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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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O melhor blog do mundo

Por Andre Barcinski
30/04/12 07:34

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Já virou obsessão. Toda noite, a última coisa que faço antes de dormir é ligar o Ipad e dar uma olhada no que o Dangerous Minds aprontou. É o melhor blog do mundo. Quem conhecer algum melhor, por favor, avise.

Não sou do tipo que vive fuçando a web atrás de coisas legais, e demorei bastante para conhecer o Dangerous Minds. Foram alguns leitores que deram a dica, há cerca de um ano. Desde então, não consigo parar de ler.

O blog é uma espécie de coletânea de tudo que existe de mais legal e estranho. Fala principalmente de música e cinema, sempre com um viés alternativo, e centrado em artistas dos anos 80 e 90.

Não espere achar lá a última banda hypada de Liechtenstein. Em compensação, se você quiser ver um show completo dos Smiths em 1983, uma foto de Siouxsie Sioux tomando banho de mar aos 18 anos de idade ou uma entrevista de William Friedkin com Fritz Lang, ali é seu lugar.

A idéia do blog é simples: todo dia, eles varrem a web atrás dos vídeos mais inusitados, das imagens mais incríveis e das notícias mais curiosas, e juntam tudo de uma maneira atraente e fácil de ler.

O mentor do Dangerous Minds, o autor e apresentador de TV Richard Metzger, deu uma entrevista à revista “New Yorker” em que contou que a idéia do blog surgiu quando ele percebeu que poderia fazer um programa de TV inteiro usando apenas vídeos do Youtube. “A gente não precisaria criar nada, bastaria agir como ‘curadores’, escolhendo os vídeos mais legais.”

E os caras têm um tremendo bom gosto: posts recentes falaram de Gun Club, Kraftwerk, Kenneth Anger, Psychedelic Furs, e de uma rara entrevista de Malcolm X à TV americana.

Mas o que realmente me entusiasmou foi uma inacreditável foto de Poison Ivy e Lux Interior, do Cramps, no início dos anos 70, com visual hippie e tudo. Demais.

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Ouvir Mister Catra dá saudade do Dicró

Por Andre Barcinski
27/04/12 07:22


Ontem foi um dia triste para o samba.

Morreu Dicró, ou Carlos Roberto de Oliveira, autoproclamado “prefeito do Piscinão de Ramos” e um dos letristas mais engraçados que o Brasil já conheceu.

Dicró era uma figuraça. Encarnava o malandro suburbano carioca, sempre com uma piada na ponta da língua. Gostava de esculhambar políticos, sogras e maridos traídos, e sabia rir da própria desgraça.

Prova disso foi “Os Três Malandros in Concert”, disco que gravou em 1995 com Bezerra da Silva e Moreira da Silva.

Era uma sátira aos “Três Tenores” – Luciano Pavarotti, Placido Domingo e José Carreras – que lembrava o tom debochado com que as chanchadas de Oscarito e Grande Otelo parodiavam as superproduções hollywoodianas dos anos 50.

“Eles são ricos e bonitos, mas nós também temos nosso charme”, pareciam dizer Dicró, Moreira e Bezerra.

Hoje, as letras de Dicró soam até ingênuas. Uma das melhores é “Vou Botar Minha Nega no Seguro”: “Se um vagabundo levar você, nega / O seguro paga / Se o Ricardão aparecer, nega / O seguro paga / É, mas se você desaparecer, nega / O seguro paga porque / O seguro é seguro, você vacilando eu não fico duro”.

Pouco depois de ler sobre a morte de Dicró, recebi um link enviado por um amigo. “Cole Porter ressuscitou”, era o título da mensagem.

O link trazia a nova composição de Valesca Popozuda e Mister Catra, um “pagode romântico”, com violão e coral, chamado “Mama” (se você tiver pelo menos 18 anos, clique aqui para ouvir a obra-prima).

Deu uma saudade danada da ingenuidade do Dicró.

Sob o risco de soar injusto, pergunto: não dá para fazer um paralelo entre Dicró e Mister Catra?

Não estou comparando a qualidade artística dos dois, até porque Dicró, perto do Mister Catra, parece o Cartola.

Meu ponto é: as novas gerações podem muito bem achar Mister Catra um artista “divertido” e “malandro”, assim como Dicró foi para as gerações anteriores.

A questão é: o que vem depois de Mister Catra?

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Filme celebra Corman, rebelde do cinema

Por Andre Barcinski
26/04/12 07:10


Se você gosta de filmes B e quer conhecer uma das figuras mais intrigantes do cinema dos últimos 60 anos, precisa ver “Corman’s World – Exploits of a Hollywood Rebel”, um documentário sobre o produtor e diretor Roger Corman.

Corman tem 86 anos e já dirigiu e produziu mais de 300 filmes. Foi um dos grandes rebeldes do cinema. Nos anos 50, desafiou o monopólio dos grandes estúdios e fez seus próprios filmes, todos baratos e muito lucrativos.

Foi Corman quem deu o primeiro emprego a talentos como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Jack Nicholson, Peter Fonda, Bruce Dern, Robert De Niro, Peter Bogdanovich, James Cameron, Jonathan Demme, Monte Hellman e dezenas de outros.

Conhecido tanto por sua avareza quanto por sua capacidade de fazer filmes que parecem ter custado muitas vezes seu orçamento real, Corman sempre viveu à margem de Hollywood.

Conheci bem Corman. No fim dos anos 90, ajudei a organizar retrospectivas dele em São Paulo e Rio, e o acompanhei durante uma semana no Brasil. O homem é uma fonte inesgotável de histórias divertidas.

Se você lê em inglês, recomendo “How I Made a Hundred Movies in Hollywood and Never Lost a Dime”, a autobiografia que ele lançou em 1998.

O título – em tradução literal, “Como Fiz Cem Filmes em Hollywood e Nunca Perdi Um Centavo” – é mentiroso: Corman já perdeu dinheiro em um filme, um drama sobre racismo chamado “The Intruder” (1962), estrelado por William Shatner.

Curiosamente, é um de seus melhores filmes. “Foi o único filme que eu fiz pensando mais em mim do que no público”, disse Corman. “Nunca cometi o erro de novo.”

Uma das melhores histórias do livro é a da filmagem de “Atlas”, um épico que Corman decidiu fazer na Grécia, em 1961, aproveitando a popularidade dos filmes de Hércules.

Ele pediu ao produtor local 500 figurantes para rodar uma cena de batalha. Mas o sujeito só trouxe 50. Quando percebeu, Corman mudou o roteiro para incluir um diálogo em que um centurião se dirigia aos soldados: “Homens, mesmo em número pequeno, vamos invadir a cidade. Cada um de vocês terá de lutar por dez!”

Espero que alguém lance o documentário no Brasil ou que alguma TV o exiba. Se isso não rolar, a solução é o bom e velho Cine Torrent, onde o filme já está disponível.

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Corra que o Abel Ferrara está aqui!

Por Andre Barcinski
25/04/12 07:00


Se eu estivesse em São Paulo, já estaria na fila para o debate com o cineasta Abel Ferrara no CCBB, que começa às 13h. Chance raríssima de conhecer um dos autores mais interessantes do cinema das últimas duas décadas.

O CCBB inicia hoje uma mostra completa dos filmes de Ferrara. A retrospectiva, que já passou por Rio e Brasília, vai até 6 de maio (veja a programação aqui).

Tirando um ou outro filme que Ferrara fez sob encomenda para estúdios, como “Olhos de Serpente”, todos os filmes que vi dele são memoráveis.

Mesmo quando erra – ou exagera, o que faz com freqüência – Ferrara sempre demonstra uma visão pessoal e única do cinema.

Se Woody Allen ficou famoso por mostrar o lado cool de Nova York e sua boemia intelectual, Ferrara focou num aspecto mais perverso e sombrio da cidade.

Ele cresceu no Bronx, e logo se enturmou com a cena de cinema marginal de Nova York.  Fez filmes pornôs – e, ao que parece, atuou em alguns deles (por favor, alguém pergunte isso para ele, ok?) – e uma série de curtas alternativos, que também estão na mostra.

Trabalhou também em TV, dirigindo episódios da série “Miami Vice” para Michael Mann.

Mas foi nos anos 90 que Ferrara encontrou sua “voz”, com uma série de filmes notáveis.

Eu não perderia “O Rei de Nova York”, sua versão de “O Poderoso Chefão”, com Christopher Walken no papel de um gângster, e um elenco matador que inclui Laurence Fishburne, Wesley Snipes, Victor Argo e David Caruso.

Outra jóia é “Vício Frenético” (1992), com Harvey Keitel no papel de um policial barra pesada que vai ao inferno durante a investigação de um crime bárbaro envolvendo uma freira.

Se Scorsese e seu “Taxi Driver” pintaram um quadro cinza da paranóia nova-iorquina no pós-Vietnã, “Vício Frenético” explora os subterrâneos da cidade na era do crack. É a maior atuação de Keitel e uma das experiências mais intensas que alguém pode ter num cinema. Vê-lo em 35 mm é um programa imperdível.

Outros destaques são “The Addiction” (1995), um filme urbano de vampiros, fotografado num preto e branco Expressionista, e “Os Chefões” (1996), história de três irmãos mafiosos dos anos 30, com Christopher Walken, Vincent Gallo e Chris Penn.

Tenho muita curiosidade para ver dois documentários recentes de Ferrara, “Chelsea on the Rocks”, sobre o mitológico Chelsea Hotel, e “Napoli, Napoli, Napoli”, sua visão sobre a cidade italiana.

A mostra é uma grande pedida para quem gosta de filmes fora do padrão comercial. Abel Ferrara é o que há.

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Sexo, drogas e mentiras: a saga de J.T. Leroy

Por Andre Barcinski
24/04/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

E o “verdadeiro” J.T. Leroy finalmente chegou ao Brasil.

Nesse fim de semana, Laura Albert, a autora dos livros assinados com o pseudônimo J.T. Leroy e que por anos enganou meio mundo, incluindo celebridades como Madonna e Lou Reed, esteve em Brasília para a Bienal do Livro. Albert irá também ao Rio, onde verá uma peça inspirada em seu personagem (veja matéria que publiquei na Folha aqui).

Para quem não conhece a história de J.T. Leroy, aqui vai um resumo de um dos maiores escândalos literários dos últimos tempos:

Por dez anos, J.T. Leroy, um adolescente travestido e viciado em drogas, cuja mãe o forçara a se prostituir em paradas de caminhoneiros, fez sucesso com relatos crus e pesados sobre sua vida.

Seu primeiro romance, “Sarah” (1999), recebeu ótimas críticas e caiu no gosto de celebridades. Courtney Love declarou seu amor pelo livro. Shirley Manson, da banda Garbage, fez uma música para J.T., “Cherry Lips”. Wynona Ryder e Mattew Modine participaram de leituras públicas do livro. Gus Van Sant encomendou a J.T. um roteiro, “Elefante”.

O segundo livro de J.T., “The Heart is Deceitful Above all Things” (no Brasil, “Maldito Coração”), virou um filme, dirigido por Asia Argento e com participações de Peter Fonda, Ben Foster e Wynona Ryder.

Em 2006, a bomba: J.T. Leroy não existia. Ou melhor: existia só como obra de ficção, saída da cabeça de Laura Albert, uma operadora de telessexo, cantora de punk rock e escritora de pouco sucesso, que não só inventou o personagem como passou a “interpretá-lo” em conversas telefônicas, mantidas com várias pessoas ao longo de anos.

Quando a demanda por aparições públicas de J.T. cresceu, Albert convenceu a jovem Savannah Knoop, irmã de seu namorado, a usar uma peruca e encarnar o adolescente escritor. O autor-fantasma ganhou um rosto. A própria Laura costumava acompanhar Savannah a eventos, fingindo-se de uma “assessora” de J.T..

Depois que jornais descobriram que J.T. Leroy era uma farsa, a vida de Laura Albert entrou em parafuso. Ela brigou com Savannah e se separou do companheiro de muitos anos, Geoffrey Knoop, um músico com quem tinha um filho e que também teve participação ativa na criação de J.T. Leroy.

Agora, Laura Albert está relançando no Brasil, pela Geração Editorial, seus dois primeiros livros, “Sarah” e “Maldito Coração”, pela primeira vez com seu próprio nome.

Falei com Laura Albert pelo telefone. Aqui vai o papo:

– Como você se sente finalmente lançando os livros sob seu nome, e não de J.T. Leroy?

– Estou muito ansiosa. O Brasil é o primeiro lugar onde vou falar sobre os livros. Espero que as pessoas vejam os livros pelo que eles são, e não pelo que a mídia os tornou. Recebo muitas cartas do Brasil, de pessoas que se emocionaram e foram tocadas por meus livros. Minha maior esperança é que as pessoas agora avaliem os livros pela qualidade do texto, e não pelo escândalo que eles causaram.

 

– Sim, mas foi você mesma que causou o escândalo, ao inventar o personagem e fingir que ele existia de verdade.

– Mas eu sempre disse que os livros eram obras de ficção. J.T. foi só uma voz que eu inventei.

 

– Claro, muita gente já escreveu com pseudônimos, isso é normal. Mas o que você fez foi diferente, não?

– J.T. não foi uma farsa. Prefiro vê-lo como um véu, um disfarce que usei para poder falar de coisas que me atormentavam e que eu não conseguia pôr no papel enquanto Laura Albert. É como dizia Oscar Wilde: “Dê ao homem uma máscara, e ele lhe dirá a verdade”.

 

– Por anos, você falou ao telefone como se fosse J.T., inclusive mantendo amizades longas com muitas pessoas que admiravam os livros. Você acha que sofre de dupla personalidade?

– Acho que meu caso transcende a dupla personalidade. Foi um novo tipo de desordem, que não consigo definir. Desde pequena eu uso a mentira como um escudo, uma defesa. Era uma maneira de eu me proteger contra as coisas que me magoavam. Eu costumava ligar para serviços de apoio psiquiátrico e inventava personagens, dizia ser um rapaz do sul (dos Estados Unidos), ou uma junkie…

 

– E você inventava vozes para cada um desses personagens?

– Sim, sempre tive facilidade para isso. Mas uma coisa que preciso deixar bem claro é que as histórias que coloquei nos livros de J.T. são verdadeiras, são coisas que presenciei ou que ouvi falar durante minhas internações (Laura diz ter sido internada incontáveis vezes, desde a adolescência, em clínicas psiquiátricas).

 

– J.T. já veio ao Brasil (em 2005). Você não veio?

– Não. J.T. (ela quer dizer Savannah Knoop) foi. Eu fiquei arrasada, queria muito ter ido.

 

– Você não sentia que estava enganando as pessoas quando falava com elas ao telefone, interpretando J.T.?

– Nunca. Eu realmente era J.T. Era como se eu falasse por ele.

 

– É verdade que algumas pessoas já sabiam que você era J.T. bem antes do caso ser descoberto?

– Sim. Billy Corgan sabia, por exemplo. Ele mantinha amizade tanto comigo, enquanto assessora de J.T., quanto com o próprio J.T…

 

– Você está dizendo que conversava pessoalmente com Corgan, no papel da “assessora”, e por telefone, interpretando J.T.?

– Sim. Mas eu logo contei a Billy a verdade. Ele foi a pessoa mais doce e compreensiva que já conheci. Um anjo. Ele entendeu a situação de cara e não se magoou. Pelo contrário. Ele também vem de uma situação familiar complicada e disse que me entendia perfeitamente. É um dos meus melhores amigos e me deu muita força.

 

– Como está seu relacionamento com Savannah?

– Nós éramos muito próximas, mas a situação toda nos separou. Sabe, foi muito difícil para Savannah. Num dia ela estava no tapete vermelho em Cannes, ao lado de Angelina Jolie, e no outro estava trabalhando de garçonete. Não é qualquer um que suporta isso. Ela pirou. Savannah realmente se ligou ao perasonagem. Ela até mudou fisicamente, parou de menstruar, seus seios diminuíram…

 

– Você foi muito ligada à cena punk californiana, não?

– Sim, muito. Tive várias bandas, conheço todo mundo. (no dia seguinte, Laura me manda esta foto, em que aparece, à direita, ao lado de Jello Biafra, Henry Rollins e Penelope Houston, da banda The Avengers):

 

 

 

 

 

 

 

– Quais seus planos para o futuro? Pretende sepultar de vez J.T. Leroy?

– Estou trabalhando com Jeff Feurzeig (diretor de um ótimo filme sobre o perturbado músico Daniel Johnston) em um documentário sobre J.T.. Quero contar tudo: minha infância, as muitas internações por que passei em clínicas, minha história no punk rock. Quero passar essa história a limpo.

 

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Metal Open Air foi um caos, mas não culpem o Nordeste

Por Andre Barcinski
23/04/12 07:11

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nesse fim de semana, o Brasil recebeu shows de Paul McCartney e Bob Dylan.

Mas o concerto mais memorável, aquele que será lembrado até o fim dos tempos, foi o Metal Open Air, o festival de heavy metal em São Luís do Maranhão.

O evento foi um caos: a estrutura era ridícula, quase todas as bandas cancelaram, e o terceiro dia de shows –  domingo – nem rolou.

Juro que não lembro ter visto imagens tão degradantes quanto os headbangers acampando dentro de um estábulo ou tomando banho em um bebedouro de gado. Ninguém merece passar por uma humilhação dessas.

Não estava no Maranhão e não sei dizer exatamente que problemas aconteceram com a produção. Mas só o fato de os produtores não oferecerem a devolução de ingressos já pressupõe má-fé.

Num evento problemático e cheio de cancelamentos de artistas, a primeira coisa que um produtor sério faz é devolver o dinheiro dos ingressos.  E não li em nenhum lugar os produtores se prontificando a isso. Uma vergonha.

Tão chato quanto isso é ler, nas redes sociais, coisas do tipo “Isso que dá fazer evento no Nordeste” ou “Por que não fizeram em São Paulo?”.

Isso demonstra não só preconceito, mas burrice.

Todos os Estados do Nordeste organizam festas para milhões de pessoas, como Carnaval, São João, etc. Fazer festival de metal é fichinha perto disso.

Para refrescar a memória de alguns, gostaria de lembrar dois eventos aqui no “Sul Maravilha” que foram tão ruins ou piores que o Metal Open Air.

Alguém lembra do Madame Satã Fest, em 2009?

O evento, batizado em homenagem à famosa casa noturna paulistana, prometeu trazer Nitzer Ebb, Christian Death, New Model Army e trocentos outros artistas.

Os promotores venderam um monte de ingressos, depois cancelaram o show e não deram a menor satisfação para ninguém. Tenho amigos que ainda guardam os ingressos em casa.

Mas a melhor história é a da festa de música eletrônica Delírio, que rolava no Rio de Janeiro.

Há uns seis ou sete anos, um produtor israelense chamado Shai chegou matando na cena eletrônica carioca, com festas bem produzidas e grandes atrações internacionais. O cara não saía das colunas sociais.

Um dia, a Delírio programou uma megafesta no Pão de Açúcar.

No meio da festa, Shai passou nos caixas, pegou o dinheiro e se pirulitou. Ninguém mais viu o sujeito. Escafedeu-se. Deixou todos os sócios e funcionários chupando o dedo e tendo de lidar com incontáveis fornecedores enfurecidos.

O curioso é que o público nem soube disso. Para quem estava lá, a festa rolou normalmente.

Não foi o caso do Metal Open Air. O público que foi ao Maranhão sentiu na pele a incompetência dos produtores. Mas a má-fé foi a mesma.

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Como não entrevistar Abel Ferrara

Por Andre Barcinski
20/04/12 07:15


Nova York, 1996. Saio do cinema desnorteado. Acabo de ver “O Funeral”, de Abel Ferrara. É sua terceira obra-prima em sete anos, depois de “O Rei de Nova York” (1990) e “Vício Frenético” (1992).

Nesse tempo, Ferrara dirigiu também o ótimo “The Addiction”,um filme de vampiros com Lily Taylor e Christopher Walken, e dois filmes de estúdio – todo mundo precisa de grana, certo? – o bom “Body Snatchers” e o péssimo “Dangerous Game”, este com Madonna.

“O Funeral” é um drama sobre uma família de gângsteres de Nova York nos anos 30. O elenco é coisa de louco: Christopher Walken (colaborador freqüente de Ferrara), Vincent Gallo, Chris Penn, Isabella Rosselini, Annabella Sciorra e Benicio Del Toro.

Se ainda não viu, sugiro correr à locadora mais próxima.

Fiquei tão impressionado com o filme que decidi entrevistar Ferrara. Na minha opinião, nenhum diretor americano tinha chegado perto do que ele havia feito na primeira metade dos anos 90.

Liguei para a distribuidora de “O Funeral” e falei com um assessor de imprensa.

“Tem certeza que quer falar com ele?”, respondeu o sujeito.

Eu já sabia da fama de alucinado de Ferrara. Já tinha lido sobre as filmagens à “Scarface” de “O Rei de Nova York”, e da “pesquisa de campo” que ele e Harvey Keitel haviam feito para o papel do policial mais barra pesada do mundo em “Vício Frenético”.

“Ok, só espero que ele esteja num bom dia”, disse o assessor.

A entrevista foi marcada para o bar de um hotel em Nova York, onde Ferrara estava hospedado.

Cheguei na hora marcada. Nada do homem. Esperei meia hora, fui à recepção e pedi para falar com o quarto. Ferrara atendeu. Parecia não lembrar da entrevista. “Me dá dez minutos, já desço”.

Meia hora, e nada. Liguei de novo.

“Você se importa de fazer a entrevista pelo telefone? Não estou me sentindo bem para descer agora”, disse o diretor.

“Não tem problema. Podemos fazer agora?” perguntei.

“Preciso fazer uma coisa, me liga em cinco minutos.”

Cinco minutos depois, liguei de novo para o quarto. Ele demorou, mas atendeu. Ouvi claramente o barulho de uma tragada num cachimbo.

“Shhhhhhhhhhh…… Quem é?”

“É o repórter, estou ligando para a entrevista…”

“Entrevista? Agora? What the fuck???”

“Sim, mas prometo que vai ser rápida. Podemos falar de ‘O Funeral’?”

“Shhhhhhhhhhhhhhh…. (longo suspiro…) Sim, ‘O Funeral’… é meu filme…. Shhhhhhhh…..”

“Sim, eu sei que é seu filme. Estou ligando por causa dele. É seu terceiro filme com Christopher Walken em seis anos, certo?”

“O quê? Do que você está falando? Espera um pouco… Shhhhhhhhhh…. (longuíssimo suspiro) Quem é?”

“É o repórter. Você prefere que eu ligue depois?”

“Olha, fala com meu assistente… Marca com ele, ok? Preciso fazer alguma coisa agora… Shhhhhhh… Ahhhh….”

A entrevista, claro, nunca aconteceu.

Nunca tive a chance de perguntar como ele conseguiu juntar Christopher Walken, Wesley Snipes, David Caruso, Laurence Fishburne, Victor Argo e Steve Buscemi para o elenco de “O Rei de Nova York”.

Ou de descobrir como ele arrancou a melhor interpretação da vida de Harvey Keitel em “Vício Frenético”.

E nunca consegui tirar a minha cisma de que Christopher Walken estava imitando Zé do Caixão em “The Addiction”.

Um bom tempo depois, lendo um perfil do ator Vincent Gallo, dei de cara com a seguinte declaração de Abel Ferrara:

“Vincent é o melhor ator com quem já trabalhei. Ele faz um diretor amador como eu parecer um profissional. Queria não ter fumado tanto crack durante as filmagens de ‘O Funeral’, quem sabe eu poderia ter saído do meu trailer imundo de vez em quando e ver algumas cenas sendo rodadas. Mas ouvi dizer que Vincent estava ótimo no filme. Depois que eu sair do ‘rehab’, espero conseguir assistir a meus filmes.”

P.S.: O CCBB-RJ está no meio de uma retrospectiva de Ferrara, que vai até o dia 22. E a mostra está também em Brasília, até o dia 29, e começa em São Paulo, semana que vem. Eu não perderia…

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A primeira perda a gente nunca esquece

Por Andre Barcinski
19/04/12 07:15

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quem tem filho pequeno sabe que, um dia, virão as inevitáveis perguntas: “Como é que eu nasci?”, “Como o bebê entrou na barriga da moça?”, etc.

Dia desses, minha filha de quatro anos chegou com uma nova: “Papai, como é que a gente morre?”

Tudo começou quando um coleguinha da escola comentou que iria receber a visita do bisavô. Ela, que só tem bisavós, perguntou por que não tinha nenhum bisavô.

Nós explicamos que os bisavôs dela já eram bem velhinhos e tinham morrido. Ela ficou fascinada: “Então todo velhinho morre?”

Tentamos explicar: “A gente nasce, cresce, vive uma vida inteira, bem longa, depois fica bem velhinho. E quando a gente está bem velhinho, mas bem velhinho mesmo, chega a hora de descansar. Daí, a gente morre.”

Agora, todo idoso que ela vê na rua, pergunta: “E aquele velhinho ali, vai morrer logo?”

Há alguns dias, fomos à nossa praia predileta, que tem um agradável quiosque na areia, onde servem peixe frito e camarão.

Minha filha adora ir lá por outra razão: a vizinha do quiosque tem um divertido pinscher anão, um cachorro que não deve ter mais de 30 cm de comprimento. O cachorrinho chama Joli, mas é tão pequeno que ela o apelidou de Pulguinha.

Assim que chegamos, minha filha perguntou pelo Pulguinha. A dona do cão fez uma cara de arrasada e contou uma história macabra:

Na praia, uma das casas tinha um cachorro bravo, resultado do cruzamento de alguma raça com um pitbull. O cachorro era o terror do lugar, sempre rosnando para as crianças que brincavam na areia.

Alguns dias antes, o cão escapou. Por sorte, não encontrou nenhuma criança. Mas encontrou o pinscher anão, que ele literalmente estraçalhou, espalhando sangue por todo o quintal.

“Quando vi, o cachorro estava mastigando a cabeça do Joli”, disse a dona, na frente da minha filha, demonstrando toda a sensibilidade de um viking bêbado.

O relato mexeu com a gente. Não só pelo barbarismo da história e pela revolta com mais um caso violento envolvendo um pitbull – e, por favor, não me venham os defensores de pitbulls alegarem que é um bichinho inofensivo – mas pela reação que nossa filha poderia ter.

Por sorte, ela pareceu não ter entendido as partes mais sangrentas da história. Entendeu, claro, que o pinscher tinha morrido: “O Pulguinha morreu, papai?”

Expliquei que o Pulguinha tinha sido machucado por outro cachorro, que tinha morrido, e que agora estava descansando. “Tadinho do Pulguinha!” foi a resposta dela.

Depois, me liguei que o pinscher tinha sido a primeira criatura que ela conhecera e que havia morrido. Bem diferente dos bisavôs, que ela só conhecia de fotografias. Era a primeira perda real da vida dela.

Nesse fim de semana, vamos voltar à praia. Estamos curiosos para ver a reação dela ao passar pelo quintal onde costumava brincar com Pulguinha.

Vida que segue.

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Hoje, só não publica livros quem não quer

Por Andre Barcinski
18/04/12 07:03

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há algumas semanas, postei aqui um texto sobre o livro “A Geração Superficial”, de Nicholas Carr, que fala da crescente dificuldade das gerações “conectadas” em se concentrar para ler um livro (e a decisão do Pulitzer, anunciada ontem, de não premiar ninguém na categoria “ficção” parece corroborar o estado sofrível da literatura).

Ao mesmo tempo, estou animado com as notícias sobre o aumento no número de livros publicados de forma independente.

A autopublicação é uma realidade. Seja em tablets ou em tiragens físicas pequenas ou sob encomenda, cada vez mais gente tem dispensado as editoras e publicado seus próprios livros.

Claro que livros independentes sempre existiram. Isso não é novidade. Mas a quantidade impressiona. Tenho em casa pelo menos 15 livros que recebi de leitores, todos publicados pelos próprios autores ou por editoras pequenas.

E são livros dos mais variados.

Tem desde a poesia de Maurício Macedo, com “Lume” (Editora 7 Letras), a um estudo de Igor Garcia de Castro sobre gravadoras independentes brasileiras, chamado “Lado B” (Editora Anna Blume).

Recebi também “Mercado de Pulgas”, coletânea de Renato Alessandro dos Santos com textos sobre cinema, shows (Radiohead, Paul Di’Anno) e entrevistas bacanas com gente como Lourenço Mutarelli e Ignacio de Loyola Brandão.

Por coincidência, meu amigo Álvaro Pereira Jr. fez uma coluna na “Ilustrada” sobre o livro “Memórias Não Póstumas de um Punk” (Editora Multifoco), de Larry Antha, que conta a história da banda carioca Sex Noise (leia coluna do Álvaro aqui). Vou encomendar correndo.

É um paradoxo: ao mesmo tempo em que a Internet, como diz Nicholas Carr, está encolhendo a capacidade de concentração dos leitores, ela está ajudando escritores a encontrar seu nicho.

Outro dia, um leitor me escreveu pedindo um conselho. Ele estava terminando um livro sobre a conquista do Campeonato Brasileiro por seu time do coração (não, não é o Fluminense) e queria dicas de editoras.

Minha sugestão foi publicar o livro sozinho. Com um tema específico desses, que praticamente só interessará aos torcedores do time, não deve ser difícil fazer uma propaganda direcionada ao público-alvo do livro.  É só distribuir folhetos na entrada dos jogos do time e colocar anúncios em fóruns de torcedores.

Acho que publicar por uma editora tem suas vantagens e desvantagens. Claro que a estrutura de uma editora ajuda a vendagem de qualquer livro.

Por outro lado, há a questão do percentual do autor. Num lançamento por uma editora, o autor recebe, em média, 10% do preço de capa.

Quem publica sozinho tem que assumir o custo da publicação, mas fica com um percentual bem maior (o número final depende do acordo que fizer com as livrarias).

Eu mesmo estou trabalhando em dois livros. Um é um trabalho de não-ficção, um guia, cujo sucesso de vendas vai depender diretamente de uma boa estratégia de distribuição e propaganda.

O outro é um trabalho mais pessoal, com uma expectativa de vendagem bem menor e que, acredito, tem a chance de achar seu público por meio do boca a boca e de comentários na Internet.

O primeiro, vou lançar por uma editora. O segundo, planejo lançar sozinho.

Pode ser que eu me ferre? Claro que pode. Mas não custa tentar.

Uma coisa é certa: hoje, só não publica quem não quer.

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Virada Cultural deveria ser a cereja, não o bolo

Por Andre Barcinski
17/04/12 07:08

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para começo de conversa: sou fã da Virada Cultural.

Acho um evento fantástico. Qualquer festa que incentive a ocupação artística da cidade e ofereça shows gratuitos de Ron Ayers, White Denim, Raul de Souza & Zimbo Trio, Man or Astro-Man? e tantos outros, merece aplausos.

Sempre prestigiei a Virada Cultural. Se estiver em São Paulo dias 5 e 6 de maio, irei com certeza.

Mesmo com todos os problemas – falta de educação do público, imundície nas ruas, gente que não consegue se divertir sem destruir patrimônio da cidade – é um evento imperdível.

Meu problema com a Virada Cultural é um só: acho que ela deveria ser a cereja do bolo da programação artística da cidade, e não o bolo em si.

Explico: se um dos objetivos de shows gratuitos na cidade é valorizar as ruas e promover sua ocupação com atividades culturais, não seria mais lógico ter uma programação que se estendesse ao longo de todo o ano?

Imagine se, a cada fim de semana, um bairro da cidade fosse “ocupado” por shows, peças, filmes, concertos, etc.? Não seria uma maravilha?

Isso ajudaria a criar o hábito na população de visitar diferentes regiões da cidade para aproveitar as atrações.

Acho bem mais saudável do que espremer centenas de eventos numa noite só.

A Virada Cultural, ao concentrar uma infinidade de atrações em 24 horas, promove um verdadeiro frenesi na cidade, lotando hotéis e incentivando o turismo.

Mas, sinceramente, não vejo como isso estabelece algum tipo de conexão permanente das pessoas com as ruas.

A impressão que tenho é exatamente a oposta: como a festa só dura uma noite e só se repetirá daqui a um ano, o público pouco se importa com a sujeira deixada, e trata a cidade como um bem descartável. É triste, mas é fato.

Minha sugestão seria manter a Virada Cultural em um final de semana, reduzindo seu tamanho, e criar uma programação permanente de atrações por vários bairros da cidade.

Assim, a Virada Cultural seria a coroação, o auge da programação artística da cidade. E não a sua totalidade.

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