Coca-Cola pode até sair da Bolívia, mas a Bolívia não sai da Coca-Cola...
08/08/12 07:05
Dia 21 de dezembro, o capitalismo será expulso da Bolívia.
Pelo menos é assim que o chanceler boliviano, David Choquehuanca, estava chamando a suposta retirada da filial da Coca-Cola no país, marcada para coincidir com o início de um novo ciclo no calendário maia.
“O 21 de dezembro é o fim do egoísmo, da divisão. Esse dia tem que ser o fim da Coca-Cola e o começo do mocochinche [suco de pêssego]. Os planetas se alinham depois de 26 mil anos. É o fim do capitalismo e o começo da vida comunitária”, disse Choquehuanca, em ato com o presidente Evo Morales.
Alguns dias depois, o governo desmentiu o chanceler e disse que ele foi “mal interpretado”.
O curioso é que esse mesmo “capitalismo” ajudou a sustentar a economia boliviana por muito tempo. A Coca-Cola sempre foi um dos grandes compradores de folha de coca das regiões andinas.
Vale um esclarecimento: “coca” e “cocaína” são duas coisas diferentes. A cocaína pode ser extraída da folha de coca, mas esta é, desde pelo menos 2500 A.C., parte fundamental da cultura andina, mascada pelos nativos e usada como fortificante e em rituais religiosos.
A Coca-Cola não existiria se não fosse a folha de coca. O nome do refrigerante junta dois ingredientes de sua fórmula: a “coca” e a “kola”, uma castanha que contém cafeína e é usada para dar sabor a refrigerantes. O logotipo da Coca-Cola, vermelho e branco, é uma referência à bandeira do Peru.
Na verdade, a Coca-Cola nasceu como um remédio. Em 1881, um farmacêutico de Atlanta (EUA) chamado John Styth Pemberton lançou um vinho de folha de coca, o“French Wine Coca”.
Pemberton havia lutado na Guerra Civil americana e, a exemplo de muitos soldados, voltou para casa viciado em morfina. Na época, acreditava-se que a cocaína poderia curar o vício em morfina, o que causou uma avalanche de remédios e bebidas à base de cocaína.
Em 1885, a cidade de Atlanta proibiu a venda de bebidas alcoólicas. E o que fez Pemberton? Simples: substituiu o vinho por água gaseificada. Nascia a Coca-Cola.
Até 1903, a fórmula da Coca-Cola continha cocaína, mas em quantidades iguais ou menores do que a maioria dos remédios existentes.
Pemberton era um ótimo farmacêutico, mas não era nenhum gênio dos negócios. Em 1891, provavelmente numa trip braba de morfina, vendeu a Coca-Coca por 2300 dólares para Asa Griggs Candler. Em 2011, a empresa foi avaliada em 156 bilhões de dólares.
Hoje, a Coca-Coca importa legalmente cerca de 175 toneladas de folhas de coca por ano, a grande maioria do Peru. As folhas são mandadas para a empresa Stepan Chemicals, em New Jersey, onde, debaixo de um esquema de segurança fortíssimo, são usadas para fabricar o xarope – sem cocaína, claro – que é mandado para as mais de 200 filiais da Coca-Cola em todo o mundo.
Calcula-se que a venda de folhas de coca representa 14% do total dos negócios da agricultura boliviana, ou cerca de 270 milhões de dólares por ano. Não se sabe ao certo quanto a Coca-Cola representa desse montante.
O que é certo é que, se o país realmente expulsasse a Coca-Cola, os deuses incas teriam de rebolar para compensar as perdas.
O Brasil deveria ser menos condescendente com a Bolívia. O cocalero Evo Morales não tem a menor vergonha na cara de legalizar carros brasileiros roubados, os quais são trocados por drogas naquele país. Enquanto isso, o seguro dos nossos carros vai só encarecendo…
Este foi o melhor texto há meses por aqui. Bem redigido, interessante e informativo. Texto inspirado. Sem as encheções de linguiça a que já me acostumei por aqui.
Mesmo que não houvesse nenhum pé de coca na Bolívia, e a quantidade de gente que ficaria desempregada caso realmente expulsassem a Coca-Cola? Trabalhadores das fábricas, distribuidores, representantes comerciais, comércio… Isso um bando de gente anti-americana doente não calcula… Excelente texto, Barça. Mas senti falta da Pepsi nessa história…
Por envolver muita grana, não sei que fim terá essa propaganda “anti-capitalista”; mas moralmente seria ótimo para a Bolívia, pois sua população, de alta percentagem de indígenas, nunca caiu muito na laia de McDonalds e Coca-cola.
A Bolívia não expulsou a Coca-Cola do seu território.
A notícia da expulsão da Coca-Cola da Bolívia só ganhou ares de verdade depois que a AVN (Agência Venezuelana de Notícias) interpretou literalmente a fala do ministro boliviano como mais uma vitória do socialismo.
http://www.avn.info.ve/contenido/mcdonal039s-y-coca-cola-dejaran-operar-bolivia-partir-diciembre
Não sei quem é mais idiota: se o Barcinski fazendo ode e apologia à Coca-Cola, ou esses alienados criticando o Evo Morales, Hugo Chaves, etc.
Ode? Onde? O analfabetismo funcional realmente domina o mundo.
Sério, Barça: A Folha devia te pagar adicional por insalubridade, cada vez que você é obrigado a ler uma comentário desses.
Na falta de argumentos, esses comunistas partem para as agressões verbais! Vida de jornalista e blogueiro não é fácil.
Belo post.
Esse costume de se expulsar o “mal” igual a pastor de igreja picareta é manjado. Típico de governante picareta de repúbliquetas.
Interessante que no mesmo período, o Mac Donalds decretou falência de suas operações na Bolivia pelo fato de não conseguir que a população local consumisse seus produtos tamanha a disparidade de paladar/costumes da cultura andina.
Se não me engano, acho que foi a primeira vez que isso ocorreu na história da empresa.
Bolívia: Um país na vanguarda do século 19
Olá, André.
Acompanho a sua coluna quase todos os dias. Seu trabalho é muito bom, suas críticas costumam ser muito boas e fazem grande diferença no site da Folha. Pode-se dizer que você manja muito de Arte.
Ao ler este ensaio tive a impressão de que você deve continuar falando de Arte.
A impressão que ficou deste artigo é que a Bolívia (assim como outros países em relações com outras corporações) deve agradecer por manter essa relação de submissão mercadológica a esta poderosa empresa, que influencia diversas relações político-econômicas por aí.
De qualquer forma, aprecio a sua coluna.
Abraços.
Agradecer nao, mas reconhecer que expulsar uma empresa, qualquer que seja, pode prejudicar sobremaneira a economia local e brir precedentes perigosos.
Afinal, o Mcdonalds foi expulso ou faliu?
Faliu!
Do ponto de vista hegemônico (o capitalista), tentar expulsar uma empresa de um país deveria mesmo causar preocupação. Mas deve-se considerar que o governo boliviano, acompanhado de outros vizinhos nossos, faz parte de uma tentativa de mudar mais profundamente o contexto político, social e econômico na América do Sul. Como consequência disso, a iniciativa é natural e esperada.
Não pode ser “natural” expulsar uma empresa privada de um país, qualquer que seja.
Se do ponto de vista de um governo legítimo uma empresa é considerada prejudicial ao país e a seu povo, não consigo entender porque não seria natural expulsá-la.
E o que faz a empresa “prejudicial ao país”? Não paga impostos? Explora os funcionários? Isso abre um precedente perigosíssimo. O que impede um governo de expulsar empresas de opositores políticos, por exemplo?
Expulsar empresas de opositores políticos = ERRADO; expulsar empresas por não pagar impostos ou por explorar funcionários = CERTO.
Eu sou a favor de uma ação mais direta dos governantes sobre quaisquer coisas que prejudiquem o povo. Se formos esperar os trâmites “normais” de nossa “democracia” (sempre entre aspas, pois é muito difícil definir essa palavrinha tão prostituída) sabemos que o resultado é quase sempre pífio.
E vc sabe se a Coca-Cola explorou os pobres funcionários bolivianos?
Não, especificamente nesse caso eu não fiquei sabendo. Mas não duvido. Afinal de contas é a lógica do capitalismo, não é mesmo? Ou você acha que há muitas empresas por aí que tratam funcionários, ou mesmo clientes, de maneira adequada? E não sou eu quem tem de saber e sim os governantes. E, pelo que eu li, estatizações e outras medidas semelhantes na Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina foram calcadas em falhas graves cometidas por multinacionais e não por ideologia, como quiseram nos fazer crer a parte (maioria) conservadora de nossa imprensa.
André,
Adorei esse post. Foi muito interessante e também inesperado. A última coisa que esperava encontrar no seu post era um relato sobre a Coca-Cola. Demais.
Abraços
Essa Coca-cuela original de vinho e sem essa droga de água com gás levantaria a economia do Peru e da Bolívia. A Ambev Andina com a formula original, invadiria o mundo.
Aaaaaaaa populismo……..mal que aflinge a América Latina
Aflige o mundo, colega.
O Evo até lançou um produto chamado Coca-Colla. A Bolivia está com sérios problemas, ter um presidente que acha que Hugo Chavez é Rei e Fidel Castro é Deus não é fácil. Ou quem sabe o povo de lá gosta e até acha bonito este tipo de liderança.
Olha, dessa história toda, só sei de uma coisa: se o Brasil algum dia tentar expulsar a coca-cola do Brasil, eu e meu irmão viraremos guerrilheiros contra a pátria!!! Me tira um rim, mas não me tira a coca-cola…
Ótimo texto, um dos melhores das últimas semanas!
E o tal Chanceler fala em fim do egoísmo, mas se esquece que não há nada de mais egoísta e hipócrita que esses regimes semi-totalitários (de esquerda e direita, que fique bem claro) que estão novamente florescendo por aí.
É triste ver que estamos voltando a uma onda de intervencionismo estatal nos países (inclusive nos ditos desenvolvidos).
POBRE AMERICA LATINA, sempre com está ideias patéticas de antiamericanismo, ainda tem jovens e adultos( sindrome de PETER PAN ) que tem slogan prontos para tal situação, mas adoram a Disneylandia, por isto somos o fiofo do mundo e Republiquetas bananeiras. GOOD BLESS COCA, MC DONALD´S, BURGUER KING, PEPSI e muito mais. ENQUANTO A BOLIVIA VIVE COM SEU INDIOZINHO, no mundo da lua.
hmmmmm que paixão pelos gringos hein ?? já entendi….
Sem previsão para a volta do Garagem? Pô perderam a chance de “celebrar” os 70 anos do Gil e do Caê.
Meus pais criaram a mim e meu irmão longe de refrigerantes. Quando adolescente, comecei a frequentar festas e casas de amigos mas sempre que tentava beber coca-cola ou similar passava mal. Mesmo hoje, com 35 anos, se eu me atrever a tomar uns goles, terei pela frente 24h agonizantes chamando o Hugo. Com meu irmão acontece o mesmo. Será que há algum tipo de condicionamento a longo prazo no nosso organismo para tolerar esse tipo de bebida? Porque convenhamos, a atual fórmula dessas bebidas tem tanta porcaria quanto o cigarro. Sua pequena bebe refrigerantes, André?
Nao> Se ela quiser beber depois, ok, mas nao assim, pequena.
Barça, um adendo.
Na verdade, o vermelho da Coca-Cola vêm da cor dos barris onde ela era armazenada lá no século XIX, segundo vários sites que já postaram sobre o início da empresa, ok.
Olha, Ricardo, acabei de ler dois livos sobre a coca e ambos dizem que a cor do logotipo a Coca-Cola foi escolhido como homenagem ao Peru.
Obrigado pela resposta.
Pelo que eu já tinha lido sobre a história da Coca-cola na Internet, parecia ser essa a origem da cor, valeu por confirmar.
Confio mais em livros que na Internet, e os livros que li sobre o assunto afirmam isso sobre o logotipo.
André, quando o tal minsitro David disse essa história, provavelmente ele deve ter mascado muita folha de coca, quando ele recuperou a sobriedade, ele desmentiu a notícia, como nossas filiais da Fox News informaram….
Folha de coca não dá lombar, mestre.
Grande pesquisa Barça. Muito interessante. Parabéns! Mantendo a tradição desse blog realmente falar de tudo muito. Falta um post sobre o vento…
Vento? Tem um programado sobre energia eolica, pra sexta.
Algo a ver com a Fabiana Murer? 🙂
Fabiana Murrer é pouco comparado ao cara do cavalo.
Barza… buenos dias.
Sei que o assunto principal é o capitalismo x (pseudo)comunismo Boliviano e tal mas vou citar o que mais gosto… as drogas! hehehe
Segunda feira no History Channel passou o muito bem feito “The Stoned Age” (que nome fantástico!). Contava justamente a história das dita cujas, desde os primórdios (quando o homem era coletor e usava os cogumelos alucinógenos e incensos), passando pelas drogas de fumar (usadas em rituais) e as sintéticas (cocaína incluso) até os dias de hoje (crack e cristais).
Justamente na parte da cocaína, ele citava as primeiras farmácias de manipulação, de onde vieram produtos que dariam origem ao que conhecemos como Coca-Cola. A cocaínna era empregada em diversos remédios, inclusive para acalmar os bebês (era a funchicórea dos meados dos 1800).
Creio que tenha faltado citar mais que fora o governo quem implementou o uso de cocaína para o combatente em guerra render mais. Citaram que Hitler aplicava doses de cocaína diluída em seus olhos.
Enfim… segunda-feira agora tem um especial, estréia as 22hs, sobre e somente a cocaína.
Agora outro adendo que gostaria de fazer:
PREFIRO PEPSI!
🙂
Eis o link para quem não viu, recomendo!:
http://www.youtube.com/watch?v=lBlqz0elTl4
Oi André,
E se mudarmos a equação: a Bolívia AJUDOU por décadas a coca-cola, fornecendo matéria prima de primeira qualidade?
Em uma relacao comercial, as duas partes de ajudam. Ningume faz nada obrigado.
Informações muito interessantes, não tinha ideia que a Coca-Cola ainda usasse tanta folha de coca assim para fazer o xarope! Já que você comentou, quais livros você pesquisou o assunto? Fiquei interessado na história do Pemberton. 1 abraço!
Cocaine – The Unauthorized Biography e Cocaine Nation. Estou sem os livros aqui, posso te passar os autores mais tarde.
175 toneladas de folha por ano pra tudo que é coca cola do mundo? Pouco. Vai dar 1cm quadrado de folha por um garrafão de 3 litros ou mais.
O dado consta de pelo menos dois livros que tenho. Lembrando que as folhas são usadas para o xarope.
Sem querer ser chato, mas esta notícia chegou a ser desmentida pelo governo boliviano e até mesmo por órgãos de imprensa eminentemente conservadores no Brasil…
http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/bolivia-expulsa-coca-cola-e-mcdonald-s-quebra-no-pais
http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/08/governo-nega-que-coca-cola-sera-expulsa-da-bolivia.html
Olha, estou fora de casa, a trabalho. escrevi este post há uma semana, quando a materia saiu, e deixei a publicação programada. Vou corrigir o texto, obrigado.
A Veja/globo são ” eminentemente conservadores”? rsrs Putz!!
A notícia realmente é verdadeira. Saiu semana passada e um dos motivos para a “expulsão” do refrigerante do país era a “preocupação com a vida dos bolivianos”, sendo que a bebida seria substituída por uma venda maior do mocochinche, que segundo eles, é bem mais saudável.
Lógico, esse chanceler depois de um tempo deve ter levado um puxão de orelha pelo que ele falou, igual quando a Marge percebe uma besteira feita pelo Homer e manda ele consertar.
Barça, que tal agora um post sobre a Pepsi? Pode to be?
Acabei de ver que eles voltaram atrás e que colocaram panos quentes na declaração do chanceler. De bobo ninguém tem nada, claro…
Uma das coisas mais estranhas que existem é a necessidade que alguns tem de beber água gaseificada com uma quantidade explosiva de açucar e sódio. Não faz nenhum bem, não mata a sede e, ao contrário, faz com que a pessoas queiram beber mais. Óbvio que faz um bem danado aos donos da Coca-Cola e similares.
Ponto para os bolivianos! Mas todo cuidado com a Pepsi e com a Dolly, ok Evo?
Também não entendo isso. Anos atrás, na Europa o almoço era regado a vinho. Hoje não sei como está, mas vinho, sim, é bebida decente para acompanhar a comida, não essas porcarias de refrigerante. Nesse campo o hábito do brasileiro é ruim… Inclusive vejo neguinho beber Coca no desjejum, seguida de pizza ou de salgadinho assado. Receita boa para morrer!
Mas alguém tem que decidir isso pelos que gostam de tomar refrigerante?
Aliás, você está usando fio dental, meu filho?Comeu legumes hoje?
É difícil Rafa, tudo o que brasileiro não gosta, acha que tem que proibir.