tocando na Praça da Matriz, em Paraty (6ª, 22h30) e o Madredeus, no mesmo local (domingo, 21h).

Também quero muito conferir apresentações de artistas que nunca vi ao vivo, como o jordaniano Rum Tareq Al Nasser (sábado, 22h30) e o Duo Milewski, formado pelo violinista polonês Jerzy Milewski e a pianista brasileira Aleida Schweitzer.

Outra atração que parece imperdível é o alemão Stephan Micus (leia mais aqui), cujo trabalho não conheço, mas que chega muitíssimo bem recomendado. O concerto será sexta, às 19h30, dentro da Igreja da Matriz.

 


 

O festival traz ainda filmes sobre música, incluindo documentários como “Tropicália”, “Simonal – Ninguém Sabe o Duro Que Dei”, “Pernamcubanos – O Caribe que Nos Une” e “Olho Nu”, este sobre Ney Matogrosso.

 


 

P.S.: Por falar em alucinações, ontem estava assistindo a um documentário sobre Arnaldo Antunes no Canal BIS e julguei ter ouvido o músico Curumim comparar Antunes a Noel Rosa, Cartola e Chico Buarque. Alguém mais ouviu, ou foi só um delírio meu?

P.S. 2: Acabo de saber que Elmore Leonard morreu. Farei um texto pra “Ilustrada” de amanhã, e outro aqui no blog. 

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O melhor programa da TV

Por Andre Barcinski
19/08/13 07:05

Meu programa de TV favorito no momento é “The Ronnie Wood Show”, exibido pelo canal BIS. É a versão filmada do programa de rádio que Wood, guitarrista dos Rolling Stones, apresenta desde 2010.

 


 

Wood traz sempre um convidado, e ambos escolhem canções favoritas e falam sobre suas carreiras e lembranças. É artigo raro na TV: duas pessoas que amam e conhecem música, batendo papo sobre o assunto.

Semana passada, vi a entrevista de Mark Ronson (que será reprisada amanhã, no horário ingrato de 9h30 da manhã). O produtor falou de seu trabalho com Amy Winehouse e tocou canções de Can, Meters, Stevie Wonder e Blind Faith. Wood sempre tinha uma história engraçada sobre os artistas que Ronson citou.

Gosto do programa por sua simplicidade. Não tem truques de câmera ou ritmo frenético. Não é feito para quem tem déficit de atenção. Em alguns momentos, Wood e o convidado ficam só curtindo a música, balançando a cabeça ou dando sorrisos de satisfação.

Vi também a entrevista de Slash, que foi divertida demais. Às vezes, Wood pega a guitarra e acompanha as músicas que estão tocando; em outras, faz uma pequena “jam” com o convidado.

Li que o programa de TV tem dez episódios, incluindo papos com Paul McCartney, Alice Cooper, Bobby Gillespie e outros.

Achei um trecho da entrevista de Wood com Steve Cropper, em que o lendário guitarrista da Stax fala de como Otis Redding compôs “Sittin on (The Dock of the Bay)” e lembra que Otis nunca chegou a ouvir a versão com guitarra, já que morreu num acidente de avião dias depois. É emocionante:

 


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Um filme que mostra menos e assusta mais

Por Andre Barcinski
16/08/13 07:05

Alguns filmes merecem ser vistos simplesmente por remarem contra a maré. É o caso de “Os Escolhidos” (leia minha crítica na “Folha”, aqui).

O filme não é nenhuma obra-prima e não vai mudar sua vida, mas pelo menos tenta ressuscitar um tipo de cinema de horror que estava sumido das telas: o que assusta mais pelo que não mostra.

 


 

Em épocas de Youtubes e afins, em que as pessoas se acostumaram a ter todas as imagens à disposição e em todos os ângulos possíveis, parece um risco fazer um filme de horror que ainda deixe alguma coisa a cargo da imaginação do espectador.

Na história do cinema de horror, há um momento claro em que cineastas começaram a mostrar a violência mais explicitamente: foi na virada dos anos 60 para os 70, quando “A Noite dos Mortos-Vivos” (George Romero, 1968), “O Exorcista” (William Friedkin, 1973) e “O Massacre da Serra Elétrica do Texas” (Tobe Hooper, 1974) transpuseram para as telas dos cinemas o horror real que as pessoas viam na cobertura do Vietnã pela TV.

A grande crítica de cinema Pauline Kael tinha uma expressão para definir esses filmes: “Cinema Boo”, aquele que chocava pela repentina aparição de um monstro atrás da porta, como um trem-fantasma de circo.

Desde então, só cresceu a obsessão pela violência “de verdade”. Prova é a explosão dos gêneros “found footage” – filho bastardo de falsos documentários como “Canibal Holocausto” (Ruggero Deodato, 1980) e “A Bruxa de Blair” (Eduardo Sanchez e Daniel Myrick, 1999) – e “torture porn”, com “Jogos Mortais” e “O Albergue”, que se resumem a encenar torturas.

A lógica era simples: uma geração tão acostumada a ver violência na TV e em games não se surpreenderia mais como um horror ficcional. Só a realidade choca.

Por isso, foi uma boa surpresa ver “Os Escolhidos”, um filme em que os “monstros” raramente aparecem, a violência é implícita, e personagens não são figuras de cartolina.

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Mostra celebra Ed Wood, rei do cinema "Z"

Por Andre Barcinski
15/08/13 07:05

Ed Wood não foi o pior cineasta de todos os tempos. Qualquer um que tenha assistido a curtas-metragens brasileiros dos anos 70 e 80 sabe disso.

 


 

Mas Wood (1924-1978) ganhou uma votação nos anos 80 como “o pior” e ficou marcado. Seus filmes viraram objeto de culto.

Amanhã, a Caixa Cultural, em São Paulo, começa uma retrospectiva de Ed Wood, com entrada franca (veja programação aqui). Se você não conhece os filmes, vale assistir. São divertidos demais.

O que mais impressiona em Ed Wood é a coragem. Ele escreve os diálogos mais obtusos e as cenas mais ridículas, com a pompa de quem está criando uma verdadeira obra de arte. Os atores são todos péssimos, mas estão levando aquilo muito a sério e se esforçando ao máximo para fazer o melhor. Isso torna a ruindade comovente.

Em “Plan Nine From Outer Space” (1956), filme mais conhecido de Wood, o vidente Criswell – um personagem da TV, conhecido por nunca acertar uma previsão – aparece na abertura, fazendo um monólogo primoroso: “Saudações, meus amigos. Estamos todos interessados no futuro, pois é lá que você e eu vamos passar o resto de nossas vidas. E lembrem-se: eventos futuros como esses vão nos afetar no futuro!”

Em outra cena clássica, um policial, observando um cadáver, diz: “Uma coisa é certa: ele foi assassinado, e alguém é responsável por isso!”

E o que dizer da antológica frase proferida por um “extraterrestre”: “É interessante perceber como os terráqueos capazes de pensar são tão amedrontados por aqueles que não pensam!”

A vida de Ed Wood foi mais estranha que seus filmes.  Ele orbitou nas esferas mais toscas da indústria de Hollywood. Tentou a sorte como diretor e roteirista, sem sucesso. Fez filmes de terror, ficção-científica, faroestes, dramas gays e comédias eróticas, cada um pior que o outro. Escreveu dezenas de romances de sexo, também pavorosos. Era alcoólatra e gostava de se vestir de mulher. Tinha um fetiche por suéteres de angorá, os preferidos de sua mãe. Depois do ataque japonês a Pearl Harbour, se alistou nos Fuzileiros Navais e chegou a lutar no Pacífico, mas tinha um medo danado de ser ferido e que descobrissem a calcinha e sutiã que usava por baixo do uniforme.

Nos anos 50, conheceu Bela Lugosi, o grande Drácula do cinema. O astro estava em decadência, viciado em morfina e vivendo de bicos em filmes de quinta categoria. Wood o convenceu a atuar em alguns de seus filmes.  Durante a filmagem de “Plan Nine From Outer Spadce”, Lugosi morreu. O diretor simplesmente botou outro ator em seu lugar e o mandou cobrir o rosto em todas as cenas, para que o público não percebesse.

Wood sempre se cercou de atores e atrizes igualmente sem talento, mas que tinham adoração por ele. Gente como Paul “Kelton the Cop” Marco, o gigate Tor Jonhson, Valda Hansen (a “Fantasma Branca”), Maila “Vampira” Nurmi e a drag queen Bunny Breckinridge. Tive a sorte de conhecer alguns deles em um evento em 1992, que reuniu o elenco dos filmes de Ed Wood. Era comovente o carinho que eles tinham pelo cineasta. A maioria ainda vivia da venda de fotos e autógrafos para fãs.

Se você lê em inglês, não deixe de comprar “Nightmare of Ecstasy”, de Rudolph Grey, biografia de Wood. Ou assista ao tributo de Tim Burton, “Ed Wood”, com Johnny Depp no papel de Wood e uma atuação primorosa de Martin Landau no papel de Bela Lugosi. Acho o melhor filme de Burton e uma das homenagens mais bonitas que um cineasta já fez a outro. E Bill Murray no papel de Bunny Breckinridge é de matar.

 


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Afinal, temos cena musical independente?

Por Andre Barcinski
14/08/13 07:05

Anteontem, escrevi aqui no blog sobre o Fora do Eixo. No mesmo dia, li na “Folha” uma entrevista do grande Miranda, produtor musical e jornalista, em que ele elogiava a cena musical do Pará e descia a bordoada na MPB de Seu Jorge, Ana Carolina e Jorge Vercilo: “Virou MPB de barzinho.” (leia a íntegra aqui).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O produtor afirma que a cena paraense se sustenta e cita artistas como Lia Sophia, Aluê, Gang do Eletro e Dona Onete. Miranda não pode ser considerado um analista isento – é curador de eventos musicais no Pará e produziu o primeiro disco de Gaby Amarantos – mas viaja muito pelo país, conhece de perto as cenas musicais de diversos estados e sua opinião é relevante.

O que leva a uma questão que levantei ontem: existe cena musical independente no Brasil? Existem artistas que sobrevivem fora do circuito corporativo de festas de peão, rodeios, festivais patrocinados por cerveja ou por estatais?

Não vou a Belém há anos e conheço a cena local apenas por reportagens. Não sei se artistas paraenses conseguem sobreviver de sua música. Se a cena paraense se sustenta, como diz Miranda, então palmas para ela.

Já sobre as cenas de Rio e São Paulo, continuo achando que só existem na imaginação otimista de alguns. Falo de uma cena autossustentável, em que artistas vendam músicas e shows, tenham locais para tocar e um público que pague por isso.

Não estou dizendo que não existem artistas relevantes e que façam bons trabalhos. Claro que existem. A maioria dos artistas batalha e muito para divulgar sua música. O problema, a meu ver, é que se criou uma dependência tão grande dos artistas em relação a eventos bancados com verba pública, que ninguém consegue criar uma “cena” de verdade, que ande com as próprias pernas.

Esses dias, conversei com um amigo que toca numa banda de rock independente e faz o circuito de casas de show e baladas alternativas. Ele me dizia estar cansado de tocar às 3 da manhã para um público muito mais interessado em encher a cara e xavecar do que na música. Cachês decentes, só quando toca no SESC ou em algum centro cultural público. E o SESC, como sabemos, faz um trabalho ótimo, mas é bancado por um imposto compulsório, tem muito dinheiro, e pode cobrar ingressos muito baixos.

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Nunca houve uma mulher como Haji...

Por Andre Barcinski
13/08/13 07:05

O mundo ficou um pouco menos sexy. Morreu sábado, aos 67 anos, Haji, a gostosíssima e misteriosa atriz do clássico “cult” “Faster, Pussycat! Kill! Kill” (1965), de Russ Meyer.

 

 

 

 

 

 

 

 

Há três anos, por ocasião de uma retrospectiva de Meyer, fiz uma entrevista com Jimmy McDonough, autor de “Big Bosoms and Square Jaws”, uma divertidíssima biografia do cineasta (leia aqui).

Quando perguntei a Jimmy por que os filmes de Russ Meyer haviam se tornado ícones da cultura pop americana, ele respondeu: “Porque os Estados Unidos simbolizavam um certo exagero grandioso. Especialmente no auge de RM.  Carros como o Cadillac Eldorado Biarritz, de 1959, que era um brilhante monstro de aço curvo e barbatanas exageradas. Meyer descobriu mulheres que eram o equivalente a esses carros, e criou para elas um altar cinematográfico.”

Haji certamente era um belo Cadillac. Um autêntico rabo de peixe. Até seu nome verdadeiro era uma delícia: Barbarella Catton. Com seus olhos puxados – índia? Filipina? Mexicana? – essa canadense (hein?) de Quebec formou, com Tura Satana e Lori Williams, o trio sadomasô mais voluptuoso do cinema. Quem não queria ser arremessado na areia do deserto ou levar uma chave de braço dessas três?

Ontem à noite, em homenagem a Haji, tirei da estante o empoeirado DVD de “Faster, Pussycat! Kill! Kill!”. Difícil acreditar que Meyer fez esse filme em 1965, quando os Beatles ainda usavam cabelo tigelinha e nem conheciam a psicodelia. É “o” filme sobre as perversões da América, juntando rock’n’roll, revistas de sacanagem, quadrinhos e pop art, numa geléia geral de taras, violências e fetiches. Como alguém pode ter visto essa bomba atômica e, dois anos depois, ser pego cantando “Vou pra São Francisco… com flores no cabelo?”

Achei uma ótima entrevista de Haji, em inglês (leia aqui), em que a musa fala de seu trabalho com Meyer, de seu início no burlesco – aos 14 anos! – e de como fugiu da escola ainda no Jardim da infância: “Entrei na escola e fugi no primeiro dia. Eu me sentia mais confortável na floresta do que na sala de aula!”

Vá em paz, Haji. Nós, fiéis seguidores de seu culto, continuaremos lhe adorando pela eternidade…

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