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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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O homem que ressuscitou Sherlock Holmes

Por Andre Barcinski
07/08/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando foi anunciado que os herdeiros de Arthur Conan Doyle (1859-1930) permitiriam pela primeira vez um “novo” livro de Sherlock Holmes, muita gente torceu o nariz. Não parecia uma boa idéia.

O escolhido para escrever o livro foi o inglês Anthony Horowitz, 57, famoso por sua série de livros juvenis com o personagem Alex Rider, um espião adolescente.

E não é que deu certo?

“A Casa de Seda”, o novo livro com Sherlock Holmes e que acaba de sair no Brasil, é uma ótima surpresa. Divertido e escrito com a ironia fina típica de Conan Doyle, o romance não fica nada a dever às melhores histórias de Holmes (veja minha matéria da Folha aqui).

“A Casa de Seda” traz Holmes e o Doutor Watson às voltas com um mistério envolvendo um colecionador de arte.

Fãs do detetive certamente vão gostar das muitas alusões que o novo livro faz a personagens e situações de outras histórias de Holmes.

Entrevistei Horowitz por e-mail. Aqui vai a íntegra.

 

Como foi seu primeiro contato com as obras de Conan Doyle?

Quando eu tinha 17 anos, ganhei a coleção completa dos romances e novelas curtas de Sherlock Holmes. Ainda tenho a edição. Lembro que me apaixonei pelo personagem e pelo mundo de Sherlock Holmes. Sempre quis ser um escritor, mas Holmes ajudou a me direcionar para a literatura de crime.

 

Quais foras suas primeiras impressões sobre os livros de Holmes? Você tinha um favorito?

Sempre gostei de maneira como as histórias se espalhavam por várias partes do mundo, da América e da Índia aos mais tranquilos subúrbios de Londres. Isso me inspirou, porque eu estava morando em um desses subúrbios na época. Meu romance predileto é “The Sign of Four” (“O Signo dos Quatro”). Entre as histórias curtas, minha predileta é “The Speckled Band” (“A Faixa Malhada”).

 

Como foi o contato dos herdeiros de Conan Doyle com você?

Eles me procuraram do nada, eu não imaginava que eles tinham a idéia de publicar um novo livro com o personagem. Só fiz uma exigência: que me deixassem em paz para criar a história, não queria discuti-la com ninguém. Queria fazer uma história nova e original, que não parecesse um mero pastiche ou homenagem.

 

Qual foi sua maior preocupação ao recebera tarefa de fazer um “novo” livro de Conan Doyle?

Para ser honesto, eu não tive grandes preocupações. Se eu me achasse incapaz de escrever o livro, não teria aceitado. Gosto demais do trabalho de Conan Doyle para correr o risco de estragá-lo. Acho que minha maior preocupação foi que o livro precisava ser original, ele tinha de viver e respirar no espírito de Conan Doyle.

 

É muito difícil emular o estilo de outro escritor?

Não achei difícil. Eu estava completamente inspirado pelo gênio de Conan Doyle, e o que ele forneceu é um presente para qualquer escritor: um mundo brilhantemente imaginado, personagens inesquecíveis e uma atmosfera incrível. A experiência toda foi muito boa.

 

Em uma entrevista recente, você disse que estava determinado a nunca receber uma carta de fã de Holmes dizendo: “Como você pôde escrever tal coisa?”. Você chegou a receber alguma carta assim?

Não. Felizmente, fãs de Holmes no Reino Unido e nos Estados Unidos têm adorado o livro. Algumas pessoas ficaram chateadas por eu ter mencionado (no prólogo) que Holmes estava morto. Em suas almas, o personagem nunca poderia ter morrido.

 

O livro faz várias alusões a outras histórias de Conan Doyle. Você faz muita pesquisa para escrever “A Casa de Seda”?

Bom, comecei por reler todas as histórias curtas e os quatro romances para lembrar porque eles eram tão bons. E sim, fiz anotações cuidadosas sobre eventos e personagens, para que pudesse utilizá-los em meu livro. Mas eu cresci lendo a literatura do século 19 e não precisei fazer muita pesquisa.

 

Você acha que o livro e as recentes adaptações de histórias de Sherlock Holmes para o cinema podem ajudar uma nova geração de leitores a descobrir o trabalho de Conan Doyle?

Sei que muitos leitores jovens que descobriram Holmes depois de ler “A Casa de Seda” começaram a ler os originais. Nada me dá mais prazer que isso.

 

Para terminar: existe algum outro escritor cujo legado você gostaria de continuar?

Bom, eu adoraria ter escrito algum romance de James Bond, mas ninguém me pediu até agora!

P.S.: Hoje estarei com acesso limitado à Internet. Caso o seu comentário demore a ser publicado, peço um pouco de paciência. Obrigado.

 

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Ela perdeu a prova, mas merece uma medalha

Por Andre Barcinski
06/08/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As Olimpíadas de Londres já proporcionaram vários momentos inesquecíveis: a vitória de Usain Bolt, o abraço do menininho em Andy Murray depois de este demolir Federer, Kirani James pedindo o número do biamputado Oscar Pistorius, e a vitória épica da dupla sueca na classe Star, no fim da última regata.

Outro momento marcante teve como protagonista uma atleta que não ganhou nada: a brasileira Rosângela Santos.

Rosângela fez o melhor tempo da carreira, mas não se classificou para a final dos 100 metros rasos.

Antes da prova, a emissora que transmitia a prova exibiu uma entrevista ao vivo com a mãe da atleta, em sua casa no Rio de Janeiro.

Assim que Rosângela soube que estava eliminada, caiu no choro. Estava transtornada. Quando a repórter disse à atleta que a emissora tinha um link ao vivo para a casa dela e perguntou se queria falar com a mãe, Rosângela balbuciou qualquer coisa e, chorando, fugiu correndo.

A reação de Rosângela foi tão inesperada que demorei um pouco a entender o que estava acontecendo. Afinal, estamos tão acostumados ao ritual das entrevistas pós-evento, que qualquer coisa que foge do roteiro causa espanto.

Botar um atleta para falar com os pais é garantia de drama. Se o atleta ganhou, todo mundo vai chorar; se perdeu, idem.

É hora de lembrar como foram difíceis os anos de treinamento e o quanto a família se sacrificou para permitir a fulano estar nas Olimpíadas. É o momento televisivo perfeito, cheio de suor e lágrimas.

Só para esclarecer: eu não acho que a emissora está errada. Se eu estivesse participando da transmissão, certamente faria o mesmo.

Mas acho fantástico quando alguma coisa sai do programado. Nessas horas, lembramos que são seres humanos ali na frente dos microfones, e não uns fantoches que obedecem a qualquer roteiro melodramático.

Outro momento bonito foi a entrevista do técnico da seleção de basquete feminino, Luís Claudio Tarallo, depois de o time ser eliminado de forma patética, com quatro derrotas nos quatro primeiros jogos.

Quando o comentarista perguntou se ele planejava convocar determinada jogadora para as Olimpíadas do Rio, em 2016, Tarallo disse: “Não sei nem se eu vou estar lá”.

Será que Rosângela e Tarallo foram tão espontâneos porque não estão acostumados a dar entrevistas e não conhecem o “script”? Alguém imagina Neymar ou Ronaldinho Gaúcho dando declarações assim?

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Santa chatice, Batman!

Por Andre Barcinski
03/08/12 07:05


 

Em sua crítica na “Folha”, Ricardo Calil disse quase tudo que eu gostaria de dizer sobre o novo filme de Batman, “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (veja a crítica de Calil aqui).

Para resumir: achei o filme chatíssimo e pomposo. Eu já não era grande fã de Christopher Nolan e agora não o suporto mais.

Os filmes de Nolan sempre duram o dobro do que deveriam, porque ele faz questão de criar diálogos e situações tão ridículos e supostamente intrincados, que os personagens passam metade do tempo explicando o que quiseram dizer na frase anterior.

Em agosto de 2010, escrevi sobre o pernóstico “A Origem”, também de Nolan:

“A Origem” tem uma trama elíptica, misteriosa e propícia a múltiplas interpretações, além de um universo de simbologia própria que mistura exploração metafísica e mergulho no subconsciente. Ótimo. Só que a história não anda.

A trama é tão complexa e cheia de desvios que os personagens passam a maior parte do tempo explicando o que vai acontecer na cena seguinte. Parece um manual de auto-ajuda metafísica. Depois da trigésima oitava vez em que Leonardo Di Caprio interrompe a ação para dar uma aula sobre invasão de sonhos, nossa paciência já acabou.

“O Cavaleiro das Trevas Ressurge” – até o nome é pretensioso, não? – sofre do mesmo mal. Em vez de se conformar em fazer um filme de ação divertido, Nolan quer tratar Batman como um personagem de Shakespeare. Menos, santa.

Ninguém aqui está defendendo filmes rasos, mas há um limite para a auto-indulgência.

Perdi a conta de quantos diálogos Nolan apimenta com música misteriosa e movimentos ousados de câmera, só para esconder o absoluto vazio do texto.

Um ponto que Calil deixou de lado, talvez por pena, foi a ruindade de Christian Bale.

O Bruce Wayne de Bale se diz “um bilionário excêntrico”, mas é só um mala sorumbático, que passa o tempo todo com cara de tonto, olhando para o horizonte e fazendo ares de melancolia. Mais ou menos como o público, assistindo a esta joça.

Com meia hora eu já tinha perdido todo o interesse na história, e só o decote da Anne Hathaway me tirava do estupor.

Mas podia ser pior: podia ser em 3D.

Já prevejo reações furibundas de morcegófilos e xiitas de gibis (“gibiitas”?). Normal: esta turma é mais instável e intolerante que membro de torcida organizada, e adora enxergar metáforas profundas em qualquer roteiro de quinta, contanto que fale da Batcaverna (Nossa, Bane invade a Bolsa de Valores! É Nolan atacando o sistema financeiro!).

Se você lê inglês, sugiro que gaste seu tempo de forma mais útil, saboreando a irretocável demolição que o rabugento Rex Reed fez do filme. Divertido demais. Clique aqui e aproveite.

P.S.: Até o meio da tarde, estarei sem acesso à Internet e, portanto, impossibilitado de moderar os comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, não fique nervoso, que logo ele aparece.

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Sem Gore Vidal, a polêmica agoniza

Por Andre Barcinski
02/08/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

Que época miserável, não? Nos últimos oito meses, perdemos Christopher Hitchens, Millôr, Aziz Ab’Saber, Ivan Lessa e agora Gore Vidal.

A essa hora, todo mundo já escreveu seu obituário de Vidal. Recomendo a cobertura da Folha, com diversas matérias e entrevistas interessantes.

Mais do que lamentar a morte do escritor, dramaturgo e polemista, que viveu 86 anos e teve bastante tempo para exibir sua inteligência e sua verve peçonhenta, queria levantar uma questão: quem está surgindo para substituir esses caras?

Não interessa se você gosta ou não dos livros de Gore Vidal, se curtiu o roteiro que ele escreveu para “Ben Hur”, se concorda com as posições políticas de Christopher Hitchens ou com a esnobada que Ivan Lessa sempre deu no Brasil. Não é esse o ponto.

O ponto é que estamos perdendo pessoas capazes de remar contra a maré, de dizer coisas sem a preocupação de agradar.

Hoje, a maioria dos comentaristas – de política, de cultura, de esportes, de tudo – parece viver enclausurada por uma irritante diplomacia, uma necessidade de não desagradar, de ser bonzinho, equilibrado e justo. E nada pior que alguém que se diz justo. São os piores.

Em vez de buscar o conflito e a polêmica, que é onde nascem as verdadeiras mudanças, estamos cada vez mais nos afundando num poço de cordialidade, bom mocismo, sorrisos amarelos e apertos de mão.

Pegue o exemplo dos próprios sujeitos que nos deixaram recentemente: nem eles concordavam uns com os outros.

Christopher Hitchens, que fora apontado por Gore Vidal como seu sucessor literário (e que disse ter recebido de Vidal, anos atrás, um conselho que seguiu por toda a vida: “Nunca perca uma chance de fazer sexo ou de aparecer na TV”), acabou escrevendo artigos furibundos desancando Vidal por suas opiniões sobre os atentados de 11 de setembro.

Vidal retribuiu, criticando o ex-pupilo por suas posições pró-Estados Unidos e retirando os elogios que havia feito a ele.

Isso se chama democracia. É um trabalho sujo e desagradável. Envolve brigas e discussões, envolve xingar pessoas que você admira, envolve a defesa de suas idéias até descobrir que elas estão erradas, quando então você se permite dizer o oposto do que disse antes.

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Alguém viu Jaz Coleman por aí?

Por Andre Barcinski
01/08/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

Jaz Coleman está sumido. De verdade.

O líder e vocalista do Killing Joke não é encontrado há semanas. Preocupados, seus companheiros de banda acabam de cancelar uma turnê com The Cult e The Mission, e dizem estar fazendo de tudo para encontrá-lo (veja aqui a matéria do Pitchfork sobre o sumiço).

Torço para que seja apenas mais uma das maluquices de Coleman e nada mais sério que isso.

Em 2010, quando ele foi condecorado pelo governo francês com a Medalha do Cavaleiro de Artes e Letras, publiquei aqui no blog uma entrevista antiga que havia feito com ele. Confira:

O ano: 1994. O Killing Joke acaba de reformar para alguns shows nos Estados Unidos. A banda estava lançando “Pandemonium”, seu primeiro disco em quatro anos, que marcava a volta do baixista original, Youth.

Na sede da gravadora, encontro o vocalista Jaz Coleman para uma entrevista. Na mesma noite, o grupo faria o primeiro show da turnê americana, no Ritz.

Quem já viu o Killing Joke ao vivo sabe que Coleman é uma presença e tanto. É um sujeito grande, fala alto, e ilustra cada frase com algum gesto de efeito.

Dizem que ele tem um QI quase sobrenatural. Aprendeu a tocar violino aos seis anos, ganhou prêmios como cantor de coros aos 10, e não ouviu rock até os 15. Segundo o próprio, estudou finanças na Suíça e hoje é  padre numa igreja na Nova Zelândia.

Nos anos 80, prevendo o apocalipse, Jaz abandonou a Inglaterra e se mudou para a Islândia, onde conheceu alguns locais que, reza a lenda, tentavam criar uma máquina para “filtrar a energia espiritual de multidões”. Algumas dessas pessoas estavam numa banda chamada Theyr, entre elas uma menina chamada Bjork.

Além de inventar o pós-punk e criar a trilha sonora para o fim do mundo com o Killing Joke, banda que influenciou todo o rock industrial e gótico, Coleman tem um trabalho vasto como compositor clássico e gravou diversos discos com orquestras tocando músicas de Led Zeppelin e The Doors.

Coleman está animado: “O show de hoje à noite será uma celebração. Vamos bater os tambores e conclamar os espíritos de nossos ancestrais para um ritual de purificação. Vamos nos purificar de todos os sons nocivos!”

“E o que você considera som nocivo, Sr. Coleman?”, perguntei.

“Ah, tudo que ouvimos por aí hoje em dia… especialmente o britpop!”

“Britpop? É verdade que você se mudou da Inglaterra para fugir do britpop?”

“Não, na verdade eu saí da Inglaterra há mais de dez anos, quando me mudei para a Islândia e depois para a Nova Zelândia. A Inglaterra não me interessa mais há muito tempo. Tem tanta coisa melhor em outras partes do mundo.”

“O que te levou à Islândia?”

“Eu era um estudioso do ocultismo e vivia tendo sonhos com uma ilha no fim do mundo. Cheguei à conclusão, junto com Geordi (guitarrista do Killing Joke), de que aquela ilha era a Islândia. Por isso fomos para lá.”

“E a Islândia era, de fato, a ilha de seus sonhos?”

“Acredito que sim. Muitas coisas boas aconteceram lá. Mas não dá pra dizer que o sonho era uma coisa literal. Hoje vejo o sonho mais como um chamado, que me incentivou a mudar de vida.”

P.S.: Está feia a coisa. Num dia, Chris Marker, no outro, Gore Vidal. Amanhã, prometo um post sobre Vidal , sua obra e frases marcantes.

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Morre Chris Marker, um dos grandes criadores do cinema

Por Andre Barcinski
31/07/12 07:05


 

Todo mundo lembra a primeira vez que viu “La Jetée”.  É um daqueles filmes inesquecíveis.

“La Jetée” foi feito em 1962, tem 28 minutos, é em preto e branco e construído quase que exclusivamente por fotografias. Não tem diálogos, apenas uma narração monocórdia.

Trata de sobreviventes da Terceira Guerra Mundial que vivem nos subterrâneos de Paris e são submetidos a experimentos com viagens no tempo. É uma das grandes obras-primas do cinema e inspirou “12 Macacos”, de Terry Gilliam.

O diretor de “La Jetée” é o francês Chris Marker. Marker morreu domingo, em Paris, no dia em que completava 91 anos.

Chris Marker foi um personagem tão estranho e fascinante quanto seus filmes. Nunca falava sobre seu passado, não dava entrevistas e não se deixava fotografar. Em 60 anos, fez mais de 70 filmes e escreveu mais de dez livros.

Costuma-se associar o nome de Marker ao cinema documental, mas a verdade é que mesmo seus filmes “temáticos” – sejam sobre a revolução cubana, Yves Montand, os movimentos de esquerda em 1968 ou a vida de Simone Signoret – superam o simples relato factual e enveredam por grandes ensaios poéticos.

Marker usa o documentário como ponto de partida para suas divagações. Talvez considerá-lo um “ensaísta” ou um “multimídia”, como fez seu amigo e admirador Alain Resnais, seja mais coerente.

“La Jetée” é lindo, mas meu filme predileto de Marker é “A.K.” (1985), sobre as filmagens de “Ran, de Akira Kurosawa.

É um documentário, mas não tem entrevistas de Kurosawa ou depoimentos de ninguém sobre o cineasta. Marker se posiciona como um mero observador, filmando Kurosawa , seus assistentes e técnicos trabalhando por trás das câmeras.

“A.K.” é um dos filmes mais bonitos já feitos sobre a arte de filmar. É um tributo de um grande diretor, Chris Marker, a outro, Akira Kurosawa. Vale por muitas aulas de cinema.

 


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Cole Porter ressuscitou

Por Andre Barcinski
30/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dia desses, recebi o flyer de um show imperdível. O texto dizia: “MC Diguinho – a maior revelação do funk brasileiro cantando seu grande sucesso, ‘Se Concentra e Senta’”.

Achei na Internet a letra da música. Veja um trecho:

 

Senta , senta , senta , senta,
Se concentra e senta se concentra e senta
Se concentra e senta se concentra e senta
Senta , senta , senta , senta,
Se concentra e senta se concentra e senta
Se concentra e senta se concentra e senta
Senta , senta , senta, senta

Qual seria o real significado desta canção?

Como toda grande criação artística, ela sugere múltiplas interpretações, vai além da semântica, é uma obra multidimensional e que levanta mais questões do que responde.

Seria “Se Concentra e Senta” um apelo de MC Diguinho aos jovens do Brasil, para que esses se dediquem aos estudos com mais afinco? Um protesto contra a evasão escolar?

É uma possibilidade.

A canção pode ser interpretada também como um sopro de vida, um facho de luz sobre almas que sofrem de um dos grandes males de nosso tempo: o Distúrbio de Déficit de Atenção.

Seria um relato autobiográfico?

Há uma terceira possibilidade, embora mais remota.

MC Diguinho pode estar utilizando “sentar” como sinônimo de copular, acasalar, estabelecer uma relação carnal.

Se isso se confirmar, a letra é um dos mais belos exemplos de humildade já visto no idioma português.

Imagine um criador que se acha tão pouco merecedor de afeto, que precisa implorar à amada que se concentre ao máximo para consumar o ato carnal?

Obrigado, MC Diguinho, onde você estiver.

P.S.: Amanhã, uma homenagem ao cineasta Chris Marker, 91, de “La Jetée”, que morreu domingo.

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Um filme inesquecível, para acabar com o seu domingo

Por Andre Barcinski
27/07/12 07:05


 

Peço desculpas antecipadamente por acabar com sua noite de domingo, mas não posso deixar de dar essa dica…

Na madrugada de domingo para segunda, 0h30, o GNT exibe o documentário “Dear Zachary: Um Caso Chocante” (“Dear Zachary: a Letter to a Son About His Father”), de Kurt Kuenne.

É um dos filmes mais tristes que já vi. Da primeira vez que assistimos, tivemos de parar umas quatro ou cinco vezes no meio, de tanto que minha mulher chorava. É arrasador.

O título original – “Uma carta para um filho a respeito de seu pai” – resume bem a coisa.

O diretor Kuenne era amigo pessoal de Andrew Bagby, um jovem enfermeiro, que foi morto pela própria esposa.

Depois que a assassina revela estar grávida de Andrew, Kuenne decide fazer um filme, uma espécie de relicário sobre o amigo, para que a criança possa conhecer mais sobre o pai.

Kuenne entrevista parentes e amigos, que colaboram com relatos emocionados sobre Andrew.

Aos poucos, o cineasta vai descobrindo detalhes da vida do amigo e de seu destino trágico.

Não vou contar mais nada, porque a história descamba para um desfecho tão chocante que parece mentira. Veja e comprove.

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Os embalos de sábado à tarde

Por Andre Barcinski
26/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

A história é sempre a mesma: você era “da noite” e curtia ficar até altas horas na esbórnia; depois teve filhos, trocou a noite pelo dia, e agora não sai mais, certo?

Minha amiga Claudia Assef, jornalista e autora de “Todo DJ Já Sambou”, livro fundamental sobre a história da dance musica nacional, teve uma idéia que periga resolver seu problema.

Sábado, 11 de agosto, estréia em São Paulo “Disco Baby”, uma festa de música eletrônica que pais e filhos – não, não vai tocar Legião – podem curtir juntos.

Nas palavras da própria Claudia:

“Disco Baby é a primeira matinê sensorial que integra música para dançar, brincadeiras e informação audiovisual. Na cabine, DJs do primeiro time (nacionais e internacionais) tocarão sua interpretação do som que faz a criança se mexer. Cada set é especialmente criado para a Disco Baby pelos DJs convidados e tem duração de 2 horas. Durante esse tempo, o DJ poderá tanto tocar músicas infantis, clássicos da disco music, house, hip hop, pop etc. dando a sua leitura de música para fazer criança dançar, sempre obedecendo aos padrões de volume recomendados pelo pediatra.”

O DJ convidado para a estréia do projeto é ninguém menos que Marky, ícone do drum’n’bass e pai de um menino de sete anos.

A festa acontece de 15h às 19h no Offset (R. Ferreira de Araújo, 589, Pinheiros, tel. 11-3097-9396), localizado em um espaço anexo à Chácara Santa Cecília.

Acho que tem tudo para dar certo. Afinal, a música brasileira feita para bebês está bombando. Está aí o “Tchu Tcha Tcha” que não me deixa mentir.

P.S.: Estarei com acesso limitado à Internet hoje e impossibilitado de moderar os comentários de forma ideal. Se o seu comentário demorar a ser publicado, não se chateie, que em algum momento do dia ele aparece. Obrigado.

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Cortar o cabelo é a maior diversão

Por Andre Barcinski
25/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A cada 15 dias, cumpro um ritual totalmente inútil: cortar o cabelo.

Por que alguém que não tem cabelo gasta dinheiro numa barbearia?

Se você conhecesse o Seu Valter, o barbeiro aqui do bairro, entenderia: cortar o cabelo com ele é uma terapia.

Em primeiro lugar, a barbearia é linda. Seu Valter diz que as cadeiras e os espelhos têm mais de cem anos. “Tem gringo que vem aqui só pra fotografar minha cadeira”.

O corte com máquina zero custa dez reais e não leva não de meia hora. Quer dizer, o corte leva cinco minutos, os outros 25 são dedicados às histórias do Seu Valter.

O sujeito tem o dom da palavra. Narra casos com a fluência de uma novela de rádio, entende a noção de pausa e tem um “timing” de comediante. É um verdadeiro artista.

Os temas giram sempre em torno dos vizinhos, que ele considera uns barnabés indignos de sua companhia.

Valter mora numa pequena vila de uma área rural, onde a luz só chegou há uns 10 anos.

Um dos últimos casos que ele contou envolvia uma vizinha que tinha comprado um laptop – “chinês”, segundo o Valter – e que “explodiu” depois que ela “usou um chip comprado num camelô”.

Outro caso estrambólico foi o de um conhecido que comprara um Fiat Palio muito bem conservado, “um chuchuzinho”, mas que não tinha dinheiro para fazer o seguro e, no primeiro passeio, atropelou um boi e deu perda total na caranga.

Semana passada, Seu Valter – que estava passando o diabo por causa de uma dor nas costas – relatou sua saga em busca de uma tomografia.

Disse que o atendente do SUS da cidade lhe deu duas opções: esperar oito meses por um exame num hospital da região ou pegar uma kombi da prefeitura e fazer o exame em Teresópolis, a 270 km de distância.

No dia seguinte, ele embarcou às 4 da manhã numa kombi lotada. Foi sentado ao lado de uma vizinha, que estava morrendo de medo de fazer a “tal da tomografia”.

Demoraram cinco horas para chegar a Teresópolis. A vizinha passou o tempo todo rezando e falando sozinha: “Ai, meu Deus, o que será essa tomografia? Dói?”

Segundo Valter, a vizinha estava tão nervosa que teve de ser carregada pelo pessoal da Kombi até a sala do exame.

A muito custo, conseguiram convencê-la a deitar na mesa do aparelho. Mas quando a mesa se moveu e a moça percebeu que ia ficar dentro do cilindro do tomógrafo, teve uma crise de nervos e começou a gritar. “Aí a máquina fez um barulhão e ela começou a chutar o aparelho por dentro”, disse Seu Valter, às gargalhadas.

“E o seu exame, Seu Valter, o que deu?”

“Eu tô f*dido. Tô com uma hérnia de disco do tamanho de uma manga. O médico disse que pode me operar, mas que só vai curar uns 40%. Eu disse pra ele que só aceitava 50% no mínimo, por 40% não vou entrar na faca nem f*dendo!”

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