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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Dez sugestões para melhorar nosso futebol

Por Andre Barcinski
24/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aproveitando a idéia da FIFA de colocar chip na bola para confirmar se ela entrou ou não, gostaria de sugerir dez mudanças que, na minha opinião, melhorariam bastante o nosso futebol.

São sugestões simples e que poderiam ser colocadas em prática imediatamente:

 

1 – Proibição de comemorações de gol para as câmeras

Todo jogador que fizesse coraçãozinho para a câmera e mandasse beijo para a esposa seria punido com um cartão amarelo. Qualquer dancinha seria punida com o vermelho.

 

2 – Restrição ao vocabulário dos jogadores nas entrevistas

Jogadores estariam proibidos de falar as seguintes palavras ou expressões: “expectativa”, “o grupo tá fechado”, “família”, “professor” e “se doando ao máximo”.

 

3 – Restrição ao vocabulário de comentaristas

Comentaristas seriam proibidos de falar as seguintes palavras ou expressões: “expectativa”, “conjunto”, “domínio territorial”, “qualidade no passe” e “qualificado”. Além disso, Marcio Guedes seria proibido de falar “Botafogo”, Renato Mauricio Prado de falar “Flamengo”, e Caio Ribeiro de dizer qualquer frase começando por “Eu já fui jogador, então…”

 

4 – Proibição do uso da expressão “Vocês sabem o quanto eu sofri esse ano”

A frase só seria permitida quando seguida da revelação do valor do salário do jogador. Exemplo: “Vocês sabem o quanto eu sofri esse ano. E eu ganho 130 mil por mês.”

 

5 – Proibição de elogios a times sabidamente horrorosos por adversários “diplomatas”

Ficariam proibidos depoimentos como “Eles estão em último lugar, com um empate e treze derrotas, mas nos deram muito trabalho. Tenho certeza que ainda vão dar muito trabalho.”

 

6 – Fim dos comentaristas de arbitragem

“O tira-teima mostra que Azeitona estava doze centímetros à frente do zagueiro Tonelada, portanto, impedido!”

 

7 – Fim do uso de “analisadores táticos”

Popularmente conhecido por aquele videogame que usam para explicar o posicionamento da zaga do Duque de Caxias ou do ataque do Íbis.

 

8 – Fim das entrevistas no campo

As emissoras acabariam com os repórteres de campo – que fazem sempre as mesmas perguntas e recebem as mesmas respostas – e usariam imagens de arquivo. Para o time que estiver perdendo, pode-se usar o arquivo “Vamos conversar com o professor no intervalo para tentar empatar o jogo” e, para quem estiver ganhando, “Não tem nada decidido, vamos falar com o professor para tentar manter o resultado”.

 

9 – Fim dos jogos às dez da noite

Chega de futebol em horário de boate. A TV que exiba o jogo com atraso, depois da novela ou do raio que o parta.

 

10 – Proibição da frase “Público baixo no Engenhão”

Virou pleonasmo. Cinco anos de público baixo no Engenhão já provaram que o problema não é o público, mas o Engenhão. Então parem de reclamar e só me acordem no dia em que aquilo encher.

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Já viu “13 Assassinos”?

Por Andre Barcinski
23/07/12 07:05


 

Que bom ver na tela grande um filme feito para a tela grande…

Falo de “13 Assassinos”, o filme de samurais que o japonês Takashi Miike lançou em 2010 e que finalmente aportou no Brasil (veja minha crítica na Folha aqui).

Miike é um dos cineastas mais extremos do cinema atual. Faz filmes ultraviolentos, cartunescos, exagerados, cheios de perversões sexuais bizarras, mutilações e todo tipo de barbarismo.

Ao mesmo tempo, é um cineasta criativo, capaz de inventar cenas impactantes e inesquecíveis.

“13 Assassinos” resgata o filme de samurai, gênero tornado popular nos anos 50 e 60 por Akira Kurosawa e outros diretores japoneses.

Kurosawa era fanático por faroestes, especialmente os de John Ford, por isso não é estranho notar como seus filmes parecem faroestes, com heróis existencialistas, grupos de mercenários enfrentando tropas numerosas e confrontos sangrentos em vilas poeirentas.

Assistir a “13 Assassinos” na tela grande de um cinema é uma experiência cada vez mais rara hoje em dia, quando o 3D, a ação frenética de filmes que mais parecem videogames e o assalto sensorial do barulho e efeitos sonoros tentam mascarar a péssima qualidade dos filmes de ação modernos.

Para quem gosta de filmes de samurai, aqui vai uma pequena lista de clássicos de Kurosawa – em ordem de preferência – que podem ser achados nas locadoras: “Trono Manchado de Sangue” (1957), “Os Sete Samurais” (1954), “Ran” (1985), “Yojimbo” (1961), “Sanjuro” (1962), “Kagemusha” (1980) e “Fortaleza Escondida” (1958). Não incluí “Rashomon” porque é mais um drama do que, propriamente, um filme de samurai.

E se alguém achar qualquer filme de Kihachi Okamoto, especialmente “A Espada da Maldição” (1966) ou “O Guerreiro Vermelho” (1969), pode alugar que valem muito a pena.

P.S.: Estarei com acesso limitado à Internet hoje e impossibilitado de moderar os comentários de forma ideal. Se o seu comentário demorar a ser publicado, não se chateie, que em algum momento do dia ele aparece. Obrigado.

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Desculpe, Jon Lord, não me leve a mal...

Por Andre Barcinski
20/07/12 07:05


 

A morte de Jon Lord me inspirou a fazer algo que não fazia há muito tempo: ouvir meus velhos discos do Deep Purple.

Tirei da estante “In Rock”, “Machine Head” e meu favorito, “Made in Japan”, o duplo ao vivo lançado em 1972.

Comprei “Made in Japan” lá por 82 ou 83. Meu vinil está inteiraço. Passou os últimos 30 anos descansando numa estante, protegido por um plástico, de onde saiu raramente.

A capa está autografada por todos os integrantes da banda – menos por Ritchie Blackmore, aquele mala, que se recusou a assinar.

Ouço o disco há dois ou três dias sem parar. É um LP fantástico e traz lembranças de uma época em que a música parecia ser a coisa mais importante do mundo.

Manja a tal escassez, que nos fazia valorizar mais as coisas? Em 1982, comprar um disco, especialmente um disco de rock estrangeiro, era um acontecimento.

A gente ia à Modern Sound, em Copacabana, ver que discos haviam chegado. Era uma disputa.

Voltando a “Made in Japan”: fiquei pensando por que estava há tanto tempo sem ouvir o disco. O que faz as pessoas abandonar vinis que significaram tanto para elas, em alguma época da vida?

A “culpa” é nossa, não do Deep Purple, claro.

Gostos mudam, pessoas envelhecem, estilos e tendências saem de nossa esfera de interesse. Mas a música continua lá, igualzinha, congelada no tempo.

Uma olhada rápida na estante revela outros discos abandonados: GBH, Martinho da Vila, Exploited, Bee Gees, Earth, Wind & Fire, Big Audio Dynamite, Fagner…

Todos discos maravilhosos e intocados há um tempão.

Talvez seja melhor assim: deixá-los de lado por um bom tempo e redescobri-los anos depois, seja pela partida de algum músico ou por alguma efeméride (e quem tem filhos pode sempre usá-los de desculpa para tirar os vinis da estante: “Ouve isso aqui pra ver o que é bom…”).

Espero que Jon Lord não fique chateado por ter ficado esquecido aqui na estante. Não foi por mal. Mas, às vezes, precisamos perder alguém para lembrar por que gostávamos tanto dele.

P.S.: Estarei com acesso limitado à Internet hoje e impossibilitado de moderar os comentários de forma ideal. Se o seu comentário demorar a ser publicado, não se chateie, que em algum momento do dia ele aparece. Obrigado.

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Todo jornalista deveria seguir Marx

Por Andre Barcinski
19/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há algumas semanas, fui convidado pela “Folha” para substituir temporariamente Inacio Araujo – que estava de férias – na coluna de filmes para TV.

Adorei a experiência. Foi um desafio tentar incluir o máximo possível de informações em textos curtos. Um ótimo exercício de síntese.

Cinco ou seis dias depois que publiquei a primeira coluna, recebi um e-mail da assessoria de imprensa de uma rede de TV. A assessora, simpática, pedia meu endereço para mandar “alguns brindes”.

Dois dias depois, chegou mais uma mensagem, de outra emissora. No dia seguinte, mais uma.

Aconteceu a mesma coisa quando passei a fazer uma coluna sobre restaurantes populares na “Folha”: começaram a pipocar convites para almoços de cortesia, degustações de vinho, “tours” por botecos, excursões patrocinadas por marcas de cerveja e participações em júris de prêmios gastronômicos.

Não, obrigado.

Não tenho nada contra as assessoras de imprensa. É o trabalho delas. Mas isso revela como o departamento de marketing das empresas vê os jornalistas: como “parceiros”, como amigos que merecem mimos – e pior, se impressionam com eles.

Isso não é novidade. Nos anos 70, as gravadoras brasileiras já contratavam jornalistas como “assessores” e “consultores” – e esses jornalistas não viam nada de errado em dar conselhos às empresas cujos discos teriam de resenhar.

Comecei a trabalhar em jornais no Rio de Janeiro, onde a promiscuidade entre o jornalístico e o privado sempre foi intensa.

Claro que estou falando de jornalismo cultural. Mas já trabalhei em editoria de Esportes, e é a mesma coisa. Nunca trabalhei em Brasília, mas tenho certeza que a proximidade com o poder e as estatais cria uma teia que une imprensa e poder.

Como fugir disso?

Há uma frase de Marx – Groucho, claro – que resume tudo sobre o assunto. É uma de suas frases mais batidas e surradas, mas atual como nunca: “Não quero entrar para nenhum clube que me aceite como membro”.

Se eu fosse reitor de uma faculdade de jornalismo, todas as salas de aula teriam esta frase emoldurada em cima da lousa. Seria o lema da escola.

Porque nada é pior para um jornalista que fazer parte de uma patota. É uma sentença de morte. Prefira sempre a solidão.

Algumas coisas que aprendi com bons chefes que tive: não faça parte de júris ou comissões. Não vá a premiações. Não vote em prêmios oferecidos por empresas. Não opine em editais.

Sentiu cheiro de “brodagem” no ar? Então fuja. Saia correndo dali sem olhar para trás. Não tenha medo de parecer antipático ou antissocial.

Veja bem, não tenho nada contra jornalistas que resolvem mudar de ramo. Tenho muitos amigos que foram jornalistas e hoje estão felizes em cargos públicos ou corporativos. Por sorte, todos – ou quase todos – entenderam que são coisas excludentes, que não dá para ser jornalista e, ao mesmo tempo, servir aos interesses do governo ou de uma empresa.

Quando comecei a trabalhar em jornal, cheguei a escrever alguns releases de discos para gravadoras.

Eu era novo, ganhava pouco, e a grana ajudava a pagar as contas. A princípio não vi nada de errado naquilo. Era algo que muita gente fazia. Tive até tive um chefe que fazia uma boquinha na prefeitura…

Por sorte, trabalhei com editores que me mostraram que aquilo era errado, antiético e comprometedor. Nunca mais fiz e me arrependo demais de ter feito.

Porque é fácil ser tragado para o “outro” lado – um lado de tapinhas nas costas, trocas de favores, viagens de graça, jantares de cortesia, encontros com celebridades e uma efêmera sensação de importância.

É bom para o ego. Mas péssimo para a profissão.

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Conseguirá Drummond superar Tiririca?

Por Andre Barcinski
18/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há alguns dias, um leitor me enviou o link do dite de um programa do SBT chamado “O Maior Brasileiro de Todos os Tempos” (veja aqui).

Diz o site:

Mais do que um programa de televisão, trata-se de um grandioso debate nacional capaz de mobilizar o país para responder a uma única pergunta: “Quem é o Maior Brasileiro de Todos os Tempos?”

Baseado no formato criado pela BBC, “The Greats”, o programa elege aquele que fez mais pela nação, que se destacou pelo seu legado à sociedade.

Diversos países já apontaram os seus maiores representantes. Na Inglaterra, Winston Churchill saiu vencedor. Os italianos elegeram Leonardo da Vinci. Nelson Mandela foi o mais votado na África do Sul. O mesmo prêmio dado à Salvador Allende no Chile e Charles de Gaulle na França.

Agora é a vez do Brasil!

“Agora é a vez do Brasil”. Isso é que dá medo.

O site traz o resultado parcial da votação popular, com os brasileiros colocados do 40º ao 100º lugar.

Tiririca está em 48º, à frente de Drummond (52º), Carlos Chagas (66º) e Prestes (76º).

Luan Santana (42º) trava uma batalha voto a voto com Machado de Assis (41º); enquanto Joelma, da Banda Calypso, se mantém em 83º, uma posição à frente de Chico Buarque.

Bem que o SBT poderia recorrer ao poder mediúnico de algum especialista e promover a entrega desses prêmios com a presença dos vencedores.

Fiquei imaginando um auditório lotado, com Raul Seixas (46º) sentado ao lado do Visconde de Mauá (45º) e Anderson Silva (90º) ombro a ombro com Tom Jobim (89º).

Imagine o coquetel pós-cerimônia, com o Marechal Rondon (70º) elogiando a atuação de Lua Blanco (71º) na novela “Rebelde”, Lampião (74º) babando com a forma física pós-bebê de Claudia Leitte (75º) e Roberto Justus (96º) trocando segredos sobre topetes com Itamar Franco (95º).

E que tal Tiririca tirando uma onda com Drummond? “Ô abestado, entre você e eu tem uma pedra no meio do caminho…”

Está aí um programa que eu gostaria de ver.

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A grita da "Granta"

Por Andre Barcinski
17/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

Quase ninguém leu, mas a coletânea “Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros” (Ed. Alfaguara), feita pela importante revista literária inglesa “Granta”, já está dando o que falar.

“Dando o que falar” é exagero. Como tudo que envolve literatura no Brasil, o assunto tem sido debatido intensamente por 13 ou 14 pessoas, no Twitter e em alguma mesa do Baixo Leblon ou da Mercearia São Pedro.

Desde que a “Granta” publicou sua seleção dos 20 escritores brasileiros com menos de 40 anos, a Internet – essa “cloaca de ressentimentos”, como bem definiu Carlos Heitor Cony – tem se agitado (veja a matéria da “Folha” aqui).

De um lado, ficaram os selecionados e seus amigos. De outro, os “excluídos”. O primeiro grupo acusa o segundo de ressentimento. O segundo reclama de supostas “panelas”.

Nem os jurados da “Granta” escaparam. Seus passados e afinidades foram vasculhados pelos Sherlock Holmes da web, com um afinco que nem a CPI tem usado nas investigações de Carlinhos Cachoeira.

“Fulano trabalhou seis meses na editora tal, então É CLARO que iria votar em sicrano, que publica pela editora.”

Alguns dos selecionados rebateram. Um deles chegou a postar, nos comentários do blog de Raquel Cozer, minha colega da “Folha”, um link com comentários elogiosos a seus livros (veja aqui).

Criou-se um cabo de guerra: ou o livro é desancado sem piedade por cronistas do Twitter ou louvado por críticos que mais parecem diplomatas.

Li uma resenha que dizia que todos os 20 contos eram “excelentes”. Como assim? Quem é o autor? Borges? Poe? Trevisan?

É impressionante como qualquer discussão por aqui vira um Fla x Flu. Ou você é tucano ou é petista, ou é privatista ou nacionalista, ou é novidadeiro ou nostálgico. Só existe o preto e o branco, e ai de quem gostar de cinza.

Esse tipo de briguinha só serve para mascarar um fato que, sozinho, já desqualificaria toda a discussão: no mundo real, este que se passa fora das telas dos computadores, quase ninguém se importa com literatura brasileira. Especialmente com a NOVA literatura brasileira.

Estamos num país onde o Veríssimo – O VERÍSSIMO – diz que não vive da venda de livros.

A cena literária brasileira é minúscula. Se um caminhão desgovernado errar uma curva na Vila Madalena e entrar na Mercearia São Pedro, leva metade dessa nova geração de escritores – e uns 70% de seus leitores.

É claro que a iniciativa da “Granta” é ótima. Só alguém muito ignorante ou muito ressentido pode criticar uma coletânea que pretende juntar novos nomes da literatura brasileira.

Aí surgem outras questões: a seleção foi correta? Foi honesta? Privilegiou os amigos de fulano? Eliminou os inimigos de sicrano?

Na verdade, quem se importa?

A coletânea da “Granta” não vai transformar nenhum escritor em gênio. Tampouco vai deslanchar a carreira de ninguém. Essa turma vai precisar ralar.

Da mesma forma, quem não foi publicado também não está condenado ao ostracismo e não deve ver a rejeição como uma sentença de morte ou ficar destilando suas mágoas por aí.

No fundo, isso revela um grande comodismo da tal “cena literária”. Porque ter uma carreira de escritor num país que não lê deve dar um trabalho dos diabos. Bem mais que ficar o dia inteiro xingando no Twitter.

E só para esclarecer: não sou amigo e nem inimigo de nenhum dos 20 selecionados, desejo boa sorte a todos, não inscrevi nada no concurso da “Granta” – até porque, felizmente, já passei dos 40 – e gastei meu suado dinheirinho – trinta e quatro reais e noventa centavos – para comprar o livro. Podem poupar os xingamentos no Twitter.

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Neville D'Almeida solta os cachorros

Por Andre Barcinski
16/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fui ao Rio entrevistar algumas pessoas para um projeto sobre os anos 1970.

Um dos entrevistados foi Neville D’Almeida, diretor de filmes como “A Dama do Lotação” (1977), “Os Sete Gatinhos” (1980) e “Rio Babilônia” (1982).

Neville estava de bom humor, mas foi só o assunto chegar ao cinema brasileiro atual, que isso mudou drasticamente.

O diretor, que está há mais de quatro anos tentando captar dinheiro para um filme inspirado em uma peça de Mario Bortolloto, soltou os bichos.

Confesso que nem precisei fazer muitas perguntas. Neville engatou uma quinta marcha e jogou um caminhão de lama no ventilador.

Tire as crianças da sala e confira as melhores partes:

“Eu vendi dez milhões de ingressos pro cinema brasileiro, fiz minha parte. Hoje só querem me punir, me desmerecer. Por causa dos meus filmes, dezenas de filmes brasileiros foram exibidos. Cansei de ver a Embrafilme dizendo: ‘Só te deixo passar ‘A Dama do Lotação’ se passar esses outros dez cus de touro que ninguém que ver’, era essa a política de distribuição na época. E aí, na esteira dos meus, passavam um monte de filmes de merda, alienados, falsificados, pseudocomunistas, pseudopolíticos, uns filmes falidos de um cinema político que, alguns anos depois, estavam totalmente superados…”

“A censura continua no Brasil, mas agora sob a forma dos patrocínios. Esses que controlam o cinema brasileiro, que eram os oprimidos, depois da Revolução passaram a ser opressores. Rolou – e rola até hoje – um patrulhamento contra o tipo de cinema que eu faço. É o preço da liberdade, e o preço do talento também. Só se vê por aí gente sem talento ou com pouco talento, ganhando premiozinhos. Tudo armação.”

“O Brasil tem mais de 150 festivais de cinema. É possível isso? É bom pro cinema brasileiro? Você quer ganhar dinheiro na cidade onde mora? É fácil: faz um festival de cinema! Convida o pessoal, pede um dinheirinho da prefeitura, um dinheirinho do Ministério da Cultura, pede pela Lei Rouanet. Esses festivais são dominados por famílias, são patriarcais, matriarcais, são feudais. Pergunto: se festival de cinema fosse mau negócio, haveria tantos por aí? Claro que não. Fazer festival com dinheiro dos outros é moleza: ‘Ai, vou a Nova York convidar um ator genial! Preciso ir a Paris convidar um ator amigo, o cara que me enrabou quando era garoto…’”

“Eu teria vergonha de fazer certos filmes que vejo por aí, de tão babacas. O cinema brasileiro hoje tem três vertentes: a primeira é aquela que quer copiar o cinema americano. A segunda – e maior – é aquela que só quer copiar novela da TV Globo. E a terceira é uma corrente voltada pro ego, mas um ego medíocre, de diretores que se metem a fazer o que não sabem (…) fazendo filmes sobre favela pra tentar expiar sua culpa.”

“Gosto do filme do José Padilha (“Tropa de Elite”), o sujeito fez um filme de grande comunicação com o público, durante seis meses não se falou em outra coisa no Brasil, achei genial.”

“Você quer fazer uma matéria bombástica, que vai ser capa de tudo quanto é jornal? É fácil: pega os últimos 20 anos do cinema brasileiro e faz uma lista de quem pegou mais, de quem ganhou mais editais. Você vai ver lá: L.C. Barreto – não sei quantos milhões – Paulo Thiago, Mariza Leão, não sei quem lá Meirelles, o Reichenbach…  Faz a lista de quem mama nas tetas do governo, da esquerda… aí você vai entender as comissões das autarquias federais, da Petrobrás, Eletrobrás, e vai ver que é tudo carta marcada, tudo dominado por pequenos grupos. O Brasil é assim.”

“Virou monumento a cultura brasileira? Ou nós estamos sustentando esses caras? Os caras acham que o governo tem obrigação de sustentar eles, pra fazerem mais filmes fracassados, pra ajudarem mais os filhos, as filhas, os namorados das filhas, os caras que comem eles, os caras que comem as mulheres deles, as mães deles.”

“Existe hoje uma estrutura de mamar nas tetas do governo, e com isso o Brasil criou uma estrutura de produção irresponsável. Os preços dos filmes, que deveriam baixar, dobraram. Hoje em dia, quando se produz um filme, ele não precisa dar certo, sai tudo pago. No Brasil é assim: você pede 3 milhões pra fazer um filme. Aí o filme sai e é um fracasso total. Daí, em vez de enfiar a viola no saco, o sujeito faz outro filme, só que dessa vez pede 6 milhões. Aí o filme fracassa de novo, mas ganha lá um prêmio qualquer num festival – porque você sabe que festival aqui é feito pra isso, né, tem mais prêmio que filme – e o que o sujeito faz o quê? Resolve fazer outro filme, só que dessa vez pede 11 milhões.”

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Locadoras têm filmaços; o difícil é achá-los

Por Andre Barcinski
13/07/12 07:05


 

Há cinco meses, fiz um texto sobre “Rampart”, um filme policial com Woody Harrelson, que o Oscar havia ignorado (leia o texto aqui).

Dia desses, um leitor me avisou que o filme tinha sido lançado no Brasil em DVD, com o titulo de “Um Tira Acima da Lei”. Aparentemente, os cinemas brasileiros também o ignoraram.

Não é o primeiro e nem será o último bom filme condenado a mofar nas prateleiras.

Assim como os lançamentos em salas de cinema, muitos filmes que saem em DVD não recebem a divulgação que mereciam. As distribuidoras concentram seus esforços nos “grandes” lançamentos, e esses filmes “menores” acabam passando batido.

“Rampart” é um desses títulos que só vai ser alugado se a locadora tiver funcionários espertos e que recomende o filme aos clientes.

As prateleiras estão cheias de jóias que tiveram pouca ou nenhuma vida nos cinemas.

Um caso recente é “O Abrigo”, outro filmaço sobre o qual escrevi (leia aqui) e que saiu direto em DVD.

Ou “A Promessa”, de Sean Penn, um dos melhores filmes norte-americanos dos últimos anos, com a mais corajosa atuação de Jack Nicholson em muito tempo.

Ou “Rio Congelado”, um drama assombroso sobre uma mulher (Melissa Leo, fantástica) que ganha a vida ajudando índios a cruzar ilegalmente a fronteira do estado de Nova York com o Canadá.

Ou, para finalizar, “O General”, de John Boorman, filmaço sobre um dos gângsteres mais conhecidos e carismáticos da Irlanda, com uma atuação sensacional de Brendan Gleeson.

Por isso, da próxima vez que você disser que não tem nada de bom para ver nas locadoras, sugiro procurar com um pouco mais de paciência. Você pode se surpreender.

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Ruy Castro: "Só escrevo sobre um morto depois que o cadáver vira pó"

Por Andre Barcinski
12/07/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

O melhor momento da FLIP de 2012, para mim, foi o debate com Ruy Castro na Casa Folha, que tive a sorte de mediar.

Achei as histórias do Ruy fantásticas. Gostei também de saber mais sobre o processo de pesquisa para seus livros e o rigor com que faz suas entrevistas.

Ruy Castro escreve livros de não-ficção de maneira simples, direta e agradável, sem o didatismo que caracteriza muitas obras biográficas.

Mesmo que você não se interesse pelas carreiras de Garrincha, Carmen Miranda ou Nelson Rodrigues – e acho que até um molusco se interessaria por eles – é possível apreciar os livros pelo drama de seus personagens.

O tema do debate era “jornalismo literário”. E Ruy já começou dizendo que não gosta muito da expressão: “Acho que existe jornalismo bem escrito e jornalismo mal escrito”.

Depois, deu várias cutucadas em Gay Talese, que considera mais “poseur” que jornalista, e lembrou cronistas como Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, que abrilhantavam as páginas dos jornais com textos que uniam informação e talento literário.

Ruy destrinchou seu método de pesquisa para livros: explicou por que se recusa a gravar entrevistas (“inibe o entrevistador”), falou da necessidade de se preparar muito bem para cada entrevista, pesquisando tudo sobre o entrevistado, e contou casos curiosos sobre como a sorte sempre lhe ajudou.

Lembrou um caso sobre a biografia de Garrincha, quando descobriu, depois de estudar as migrações indígenas brasileiras, que o craque era descendente dos índios fulniô, etnia que habitava Pernambuco e Alagoas.

Comentando o caso com um amigo, Ruy quase caiu para trás quando este disse: “Fulniô? Sou amigo do cacique!”

Gosto dos livros de Ruy Castro porque tratam os biografados como pessoas de carne e osso, falíveis e imperfeitas.  Não são livros “chapa branca”, como muitos por aí.

Ele contou que recusa vários convites para fazer biografias, quando sente que não terá liberdade para escrever a verdade ou quando o “timing” não é dos melhores.

Citou convites que recusou para fazer livros sobre Tom Jobim e Millôr Fernandes: “Quando alguém morre, imediatamente passa a não ter defeitos, vira uma pessoa perfeita”, disse Ruy. “É preciso esperar não só o cadáver esfriar, mas virar pó, antes de escrever sobre ele.”

No fim da conversa, Ruy disse que estava preparando um livro sobre como escrever biografias. Vou encomendar o meu.

P.S.: Quarta e quinta, estarei com acesso limitado à Internet. Por isso, a moderação dos comentários pode demorar. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas antecipadamente.

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Um encontro marcado com a Boca do Lixo

Por Andre Barcinski
11/07/12 07:05


 

Começou ontem e vai até 5 de agosto na Cinemateca Brasileira (São Paulo) a mostra “A Boca em Roterdã”, com uma seleção de filmes rodados na Boca do Lixo entre 1960 e 1980 e que foram exibidos este ano no Festival de Roterdã, na Holanda (veja a programação aqui).

É uma ótima oportunidade para conhecer um dos períodos mais interessantes – e pouco falados – do cinema brasileiro.

A Boca do Lixo fica no Centro de São Paulo, próximo à Estação da Luz. Desde os anos 20, muitas distribuidoras e produtoras de filmes se estabeleceram ali, por causa da proximidade da Luz e da antiga rodoviária, de onde os filmes eram enviados para todo o país.

A partir dos anos 60, a Boca começou a se firmar como um pólo de produção de filmes baratos e inventivos, que iam na contramão do cinema “oficial” bancado pelo INC e, posteriormente, pela Embrafilme.

Muitos jovens diretores, sem esperanças de obter financiamento do Estado, chegaram à Boca com o sonho de fazer cinema: Rogerio Sganzerla, Andrea Tonacci, Carlão Reichenbach, Jairo Ferreira, entre outros.

A esses, se juntaram cineastas mais tarimbados, como Ozualdo Candeias, Luis Sergio Person e José Mojica Marins.

A Boca era uma bagunça. O cinema da Boca era tão variado que fica difícil falar em um padrão estético comum.

Havia diretores geniais misturados a trambiqueiros; filmes maravilhosos lançados junto a porcarias. Havia faroestes, policiais, pornochanchadas, sátiras políticas, comédias, sexo explícito, tudo no mesmo balaio.

Mas na Boca havia uma grande liberdade criativa, certamente devido à ausência da mão do Estado.

Esta retrospectiva traz alguns grandes filmes. Recomendo “A Margem” (1967), o delírio surrealista de Candeias; “O Despertar da Besta” (1969), o maior filme de José Mojica Marins, verdadeira obra-prima da velhacaria e que faria Samuel Fuller orgulhoso.

Não dá para perder também “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), de Sganzerla, “O Pornógrafo” (1970), de João Callegaro, e “Lilian M – Relatório Confidencial” (1975), de Carlão Reichenbach.

Na verdade, vale a pena assistir a tudo. É tão raro ter chance de ver, na tela grande, os filmes de Jairo Ferreira, João Silvério Trevisan e Alfredo Sternheim, que esta mostra torna-se imperdível.

P.S.: Quarta e quinta, estarei com acesso limitado à Internet. Por isso, a moderação dos comentários pode demorar. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas.

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