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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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“Drive” é um exagero de talento e de sangue

Por Andre Barcinski
02/03/12 07:09


Estréia hoje “Drive”, do dinamarquês Nicholas Winding Refn.

É um “thriller” que começa como um policial existencialista, na linha Michael Mann, e termina, infelizmente, com um banho de sangue à Tarantino (mas sem o humor deste).

Ryan Gosling faz um personagem sem nome, um motorista hábil que trabalha como dublê de dia e, à noite, é recrutado para dirigir carros em fugas de assaltos.

A primeira sequência é sensacional: fugindo de carro com dois ladrões no banco de trás, o motorista é perseguido pela polícia – até por um helicóptero – e tenta escapar se escondendo embaixo de pontes e se misturando ao tráfego.

Os primeiros minutos quase não têm diálogos, só cenas de perseguição muito bem filmadas. Animador.

O motorista sonha em pilotar carros de corrida. Um amigo, mecânico e figura paterna (Bryan Cranston) consegue dinheiro de dois mafiosos (os sensacionais Albert Brooks e Ron Pearlman) para começar uma equipe de corridas. Claro que a associação com a máfia não vai terminar bem.

Ao mesmo tempo, o motorista conhece uma vizinha (Carey Mulligan), cujo marido acaba de voltar da cadeia e está sendo pressionado por bandidos para cometer um assalto. O motorista resolve, muito a contragosto, ajudar o vizinho em um “último golpe”.

Aí, o filme muda completamente: o motorista vira uma espécie de Rambo, quase um super-herói, matando bandidos e explodindo crânios.

O que era um filme contido e elegante vira um massacre, e perde muito de sua força.

O diretor, Refn, é talentoso. Quem viu a trilogia “Pusher”, história de um traficante de heroína, sabe.

“Pusher” lhe rendeu muitos fãs. Até o trovador Mark Lanegan, ex-Screaming Trees, homenageou a trilogia em “Ode to Sad Disco”, faixa de seu último CD, “Blues Funeral”, que copia uma música da trilha do segundo filme da série.

Com “Drive”, Refn dá uma guinada em direção a um público mais amplo. Ótimo. Só espero que ele faça filmes mais parecidos com a primeira metade de “Drive”, e não com a segunda.

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Dia quente, cidade fria

Por Andre Barcinski
01/03/12 07:13

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Meio-dia no Rio. Trinta e três graus, e eu andava apressado pela Avenida Rio Branco, no Centro.

Perto da Cinelândia, um cidadão me abordou.

Meu reflexo, como sempre acontece em situações assim, foi de continuar andando, soltar um “não tenho trocado” e ignorar o sujeito.

A gente está tão acostumado a ser enganado por pedintes malandros, que fica até com receio de parar na rua.

Só que este estacionou na minha frente.  E me obrigou a parar também.

Era um senhor de uns 60 anos, magro e bem vestido, de sapato e camisa social. Carregava uma pasta de plástico.

Parei e fiquei esperando para ouvir a história triste que estava por vir. Me irritei por ter caído num golpe tão velho.

Ele tentou falar, mas as palavras não saíam:

“Estoooooou… pro…pro…procuraaannndo… uma…”

Daí, começou a chorar.

Seu braço esquerdo estava colado ao corpo. Parecia ter sofrido algum tipo de derrame.

Ele tirou um lenço do bolso e começou a enxugar as lágrimas. Quando se acalmou, disse, com muito esforço:

“Não queeeero dinheiro. Estou pro… pro… procurando uma ONG que ajuda pessoas com de… deficiência.”

Eu não esperava aquilo. E não sabia como ajudá-lo. Não conhecia nenhuma ONG por ali. Olhei para o lado e vi um taxista, sentado num banco no ponto de táxi. Ele também não sabia da ONG.

Fui perguntar numa banca de jornal. Enquanto isso, o sujeito, nervoso e chorando muito, tentava se explicar:

“Tô andando aqui desde nove da manhã…. Todo prédio que… que… entro, me expulsam, acham que eu… eu… tô pedindo di… dinheiro… Eu só quero a… achar a ONG…”

O dono da banca de jornal conhecia a tal ONG. Ficava na própria Rio Branco, a menos de 50 metros de onde o sujeito estava, há horas, tentando pedir informação e sendo enxotado de prédios.

O dono da banca foi a um bar e trouxe água para o sujeito. Este já estava mais calmo e conseguia falar com mais desenvoltura.

Ele disse que tinha sofrido um derrame há seis meses e estava esperando ajuda do INSS. Não conseguia mais emprego. Tinha um bom currículo e ouviu falar dessa ONG que ficava na região da Cinelândia e ajudava pessoas com deficiência a conseguir trabalho.  Ele entrou em vários prédios para pedir informação, mas foi expulso de todos, sem conseguir explicar que não estava ali mendigando.

Me despedi e desejei boa sorte para ele. Ele agradeceu, entrou no prédio da ONG e sumiu.

Foi tudo muito rápido.

Depois, fiquei imaginando o desespero do sujeito, sendo expulso de prédios sem conseguir se comunicar. Me deu uma vergonha tremenda. Por muito pouco, eu não havia feito igualzinho aos porteiros que o haviam enxotado.

 

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Tributo a um torcedor rival

Por Andre Barcinski
29/02/12 07:23

 

 

 

 

 

 

 

 

E o futebol da nossa infância, pouco a pouco, se vai.

Li ontem que Russão, antigo chefe de torcida do Botafogo, morreu, aos 62 anos (veja aqui).

Eu não sou Botafogo e não conhecia o Russão. Mas lembro muito bem dele.

Nos anos 80, quando comecei a acompanhar futebol, Russão era uma celebridade. Ia a programas esportivos na TV, dava entrevistas em rádio, era conhecido.

Eu morava na Ilha do Governador e não perdia um jogo no estádio da Portuguesa. Podia ser de qualquer time, até da segunda divisão (vi um Portuguesa x Bangu com 78 pagantes, nunca vou esquecer).

Cansei de ver Russão por lá, geralmente bem irritado – o Botafogo estava numa fase negra, sem ganhar um Carioca desde 1968 (a maré de azar acabou em 89, naquele gol de Maurício que eu vi no Maracanã, torcendo pelo Fogão).

Lembro um Portuguesa x Botafogo em que Dé, o Aranha, caiu junto ao alambrado, fingindo uma contusão. Um torcedor, encostado na grade, gritou: “Dá maconha que ele levanta!” Dé levantou na hora e foi tirar satisfação com o cara.

Bons tempos.

Todo time tinha seus torcedores-símbolos, seus Russões. Meu Flu tinha Seu Armando, que morreu ano passado e acompanhava o time há 77 anos.

Sinto uma falta danada disso.

Hoje, quando vemos notícias sobre torcedores, são sempre meliantes que brigaram em alguma rua escura ou atiraram em alguém.

Claro que havia brigas de torcida nos anos 80, mas não com a freqüência, ferocidade e profissionalismo de hoje.

Havia uma certa pureza em figuras como Russão. Não estou dizendo que ele era um santo, até porque não o conhecia, mas, para um adolescente nos anos 80, torcedores como ele impunham respeito e admiração.

Fiquei muito triste com a morte do Russão. Talvez porque ela me lembrou uma época em que futebol parecia mais divertido e inocente.

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Piorou o cinema, ou piorou o público?

Por Andre Barcinski
28/02/12 07:35


O post de ontem sobre a infantilização do cinema rendeu tantos comentários interessantes, que peço licença para continuar no assunto.

Peguei um livro aqui na estante, “Box-Office Hits”, que lista, ano a ano, os campeões de bilheteria do cinema americano de 1939 a 1988 (o livro é de 1989).

Claro que é difícil comparar o gosto do público em diferentes períodos históricos, mas é assustador lembrar que, em 1969, o terceiro maior público do cinema americano foi “Perdidos na Noite” (“Midnight Cowboy”), de John Schlesinger.

Quem já viu o filme sabe que é uma história sórdida sobre dois vagabundos que tentam se dar bem nas ruas violentas de Nova York. Jon Voight faz um caipira que ganha a vida transando com senhoras por dinheiro. Dustin Hoffman faz um junkie. É uma obra-prima.

Pois bem: “Perdidos na Noite” não só bateu “Hello, Dolly!” na bilheteria, como ganhou o Oscar de melhor filme (só para efeito de comparação, a terceira maior bilheteria de 2011 foi “A Saga Crepúsculo: Amanhecer”).

O que aconteceria com “Perdidos na Noite” se fosse lançado hoje?

Possivelmente sairia direto em DVD, ou seria exibido em quatro salas alternativas em Nova York e São Francisco.

Outros exemplos curiosos:

Em 1967, “A Primeira Noite de um Homem” foi a maior bilheteria do ano. “Bonnie and Clyde” foi a quarta.

“2001”, de Stanley Kubrick, foi a segunda bilheteria de 1968, atrás de “Funny Girl”.

“M.A.S.H.”, a visão ácida de Robert Altman sobre o Vietnã, foi a terceira maior bilheteria de 1970, mesma posição de “Operação França” no ano seguinte.

E não vou nem falar de “O Poderoso Chefão” (1972) e “O Exorcista” (1973), que lideraram as bilheterias em seus respectivos anos.

Isso quer dizer que todos os filmes lançados naquela época eram obras-primas voltadas ao público adulto?

Claro que não. As décadas de 1960 e 70 também foram cheias de diversão escapista para adolescentes, desenhos animados e romances melosos.

“Mogli – O Menino Lobo” foi a segunda bilheteria de 1967; “Romeu e Julieta”,  a cafonice suprema de Franco Zeffirelli, foi a quinta maior bilheteria de 1968, e “Se Meu Fusca Falasse” ficou em segundo lugar em 1969.

Ou seja: tinha para todo mundo.

Bem diferente de hoje, quando os cinemas são completamente dominados por continuações, desenhos animados e megaproduções inspiradas em gibis.

Fica a pergunta: o que aconteceu com o tipo de público que lotava os cinemas para ver “Perdidos na Noite”? Morreram, todos? E os filhos e netos desses, onde estão? Vendo “Transformers”?

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O Oscar e a infantilização do cinema

Por Andre Barcinski
27/02/12 08:16

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nenhuma grande surpresa no Oscar. Eu apostava numa divisão dos principais prêmios da noite, mas as vitórias de “o Artista” nas categorias filme, diretor e ator, não podem ser consideradas zebras.

Se 2011 não ficará marcado como uma grande safra de filmes, pelo menos será lembrado como o ano em que o abismo entre o Oscar e o público americano tornou-se intransponível.

Nunca houve um descompasso tão grande entre o gosto da Academia e o gosto do público.

Quer prova?

Dos 40 filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos em 2011, apenas um – “Histórias Cruzadas” – foi indicado ao prêmio de melhor filme. Um em 40.

Dos dez filmes de maior bilheteria em 2011, apenas um – “Thor” – não é uma continuação. E todos – repito, todos – são filmes que apelam ao público adolescente (veja a lista aqui).

Ou seja: o cinema adulto não faz mais sucesso.

Compare isso à década de 60, quando todos os vencedores do Oscar foram sucesso de bilheteria, de “The Apartment” (1960) a “Perdidos na Noite” (1969).

Dos campeões de bilheteria de cada ano entre 1960 e 1969, cinco foram indicados ao Oscar de melhor filme: “Lawrence da Arábia” (1962), “Cleópatra” (1963), “Mary Poppins” (1964), “A Noviça Rebelde” (1965) e “Funny Girl” (1968).

Os anos 70 não foram diferentes. Todos os vencedores de Oscar triunfaram na bilheteria: “Patton” (1970), “Operação França” (1971), “O Poderoso Chefão” (1972), “Golpe de Mestre” (1973), “O Poderoso Chefão – Parte 2” (1974), “O Estranho no Ninho” (1975), “Rocky” (1976), “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1977), “O Franco-Atirador” (1978) e “Kramver vs. Kramer” (1979). Com raríssimas exceções, só filmaços.

Agora, compare isso ao que ocorreu de 1980 para cá: nos últimos 32 anos, apenas três filmes que ganharam o Oscar também foram campeões de bilheteria de seus respectivos anos: “Rain Man” (1988), “Titanic” (1997) e “O Senhor dos Anéis” (2003).

O que aconteceu nesse tempo? Como surgiu esse abismo entre o gosto da Academia e o gosto do público?

Uma palavra: “Tubarão”.

Não é novidade que o filme de Spielberg mudou a história de Holllywood. Pela primeira vez, executivos perceberam que um filme poderia virar um “franchise”.

“Tubarão” foi um dos primeiros filmes a estrear em uma quantidade absurda de salas, e rendeu fortunas com sequências e produtos (para quem quiser se aprofundar no assunto, sugiro ler “Como a Geração Sexo, Drogas e Rock’n’Roll Mudou Hollywood”, grande livro de Peter Biskind sobre o cinema americano dos anos 70).

O que estamos vendo hoje é o auge da infantilização do cinema americano, iniciada com “Tubarão” e impulsionada por George Lucas e “Guerra nas Estrelas”.

Então a culpa é de Spielberg e Lucas?

Não. Eles simplesmente foram os garotos-propaganda de uma revolução comercial inevitável.

É só ver como a indústria da música, a partir dos anos 80, também descobriu o valor do público juvenil, para perceber que essa busca por um consumidor jovem, extremamente suscetível a propaganda e extremamente fiel, que não se importa de ver duas ou três sequências de seus filmes prediletos, faz todo sentido, se você é executivo e só está interessado em fazer dinheiro.

Enquanto isso, o público adulto migra para as séries de TV e dá mesada para os filhotes se divertirem com a enésima parte de “Harry Potter”. Na prática, os adultos estão pagando para destruir o seu próprio prazer de ir ao cinema.

Tempos estranhos os nossos…

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Oscar: as barbadas e os esquecidos

Por Andre Barcinski
24/02/12 07:29

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Domingo acontece o Oscar. Como sempre, filmes muito bons (“Rampart”, “Drive”, “Shame”) foram preteridos por coisas como “Cavalo de Guerra”.

Fiz uma listinha de previsões para o prêmio. Faça a sua e compare…

Melhor filme

Quem deve ganhar: “O Artista”

Quem deveria ganhar: “Rampart”

“O Artista” ganhou tudo até agora. Não deve ser diferente no Oscar. Já “Rampart” não foi nem indicado.

 

Melhor direção

Quem deve ganhar: Martin Scorsese (“A Invenção de Hugo Cabret”)

Quem deveria ganhar: Oren Moverman (“Rampart”)

O lógico seria Michel Hazanavicius ganhar por “O Artista”, mas ele é pouco conhecido, e a Academia deve premiar mesmo Scorsese. Mas a melhor direção de um filme americano em 2011 foi de Moverman. Há uma cena em “Rampart” em que Woody Harrelson, Sigourney Weaver e Steve Buscemi discutem numa mesa, que é absolutamente genial.

 

Melhor ator

Quem deve ganhar: George Clooney (“Os Descendentes”)

Quem deveria ganhar: tríplice empate entre Michael Fassbender (“Shame”), Michael Shannon (“O Abrigo”) e Woody Harrelson (“Rampart”)

George Clooney está entrando naquela fase perigosa da carreira de todo ator de sucesso, em que o piloto automático entra em ação e ele passa a interpretar a ele mesmo (tipo Jack Nicholson). Não dá para comparar o que ele faz em “Os Descendentes” com as atuações surpreendentes e intensas de Fassbender, Shannon e Harrelson. Mas beleza, ele é George Clooney.

 

Melhor atriz

Quem deve ganhar: Viola Davis (“Histórias Cruzadas”)

Quem deveria ganhar: Tilda Swinton (“Precisamos Falar Sobre o Kevin”)

Alguém ainda agüenta Meryl Streep ser indicada por qualquer coisa? E como explicar a ausência de Tilda Swinton?

 

Melhor ator coadjuvante

Quem deve ganhar: Christopher Plummer (“Toda Forma de Amor”)

Quem deveria ganhar: Albert Brooks (“Drive”)

Plummer vai levar, pelo conjunto da obra. Um grande ator, em um filme que ninguém vai lembrar daqui a cinco anos. Já a esnobada que Albert Brooks levou foi simplesmente criminosa.

 

Melhor atriz coadjuvante

Quem deve ganhar: Octavia Spencer (“Histórias Cruzadas”)

Quem deveria ganhar: a égua que agoniza e dá seu último relincho em “Cavalo de Guerra”, de Spielberg

O nível dos papéis para atrizes está tão baixo que, em protesto, votei na égua do Spielberg.

 

Melhor roteiro adaptado

Quem deve ganhar: “Os Descendentes”

Quem deveria ganhar: “Precisamos Falar sobre Kevin”

Não li “Kevin”, mas achei o roteiro muito bem feito, e os conflitos familiares que terminam em tragédia, bem delineados. Já “Os Descendentes” é bem pior que “Sideways”, só pra citar outro filme de Payne adaptado de um livro.

 

Melhor roteiro original

Quem deve ganhar: Woody Allen (“Meia-Noite em Paris”)

Quem deveria ganhar: Oren Moverman e James Ellroy (“Rampart”)

Allen deve ganhar mais um Oscar por um filme que parece plágio de si mesmo. Quantos filmes de Allen você lembra em que um personagem “volta” no tempo? Veja os delírios nostálgicos de Martin Landau em “Crimes e Pecados”, por exemplo. Já os diálogos primorosos de “Rampart” foram esquecidos.

 

Melhor filme estrangeiro

Quem deve ganhar: “A Separação” (Irã)

Quem deveria ganhar: “A Separação” (Irã)

A maior barbada do Oscar.

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O Oscar ignorou "Rampart". Não cometa o mesmo erro...

Por Andre Barcinski
23/02/12 07:19


Se você ainda acha que o Oscar é termômetro da qualidade dos filmes feitos nos Estados Unidos, assista a “Rampart”.

Saber que um filme desses não recebeu nenhuma indicação é mais que revoltante. É uma piada.

Lançado em circuito limitado, em novembro de 2011, só para concorrer ao Oscar, foi ignorado pela Academia.

Não sei quando “Rampart” chegará ao circuito comercial no Brasil, ou se chegará. Nem nos Estados Unidos o público deu bola.

Uma pena. “Rampart” é, para mim, o melhor filme americano de 2011.

Estamos em 1999. A delegacia de Rampart, em Los Angeles, está sob constantes ataques da mídia e da opinião pública, por causa de sucessivos escândalos de corrupção e brutalidade policial.

É o habitat ideal para Dave Brown (Woody Harrelson), um policial violento, temperamental, corrupto, racista, maquiavélico e genial, uma espécie de monstro de farda, que passa os dias pulando de golpe em golpe.

Brown é um nômade. Vive, alternadamente, com duas ex-mulheres, vizinhas e irmãs (Anne Heche e Cynthia Nixon, a Miranda de “Sex in the City”), com quem tem uma filha cada. Passa as noites caçando quarentonas em um bar.

Tudo muda quando Brown se envolve num acidente de trânsito e acaba espancando o outro motorista. Alguém filma tudo e Brown vira símbolo da podridão de Rampart. Ele suspeita ter sido vítima de uma armadilha dos próprios colegas.

“Rampart” é uma volta aos dramas urbanos que o cinema americano costumava produzir às pencas nos anos 70 e 80, quando diretores como Sidney Lumet, Michael Mann, William Friedkin e Scorsese tinham liberdade para fazer os filmes que quisessem.

O elenco é coisa de louco: Sigourney Weaver, Robin Wright, Steve Buscemi, Ned Beatty, Ice Cube, Ben Foster.

O diretor, Oren Moverman, fez o ótimo “O Mensageiro” (2009), outro filme bom e cinza demais para o Oscar, e co-escreveu “Não Estou Lá”, a divagação inventiva de Todd Haynes sobre Bob Dylan. Seu próximo filme deve ser “Mais Pesado que o Céu”, cinebiografia de Kurt Cobain.

E Woody Harrelson tem em “Rampart” seu melhor momento no cinema. Melhor até que “O Povo Contra Larry Flynt”.

“Rampart” não é um filme policial de espetáculo. Não há perseguições de carro, tiroteios coreografados ou um final apoteótico em algum ferro-velho . Não há bandidos e mocinhos  e não há moral da história. Os personagens são o que são.

E o roteiro? Há muito tempo – muito mesmo – eu não via um filme que respeitasse tanto a inteligência do espectador.

O filme não te entrega tudo de bandeja. Ele sempre deixa alguma coisa oculta, te faz pensar em cada cena, forçando o espectador a construir, em sua imaginação, o passado e o perfil dos personagens. Algumas coisas ficam sem explicação. É uma verdadeira heresia, num cinema acostumado aos roteiros beabá preconizados por Syd Field e outros gurus da mesmice.

Vendo o filme, até comentei com minha mulher que o roteirista – eu não sabia quem havia escrito – deveria ser grande fã de James Ellroy e Joseph Wambaugh (quem acompanha o blog sabe que já escrevi muitas vezes aqui sobre Ellroy, um de meus autores prediletos).

Os diálogos são surpreendentes e muito, mas muito bem escritos. Não sou ator, mas posso imaginar o prazer que deve ser trabalhar com um texto tão bom.

Assim que o filme terminou – da maneira mais impactante e inesperada, sem o famoso “terceiro ato” obrigatório de Syd Field – o primeiro crédito que surgiu foi:

“Escrito por James Ellroy e Oren Moverman”.

Tá explicado.

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Jet ski bom é jet ski no lixo

Por Andre Barcinski
22/02/12 07:30

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No sábado de Carnaval, a menina Grazielly Almeida Lames, de três anos, brincava numa praia de Bertioga, quando um jet ski desgovernado e sem ninguém ao controle a atropelou. A menina morreu a caminho do hospital.

O jet ski estava sendo guiado – ou melhor, não-guiado – por dois adolescentes, de 12 e 14 anos.

Saber que uma criança perdeu a vida e duas outras ficarão marcadas para sempre, por causa de um brinquedo idiota como esses, me deixou consternado.  Porque não há nada no mundo que eu odeie mais que jet ski.

Acho o jet ski um objeto nocivo, símbolo de muitas coisas que abomino: desrespeito, irresponsabilidade, falta de civilidade, violência, deselegância, exibicionismo e estupidez.

Eu tenho, sim, preconceito contra jet ski. Assumo. Alô, associação de amantes do jet ski, pode me xingar à vontade.

Claro que os defensores do jet ski vão argumentar que a culpa não é do objeto, mas dos donos. É a mesma lógica de quem defende as armas ou a criação de pitbulls.

Meu problema com o jet ski é que ele é um produto que vai contra as características do próprio meio para o qual ele foi projetado. Ele é veloz, barulhento, poluidor, feio, inconveniente, intrusivo e cafona. Tudo que o mar não é.

O jet ski é uma contradição: um objeto individualista, mas projetado para um meio coletivo, a praia. Ele não se presta ao convívio. Pelo contrário: espanta todos que estão ao seu redor, sejam banhistas ou peixes.

O único que parece se divertir com essa joça é quem está sentado em cima dela. Para todos os outros, é um transtorno.

Existe uma lei que proíbe o uso de jet skis a menos de 200 metros das praias. Não é suficiente. A limitação deveria ser de dois quilômetros, no mínimo.

Quer apostar corrida com os amiguinhos? Então faça no meio do mar, onde você não seja um risco para ninguém, a não ser você mesmo.

Acontece que o dono de um jet ski nunca vai deixar de pilotá-lo próximo às praias. Porque o barato é justamente aparecer, se exibir, passar zunindo em frente aos banhistas, impressionando as cocotas e causando inveja aos manés.

Já perdi a conta de quantas vezes me irritei com irresponsáveis voando de jet ski ao lado de pequenos veleiros ou canoas. Outro dia, vi um deles se exibindo a menos de 20 metros de uma regata de Optimist, cheia de crianças.

Vou mais longe: NUNCA vi um jet ski que não estivesse causando risco para alguém.

Andar de jet ski é indesculpável. É como ouvir som alto no carro com o capô aberto, usar pochete ou meia branca com sapatênis. Com o agravante de colocar os outros em risco.

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Sessões duplas para alegrar o Carnaval

Por Andre Barcinski
17/02/12 07:27


Que tal assistir a uma boa comédia durante a folia de Momo?

Sei que nenhum filme tem o potencial cômico da Rosas de Ouro homenageando Roberto Justus, mas, mesmo assim, quero sugerir alguns.

Pensei em quatro sessões duplas, uma para cada dia de Carnaval. Só alegria:

“A General” (Buster Keaton) e “Em Busca do Ouro” (Chaplin)

Dois clássicos do cinema mudo e origem de um sem-número de “gags” visuais que são copiadas até hoje: a casa arrastada pelo vento e balançando num precipício; o homem faminto que confunde outro com um suculento frango; um trem desgovernado; e por aí vai. Dois gênios da comédia em seus auges de criatividade.

História do Mundo (Mel Brooks) e This is Spinal Tap (Rob Reiner)

Dois clássicos do besteirol. No primeiro, Mel Brooks dá a sua versão esculhambada e politicamente incorreta de grandes acontecimentos da humanidade; no segundo, Rob Reiner inventa o falso documentário musical e eterniza os clichês estúpidos do heavy metal.

Um Príncipe em Nova York (John Landis) e Um Tira da Pesada (Martin Brest)

Para compensar a ausência de Eddie Murphy como apresentador do Oscar, vou rever, pela milésima vez, meus dois filmes prediletos do gênio. Se sobrar um tempinho, jogo no bolo ainda o DVD com o melhor de Murphy no “Saturday Night Live”.

“Fawlty Towers” e “Monty Python ao Vivo no Hollywood Bowl”

Um dos melhores presentes que ganhei na vida foi a caixa com os 12 episódios de “Fawlty Towers”, a série que John Cleese fez depois que saiu do Monty Python. Cleese faz Basil Fawlty, dono de um pequeno hotel no interior da Inglaterra. Até hoje, meu personagem cômico predileto. Vou escolher uns três episódios, incluindo o melhor de todos, “Gourmet Night”. E emendar, claro, com “Hollywood Bowl”, meu filme predileto do Monty Python, que está completando 30 anos.

Bom Carnaval e até quarta.

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Sousa Mendes, o nosso Schindler

Por Andre Barcinski
16/02/12 07:32

Quando recebi o e-mail com o título “Informações importantes sobre sua família”, achei que era mais um daqueles spams picaretas.

A mensagem vinha de uma fundação que tentava identificar parentes de vitimas de perseguição nazista que fugiram da Europa em 1940, ajudadas pelo diplomata português Aristides de Sousa Mendes.

A carta que recebi, assinada por uma pesquisadora da Fundação Sousa Mendes, trazia informações detalhadas:

“A família Barcinski foi ajudada por Sousa Mendes. Os nomes que aparecem na lista de vistos são Alicja, Jacek, Maria e Irena Barcinski, assim como Henryk Elsner, que, acreditamos, era parente de Irena (…)”

A história era verdadeira. Alicja era minha bisavó. Irena era irmã dela. Henryk era cunhado delas. Jacek e Maria, crianças na época, eram sobrinhos de Alicja e Irena.

Ao longo dos anos, ouvi parentes contando histórias sobre a fuga da família para o Brasil, vinda da Polônia. Mas não conhecia detalhes. E nunca tinha ouvido falar de Aristides de Sousa Mendes.

Em 1940, Sousa Mendes era cônsul português em Bordeaux, na França. Um ano antes, o governo de Salazar havia proibido os consulados portugueses de emitir vistos para “estrangeiros de origem indefinida, sem pátria, ou judeus expulsos de seus países de origem”.

Contrariando as ordens de Salazar, Sousa Mendes emitiu milhares de vistos para que os perseguidos – judeus ou não – pudessem escapar da Europa.

Ele ordenou o fim dos trâmites burocráticos no consulado e acabou com taxas consulares, para acelerar o processo de emissão de vistos. Sabia que tinha pouco tempo antes que fosse descoberto.

Estima-se que cerca de 30 mil pessoas, incluindo 12 mil judeus, foram salvas do Holocausto por ele.

Um documento da época traz a resposta de Sousa Mendes a um burocrata do governo português, que reclamou da concessão de visto para um professor austríaco, Arnold Wizntzer:

“Ele me informou que, se não saísse da França naquele mesmo dia, seria mandado para um campo de concentração, deixando sua mulher e filhos abandonados. Considerei uma obrigação elementar de humanidade evitar que tamanha barbaridade acontecesse.”

O governo de Salazar ordenou que Sousa Mendes voltasse a Portugal e o processou por insubordinação. Salazar chegou a ameaçar quem o ajudasse. Impedido de trabalhar, Sousa Mendes morreu na pobreza, em 1954.

Foi só no fim dos anos 80, depois de décadas de luta da família Sousa Mendes, que o governo do Portugal se desculpou oficialmente.

Duas coisas me abalaram especialmente nessa história.

A primeira é só tê-la descoberto agora, depois de uma vida inteira sem saber ao certo como minha família fugiu de Lodz e foi parar no Brasil.

A segunda é pensar o quanto eu devo para Sousa Mendes. E imaginar que minha filha, que está brincando no quintal aqui ao lado, não existiria se não fosse por esse português boa praça.

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